Segurança veicular: caminho sem volta.

Basta ter acesso, uma única vez, a um veículo com assistências que elevam a sua segurança para que o consumidor não queira mais dirigir sem eles. Ainda que isto esteja distante de sua realidade, uma vez que o custo para usufruir desses diferenciais é impeditivo à maioria da população brasileira, a segurança veicular e a tecnologia aliada à conectividade é um caminho sem volta.

É bem verdade que todos esses itens deveriam ser obrigatórios, pois desta forma dariam grande contribuição à segurança viária e na educação no trânsito, que precisam avançar juntos para que a mudança seja perene e o risco de acidentes caia drasticamente.

Pensando nisso iniciativa da AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, promoveu recentemente debate em torno do tema A Sinergia entre a Segurança Veicular e o Serviço de Conectividade para a Mobilidade do Futuro.

Marcelo Azevedo Costa, professor de engenharia de produção da UFMG, apresentou a Linha 6 do Programa Rota 2030, que engloba projetos de pesquisa e desenvolvimento realizados pela universidade federal em parceria com a Fundep, a sua Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa. A linha 6 fala de conectividade veicular e representa capítulo do programa do governo federal dedicado a estimular investimentos e fortalecimento do setor por meio de novas aplicações e tecnologias.

A captação para o seu primeiro edital foi finalizada com duas linhas principais, sendo uma de R$ 1,5 milhão para investimentos em empreendedorismo, formação de startups e desenvolvimento tecnológico. E, outra, de R$ 3,5 milhões, para desenvolvimento de pesquisas no período de até três anos.

Baseada em três pilares a linha 6 inclui projetos estruturantes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, programa de aprendizado federado e programa de desenvolvimento de competências, todos relacionados à conectividade veicular e, em paralelo, à segurança de dados, em cumprimento à Lei Geral de Proteção de Dados.

Costa contou que foram submetidas até dezesseis propostas e que, por fim, chegaram à seleção de quatro para serem contratadas até o meio do ano.

“Tínhamos 36 temas diferentes, desde confiabilidade e conectividade do veículo com o ambiente externo a detecção de pedestres, tecnologia de privacidade de segurança dos dados e serviços de diagnósticos. Não entrou a parte de descarbonização, que possivelmente ficará para o segundo edital, aguardado para agosto.”

A parte da descarbonização inserida nesse capítulo não inclui biocombustíveis, que integram a linha 5, mas o uso intensivo de dados, sensores e monitoramento para que seja possível criar soluções que promovam a redução de emissões. Por exemplo: identificar rotas eficientes para melhorar a pegada de carbono: “O objetivo enquanto linha de pesquisa e financiamento é trazer o impacto desses veículos e suas tecnologias na preservação do meio ambiente”.

O professor assinalou que há diversos desafios lançados a partir de tendências e dificuldades do setor. E que a palavra da vez é conectividade veicular, além do uso intensivo dessa tecnologia e o fomento de P&D. As nuvens de dados são fundamentais para a geração de novas tecnologias.

“Um dos grandes desafios é a conectividade com o ambiente externo. Como usar esses dados para tomada de decisão? Como permitir que tecnologias compartilhem informações garantindo a segurança dos dados? Como garantir a privacidade do condutor e das empresas? Essa linha busca tratar disso.”

Costa destacou que também existe, atualmente, preocupação expressiva com manutenção preditiva e não mais com preventiva, o que requer o uso de inteligência artificial. O uso intensivo de dados demanda pensamento diferente com relação aos sistemas de manutenção para tornar-se mais eficaz na diminuição de acidentes de trânsito.

Um dos pontos que podem e devem ser melhorados a partir do avanço em P&D na área de segurança veicular é a redução de acidentes. Embora de 2011 a 2020 o número de mortos no trânsito tenha caído de 45 mil para 33 mil por ano, diminuição de 24% e de 37% se for considerada a projeção de 52 mil mortos em uma década, conforme dados do Pnatrans, Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões, o único número aceitável é zero, segundo o analista de infraestrutura Daniel Mariz: “Trata-se da principal causa de morte de pessoas de 5 a 29 anos. E, no pós-pandemia, a tendência é de alta”.

De acordo com ele 90% dos acidentes decorrem de falha humana. Ou por problema na via, por causa de manutenção em atraso. A grande questão é: o que está sendo feito pelo Pnatrans para melhorar pontos que induzem a acidentes?

“A proposta do Pnatrans é mudar os conceitos de quem projeta, muito enraizados desde as décadas de 60 e 70, e mudar também os daqueles que fazem planejamento urbano. O que inclui o desenvolvimento de manuais de sinalização, de orientação, de medidas moderadoras de tráfego.”

Mariz apresentou propaganda do governo da Nova Zelândia no qual o plano se inspira, em que é apresentada a responsabilidade compartilhada pelos acidentes. Durante o vídeo são destacados a falta do uso do cinto de segurança por todos, inclusive crianças e cachorros, quem vendeu os pneus do carro, a fiscalização, ou a sua ausência, de velocidade máxima, quem avaliou aquele veículo como seguro, e a engenharia para instalar as proteções da estrada, por exemplo: “Precisamos de todos para chegar a nenhum. Nenhuma morte é aceitável. Toda pessoa faz falta para alguém”.

