Congresso Fenabrave espera receber mais de 7 mil visitantes

São Paulo – Mais de 7 mil visitantes de toda a América Latina deverão comparecer ao pavilhão principal do São Paulo Expo, onde foi inaugurada na quarta-feira, 21, a trigésima-segunda edição do Congresso Fenabrave, que segue até a quinta0-feira, 22. Além de estandes com prestadores de serviços e autopeças dedicadas aos diversos negócios da comercialização de veículos haverá uma série de palestras e apresentações sobre estes temas.

Segundo José Maurício Andreta Júnior, presidente da Fenabrave, é a maior edição de todos os tempos com “o aumento de mais de 5 mil m2 na área de exposições na comparação com a última edição”.

Em meio à forte concorrência de novos canais e formas de vendas automotivas à concessão tradicional, Andreta apontou que “o modelo dos concessionários continua forte e ainda é a melhor opção tanto para quem produz como para quem comercializa e, sobretudo, para aqueles que querem comprar um veículo”.

Durante a cerimônia de abertura do evento, com a presença de diversas autoridades e executivos de toda a cadeia automotiva, o presidente da Fenabrave reforçou a expectativa de crescimento de 13% das vendas em 2024: “Estamos a apenas 31%, em termos de volume de vendas, de alcançar o melhor resultado histórico no País”.

Além do mercado brasileiro as associações de concessionários da região estão presentes para discutir os desafios do negócio em meio a situações econômicas distintas.

A reportagem conversou informalmente com diversos representantes das entidades e houve unanimidade: os mercados estão enfrentando uma queda na rentabilidade porque além das margens estarem menores há uma concorrência feroz de produtos feitos na Ásia, que são mais baratos e igualmente com tíquete médio menor.

Durante as discussões com a presença apenas destes executivos foram debatidas formas de proteger a saúde financeira dos grupos que, segundo um dos executivos, estão ficando pelo caminho dessa feroz competição com as novatas e pouco rentáveis marcas asiáticas.

Sindipeças calcula R$ 50 bilhões em investimentos da cadeia fornecedora

São Paulo – Para acompanhar os R$ 130 bilhões que as montadoras aplicam em investimentos no mercado brasileiro a cadeia de fornecedores deverá, nas contas do Sindipeças, desembolsar R$ 50 bilhões de 2024 a 2028. O valor, segundo Gábor Deák, seu diretor de tecnologia, que participou da abertura do Simea, Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, organizado pela AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, será destinado à atualização tecnológica de processos e produtos:

“Não será um dinheiro destinado à expansão de capacidade. Será aplicado em atualização tecnológica, para poder atender às exigências de emissões e segurança que vêm por aí”.

O diretor do Sindipeças citou o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, como vetor dos investimentos. A descarbonização, com a maior aplicação de powertrains eletrificados nos veículos produzidos no País, é outro impulsionador de novos projetos na cadeia fornecedora.

O Sindipeças tem 512 empresas associadas, das quais de sessenta a oitenta de grande porte. Assim os investimentos se diferenciam: “Enquanto algumas podem buscar tecnologias em suas matrizes outras desenvolvem projetos locais. Nestes casos o Mover é importante”.

O setor de autopeças costuma investir de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões por ano. O Mover, portanto, demandou um aumento no desembolso das empresas. Deák disse que os créditos financeiros do Mover, que em cinco anos somarão mais de R$ 19 bilhões, estão se esgotando rapidamente. “Todo mundo está correndo atrás de novos projetos”.

Brasil bem posicionado na descarbonização

A trigésima-primeira edição do Simea traz como tema principal a mobilidade verde e a transição energética. Na abertura o presidente da AEA, Marcus Vinícius Aguiar, disse que os planos globais para veículos elétricos sofreram uma reviravolta no último ano e o Brasil está bem posicionado por seu leque de opções de descarbonização.

Aqui, segundo os debatedores no painel de abertura, o principal caminho deverá ser os biocombustíveis, aliados ou não com a eletrificação, como nos híbridos flex.

