Carro elétrico chinês encena nova guerra fria

As animosidades político-ideológicas que opuseram os Estados Unidos e a extinta União Soviética dividiram o mundo durante a chamada guerra fria. Hoje a disputa pelo mapa-múndi é comercial e envolve um líder nascente muito forte, a China, que expande seus domínios enquanto os antigos donos da economia mundial tentam proteger seus terrenos – leia-se seus próprios mercados e o dos países dominados.

Nesse cenário os carros elétricos chineses ganharam protagonismo, aparecem no centro do campo de uma nova guerra fria. Isto porque são os produtos de altos volumes e de maior valor agregado que a China pode vender, com exportação adicional muito mais lucrativa do que blusinhas e outras bugigangas que já são de seu domínio absoluto.

Nesta disputa por valor agregado os carros elétricos desenvolvidos por fabricantes chineses aparecem na ponta de uma longa cadeia de produção que também está sendo estrategicamente encampada pela China no mundo todo, deixando os tradicionais donos do mundo indignados com a ousadia do novo entrante poderoso da economia global.

Bilhões da China no mundo

Para se ter ideia do quanto estamos falando investimentos da China em outros países relacionados à produção de carros eletrificados e seus insumos chegou a US$ 28,3 bilhões somente em 2023, depois de quase US$ 30 bilhões em 2022, segundo dados do Rhodium Group China Cross-Border Monitor.

A maior parte destes recursos foi aplicada na Europa e na região do Oriente Médio e no Norte da África. Em 2023 as duas regiões dividiram o primeiro lugar em investimentos estrangeiros da China na cadeia dos veículos eletrificados: foram US$ 7,6 bilhões cada região para fábricas de carros, componentes, baterias e seus insumos, como extração e refino de minérios. A Ásia vem na segunda posição com US$ 6,5 bilhões, enquanto América do Norte e América Latina empatam em terceiro com US$ 2,7 bilhões cada.

Engana-se quem pensa que a maior parte destes investimentos todos é para construir linhas de produção de veículos eletrificados. Na verdade esta é a menor porção dos aportes, que somaram US$ 1,5 bilhão em 2023. O grosso do dinheiro, US$ 12,4 bilhões, foi para a fabricação de baterias e outros US$ 10 bilhões para produzir insumos para baterias, enquanto US$ 3,7 bilhões foram para mineração e refino de matérias-primas, como lítio, cobalto, níquel e outros metais raros.

Em importantes países em desenvolvimento – eufemismo para subdesenvolvimento – a China está investindo pesadamente na produção e no processamento de matérias-primas fundamentais para a fabricação de veículos elétricos.

Exemplo deste domínio da cadeia completa dos veículos eletrificados são os investimentos de US$ 13,9 bilhões que empresas chinesas, financiadas por bancos chineses, estão aplicando na Indonésia, país do Sudeste Asiático que detém as maiores reservas de níquel do mundo. A maior parte dos recursos está sendo injetada na indústria de metais e mineração. Estima-se que 90% das fundições indonésias de níquel já estão sob controle de capital chinês.

Internacionalização onde permitem

A indústria chinesa de veículos eletrificados está se espalhando por todos as regiões do mundo que permitem sua presença, especialmente América Latina, África e Sudeste Asiático, aproveitando a dependência econômica criada com exportações de commodities para a China – como é o caso da soja brasileira.

Na mesma Indonésia onde a China está dominando a cadeia de um importante insumo mineral para produção de baterias a BYD pretende investir US$ 1,3 bilhão para produzir seu carros elétricos.

A BYD é a fabricante chinesa que mais apresentou planos de internacionalizar suas operações até o momento: também está instalando no Brasil sua primeira fábrica completa fora da China e promete outras na Hungria e no México, colocando assim seu pé em quase todos os continentes.