Tecnologia e conectividade podem contribuir para a redução de acidentes

Marcelo Costa, da UFMG, chamou atenção ao fato de que, do ponto de vista de segurança viária, é preciso enxergar que se trata também de um problema de saúde pública, que muitas vezes é enfrentado a partir da análise dos seus dados. Mas nem sempre as informações estão disponíveis de forma confiável ou não existem fontes oficiais: “O carro, portanto, torna-se fonte extremamente relevante para fazer levantamento de dados para fins de saúde pública e de combate aos acidentes viários”.

Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP, complementou que o tema segurança viária não se restringe à questão de carros mais seguros. Infraestrutura adequada é muito importante, ressaltou, ao citar que, muitas vezes, a tecnologia não funciona conforme o esperado.

“As tecnologias ajudarão a reduzir o risco e o erro humano, mas temos assuntos que não podemos perder de vista. Se o motorista está acostumado a essas tecnologias e é colocado em um carro sem elas, e em uma região diferente, a probabilidade de acidentes é muito maior.”

Furas ressaltou que a interação em um carro não ocorre somente com celular mas com relógio e sistema de navegação: “As distrações são muitas. Por isso precisamos de sistemas de assistência, como o Adas, para dar respaldo diante de uma distração. Antigamente a única distração era o rádio, nem ar-condicionado tinha. Precisamos de tecnologias que mitiguem essa questão. Para que isso não termine em tragédia”.

Flávio Cardoso, responsável pelos serviços conectados da Stellantis na América do Sul, destacou que a comunicação por voz é de extrema importância por reduzir distração, ampliar segurança e comodidade. Elencou também que o carro passa a ter diferentes oportunidades com telas maiores e melhores, assistentes virtuais e integração dos outros displays, que exploram e enriquecem a experiência a bordo, além de elevar sensação de conforto e conveniência.

Hoje o aplicativo do smartwatch é capaz de ligar o carro e climatizá-lo antes de chegarmos até ele. Além disso, com o wifi integrado, conecta-se até sete devices simultaneamente. Outro ponto positivo é o socorro inteligente, que conta com botão SOS no retrovisor.

Além disso o veículo entende sinais e reage a eles. Quando o airbag é acionado chamada automática é realizada porque nem sempre, na hora do pânico, o botão é acionado: “Temos, como um de nossos pilares, a responsabilidade de contribuir com a meta de zero acidente e zero morte”.

Cardoso disse que a Stellantis consegue, hoje, saber onde está o carro, quantas pessoas estão a bordo, o que aconteceu. E em caso de tentativa de furto notificação é enviada pelo aplicativo e, como resultado, mais de 94% dos veículos são localizados.

“Quando falamos da experiência que podemos construir citamos a relação de maior valor agregado que o software pode oferecer. Quando falamos em integrar os sistemas falamos em expandir as fronteiras. Nós vimos isto acontecendo no smartphone que está na nossa mão. Saímos do telefone em que nos preocupávamos com quantos minutos tínhamos para ligar, se era ligação internacional. Hoje isso é o menos relevante. O mesmo ocorre com o carro baseado em software, pois se tem a capacidade de integrar e de realizar serviços que podem trazer experiências em tempo real, prover informações que evitem problemas maiores, evitar rupturas nas experiências de forma não preventiva, mas preditiva.”

Cardoso citou que o objetivo é fazer com que a conectividade ressignifique o dia a dia das pessoas. E que o cliente tem isto como algo aspiracional, embora este seja um mercado em construção quando comparado aos de países mais desenvolvidos: “Com o que temos em termos de conectividade ninguém mais quer retrocesso”, assinalou, referindo-se ao fato de que o brasileiro tomou gosto por tecnologias de segurança e conectividade veiculares.

Flavio Sakai, diretor de eletroeletrônica da AEA, observou que existe uma lacuna na quantidade de veículos conectados, mas que, ao mesmo tempo, há uma tendência de aceleração, exatamente porque no mercado local os consumidores adoram tecnologia.

“O nível de conectividade é maior lá fora do que aqui. Vejam: aqui se inicia com 4G enquanto que, lá fora, com 5G. Mas esperamos que em dois ou três anos consigamos reduzir este gap introduzindo soluções em 5G.”

Quais são as regras para o uso dos dados do veículo?

Os dados do veículo são gerados, mas, de fato, não há regulamentação que estabeleça protocolos de acesso a este tipo de informação nem como ela deve ser ofertada e distribuída, seja para o governo ou para o próprio cidadão. Este é tema complexo e em discussão global.

Remete à resolução 717/2017, precursora do Rota 2030, que estabeleceu roadmap de itens de segurança a serem avaliados e, então, incorporados. Um desses itens é a avaliação da caixa preta dos veículos. É um tema em discussão, está na agenda regulatória para este ano, mas ainda precisa avançar.

