GM investirá R$ 1,2 bilhão em Gravataí para produzir modelo inédito

Gravataí, RS — A General Motors anunciou nesta quinta-feira, 11, a destinação de R$ 1,2 bilhão para sua fábrica gaúcha, onde será produzido um veículo totalmente novo, a ser lançado em 2026. Os recursos fazem parte do ciclo de investimento de R$ 7 bilhões no período 2024-2028 anunciado no início deste ano pela fabricante.

Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul, reuniu autoridades, como o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para anunciar, em um galpão da fábrica de Gravataí, RS, o aporte para “modernizar e fortalecer a capacidade industrial para a chegada de um novo modelo inédito em segmento ainda não explorado pela Chevrolet”.

Sem dizer qual o segmento em que estará este novo produto Fábio Rua, vice-presidente da GM para a América do Sul, confirmou que o desenvolvimento está sob a liderança da engenharia na região: “O projeto está adiantado. Já existe um design muito próximo do final. Estamos liderando este projeto globalmente. Inicialmente o foco é o mercado interno, mas vamos explorar os outros países da América Latina e não descartamos exportar para outras regiões”.

Santiago Chamorro, presidente da GM na América do Sul, reuniu autoridades, dentre eles o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para anunciar o aporte. Foto: Divulgação.

Além da categoria em segmento que ainda não atua o novo veículo também terá “propulsão ainda mais eficiente e inovadora”, segundo Rua, sugerindo que alguma eletrificação poderá ser adotada. A produção está definida para ter início em 2026.

De acordo com o vice-presidente ainda este ano a GM anunciará a segunda etapa do ciclo de investimentos no Brasil: “Esta segunda fase para o período de 2024 a 2028 está atrelada às regulamentações do Mover e também do texto final da reforma tributária”.

Novo texto da reforma tributária pode dobrar incentivos no Nordeste

São Paulo – O texto substitutivo da reforma tributária, apresentado na quinta-feira, 4, trouxe grande surpresa para boa parte da indústria automotiva nacional. Não foram as definições do IBS, Imposto sobre Bens e Serviços, nem a respeito da instituição do CBS, a Contribuição Social sobre Bens e Serviços. A bomba caiu no artigo 309, aumentando a renúncia fiscal para fabricantes de veículos com unidades instaladas na Região Nordeste.

O artigo 309 atualiza o texto original regulamentando que o crédito presumido será calculado mediante a aplicação dos seguintes porcentuais sobre o valor das vendas no mercado interno, fabricados ou montados nos estabelecimentos incentivados:

I – 14,50% até o 12º mês de fruição do benefício;

II – 11,60% do 13º ao 48º mês de fruição do benefício;

III – 8,70% do 49º ao 60º mês de fruição do benefício

Na primeira rodada das discussões sobre os incentivos às fabricantes instaladas no Nordeste houve reclamação generalizada, disputas ferrenhas de lobistas das montadoras no plenário do Congresso Nacional e até algo inusitado na história da indústria automotiva deste País: empresas com fábricas no Sul e no Sudeste publicando comunicados em conjunto na grande mídia arguindo que haveria um descompasso de competitividade produtiva por causa da continuidade dos incentivos concedidos para as fabricantes com operações no Nordeste e também no Centro-Oeste.

Uma fonte ouvida pela Agência AutoData de Notícias contou que para acalmar os reclamantes houve uma negociação que resultou nos valores publicados na primeira versão do texto do Projeto de Lei 68/2024 com os seguintes cálculos para o crédito presumido:

I – 8,70% nos anos de 2027 e 2028;

II – 6,96% no ano de 2029;

II – 5,22% no ano de 2030;

IV – 3,48% no ano de 2031;

V – 1,74% no ano de 2032.

Desta forma houve entendimento geral dos fabricantes nacionais de que, mesmo com incentivos à fabricação de veículos no Nordeste e Centro-Oeste estendido até 2032, o crédito presumido publicado na primeira versão da reforma tributária daria uma vantagem para os produtos feitos nestas regiões, mas seria possível sobreviver à ferrenha disputa do mercado nacional de veículos.