Comparando com o resto do mundo o Brasil não tem recebido tantos investimentos chineses quanto pode parecer. A BYD investe cerca de US$ 1 bilhão, diluídos até 2030, para estabelecer linha de produção na antiga fábrica da Ford em Camaçari, BA, que começa a operar ainda este ano para montar toneladas de partes importadas da China. A ambição declarada sem rodeios é a de ser uma das três marcas de veículos mais vendidas do País até 2028 – hoje já é a décima, à frente de fabricantes muito mais tradicionais por aqui. Ao mesmo tempo a empresa estuda investir na mineração de lítio em Minas Gerais.

Intenção parecida tem a GWM com investimento anunciado de quase US$ 2 bilhões, prometidos até 2030, que ainda custam a sair do papel na fábrica comprada em 2021 da Mercedes-Benz, em Iracemápolis, SP. Após dois ou três adiamentos da data de início da produção e de definições flutuantes com relação a qual será o primeiro produto da linha brasileira, a empresa promete começar a fabricar comercialmente o Haval H6 no primeiro semestre de 2025.

Há ainda outras montadoras chinesas com intenções de importar primeiro e fabricar depois no Brasil, como a O&J – braço da Chery que já tem investimento no País com a sócia Caoa – e a Neta.

A Rússia é outro mercado importante aberto para a China. Com as barreiras comerciais impostas como resposta à guerra na Ucrânia por Estados Unidos e União Europeia, que obrigaram seus fabricantes a deixar de produzir ou exportar para o país, os russos tornaram-se os maiores importadores do mundo de carros chineses e estão estreitando seus laços com o governo de Pequim.

Barreiras contra suposta invasão

Com preços sempre abaixo da concorrência os chineses só não estão onde não são permitidos. BYD e GWM tentaram investir cerca de US$ 1 bilhão cada uma em fábricas na Índia, que tornou-se o terceiro maior mercado mundial de veículos, com 5 milhões de unidades vendidas em 2023. Contudo o governo indiano barrou as duas iniciativas, devido a rusgas políticas e disputas territoriais que mantém há anos com a vizinha China, além do fato de querer transformar o país em um grande polo exportador.

Algo parecido acontece na Austrália, onde o governo local alega perigo de segurança de dados para impor barreiras às importações de carros chineses e à instalação de fabricantes do país.

Na Europa os carros elétricos chineses estavam encontrando território para crescer mas os fabricantes locais já estão fechando as portas para importações: a União Europeia abriu investigação contra concorrência desleal e poderá aumentar as tarifas de importação, mas assim como ocorre no Brasil alguns fabricantes chineses já tratam de oferecer investimentos em produção local nos países europeus periféricos, como é o caso da BYD na Hungria, para reduzir as barreiras.

Nos Estados Unidos o cenário é o mais restritivo para os chineses, que não são bem-vindos nem para importar nem para produzir localmente. Alegando concorrência desleal, recentemente, o governo Biden aumentou tarifas de uma série de produtos chineses manufaturados, incluindo carros elétricos, que passaram a pagar a absurda alíquota de 100% de imposto de importação.

Maior mercado, produtor e exportador do mundo

A China é atualmente o maior fabricante e maior mercado de veículos do mundo, com 30 milhões de unidades produzidas e praticamente o mesmo número de vendas internas em 2023, sendo 8,1 milhões deles elétricos e híbridos. Mas o crescimento acelerado tem seus custos: investimentos massivos em toda a cadeia de produção local nos últimos vinte anos criaram uma imensa capacidade ociosa. Estimativas dão conta que os fabricantes chineses podem fazer 50 milhões de veículos por ano.

Com tamanho excedente e produtos sensivelmente aprimorados nos últimos anos a China também tornou-se o maior exportador de veículos do mundo, com 5,2 milhões de unidades embarcadas para outros países no ano passado, sendo que 63% deles são de marcas chinesas e 1,2 milhão, ou 23% do total, modelos híbridos e elétricos.

Estimativa da consultoria Alix Partner projetam que as exportações chinesas de veículos chegarão a 9 milhões por ano até 2030, o que elevaria a fatia global do país dos atuais 16% para 30%. Só esta previsão torna bastante compreensíveis os temores dos Estados Unidos, do Japão e da Europa de perderem a liderança dos mercados globais.