“Temos a oportunidade por estar na vanguarda da transição energética”, afirmou Henry Joseph Júnior, diretor técnico da Anfavea. “Nosso biocombustível e a tecnologia flex já é exemplo para outros países, como Índia e Tailândia”.

Sistema de CRM da Syonet será usado por concessionários no México

São Paulo – Adquirida no ano passado pelo fundo investidor Atlante a Syonet, especializada no desenvolvimento de sistemas de CRM usados por diversas concessionárias, trabalha na expansão de seus negócios para cumprir o objetivo dos investidores na sua aquisição: vender a empresa por um preço maior. O primeiro passo foi dado: sua expansão para fora do Brasil.

Caio Nascimbeni, CEO que assumiu o cargo após a aquisição, anunciou o lançamento de uma operação no México: “Começamos os negócios no mercado mexicano com três clientes, sendo que um deles é o grupo concessionário Continental, que possui dezesseis lojas e que pode ser considerado de porte grande”.

A expectativa é de que o negócio amadureça e avance para outros grupos concessionários no México nos próximos três anos. A médio prazo outros países da América Latina estão no radar da Syonet, mas como são mercados menores, com volume menor de concessionárias, a empresa buscará parceiros locais, sem instalar subsidiária no país e usando a estrutura no Brasil para tocar as operações nessas regiões.

No Brasil a Syonet também pretende avançar, ainda que o seu sistema de CRM, geração de leads, dentre outras funções, já seja usado por cerca de metade das 5,2 mil concessionárias que vendem automóveis e comerciais leves, volume que lhe garante a liderança do segmento. Para isto a empresa pretende melhorar a experiência dos clientes que usam o seu sistema, entregando uma ferramenta fácil de usar e que seja o mais completa possível.

Dessa forma a Syonet está investindo na contratação de profissionais para acelerar o desenvolvimento de novas funções e realizar as melhorias na plataforma que é utilizada pelos clientes. A intenção é ampliar suas equipes internas e que elas trabalhem de forma integrada, impulsionando os desenvolvimentos relacionados a tecnologia e inteligência artificial, por exemplo.

Um dos fatores que despertou interesse do grupo de investidores pela Syonet foi o potencial de crescimento da empresa, que projeta para 2024 uma alta de 30% no faturamento sobre 2023, chegando a R$ 60 milhões. O grupo também identificou mercado potencial enorme fora do Brasil, que pode chegar a R$ 1 bilhão e, por isto, a decisão de avançar com a operação para outros mercados do México para baixo.

Causas do tombo das exportações em AutoData de agosto

São Paulo — Reportagem de capa de AutoData de agosto – já disponível para ler on-line – traz à tona as causas da falta de competitividade internacional do País e dos veículos produzidos aqui, que têm pouca penetração global e só chegam a mercados latino-americanos de baixos volumes e com problemas econômicos tão grandes ou maiores que os nossos. Para piorar a concorrência chinesa não para de crescer no quintal de casa.

Outra cobertura especial deste mês é sobre a Lat.Bus Transpúblico, que este ano, com recordes de expositores, público e negócios, renovou as expectativas do mercado de ônibus em ascensão no País para voltar aos maiores níveis históricos. Não faltaram apostas na eletrificação: todos os cinco fabricantes de chassis lançaram modelos elétricos no evento que terão produção doméstica – inclusive um articulado e outro biarticulado – e a Marcopolo apresentou um inovador micro-ônibus elétrico Volare com gerador interno a combustão.

Também estão nas páginas desta edição todos os cases do Prêmio AutoData 2024, com empresas, produtos e personalidades selecionados em dez categorias este ano. Os resumos estão descritos nas páginas da revista para orientar melhor sua votação, que começa agora.

Seguindo a tradição de contar a história do setor automotivo este mês trazemos duas grandes trajetórias: a centenária multinacional alemã Bosch completa 70 anos no Brasil com contribuições fundamentais para a evolução da indústria automotiva, enquanto a Marcopolo chegou aos 75 anos de uma jornada que partiu da improvisação e rompeu barreiras comerciais e tecnológicas para se transformar em uma das maiores fabricantes de ônibus do mundo.