Porém, com a versão do substitutivo apresentada na semana passada houve uma correria até Brasília, DF, para entender dos deputados por que houve a mudança descrita pelo artigo 309. Executivos do alto escalão das empresas ouvidas por AutoData apresentaram diversos cálculos sobre o impacto do texto substitutivo.

A Stellantis, que possui uma fábrica em Goiana, PE, poderá, assim que aprovado o texto da reforma tributária como está, ter uma renúncia fiscal variando de R$ 1,5 bilhão até R$ 5,5 bilhões. Os cálculos são preliminares porque a mudança pegou a todos de surpresa. O impacto real ainda é desconhecido pois a matemática deve ser feita levando em conta o faturamento dos veículos feitos no Nordeste e, atualmente, além de produzir veículos de maior valor agregado em Goiana a Stellantis também vem elevando o volume produzido por lá. AutoData consultou a Stellantis a respeito deste e outros temas referentes ao texto da PL 68/2024, mas até o fechamento desta reportagem a fabricante não retornou o contato.

A BYD, que está construindo uma fábrica na Bahia, também poderá ter acesso a estes benefícios. Mas não imediatamente. Mesmo que a produção tenha início ainda este ano, ou em 2025, só poderá fazer os cálculos após um ano de produção para que haja um histórico do faturamento e dos créditos a serem presumidos a partir daí.

Mesmo assim, consultada, a BYD, por meio de Alexandre Baldy, seu vice-presidente sênior, disse que o texto substitutivo “não trouxe benefício a mais, é uma recomposição e interpretação que havia sido feito de forma incompleta, só houve ali uma atualização de acordo com o que seria o texto da reforma tributária”.

Tributaristas e consultores procurados por AutoData avaliaram que esta mudança na reta final da definição de um projeto de lei tão importante para o País, como o da reforma tributária, é temerária porque não permite que a matéria seja amplamente discutida.

Paulo Ianone, tributarista e sócio da consultoria CLA Brasil, ponderou que “quando há um aumento de renúncia fiscal tem que haver uma contrapartida prevendo como este valor será ressarcido”. Na prática será necessário equilibrar a arrecadação presumida pela reforma tributária aumentando a carga em algum outro setor para compensar os incentivos concedidos à produção automotiva no Nordeste.

Nesta quarta-feira, 10, houve a votação na Câmara dos Deputados do texto substitutivo da PL 68/2024. Até o fechamento desta reportagem ainda não havia terminado a votação, porém, a tendência é de que o texto será aprovado em sua íntegra.

Quem acompanha de perto este assunto acredita que o artigo 309 será alterado em algum momento. A expectativa dos lobistas das montadoras com produção no Sul-Sudeste é de que os fatores para o crédito presumido acabem sendo definidos em um meio-termo com os porcentuais do texto original e os do substitutivo.

De qualquer forma este é um capítulo negativo para a indústria automotiva nacional porque por um lado demonstra para a sociedade que algumas empresas trabalham apenas para obter ainda mais benefícios. E por outro fica evidente que não há uma atuação em unidade, com todas as empresas buscando o necessário apoio do Estado para melhorar a competitividade nacional frente à competição global.

Vendas de eletrificados somam 79 mil unidades no primeiro semestre


São Paulo – Foram emplacados ao longo do primeiro semestre 79,3 mil veículos leves eletrificados, incremento de 146% com relação ao período de janeiro a junho de 2023. Os dados, divulgados pela ABVE, apontam que 299,7 mil veículos leves elétricos e híbridos entraram em circulação no País desde 2012, quando teve início a série histórica da associação.

O resultado foi impulsionado pelas vendas de junho, considerado o terceiro melhor mês da série histórica, com 14,4 mil unidades, alta de 131% na comparação anual e avanço de 253% na mensal. A entidade projeta que até o fim do ano será estabelecido novo recorde com a comercialização de 150 mil eletrificados, o que significaria crescimento em torno de 60% sobre os 93,9 mil veículos vendidos em 2023.

Nos primeiros seis meses de 2024 os BEV representaram 39% dos emplacamentos de eletrificados no País, ou 31,2 mil unidades. Os PHEV responderam por 29,5% ou 23,3 mil. Os veículos plug-in, portanto, somaram 69% do mercado no acumulado do ano.