O maior mercado comprador de carros chineses é a Rússia, com cerca de 500 mil veículos em 2023, a maioria deles a combustão. E o segundo destino de maior volume foi o Brasil, com quase 42 mil unidades no ano passado, todos híbridos e elétricos.

Este ano, aliás, o mercado brasileiro tornou-se o maior do mundo para carros eletrificados chineses, superando a Bélgica: já somam 42,8 mil de janeiro a maio, superando o volume de 2023 inteiro, com crescimento de 510% sobre o mesmo período do ano passado.

Invasão eletrificada

A China se especializou com grandes vantagens no desenvolvimento e produção de veículos elétricos, que devem abocanhar cerca de um terço do mercado chinês este ano, aumentando o número de unidades vendidas para 10 milhões, contra 3,4 milhões na Europa e 1,7 milhão nos Estados Unidos, segundo projeta o IEA Global EV Outlook.

O salto elétrico chinês é impressionante: o número de veículos elétricos vendidos foi de zero em 2013, subiu para 1,1 milhão de unidades em 2020 e em apenas três anos cresce dez vezes.

E os chineses pretendem utilizar o resto do mundo para acomodar excedentes e ampliar seu domínio econômico e político em mercados emergentes com a bandeira de popularizar as novas tecnologias eletrificadas de propulsão.

Exemplo dessa estratégia é a BYD, que sozinha exportou da China 200 mil veículos elétricos e híbridos em 2023 e pretende dobrar este volume em 2024.

O problema, para os concorrentes de outros países fabricantes de veículos, é que os chineses têm os menores custos de produção do mundo, dominam a cadeia completa de componentes e insumos e ainda contam com incentivos do governo, na forma de crédito barato, subsídios e compras governamentais.

Em uma apresentação a analistas de bancos a Tesla – maior fabricante de carros a bateria do mundo que este ano deverá ser desbancada do posto pela BYD – admitiu que em tecnologia e escala de produção de veículos eletrificados os chineses já estão de três a cinco anos à frente dos fabricantes ocidentais, e dez anos adiante em custo. Ou seja: os fabricantes da China podem vender agora um carro a bateria por preço que a Tesla e outros só conseguiriam atingir em cerca de uma década.

Com tamanha diferença competitiva os Estados Unidos jogaram a toalha: o governo aumentou de 25% para 100% a tarifa de importação de carros elétricos chineses. O presidente Joe Biden justificou a medida dizendo que “os chineses não competem, eles trapaceiam”. Parece que, desta vez, o grande defensor do liberalismo e da livre competição global perdeu para um país comunista a guerra fria capitalista da eletrificação.

Mercedes-Benz AMG GLC 43 4Matic Coupé chega ao Brasil por R$ 695 mil

São Paulo – A Mercedes-Benz anunciou mais um lançamento AMG para o mercado brasileiro: o GLC 43 4Matic Coupé, com motorização híbrida leve e preço de R$ 694,9 mil. O modelo vem equipado com motor 2.0 de 421 cv de potência e sistema de 48V que pode elevar a potência do veículo para 435 cv em casos de retomadas de aceleração. 

O SUV coupé da AMG vem equipado com ar-condicionado de zona dupla, tração integral, câmara de 360º e assistente de estacionamento, kit multimídia com sistema MBUX que permite acessar algumas funções do veículo por comandos de voz, quadro de instrumentos digital, assistente de frenagem, assistente de manutenção de faixa, proteção para pedestres, teto solar panorâmico, faróis full leds adaptativos.

Anfavea está otimista com a aprovação do Mover nos próximos dias

São Paulo – O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, afirmou acreditar na aprovação do projeto de lei do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, na semana que vem. Segundo ele, que se reuniu com o relator, deputado Átila Lira, em Brasília, DF, após a aprovação no Senado Federal, a intenção é que o texto seja apresentado para votação na Câmara dos Deputados na terça-feira, 11.