Na entrevista From The Top deste mês – que também pode ser assistida no videocast de AutoData no YouTube – a conversa é com Mauro Correia, CEO da HPE Automotores, fabricante de veículos Mitsubishi que recentemente divulgou plano de investimento de R$ 4 bilhões para aumentar a produção local, lançar novos produtos e ampliar a rede.

Também cobrimos o lançamento do novo Peugeot 2008, SUV compacto agora produzido na Argentina que traz novas expectativas para a marca no Brasil.

AutoData está disponível para leitura on-line (aqui) ou para baixar o arquivo em PDf (aqui). Agradecemos a leitura e já estamos trabalhando na revista de setembro. Até lá!

Em plena forma

Naquele 4 de agosto de 1976, a fundação do Grupo SADA remontava ao empreendedorismo de um jovem visionário, Vittorio Medioli. Vindo da Itália, ele iniciou as operações de uma transportadora para atender a necessidade de armazenamento e distribuição de veículos da recém-inaugurada planta da Fiat, em Betim (MG). Tanto que a empresa nasceu na cidade vizinha, em Contagem, mas logo transferiu a sua sede, sete anos depois, para o mesmo município onde está sediada a montadora até hoje.

Com forte tradição empreendedora, acumulando milhões de km rodados para entregar carros novos em todo o país com suas cegonheiras ao longo das primeiras décadas, a SADA cresceu rapidamente e expandiu seus negócios por todo o país. Atua hoje em dez diferentes segmentos, é presente em mais de 50 cidades e conta com mais de 8.000 pessoas em suas operações. É o maior operador logístico de transporte automotivo de modelos zero km da América Latina.

A vertical de transporte e logística automotiva é o principal negócio do Grupo. Movimenta 2,4 milhões de veículos anualmente para as principais montadoras do país, em todas as regiões e em países como a Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia e Uruguai, por exemplo. Foram 293 mil viagens e quase 500 milhões de km percorridos em 2023. Conta com frota própria e de parceiros, totalizando mais de 3 mil veículos, além de estruturas de pátios (capacidade de 100 mil vagas), ferramentas de gestão (sistema Yard Management System) e monitoramento 24 horas.

Para o Daniela Medioli, vice-presidente executiva do Grupo SADA, o sucesso da organização está pautado na sua diversidade e no legado construído pelas pessoas que fazem parte dele. “Em quase cinco décadas de muito trabalho, continuamos a acreditar na força do empreendedorismo para transformar nosso país, gerar oportunidades e sermos úteis e relevantes não apenas para os nossos clientes, mas também para toda a sociedade”, completa a executiva. Hoje, a SADA possui negócios na área de venda de veículos leves e pesados (concessionários das marcas Fiat e Iveco), fabricação de autopeças, siderurgia, reflorestamento, produção de etanol e distribuição de combustíveis, comunicação (rádio, jornal e portal O Tempo). Além de uma equipe de vôlei (SADA Cruzeiro) e uma fundação (Fundação Medioli).

Tanto a SADA é motivada pelo princípio de que sempre é possível ser e fazer melhor por meio da diversificação dos negócios, do investimento em inovação, que a empresa desenvolveu know-how para oferecer outras soluções logísticas aos seus clientes, mesmo no foco principal de distribuição de veículos: serviço de inspeção pré-entrega (PDI) com revisão completa dos veículos e customização conforme a demanda. Acompanhamento pelo sistema PDI onTrack, que permite a gestão em tempo real.

O segmento de transportes especiais também conta com a expertise da SADA, como no caso da Porsche Cup Brasil, que tem a marca como seu operador logístico nas provas que acontecem fora do circuito de Interlagos, com destaque para a etapa da Argentina, em uma operação que envolve mais de 80 carros de competição e dez dias de viagem.