Já os HEV convencionais ficaram com 9,3% das vendas, ou 7,4 mil, sendo que os HEV flex a etanol, com 14% ou 10,9 mil. E os MHEV, com 6,4 mil unidades, representaram fatia de 8%.

Mercedes-Benz muda central de distribuição de peças de Campinas para Itupeva

São Paulo – A Mercedes-Benz iniciou a operação da sua nova Central de Distribuição e Logística de Peças no Brasil, agora localizada em Itupeva, SP, no condomínio logístico da HGLG. No local, que possui 45 mil m², a Mercedes-Benz possui estoque de 8 milhões de peças, sendo que 1,5 milhão são distribuídas mensalmente para todo o Brasil e para mais de cinquenta países. 

A nova central terá como parceiro logístico a Penske Logistics e a mudança de Campinas para Itupeva ocorreu “para que a empresa desse mais um passo dentro do processo de modernização operacional da logística de peças, ganhando desempenho e eficiência”, segundo comunicado divulgado pela montadora.

BYD amplia portfólio de modelos híbridos com o Song Pro

São Paulo – A BYD lançou o SUV híbrido plug-in Song Pro no Brasil em duas versões, GL e GS, que serão comercializadas com preço de R$ 189,8 mil e R$ 199,8 mil para as três mil unidades que foram embarcadas da China. O modelo será o primeiro a ser produzido pela BYD na fábrica de Camaçari, BA, ainda em 2024, com montagem parcial e, em 2025, com toda a produção realizada na unidade. 

Esse foi o décimo lançamento da BYD no Brasil nos últimos três anos, sendo o segundo modelo híbrido plug-in seguido: dias atrás foi a vez do sedã médio King. Henrique Antunes, diretor de vendas da BYD, disse que a ampliação do portfólio de modelos híbridos é para atender a um pedido dos concessionários e também dos clientes finais, uma vez que os consumidores pediam nas revendas mais opções de veículos híbridos. 

A GL, versão de entrada, tem bateria de 12,9 kWh, e a GS utiliza bateria de 18,3 kWh. O tamanho das baterias determina a autonomia do modelo apenas no modo elétrico, sendo que o primeiro roda 70 quilômetros e o segundo tem até 110 quilômetros, sendo este o diferencial das duas configurações. 

O conjunto de motorização é o mesmo para as duas versões, combinando motor elétrico com motor 1.5 movido a gasolina, que juntos geram potência de 223 cv para a versão GL e de 235 cv para a versão GS. O câmbio é sempre automático do tipo CVT.

A lista de equipamentos da versão GL, a de entrada do Song Pro, oferece kit multimídia com tela sensível ao toque de 12,8 polegadas, abertura do veículo sem chave por meio de aplicativo BYD, quadro de instrumentos digital com tela de 8,8 polegadas, freio de estacionamento eletrônico, banco do motorista com ajuste manual de seis posições, rodas aro 18, câmara 360º. A configuração GS, topo de linha, possui todos os itens acima mais ajustes elétricos do banco do motorista, carregamento do celular por indução e bateria maior que proporciona maior autonomia. 

Na comparação com o Song Plus o Song Pro traz alterações no seu visual dianteiro e traseiro, deixando o acabamento mais requintado para o modelo mais caro, que é o Song Plus.

Song Pro será o primeiro modelo BYD a ser produzido na fábrica de Camaçari

São Paulo – O Song Pro, SUV híbrido plug-in da BYD, será o primeiro modelo produzido pela empresa na fábrica de Camaçari, BA. A informação foi divulgada por Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD, durante o lançamento do SUV que chegou importado ao Brasil nas versões GL e GS.

Segundo Baldy o plano segue o mesmo: iniciar a montagem em CKD ou SKD em meados de dezembro, chegando a produção nacional em pleno ritmo durante o primeiro semestre do ano que vem, com processos completos como estamparia e soldagem realizados na fábrica de Camaçari e com a inclusão dos primeiros fornecedores nacionais. 

Com relação a outros modelos especulados para serem produzidos no Brasil, como os elétricos Dolphin e Dolphin Mini, Baldy disse que ainda não pode cravar a localização de nenhum deles, mas que em breve a empresa falará mais sobre os seus planos de produção local.