“O texto aprovado no Senado [na quarta-feira, 5] foi quase o mesmo da Câmara [dos Deputados], com pequenas alterações. Era a nossa vontade que não contivesse grandes mudanças porque foi uma política elaborada por diversas frentes, montadoras, autopeças, academia, governo. A nossa sensibilidade, então, é a de que o relator entregue o novo relatório na próxima semana e que o texto seja aprovado sem grandes dificuldades, até porque já foi apreciado pelos deputados, e que vá à sanção presidencial.”

A aprovação do projeto de lei tornou-se uma novela por causa da inclusão de um jabuti, como são chamados os temas inseridos em projetos que não têm a ver com o seu assunto central. O relator Átila Lira incluiu no texto a taxação de compras internacionais inferiores a US$ 50, que ficou mais conhecida por taxa das blusinhas por mirar em compras no site chinês Shein, dentre outros comércios eletrônicos.

O tema, polêmico, acabou por atrasar a tramitação do Mover, que aparentemente não tem rejeição no Congresso. Tanto que na votação do Senado a taxa das blusinhas foi votada como destaque e o texto do Mover, sem ela, aprovado por unanimidade. Outros jabutis incluídos, como temas de bicicletas elétricas e conteúdo local para produção de petróleo e gás, foram recusados.

Após a aprovação na Câmara o Mover seguirá para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para, enfim, tornar-se lei. A Medida Provisória que criou o programa caducou na semana passada mas no texto votado no Senado foi colocado um mecanismo para manter sua vigência durante o período.

Exportações acumulam queda de 30% de janeiro a maio

São Paulo – As exportações acumuladas de veículos brasileiros seguem em queda e acumulam retração, com relação a mesmo período do ano passado, de quase 30%. Foram enviadas a outros países 136,3 mil unidades nos cinco primeiros meses do ano, e 193,8 mil no mesmo período de 2023, conforme dados da Anfavea divulgados na sexta-feira, 7.

Somente em maio os embarques despencaram 41,4% ao somar 26,8 mil unidades contra as 45,7 mil no mesmo mês do ano passado. Com relação a abril, quando as vendas externas somaram 27,3 mil veículos, a queda é de 2,1%.

De acordo com o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, este é o tema mais desafiador para o setor: “As exportações seguem perdendo força. Além do problema do custo Brasil, que reduz nossa competitividade, as economias locais de importantes clientes como Chile, Colômbia e Argentina têm passado por problemas e reduzido suas compras”.

O pequeno crescimento nas encomendas registrado pelo México no mês passado não foi suficiente para reerguer os volumes, que também sofreram reflexo da maior presença de produtos asiáticos nesses mesmos países, o que segundo Lima Leite também tem prejudicado os embarques brasileiros.

Lima Leite disse ainda que as inundações no Rio Grande do Sul refletiram o volume exportado, uma vez que houve paralisações de fábricas não somente no Estado como em outras partes do País por causa da falta de peças – mais de quinhentos fornecedores do setor estão nessa região.

Em volumes os embarques renderam US$ 3,9 bilhões no acumulado do ano, retração de 17,6% frente a idêntico período em 2023. No mês passado a receita de US$ 822,2 milhões ficou 24,5% abaixo da obtida em maio do ano passado porém superou em 11,1% a de abril.  

Produção de ônibus atinge o maior patamar desde 2015

São Paulo – O segmento de ônibus apresenta momentos distintos: enquanto a produção cresceu de forma robusta de janeiro a maio as vendas caíram de forma relevante, segundo dados apresentados pela Anfavea na sexta-feira, 7. Segundo o vice-presidente Eduardo Freitas a razão é o programa Caminho da Escola, que no ano passado foi atendido com todas as unidades emplacadas no primeiro trimestre, enquanto em 2024 os emplacamentos ganharão ritmo mais forte a partir de junho:

“Até agora vendemos quatrocentos ônibus para o programa Caminho da Escola, enquanto no mesmo período do ano passado o volume estava em torno de 2,5 mil unidades”.