Neste caso, além dos veículos, o Grupo SADA, em sua operação de carga geral, apoiou a logística da competição para a etapa de Portugal neste ano. A empresa foi responsável pelo transporte por contêineres com carros e equipamentos da etapa entre a oficina da organização e a entrega no Porto de Santos para que fossem embarcados via marítima, em uma operação com 26 carretas e 40 profissionais.

Reforçando o seu compromisso com as ações de ESG, a fim de criar um impacto positivo na sociedade, o Grupo SADA atua em frentes com o Pacto Global da ONU, possui selo Ouro no Programa Brasileiro GHG Protocol e no último ano, investiu R$ 12 milhões em ações sociais.

Resfri Ar vai dobrar de tamanho

O gaúcho Roberto Cardoso, fundador da Resfri Ar, é mais um exemplo daqueles brasileiros visionários. Ex-caminhoneiro, a veia do empreendedorismo surgiu logo cedo. Por ter vivenciado a lida na boleia, Cardoso captou rapidamente uma das principais dores da profissão. E ela não residia na atividade propriamente ao volante, mas fora dele: na hora de dormir, o cidadão morria de calor dentro da cabine do caminhão, visto que era impossível deixar o motor do caminhão ligado toda a madrugada para usar ar-condicionado. Além disso, ele observou o incômodo que era a falta de opções para acondicionar água gelada. Ou mesmo como guardar refrigerado o alimento que seria mais tarde usado no jantar. O resto é história.

Exatos 27 anos depois de sua fundação, a Resfri Ar é a maior fabricante de geladeiras e climatizadores automotivos do país. Sediada em Vacaria (RS), a empresa possui cerca de 1,5 mil pontos de venda no país e exporta para países da África, Ásia, América Latina, América do Norte e Europa. Os climatizadores de ar para caminhões (aqueles que são instalados no teto da cabine), também fabricados para linha agrícola e veículos especiais, são o carro-chefe da Resfri Ar, representando cerca de 60% do faturamento. Figuram ainda entre os principais produtos as geladeiras automotivas e portáteis, que acumulam a função de refrigeração e congelamento, conservando alimentos e bebidas sempre frescos. A ideia é fabricar também toda a a linha de peças plásticas para caminhões.

Se isso é tudo? Claro que não. Após implantar a filosofia lean na produção, o fundador decidiu buscar profissionais para aplicar esse conceito, liderados pelo experiente executivo Carlos Storniolo. Com passagens por grandes empresas como Delphi, NSK e Hoshizaki, ele assumiu a posição de CEO no dia 1º de julho último com uma missão desafiadora: dobrar o faturamento da Resfri Ar até 2028. Cardoso passa a ser Presidente do Conselho.

Storniolo garante ter encontrado ótimas condições para cumprir a meta. “A minha chegada solidifica o processo de profissionalização da empresa, que já havia sido desenhado com a implementação de um novo organograma e a atração de profissionais muito experientes. A agressiva meta trazida pelo nosso fundador é perfeitamente possível. Para isso, as áreas de Aftermarket e O&M estão sendo reforçadas. Também temos planos que passam por melhoria dos produtos existentes e novos produtos estão na pauta. Temos ainda um plano específico para exportação”, explica o novo CEO, já dando algumas pistas que algumas parcerias “muito robustas” com companhias de fora devem impulsionar rapidamente o faturamento da Resfri Ar.

Para o executivo, este é aquele momento singular na trajetória de uma empresa, em que todos os vetores mostram-se favoráveis e apontam para o crescimento. O CEO explica que os processos e a qualidade da manufatura são exemplares, bem como o time de P&D. “Quantos sistemistas brasileiros têm hoje a capacidade de oferecer soluções para OEM, em vez de serem somente demandados com projetos prontos? Todas as montadoras de caminhões já são nossas clientes com os climatizadores. Mas o mercado tem começado a aumentar a procura pelos sistemas de ar-condicionado com acionamento elétrico, ou seja, desvinculados do motor do caminhão. Uma das minhas principais missões é desenvolver essa nova família de produtos, mas que não vai objetivar somente montadoras de caminhão, mas também as máquinas industriais, a linha amarela e toda a família de agro”, antecipa Storniolo.