Questionado sobre o andamento das obras na Bahia Baldy afirmou que está seguindo o ritmo esperado e que, em breve, será realizado evento no local para mostrar o resultado: “Temos mais de duzentos caminhões e cem máquinas trabalhando ali, construindo em torno de 400 mil m² de fundações. Já temos a estrutura de aço e ferro de algumas áreas montadas”.

Com relação ao maquinário que será instalado na fábrica a maior parte será importada da China, onde a BYD já está negociando a compra com seus fornecedores, mas a intenção também é comprar alguma parte destas máquinas no Brasil. Baldy afirmou que o que for possível comprar no País será comprado. 

Com 32,6 mil veículos emplacados de janeiro a junho no Brasil a BYD encerrou o primeiro semestre na décima posição do ranking por marca e Baldy disse que a meta até dezembro é se manter junto às dez marcas mais vendidas, mas evitou projetar um número de vendas para o ano.

Dana completa 77 anos de operação no Brasil

São Paulo – A Dana completou em 10 de julho, quarta-feira, 77 anos de atividades no Brasil. Presentes nos caminhões e ônibus e na maioria dos automóveis e picapes fabricados no País as soluções da marca buscam seguir ampliando participação no fornecimento a montadoras e ao mercado de reposição devido ao lançamento de produtos e serviços e à ampliação do seu portfólio.

Além disso estão sendo desenvolvidas soluções para atender às novas demandas por eletrificação e por veículos movidos a combustíveis renováveis. Segundo a Dana os investimentos realizados no Brasil na última década para modernizar linhas de produção e aprimorar processos de fabricação permitiram que a companhia ampliasse seu fornecimento com ênfase em veículos comerciais.

De olho no avanço da sustentabilidade a empresa sediada em Gravataí, RS, conquistou, no ano passado, a certificação I-Rec, que assegura que toda a eletricidade utilizada em sua produção é gerada por fonte limpa.

Iveco Bus entrega 155 veículos do Caminho da Escola em Pernambuco

São Paulo – A Iveco realizou a entrega de seu primeiro lote de veículos do Caminho da Escola para a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, composto por 155 BUS 15-210 ORE 3. Ao todo o programa estadual Juntos pela Educação adquiriu 355 unidades.

Segundo a empresa as secretarias de Educação dos estados da Bahia e do Mato Grosso também realizaram expressivos pedidos de ônibus para a iniciativa do governo federal que busca prover transporte a estudantes em áreas rurais e urbanas de difícil acesso.

A Iveco liderou a licitação do governo em busca de ônibus escolares com 7,1 mil veículos. Foram habilitadas 3,6 mil unidades do BUS 10-190 ORE 2, Ônibus Rural Escolar 2, com motor de 190 cv e capacidade para 44 estudantes mais o condutor.

As outras 3,5 mil unidades são do BUS 15-210 ORE 3, Ônibus Rural Escolar 3, equipado com motor FPT Industrial de 210 cv de potência e capacidade de transportar 59 alunos mais o motorista. Esta foi a primeira vez que a Iveco Bus ofereceu este modelo ao Caminho da Escola.

Rodrigo Andrade será superintendente de vendas e marketing do Grupo BMW Serviços Financeiros

São Paulo – A partir de 1º de setembro o Grupo BMW Serviços Financeiros terá um novo superintendente de vendas e marketing: Rodrigo Andrade, que atualmente é chefe de vendas corporativas e especiais do Grupo BMW América Latina, baseado no México. Ele sucederá a Matheus Pereira, que assumiu como novo CEO da BMW Motorrad Brasil em 1º de julho.

Andrade terá a missão de reforçar o crescimento das operações no Brasil como responsável por vendas, marketing, CRM, produtos e planejamento comercial e se reportará ao CEO do Grupo BMW Serviços Financeiros, Mário Janssen. O executivo ingressou no Grupo BMW em 2012 como gerente regional de vendas e acumula mais de 25 anos de experiência no setor automotivo.