O executivo espera que o volume avance a partir de junho e no segundo semestre, “pois já foram contratadas 5,4 mil unidades pelo programa e esse volume deverá chegar a 6 mil unidades até o fim do mês”.

A produção de janeiro a maio somou 12 mil unidades, a maior para o período desde 2015, com alta de 58,5% na comparação com o ano passado. Em maio foram produzidos 2,7 mil chassis, expansão de 40,3% sobre igual mês do ano passado e queda de 2,7% com relação a abril, que teve um dia útil a mais. 

As vendas de chassis nos cinco primeiros meses do ano somaram 7,1 mil unidades, queda de 25,4% na comparação com iguais meses do ano passado. No mês passado foram comercializadas 1,3 mil unidades, recuo de 33,2% com relação a maio do ano passado e retração de 26,1% na comparação com abril.

É necessário lembrar que os ônibus são emplacados alguns meses após a produção do chassi, pois eles são entregues para as encarroçadoras finalizarem o veículo e só depois eles entram nas estatísticas de vendas.

Nos cinco primeiros meses do ano foram exportados 1,6 mil ônibus, volume 4,3% maior do que o registrado em igual período de 2023. Em maio os embarques somaram 311 unidades, queda de 26,7% na comparação com maio do ano passado e recuo de 30,6% com relação a abril.

Indústria de caminhões supera efeitos do Euro 6 e volta à rota de crescimento

São Paulo – Depois de um 2023 sofrido a indústria de caminhões superou o impacto dos preços mais altos dos veículos Euro 6 e voltou à rota de crescimento, de acordo com Eduardo Freitas, vice-presidente da Anfavea. De janeiro a maio foram produzidos 52,2 mil veículos, alta de 29,9% sobre o mesmo período do ano passado.

Segundo Freitas ainda há espaço para atingir volumes maiores ao longo do ano. Foram produzidos em maio 11,2 mil caminhões, expansão de 33,1% sobre maio do ano passado e queda de 4,2% com relação a abril. Ele afirmou que o recuo na comparação com abril ocorreu porque maio teve um dia útil a menos, avaliando a produção mensal como estável.

O mesmo ocorreu com as vendas: em maio somaram 9,5 mil unidades, avanço de 16,1% sobre igual mês do ano passado e queda de 11,3% com relação a abril. Além do dia útil a mais Freitas disse que parte da retração foi decorrente da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, que derrubou as vendas no Estado

A Anfavea mostrou que em abril foram vendidos 743 caminhões no Rio Grande do Sul, contra 291 em maio, queda de 61%. A participação no total vendido no País caiu de 6,9% para 3% na mesma base comparativa. 

No acumulado do ano os emplacamentos de caminhões chegaram a 46,8 mil unidades, incremento de 4,8% sobre o resultado do acumulado do ano passado.

Se tudo vai bem nas vendas e na produção, as exportações registraram queda de 14,4% de janeiro a maio na comparação com o mesmo período de 2023, com 6,8 mil unidades embarcadas. No mês passado foram exportadas 1,3 mil unidades, retração de 1,2% com relação a maio do ano passado e crescimento de 8,4% sobre abril.

Rio Grande do Sul emplacou apenas 4 mil unidades em maio

São Paulo – A tragédia ocasionada pelas enchentes no Rio Grande do Sul ao longo do mês passado deixou sua marca também na venda de veículos 0 KM. Os emplacamentos no Estado diminuíram 64%, ao passarem do patamar de 11,3 mil em abril para o de 4,1 mil em maio. Com isto a participação encolheu de 5,2% para 2,1%.

De acordo com dados da Anfavea apresentados à imprensa na sexta-feira, 7, embora o cenário tenha contribuído para a queda de 12% nas vendas, que recuaram de 220,8 mil para 194,3 mil no intervalo de um mês, na comparação com o quinto mês de 2023, quando haviam sido emplacadas 176,5 mil unidades, houve alta de 10%.

Além disso, considerando apenas a média de vendas diária, de 9 mil 250 veículos, foi a melhor para um mês de maio desde 2019. O volume mensal também foi o segundo maior do ano, atrás apenas de abril.

Segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, não fosse o reflexo da catástrofe do Rio Grande do Sul o número de 194,3 mil veículos emplacados teria sido acrescido em 6,5 mil unidades, totalizando 200,8 mil vendas. Ainda assim estaria aquém de abril, pois, de acordo com o executivo, questões sazonais tradicionalmente deixam o movimento de maio inferior.

“O esperado era uma diferença de 14 mil unidades com relação a abril, caso não houvesse as enchentes. Dessa forma teríamos uma redução de 9,1% na comparação mensal, em vez de 12%, e um avanço de 13,7%, no lugar de 10%, na comparação anual.”

Ainda nesta hipótese as 930 mil vendas no acumulado do ano estariam 15,7% acima das 809 mil de 2023, em vez de 15% maiores.

Lima Leite assinalou que ainda é cedo para estimar se os reflexos da tragédia no Rio Grande do Sul se estenderão por mais tempo: “Por ora as projeções estão mantidas. No mês que vem teremos mais elementos para avaliar e divulgaremos a revisão das perspectivas”.

Crescimento das importações segue preocupando Anfavea

São Paulo – O crescimento dos emplacamentos de veículos importados, 38% de janeiro a maio sobre igual período do ano passado, para 159,3 mil unidades, chamou a atenção da Anfavea, que divulgou seus dados econômicos na sexta-feira, 7. No mesmo período as vendas cresceram 15%, somando 930 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O porcentual dos importados no total do mercado subiu de 14,2% para 17,2%.

Mais ainda pelo fato de que veículos importados da China representaram 82% do crescimento: 35,7 mil unidades vieram de lá. Se nos primeiros cinco meses de 2023 os veículos chineses somaram 7 mil unidades e responderam por 6% da participação dos veículos estrangeiros, no acumulado deste ano saltaram 510%, ao exportarem para o Brasil 42,7 mil unidades e ocupar a segunda posição no ranking de importadores, com participação de 27%, atrás somente da Argentina.

Essa movimentação chinesa, estimulada principalmente pelo maior interesse do brasileiro por carros híbridos e elétricos, a propósito, fez com que os produtos argentinos perdessem peso no País e recuassem de 64% das importações no ano passado, 74,4 mil veículos, para 45% este ano, com 72,1 mil, embora o volume de veículos vindos da principal parceira comercial do Brasil tenha tido leve redução de 3%.

O México também ampliou em 66% sua penetração no mercado brasileiro ao avançar de 10,7 mil unidades em 2023, com fatia de 9%, para 17,8 mil em 2024, parcela de 11%. Na avaliação do presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, as informações acendem sinal de alerta:

“Esse aumento das importações em uma velocidade bastante acelerada mesmo com a recomposição tarifária traz um grande desafio ao nosso setor. E temos ainda uma outra questão com o avanço dos produtos chineses, pois se fossem da Argentina ou do Mercosul, com quem mantemos importante fluxo de peças, isto acaba beneficiando a indústria mesmo que não seja com veículos acabados”.

Lima Leite ressaltou que o ponto de atenção é o que deixou de ser produzido no Brasil, que perdeu a capacidade de aumentar o mercado de autopeças e a fabricação de veículos. A alta de 38% no ingresso de importados possui “composição perigosa”, pois a exportações acumulam queda de 30% este ano: “Não estamos em guerra contra as importações, mas é preciso ter um equilíbrio. Não podemos deixar nossos fabricantes em risco”.

O dirigente analisou que junho deverá registrar um crescimento ainda maior de importados, pois a partir de julho a alíquota de importação para eletrificados sofrerá aumento. Híbridos passarão dos atuais 15% para 25%, híbridos plug-in de 12% para 20%, elétricos de 10% para 18%. O aumento será gradativo até julho de 2026, quando todos pagarão 35%.

A exceção vale para automóveis elétricos para transporte de cargas ou caminhões elétricos em que o porcentual de 20% passará à alíquota cheia, de 35%, já em julho, pelo fato de haver produção nacional suficiente.