Entusiasmado, o executivo completa. “Pode escrever: estamos customizando nossos climatizadores para novos tipos de veículos, vamos desenvolver a linha de ar-condicionado, aprimorar a família de geladeiras, bem como criar produtos customizados para outros tipos de veículos. E a cereja do bolo: a Resfri Ar vai se tornar uma legítima multinacional brasileira”, promete. Alguém duvida que conseguirão?

Ford em expansão

Com uma operação consolidada e saudável no Brasil, a Ford acaba de anunciar a estreia da marca “Ford Performance”, que gere os modelos de alto desempenho e competição da montadora. O lançamento inclui também Argentina, Chile, Colômbia e Peru na América do Sul.

A chegada da Ford Performance faz parte da expansão global das operações da marca, com um plano de negócios focado em inovação tecnológica e emoção. “A Ford nasceu nas pistas e a competição faz parte do nosso DNA. A Ford Performance é hoje a divisão responsável por levar adiante esse legado vitorioso, trazendo veículos e experiências exclusivas que combinam alto desempenho, estilo de vida e emoção”, disse Antonio Baltar Jr, diretor de Vendas, Marketing e Serviços da Ford.

Tendo como cartão de visitas a Ranger Raptor, primeiro veículo desenvolvido pela Ford Performance disponível no país, ela é a picape mais rápida e capaz do mercado em qualquer terreno, equipada com motor 3.0 V6 biturbo GTDI de 397 cv, que acelera de 0 a 100 km/h em 5,8 segundos. Além dos veículos Ford Performance já disponíveis na região – Ranger Raptor, F-150 Raptor e Explorer ST –, a Ford também oferece o Mustang GT Performance e o Mustang Mach-E GT Performance.

O plano da grife é oferecer futuramente experiências únicas para os clientes com o portfólio da Ford Performance, como “track days”, roteiros diferenciados em estrada e fora de estrada, a participação em eventos esportivos globais na região e o licenciamento de produtos.

Momento histórico
O anúncio da Ford Performance chega em um ótimo momento para a marca, que registrou em julho o melhor mês de vendas dos últimos três anos, com 4.279 emplacamentos, além de celebrar o crescimento de 68% no acumulado do ano, comparado ao mesmo período do ano passado.

A Ranger, carro-chefe da marca, apresentou um crescimento de mais de 58% no ano e consolidou a sua posição como vice-líder das picapes médias. “A Ranger trouxe um novo padrão para o segmento de picapes médias e isso está sendo cada vez mais reconhecido pelo mercado. Tanto que 50% dos seus compradores são clientes novos na marca”, diz Antonio Baltar Jr.

O Bronco Sport e a Maverick foram outros modelos que contribuíram para esse resultado. O SUV teve crescimento de 170% no acumulado de 2024, enquanto a picape Maverick cresceu 90%, comparado ao mesmo período do ano passado.

Mais avançada, motocicleta brasileira perde competitividade na região

São Paulo – As empresas brasileiras fabricantes de motocicletas só têm motivos para comemorar quando se fala no mercado interno, com recorde de 1 milhão 570 mil unidades produzidas em 2023 e projeção de 1 milhão 690 mil para este ano. Mas quando o tema é exportação o quadro é exatamente o oposto, como contou Marcos Antônio Bento, presidente da Abraciclo, no Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, organizado por AutoData.

Segundo ele a fatia das exportações vêm caindo significativamente, mesmo com o Brasil tendo vendido para 57 países ao longo dos últimos dez anos: “Em 2017 chegamos a ter 9% da nossa produção destinada para mercados externos, mas no ano passado este share foi de apenas 2,1%”.

A crise econômica na Argentina joga tem papel importante neste processo de decadência pois, se a nação vizinha chegou a representar 69,6% das exportações de motocicletas em 2018, esta participação atingiu 27,7% em 2023. E este índice não deve passar da casa de 30% neste ano, mesmo com um início de reaquecimento do mercado de lá.