Indústria e importadores têm argumentos ruins sobre taxação a carros elétricos

Esquentou a discussão sobre retomar para já a alíquota de 35% de imposto de importação para veículos eletrificados, a maioria absoluta importada da China. A tarifa, que de 2015 até dezembro foi de zero para modelos a bateria e de 4% para híbridos, começou a ser retomada em quatro fases a partir de janeiro e estava prevista para voltar aos 35% somente em julho de 2026.

Mas a Anfavea, que representa os fabricantes instalados no País, pede ao governo a retomada imediata do teto máximo da tarifa sob o argumento de que o crescimento acelerado das importações, estimuladas pelo imposto ainda baixo, está tomando o lugar da produção nacional e ameaça investimentos multibilionários já anunciados.

Do lado contrário os importadores reclamam de falta de previsibilidade nas regras e de injustiça tributária, rogando para si a contribuição que dão ao meio ambiente, pois ainda são os únicos a vender carros de baixa ou nenhuma emissão de CO2.

Na falta de um bom lado para escolher nessa disputa comercial melhor ficar com nenhum, ou com as razões parciais, pois ambos os lados têm argumentos ruins para taxar ou não taxar os carros eletrificados, que estão chegando às pencas da China, somando 51,7 mil emplacamentos no primeiro semestre, sendo 87% deles de apenas duas marcas: BYD [63%] e GWM [24%], que prometem começar a produzir seus modelos em fábricas brasileiras a partir do fim deste ano.

O lado ruim dos fabricantes

A Anfavea encontrou exemplos fora do País para justificar a retomada imediata do imposto de importação de 35% sobre carros eletrificados importados, alegando que outros países já tomaram medidas bem mais duras para barrar os veículos chineses elétricos em seus mercados, acusando a China de concorrência desleal por causa de concessão de subsídios aos seus fabricantes.

Enquanto o Brasil atualmente aplica alíquota de 18% sobre modelos a bateria – prevista para subir a 25% daqui a um ano e em dois a 35%, o máximo admitido pela OMC, Organização Mundial do Comércio – os Estados Unidos adotaram a inacreditável tarifa de 102,5%, e a União Europeia estuda elevar a alíquota para 27% a 48%, a depender dos incentivos que cada fabricante recebe do governo chinês.

Interessante sublinhar que nestes países existe a produção e venda de carros elétricos e híbridos há mais de uma década, também motivada por muitos subsídios a fabricantes locais.

Mas se na Europa e na América do Norte já existe a indústria local de veículos eletrificados a ser protegida falta este argumento à Anfavea, pois no Brasil ainda não são produzidos veículos leves elétricos puros ou híbridos plug-in, apenas os híbridos fechados da Toyota, mesmo assim com peso relevante de componentes importados.

O que a indústria quer, portanto, é dificultar a competição no mercado brasileiro de produtos importados que não são fabricados aqui, para assim proteger os carros a combustão que faz e pretende continuar fazendo no Brasil.

Apesar das promessas de investimentos de mais de R$ 100 bilhões nos próximos anos a justificativa é que a indústria nacional não tem recursos e nem a escala de produção necessária – leia-se mercado pequeno – para tornar viável o investimento na cadeia de fabricação de carros elétricos, como fez a China com boa ajuda estratégica do seu governo central, dominando todos os processos, da mineração de insumos ao fornecimento de baterias até o produto final.

Em outras palavras o que a indústria nacional está dizendo é que jamais conseguirá competir contra carros elétricos chineses e, portanto, precisa de alguma proteção para continuar produzindo no Brasil – ainda que a alíquota de 35% seja apenas a retomada de algo que sempre existiu no País desde os anos 1990, pois não está sendo solicitada nenhuma sobretaxação aos moldes do Inovar-Auto de 2012, por enquanto.

O lado ruim dos importadores

Enquanto a indústria pede proteção os importadores querem a manutenção de um privilégio: o de sustentar seu lucro com isenção de impostos sobre um produto de duvidoso benefício ambiental, vendido para um público que pode muito bem pagar mais por um automóvel que se enquadra na categoria de bem supérfluo.

Vamos combinar que a esmagadora maioria do público que compra um carro no Brasil não tem nenhuma motivação ambiental – se assim fosse só colocaria etanol no tanque de seus automóveis flex em vez de fazer contas para checar se não é mais compensador rodar com gasolina e emitir toneladas de CO2 fóssil sem nenhuma dor na consciência.

