São Paulo – Após a aprovação do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, Leonardo Augusto de Magalhães Gaban, responsável pela área comercial do segmento automotivo da Braskem, passou a ser muito mais procurado por fabricantes de veículos. A petroquímica há mais de dez anos trabalha com a produção do polietileno verde, nome de guerra do plástico verde, componente que deverá ter demanda crescente pelo setor embora já seja muito usado em embalagens e em bens de consumo.
Segundo Gaban o Mover exige mais aplicação de materiais verdes e reciclados na produção dos veículos, o que fez com que montadoras procurassem a Braskem: “Depois que o Mover foi aprovado quase toda semana temos reunião com alguma montadora para conversar sobre o uso do plástico verde. Elas querem conhecer o nosso portfólio, debater as aplicações”.
O material é uma boa alternativa para colaborar com a emissão do CO2 no processo produtivo do veículo, substituindo o plástico convencional, produzido a partir do petróleo. A grande diferença é a matéria-prima, uma vez que o plástico verde é extraído a partir do álcool da cana-de-açúcar, que em todo o seu ciclo de produção tem uma pegada de carbono negativa, capturando mais CO2 da atmosfera do que emite.
Yuri Tomina, responsável pela área de soluções sustentáveis de bens de consumo e embalagens da Braskem, disse que a cada tonelada de plástico verde produzido são capturadas 2,3 toneladas de CO2 da atmosfera, considerando todo o ciclo da cana-de-açúcar até ser transformado em álcool, enquanto que a produção de 1 tonelada de plástico tradicional emite, em média, 3 toneladas de CO2:
“Esta é a grande vantagem do plástico verde na comparação com o tradicional, e que pode ajudar muito nas metas de redução de emissões das montadoras. O material sustentável tem as mesmas características do que aquele que usa matéria-prima fóssil e, por isso, pode ser adotado pelos fornecedores na produção de qualquer tipo de componente que é feito a partir do plástico convencional”.
A Braskem produz o plástico verde na sua fábrica em Triunfo, RS, desde 2010. Tem capacidade anual de 260 mil toneladas, e grande parte é exportada para Ásia, Europa e Estados Unidos, mas nos próximos anos a expectativa é de que boa parte deste volume seja consumido aqui mesmo.
Desta forma a empresa estuda um novo investimento com um parceiro na Tailândia para produzir mais 200 mil toneladas por ano e atender outras demandas globais, decisão que deverá ser aprovada, ou não, até o ano que vem. Caso a opção seja investir nesta fábrica a produção deverá começar em 2027 ou 2028.
Com relação ao preço do plástico verde na comparação com o tradicional Magalhães disse que é difícil chegar a um porcentual de variação porque as matérias-primas são distintas, mas lembrou que o plástico tradicional tem seu preço baseado em indicadores globais, principalmente o petróleo. Já o preço do plástico verde está muito ligado ao preço do álcool e, em épocas de entressafra da cana-de-açúcar, pode subir um pouco mais.
Alguns exemplos de componentes que hoje são feitos de plástico comum e podem ser substituídos pelo verde são protetores de caçamba para picapes, dutos de ar-condicionado, reservatórios de água e de outros fluídos.
Avanço dos reciclados
A Braskem espera que ocorra uma demanda maior por resinas plásticas produzidas a partir de materiais reciclados, também puxada pelo Mover. Neste segmento a empresa já atua há alguns anos e é a responsável por toda a economia circular, coletando os resíduos que podem ser reciclados e usados como matéria-prima e cuidando de todos os elos da cadeia produtiva, desde a origem até a reciclagem.
A expectativa é de que as montadoras aumentem a procura por componentes produzidos a partir de resinas plásticas recicladas nos próximos anos para reduzir a pegada de carbono gerada na produção dos veículos.
Etanol de milho também está no radar
Nos Estados Unidos a Braskem produz o polipropileno, outra família de resinas plásticas muito usada para fabricar painéis automotivos, e estuda substituir o petróleo usado como matéria-prima por álcool extraído a partir do milho pois o país é o maior produtor deste tipo de carburante no mundo.
Tomina disse que o projeto está na fase de discussão interna e de prospecção de clientes, sendo que a tecnologia usada por lá será igual à adotada no Brasil para extrair o plástico verde da cana-de-açúcar.