Mas o maior fator é a proliferação de motos asiáticas, predominantemente chinesas, nos países da América do Sul: “São produtos atrasados, que poluem muito mais do que as motocicletas brasileiras, mas ganham espaço pelo custo menor”.

A China hoje é a principal exportadora para a região, com 62,5% de participação com relação ao valor de negócios. Apesar da proximidade geográfica o Brasil está apenas em terceiro nesse ranking, com 4,4%, bem atrás até mesmo da vice-líder, a Índia, 15%.

O representante da Abraciclo afirmou que a falta de harmonização regulatória dos países sul-americanos é o maior desafio para o setor, pois só o Brasil está alinhado aos principais mercados mundiais com relação à tecnologia. De acordo com ele as motos produzidas aqui são mais avançadas não apenas em emissão de poluentes mas também em segurança, consumo e dirigibilidade.

“Além disso também precisamos de mais investimentos em logística e infraestrutura para ter acesso a países vizinhos estratégicos como Argentina, Colômbia e Peru e para evoluir os acordos comerciais dentro da região.” 

Em resumo o Brasil tem um mercado interno forte e produtos de alto nível tecnológico, contudo hoje falta competitividade diante de motocicletas defasadas da Ásia: “Apesar de tudo temos orgulho por exportarmos produtos de qualidade e queremos vencer esta batalha com tecnologia”, ponderou. “A pressão pela descarbonização chegará aos demais países da América do Sul e o consumidor não mais aceitará motos obsoletas. Tenho certeza de que o Brasil está na rota certa”.

GWM é habilitada ao Mover e abre seus planos para Iracemápolis

São Paulo – O MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, homologou na segunda-feira, 19, o pedido de habilitação da GWM para o Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação. Foi a primeira nova fabricante automotiva a receber a aprovação do programa de política industrial brasileira voltada para a sustentabilidade e inovação na indústria.

A fábrica em Iracemápolis, SP, onde antes funcionava a Mercedes-Benz e serão produzidos os modelos da companhia, passa por modernização e expansão. O processo de produção da linha de SUVs Haval híbridos contará com monobloco, soldagem, tratamento superficial, pintura, montagem final e testes, montagem de chassis, freios, eixos e sistemas elétricos.  O objetivo é alcançar uma taxa de nacionalização superior a 60%, o que permitirá à GWM iniciar a exportação de veículos para a América do Sul, segundo Ricardo Bastos, seu diretor de relações institucionais e governamentais,

O executivo afirmou que a habilitação tem relação com os processos produtivos, solda, pintura, montagem e inspeção de qualidade. “Ganhamos mais benefícios se começarmos a localizar novas tecnologias, então tem dois capítulos que ainda não estão lá dentro, mas em estudo, que é a fabricação de baterias e hidrogênio [para caminhões].”

Bastos disse que a GWM encontra dificuldade de localizar componentes tecnológicos, como para-brisa que possa projetar o head-up display e sensores de segurança. “O Márcio [Alfonso, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da GWM] foi a um fornecedor e pediu dez itens tecnológicos, e recebeu a resposta de que só poderiam produzir dois, sendo um deles o limpador de para-brisa. No caso de sensores, a empresa de autopeça disse que não valeria fabricar para o volume de veículos previstos pela GWM.”

O diretor, que esteve presente em um fórum sobre descarbonização promovido pela Revista Quatro Rodas, contou que a China aprovou a localização de duzentos itens, mas o processo não será feito de uma só vez:

“A produção em Iracemápolis começará com CKD, localizando em menos de um ano peças como bancos, vidros, tapeçaria, rodas e pneus. Num segundo momento, ganho pontos no Mover se trouxer a montagem de baterias para o Brasil. A célula, que é caríssima, viria da China, e alguns componentes a gente conseguiria localizar.”

Bancos, pneus e pára-brisa, itens mais pesados e volumosos, serão os primeiros com produção nacional. Da China vêm os componentes menores e mais tecnológicos. “A China faz 10 milhões de sensores, então não adianta produzir 200 mil aqui no Brasil.”