Quem compra um carro elétrico chinês o faz, em primeiro e segundo lugares, porque tem acesso a um modelo com mais tecnologia e preço já bastante similar ao de veículos a combustão mais caros produzidos aqui, na faixa dos R$ 150 mil a R$ 200 mil e além. Quem está comprando hoje também não tem muitas preocupações com o amanhã, vez que não parece pensar na revenda, na infraestrutura de recarga incipiente ou na confiabilidade do produto após os seus primeiros anos de vida, pois ainda não temos exemplos de como os carros a bateria envelhecem.

Mesmo para os poucos que acreditam estar fazendo um bem enorme à humanidade ao optar rodar de carro elétrico, ou às empresas que compram meia dúzia de veículos a bateria para cumprir propagandeadas metas de descarbonização, é preciso dizer que esta opção tecnológica ainda não fez nem cócegas nas emissões globais de CO2, que seguem aumentando – inclusive e mais ainda no país de onde são produzidos mais de 10 milhões de veículos elétricos por ano, a China.

Até porque os elétricos só não emitem nada no escapamento, mas jogam na atmosfera algumas toneladas de gás de efeito estufa quando suas baterias são fabricadas ou quando são recarregados de eletricidade proveniente de fontes fósseis, como as usinas chinesas a carvão, que fornecem algo como 70% da energia consumida por lá, segundo dados da IEA, International Energy Agency. Ensaios já comprovaram que um carro híbrido abastecido com etanol emite menos CO2 do que seu equivalente elétrico alimentado com a matriz energética da Europa, por exemplo, quando se considera as emissões do poço à roda, que inclui no cálculo todo o ciclo e produção e uso do combustível.

Portanto, no caso brasileiro, qualquer subsídio a carros elétricos ou híbridos a gasolina são pouco defensáveis, pois não são justificados pelo benefício ambiental, muito menos pelo social.

Discussão fora de foco

Diante dos argumentos a favor e contra a tributação de carros eletrificados importados o governo deveria dissipar o dilema focando no que realmente interessa: adotar soluções que garantam o desenvolvimento soberano do País e, a um só tempo, a necessária redução das emissões de carbono fóssil.

Nessas horas é dando que se recebe: seria o caso de proteger a indústria, conceder o aumento de imposto, mas somente com a exigência de contrapartidas, como por exemplo o repasse de certos benefícios ao preço final dos veículos, combinada com redução severa e obrigatória de emissões.

Uma maneira de se fazer isto seria adotar taxação mais acentuada de carros a gasolina ou flex, e incentivar o uso de etanol como solução pronta e já existente no País, com a oferta veículos que rodem unicamente com o biocombustível, o que faria efeito muito mais imediato, eficiente e amplo para reduzir e anular emissões do que incentivar carros elétricos.

Para os importadores seria mais justo beneficiar as empresas que prometem produzir seus carros no Brasil, como já é o caso de BYD e GWM, mas colocando um pouco mais de pressão para apressar o passo lento da produção nacional que ambas adotam, certamente para aproveitar ao máximo o benefício do imposto de importação reduzido.

Assim como foi feito no Regime Automotivo de 1995 e no Inovar-Auto de 2012, as empresas que prometem produzir no País poderiam receber cotas de importação isentas da tarifa por prazo fixado até iniciar a operação local.

E, mesmo assim, é necessário impor metas de nacionalização, ou serão criadas grandes fábricas de montagem de toneladas de itens importados, apenas trocando a importação do carro montado pelo desmontado, o que desmonta parte importante da indústria automotiva, a de autopeças.

Se o governo brasileiro realmente quiser incentivar a industrialização – ou a reindustrialização – do País com a ajuda do setor automotivo precisa ampliar horizontes e ambições. De nada adianta uma indústria que só produz para as elites ricas, assim como não prospera um setor que só produz produtos de baixo valor para população de baixo poder aquisitivo. É preciso equilibrar os interesses em favor do objetivo maior: o desenvolvimento econômico inclusivo e ambientalmente sustentável.