São Paulo – A indústria automotiva brasileira, que sempre defendeu a previsibilidade e regras claras, está indo no sentido contrário com o pleito, anunciado pela Anfavea no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2024, de antecipar o retorno integral do Imposto de Importação para veículos eletrificados, segundo Marcelo Godoy, presidente da Volvo Cars. Para ele mudar as regras com o jogo em andamento é pior do que não ter regras:
“As condições foram colocadas e todo mundo concordou. Se elas são leves ou duras eu não posso julgar, mas foi o decidido e todo mundo topou. Mas quebrar as regras no meio do jogo é pior do que não ter nenhuma”.
Na semana passada o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, pediu ao vice-presidente e ministro do MDIC Geraldo Alckmin, que os 35% de imposto de importação para híbrido e elétricos, previstos para retornar em julho de 2025, seja antecipado para já, para evitar a invasão de modelos, sobretudo chineses, no mercado. Para Godoy o movimento pode ligar um sinal de alerta em outras indústrias que importam e vendem no Brasil: “Se estão mudando o acordo no setor automotivo porque não farão com outros setores também?”
O presidente da Volvo Cars disse que Alckmin demonstrou ser contra a antecipação do cronograma. Para Godoy fechar o mercado com mais impostos não solucionará o maior problema da indústria, que é o custo Brasil. Ele usou como exemplo os gastos da Volvo Cars com frete marítimos: o valor pago para trazer veículos da China para o Brasil é o mesmo cobrado por um frete de Cariacica, ES, para o Estado da Bahia, segundo ele.
Para se preparar para o aumento do imposto de importação, que foi elevado em 10% no começo do ano e subiu para 18% em julho, a Volvo fez um reajuste médio de 7% em todos os seus veículos no começo do ano e definiu que nenhum outro aumento será promovido até dezembro. Godoy negociou diretamente com a matriz para efetivar essa estratégia no Brasil:
“Este ano a Volvo Suécia receberá menos do Brasil na comparação com os dois últimos anos. Acordamos que apertar a nossa rede não era uma opção, por isso negociamos com a matriz uma redução na rentabilidade. Isso reforça o compromisso da montadora com o Brasil: mesmo sem fábrica por aqui nós investimos em rede, funcionários e infraestrutura”.