São Paulo – A ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico, está liderando conversas para a criação de um projeto que une montadoras e fornecedores a fim de gerar o volume que torne economicamente viável a produção doméstica de baterias para automóveis. O tema está em discussão na entidade, que possui diversas empresas associadas que fazem parte da cadeia automotiva e da produção de baterias para produtos como celulares e notebooks.
Ricardo Bastos, presidente da ABVE, disse que tudo ainda está no campo dos debates, com o plano de negócios sendo estabelecido, assim como a projeção de veículos elétricos e híbridos plug-in que o Brasil deverá comercializar nos próximos anos. A sua expectativa é que o desenvolvimento seja acelerado a partir do ano que vem:
“Em 2025 o Brasil começará a produzir veículos híbridos plug-in e acredito que o tema ganhará ainda mais força. Espero que daqui a um ano e meio tenhamos um anúncio importante da produção de baterias para veículos elétricos virando realidade no País e, depois, acredito que em 2027 tenhamos a fabricação local de baterias”.
Segundo o presidente fabricantes de bateria de lítio para outros setores possuem interesse em produzir o componente para veículos, sendo que alguns fornecedores já fazem algum tipo de processo deste item para veículos no País, mas dependendo de conteúdo importado, realizando só a montagem por aqui:
“Dentro deste universo da ABVE temos empresas que produzem baterias e montadoras que gerarão demanda no futuro. Todas elas querem avançar nesse tema porque para produzir veículos eletrificados no Brasil será necessário ter mais conteúdo local e a bateria é um componente importante”.
De acordo com Ricardo Bastos durante as discussões estão participando possíveis candidatos à produção de baterias para veículos, fornecedores de matéria-prima e diversas montadoras associadas como Nissan, GWM, BYD, Porsche, GM e Ford. As fabricantes que não fazem parte da ABVE interessadas também podem participar. A intenção é unir todos os elos da cadeia para discutir os volumes necessários para localizar a produção de baterias nos próximos anos.
Bastos acredita que será preciso que as montadoras tomem a decisão de usar uma bateria em comum, produzida no País, que deverá variar de tamanho para determinar o seu custo e a autonomia dos veículos. Este movimento garantirá a escala para que o investimento em uma fábrica local de baterias seja factível, mas o executivo lembrou que não há espaço para muitas unidades no Brasil, estimando uma ou no máximo duas para atender às demandas da indústria automotiva, e a necessidade de uma parceria com o governo para estimular e coordenar este desenvolvimento:
“Estamos levando esse projeto para discutir com o governo federal, para mostrar que existe essa oportunidade para o Brasil. Também debateremos o tema com outras entidades”.
O Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, deverá impulsionar as discussões dentro da ABVE pois, segundo Bastos, é fundamental para que a produção de baterias torne-se realidade, pois garantirá descontos em impostos para quem investir em novas tecnologias que ajudem na descarbonização da indústria e dos veículos produzidos no Brasil.
Outro ponto que deverá ajudar o avanço deste tema é o interesse das montadoras em exportar veículos elétricos e híbridos produzidos no Brasil. Para acessar países da América Latina por meio de acordos comerciais os modelos deverão atender a um porcentual de componentes nacionais:
“A produção local de baterias será necessária para atingir os porcentuais nos acordos comerciais, pois ela tem grande peso no índice de nacionalização. As montadoras têm ciência disso”.
Além da necessidade de atender os porcentuais de conteúdo nacional para exportar, importar baterias para produzir veículos eletrificados no Brasil deixa a operação obviamente muito exposta à variação cambial e a possíveis gargalos logísticos.