São Paulo – Após o forte tombo do mercado de caminhões em 2023, puxado para baixo devido ao encarecimento de produtos causado pela adoção de motores Euro 6 para atender à legislação de emissões Proconve P8, as vendas retomaram com força este ano e a Mercedes-Benz sente os efeitos positivos deste cenário na Fenatran 2024, feira dedicada ao transporte rodoviário de cargas realizada de 4 a 8 de novembro no São Paulo Expo.
Na feira a fabricante já está vendendo a produção de 2025, relatou Jefferson Ferrarez, vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz do Brasil: “Em 2022 [última edição do evento] o momento era de transição, vendemos mais caminhões Euro 5, os clientes queriam aproveitar o preço mais baixo. Este ano é diferente: a tecnologia Euro 6 já está consolidada e as vendas voltaram com força. A produção deste ano já está endereçada e estamos captando encomendas de grandes clientes para o ano que vem”.
Ferrarez ponderou, no entanto, que não há falta de produtos nas concessionárias para os clientes de varejo: “O que ocorre na Fenatran é que estamos recebendo encomendas planejadas de grandes frotistas”.
Achim Puchert, presidente da Mercedes-Benz do Brasil que este ano participa de sua segunda Fenatran, concordou: o cenário adiante é positivo, mesmo com alta volátil do dólar e juros com tendência de alta: “O impulso de setores como agronegócio, construção civil e mineração segue forte. O mercado de caminhões deve crescer 15% este ano e em 2025 promete ser mais um bom ano para os negócios”.
O movimento no estande da Mercedes-Benz na Fenatran justifica o otimismo. A empresa e sua rede de concessionárias estão trazendo 2 mil clientes do Brasil e de países da América Latina para visitar a feira e a fábrica de São Bernardo do Campo, SP.
Puchert reafirmou, no entanto, que a capacidade de produção ainda não está no topo, a fábrica trabalha em dois turnos com eventuais horas extras aos sábados: “Ainda temos alguns problemas logísticos em portos e aeroportos, não estamos operando no máximo ainda, mas seguimos confiantes e otimistas com o Brasil que é um dos maiores mercados do mundo para caminhões Mercedes-Benz, se não o maior, que representa cerca de 25% das vendas globais da marca”.
Mais presença nos extrapesados
Apesar de rodar a volumes menores do que o registrado na década passada o mercado brasileiro de caminhões mudou de patamar, com domínio de modelos extrapesados, produtos de maior valor agregado, que representam quase metade das vendas no País atualmente. É justamente neste segmento que a Mercedes-Benz pretende aumentar significativamente sua posição.
“Lutaremos por mais presença no mercado de pesados rodoviários, que é o maior no Brasil”, afirmou Pucher, complementado por Ferrarez: “Lideramos a vendas de pesados rodoviários na Europa e nos Estados Unidos [com as marcas Western Star e Freightliner] e queremos fazer o mesmo no Brasil”.
Para alcançar este objetivo a Mercedes-Benz aposta no seu pesado Actros, que nesta Fenatran é apresentado aos clientes na versão Evolution 2653 6×2, que como diz o nome traz evoluções tecnológicas com vinte sistemas de segurança ativa mais sofisticados, quadro de instrumentos digital, novas baterias e motor de 530 cv calibrado para reduzir o consumo de diesel em até 8%, tudo para competir em pé de igualdade com os líderes do segmento de extrapesados rodoviários no País, Volvo e Scania.
Novo ciclo de investimentos
A Mercedes-Benz segue reticente em divulgar um novo ciclo de investimentos no Brasil – o último, de R$ 2,4 bilhões, foi aplicado de 2018 a 2022. Mas vem mostrando, contudo, que continua a aportar recursos no País com o desenvolvimento de novos produtos, alguns deles apresentados nesta Fenatran.
“Já temos investimentos em andamento e ainda estamos preparando um novo ciclo até 2030, mas ainda não posso divulgar valores”, admitiu Puchert. Segundo ele os recursos serão direcionados a três áreas: desenvolvimento de motores a combustão mais eficientes para diesel e biodiesel, eletrificação e serviços.
Na área da combustão o executivo aponta que os caminhões atuais já estão preparados para usar o B20, diesel mineral com mistura de 20% de biodiesel: “Não fomos tão agressivos quanto outros [os principais concorrentes mostraram na Fenatran caminhões que rodam com 100% de biodiesel] porque precisamos fazer a lição de casa, fomos mais cuidadosos para garantir que os clientes não terão problemas, mas evoluiremos e apresentaremos soluções com biocombustíveis também”.
A empresa também pretende se aprofundar na eletrificação: trouxe à Fenatran os caminhões elétricos eActros e eCanter – este último da japonesa Fuso, que pertence à Daimler Trucks –, que começam a ser testados no Brasil por oito clientes, revelou Puchert: “São produtos que, dependendo dos testes, poderão ser incluídos em nossa linha no País”.