Greves e chuva no Rio Grande do Sul derrubam a produção de maio

São Paulo – A indústria automotiva brasileira produziu 166,7 mil veículos em maio, resultado 26,8% inferior ao do mesmo mês do ano passado e 24,9% abaixo do registrado em abril, segundo divulgou a Anfavea na sexta-feira, 7. Foi o pior resultado para o mês desde 2020, quando o ritmo das linhas de montagem foi reduzido por causa da pandemia.

Para o presidente Márcio de Lima Leite duas razões derrubaram a produção do mês passado: as enchentes no Rio Grande do Sul e as paralisações. O primeiro fator, segundo ele, é uma “tragédia, calamidade e o aspecto humanitário tem que ser colocado à frente das questões de mercado”.

Já as greves, na fábrica da Renault em São José dos Pinhais, PR, e a operação tartaruga dos fiscais do Mapa, Ministério da Agricultura e Pecuária, e do Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, são fatores que afetam a competitividade da indústria local:

“É falta de competitividade na veia. Essas paralisações, segundo nossas contas, retiraram 28 mil veículos das linhas de montagem no mês passado. É custo Brasil”.

As projeções da Anfavea indicavam para maio a produção de 209,7 mil veículos, 43 mil a mais do que os que realmente saíram das linhas de montagem. Além dos 28 mil que não foram produzidos pela greve a entidade calcula que outros 12 mil deixaram de ser produzidos em decorrência dos efeitos que as enchentes no Rio Grande do Sul causaram em fornecedores, ao setor logístico e em montadoras que precisaram parar as linhas, como Volkswagen e General Motors. O volume restante foi devido a outras razões, disse Lima Leite sem entrar em pormenores.

O saldo acumulado de janeiro a maio ficou negativo em 1,7% diante do resultado do mesmo período no ano passado, com 926,8 mil veículos produzidos em fábricas brasileiras. Quem puxou para baixo foi o segmento de automóveis e comerciais leves, com produção 3,6% menor, 862,7 mil unidades.

O fato positivo vem da geração de empregos, já estimulada, segundo o presidente da Anfavea, pelos mais de R$ 120 bilhões em investimentos anunciados pela indústria: desde dezembro foram efetivadas 4,4 mil contratações pelas montadoras. Só em maio foram 1,3 mil postos de trabalho criados. No total a indústria de veículos emprega 103,3 mil pessoas.

Venda de eletrificados em 2024 supera em 150% acumulado do ano passado

São Paulo – Nos primeiros cinco meses do ano foram comercializados 64,9 mil veículos eletrificados no País, dos quais 46%, ou 29,7 mil unidades, foram emplacadas fora das capitais, em municípios do Interior. Do total 68%, ou 20,2 mil veículos vendidos nessas localidades, foram BEV e PHEV. Foi o que apontou levantamento da ABVE Data.

O número de veículos eletrificados comercializados no Brasil este ano supera em 149% o total do mesmo período em 2023, 26 mil unidades. Se a comparação for sobre igual período de 2022, 16,3 mil unidades, o aumento é de 297%.

Em maio foram emplacados 13,6 mil eletrificados, sendo 66,5% PHEV. Sobre a quantidade comercializada tem-se incremento de 111,5% ante o mesmo mês em 2023, 6,4 mil unidades. Em comparação com abril, que registrou a vendas de 15,2 mil unidades, houve recuo de 10,5%. 

A participação de mercado dos eletrificados sobre o total das vendas domésticas de veículos leves tem se mantido constante, em torno de 7% a 8%, desde o início do ano. No mesmo período de 2023 a fatia era de 3,9%. Segundo a ABVE Data a participação dos veículos plug-in, tanto 100% elétricos como híbridos plug-in, responde atualmente por 5% do total das vendas.

Existem em circulação no País desde 2012, quando teve início a série histórica da ABVE, 285,3 mil veículos eletrificados, o que corresponde a 0,67% de participação sobre o total geral de veículos leves emplacados no mesmo período.