São Paulo – Dos cerca de 7 mil ônibus do programa Caminho da Escola que deveriam ser entregues às prefeituras em 2024, para transportar estudantes em áreas rurais e de difícil acesso, foram emplacadas 2,6 mil unidades até agosto. Foi o que apontou o vice-presidente de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa, durante o Fórum AutoData Perspectivas de Ônibus 2024, realizado na segunda-feira, 23.
Embora a Mercedes-Benz não tenha conseguido se enquadrar na última licitação da iniciativa, realizada em outubro do ano passado, Barbosa utilizou o dado para justificar o desempenho das vendas do setor, que nos oito primeiros meses somam 13,7 mil emplacamentos, 3% abaixo do mesmo intervalo de 2023.
“Vejo o mercado aquecido e todos os segmentos, rodoviário, fretamento, micro e mesmo o urbano, apesar de ser ano eleitoral, estão com melhor desempenho do que no ano passado. Apenas o escolar, com as vendas para o Caminho da Escola, estão abaixo do esperado”, disse Barbosa, ao citar que, apesar das adesões, os emplacamentos não estão sendo feitos. “Entendo que não tem a ver com falta de recursos, mas, provavelmente, com a prioridade do uso desses recursos, que devem estar sendo aplicados em outras áreas. Ainda assim o ano deve terminar bem parecido com 2023, com cerca de 20 mil unidades vendidas.”
Diretor de vendas de ônibus da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Jorge Carrer ponderou que a ata da licitação possui validade de doze meses, portanto, em teoria, poderiam ser assinados contratos até o fim de 2024 com prazo de entrega de mais quatro meses, até abril do ano que vem:
“Estamos conversando com o FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, vinculado ao Ministério da Educação, e que opera o Caminho da Escola] para discutir a possibilidade de prorrogação em mais doze meses, para que as entregas possam ocorrer até o início de 2026. Senão será preciso fazer uma nova licitação para validar a compra de mais ônibus escolares a partir do programa”.
Danilo Fetzner, vice-presidente da Iveco Bus, dona da maior fatia de ônibus dentro do Caminho da Escola, lembrou que esta é a primeira vez que a ata da licitação traz dispositivo que permite postergar a entrega dos veículos ao emendar que, por ora, não há nada confirmado quanto a isso.
“Já foi desenhado volume bastante elevado considerando que haveria possível prorrogação. E o edital prevê também que, nesta situação, haja rediscussão em torno dos preços, uma vez que a licitação ocorreu em outubro de 2023, um período muito longo para se ignorar a inflação e a variação do dólar que refletem na linha de produção”.
Das 15 mil 320 unidades a serem obtidas pelo programa, para serem entregues até o ano que vem, a Iveco conquistou 7,1 mil unidades e, Volkswagen Caminhões e Ônibus, 5,6 mil. As demais ficarão a cargo de Volare, com 2,2 mil e Agrale, com 400.
Maior presença de ônibus elétricos nas ruas brasileiras ainda esbarra em dificuldades
Paulo Arabian, diretor comercial de ônibus da Volvo, disse que o BRT da marca está em circulação em cidades como Curitiba, PR, onde é fabricado, Belo Horizonte, MG, e São Paulo. Ressaltou que a empresa preparou-se ao adequar as linhas produtivas e garantir a oferta do veículo. No entanto, os desafios são muitos para ampliar a presença de ônibus a bateria nas ruas.
“Estamos prontos, assim como outras fabricantes, para fazer a virada de chave, mas também estamos muito atentos às volatilidades que estão travando o avanço da eletromobilidade. Isto não ocorre de um ano para o outro e nem conseguimos fazer sozinhos. As políticas de governo têm de acompanhar o processo, principalmente quanto ao acesso a crédito, e não falo de subsídio, mas de apoio para concretizar casamento que passa de dez anos, chega a quinze anos, e de um veículo que pode custar até quatro vezes mais que um similar a diesel.”
Walter Barbosa, da Mercedes-Benz, chamou atenção a dois pontos que limitam a maior presença de veículos a bateria nas ruas. Um deles é a existência de política pública para o preço das passagens. “Por exemplo, se o passageiro pode pagar R$ 5, mas o bilhete custa R$ 15, alguém precisa pagar essa diferença. São Paulo e Curitiba já resolveram esta questão.”
Outro ponto é a potência da rede elétrica. As garagens necessitam ser abastecidas com alta tensão para dar conta de uma frota de cinquenta veículos a bateria, o que requer investimento de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões para construir esta infraestrutura, hoje, predominantemente, de baixa tensão.
“São Paulo agora migrou para média tensão, o que permite rodar, em dois anos, de 400 a 450 ônibus elétricos. Um avanço, mas ainda distante dos 3 mil veículos pretendidos inicialmente neste mesmo intervalo”.