A habilitação é retroativa a abril, ou seja, desde esse mês tudo o que a GWM investiu pode ser calculado no programa Mover, incluindo o trabalho da engenharia. “Tínhamos máquinas na China esperando para embarcar.”

A produção está confirmada para o primeiro semestre de 2025, da linha de SUVs Haval, incluindo híbridos convencionais e plug-in, e as carrocerias H6 e GT. O inédito híbrido flex plug-in ainda está em desenvolvimento. 

O volume de produção foi dimensionado em 20 mil unidades por ano, mas o licenciamento foi calculado em 50 mil unidades. Menos que isso, Bastos diz que tem dificuldades de chegar na equação de custo, quando atingem o break-even. O limite é 100 mil, mas para isso é preciso investir em construção civil. Contudo, para chegar às 50 mil unidades, o diretor da GWM diz que precisa de mais produtos.

A picape Poer é uma das cotadas, mas por ser outra plataforma aumentaria os custos. Há estudos também do SUV médio H4, menor que o H6. 

“Agora que saiu nossa habilitação podemos fazer simulações mais concretas, porque o governo aceitou tudo o que colocamos. Estamos calibrando os benefícios e vendo qual seria a picape ideal. Vamos ter volume para uma picape plug-in? Ou pode vir uma a diesel ou a gasolina. Se trouxermos algo novo ganhamos mais benefícios.” 

Já um carro elétrico está fora de cogitação nesse começo de produção, segundo o diretor da GWM.

Indústria automotiva argentina começa a ver dias melhores

São Paulo – Maior parceira do Brasil no setor automotivo a Argentina vem adotando uma série de medidas para recuperar a sua saúde financeira desde que o atual governo tomou posse, em janeiro. E os resultados têm sido positivos, na opinião de Fernando Rodríguez Canedo, diretor executivo da Adefa, a associação local das montadoras, e de Juan Cantarella, presidente executivo da Afac, entidade que reúne as fabricantes de autopeças. A dupla abriu os trabalhos do segundo dia do 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, realizado por AutoData.

“Está havendo uma ordenação macroeconômica e também ajustes que refletem no dia a dia das empresas, que tiveram muitas restrições para operar nos dois anos finais do governo anterior”, afirmou Canedo. “Com isto estão começando a aparecer bons sinais, como a baixa da inflação.”

Para o diretor da Adefa há boa perspectiva de retomada. Cantarella tem a mesma visão: “A expectativa hoje é bem melhor, ainda que exista muito para se resolver”.

O presidente da Afac destacou que, até o ano passado, as dificuldades para fazer importações e pagá-las eram enormes, sem falar nas frequentes mudanças normativas: “O cenário atual mais positivo já nos possibilita pensar em questões mais estruturais”.

Objetivos em comum

Canedo destacou que é preciso seguir aprofundando as relações com o Brasil, que continua sendo o principal fornecedor de automóveis para a Argentina, representando quase metade do mercado: “E quando se considera apenas veículos importados os brasileiros representam aproximadamente 90% do total. No sentido oposto 65% da produção argentina é destinada ao Brasil”.

Ele também fez questão de ressaltar outro ponto nesse jogo binacional: “É importante que as políticas públicas de cada país não tragam mais vantagens para um ou outro”.

Segundo ele outro desafio para as fabricantes argentinas é a tributação, pois 25% do preço do veículo exportado são impostos — esta carga é de 7% no Brasil e inexistente no México. Canedo considera ser fundamental trabalhar para gerar mais atratividade não somente para o setor na Argentina como em todo o Mercosul “e, para isto, precisamos criar mais acordos comerciais com outros países e regiões”.

Reposição em alta

Quanto ao segmento de autopeças Cantarella contou que, apesar de as montadoras representarem a maior parte dos negócios para as produtoras de componentes, a queda nas vendas de carros 0 KM significa um aumento da importância do mercado de reposição:

“O parque veicular na Argentina é de 15 milhões de unidades e está envelhecendo”, declarou. “E com a idade média de 14 anos são necessárias cada vez mais peças para manter esses veículos rodando”.