Alejandro Furas, do Latin NCAP, apontou que a caixa preta com a gravação dos dados é obrigatória, mas o que preocupa é o compartilhamento de informações privadas do motorista em tempo real – e quase todas as montadoras já possuem esses componentes que estão sendo desenvolvidos e adotados nos carros.

“Analisar os dados tudo bem, mas compartilhar a informação do motorista de forma contínua e completa não. Em breve os carros terão câmaras, por exemplo, para a detecção de uso de cinto de segurança, de fadiga, de distração do motorista. Mas é preciso haver regras para acessá-los. A transmissão de 100% deste tipo de informações não nos agrada muito. O NCAP vai atacar essa questão.”

Flávio Cardoso, da Stellantis, concordou que é fundamental que as montadoras tenham esta responsabilidade, mas de forma estruturada: “A questão de segurança tem roadmap que vem sendo estruturado. Porque endereçar dados envolve, também, as questões de cibersegurança. Para isto funcionar bem é preciso que o papel de cada steakholder seja pré-definido. Não adianta haver movimento de um lado sem que tudo esteja concatenado. Sempre que falamos em conectividade é preciso ter um ecossistema bem estruturado”.

Como tornar o carro mais acessível sem abrir mão da evolução tecnológica de segurança e conectividade?

Nos últimos oito anos a conectividade avançou bastante. Houve adição de custos de hardware e novas plataformas. Mas, ao mesmo tempo, as fabricantes também se comprometem a otimizar estes itens a fim de que o preço do carro não sofra contínuos e expressivos aumentos.

“A partir do momento que você traz elementos que salvam vidas, reduzem riscos de segurança e proporcionam fluidez ao dia a dia dos clientes acredito que começaremos a romper barreiras.”

Cardoso justificou que a maioria das montadoras conta com soluções globais. Contudo, devido aos por ora baixos volumes, não conseguem trazer para cá as todas as tecnologias por barreiras financeiras na forma de custos: “A partir do momento em que se tem escala forma-se um círculo virtuoso. Só que este ainda não é um cenário comum a todos. Por isto é um grande desafio, embora a questão legislativa ajude a acelerar essas coisas”.

Hílton Spiler, diretor de segurança veicular da AEA, concordou que é necessário ganhar escala para reduzir preços porque se trata de tecnologias que demandam bastante desenvolvimento e são muito intrusivas, envolvem atualização constante de hardwares e softwares: “Quando há utilização da mesma tecnologia em várias plataformas é um fator que pode ajudar, assim como se um mesmo equipamento for adotado por diversas montadoras. Isso seria capaz de reduzir o preço da tecnologia”.

Ajudaria, segundo Spiler, não só para trazer a um valor mais justo como, também, para reduzir o atraso do Brasil frente à Europa, mesmo com sistemas de ESP e ABS: “Acredito que estamos acelerando com sistema de detecção de visibilidade traseira ou de identificação de objetos na traseira dos veículos”.

Cardoso ponderou que a construção de agendas com parceiros demanda evolução contínua: “Pensamos muito na escala de hardware, mas o mundo conectado traz outros potenciais desenhos. Há série de elementos novos. Temos de abrir a cabeça. Talvez a construção de parcerias dependa da cocriação que existirá com players tradicionais do mercado, que são os competidores. Mas, para ter relevância no business, se tivéssemos todas as montadoras ou todos trabalhando em um mesmo desenho ou modelagem única aquilo se tornaria viável”.

Como ampliar os testes de segurança e incluir todos os modelos disponíveis no mercado?

Enquanto itens de segurança e conectividade não são massificados Alejandro Furas, do Latin NCAP, afirmou que o ideal seria que sua ONG testasse tudo o que está no mercado. No entanto, infelizmente, a entidade sem fins lucrativos conta com recursos limitados e pode pagar por poucos carros por ano. Mas, a fim de não limitar o trabalho, contou que são aceitas tanto doações como sugestões para testar mais veículos, sejam do governo ou de empresas privadas, a fim de não limitar informação aos consumidores.

“Formas de mudar essa realidade são, por exemplo, que grandes frotistas exijam que seus carros sejam testados pelo Latin NCAP, ou que haja programa de etiquetagem obrigatória do governo, assim como ocorre em países da Europa, em que há acordo de cavalheiros para que todos os carros lançados passem antes pelo Euro NCAP.”

Ou, ainda, que o governo pudesse exigir que fossem testados carros que possuem maior popularidade, uma vez que o critério da Latin NCAP é sempre testar a versão mais básica. E isso em toda a América Latina.

Sobre a possibilidade de as montadoras retirarem itens de segurança avançados a fim de baratearem os veículos e ofertarem novos carros Furas disse não concordar com o fato de que um carro de entrada tenha de ser menos seguro: “A configuração do carro é uma decisão comercial da montadora. Se ela decidir tirar itens de segurança para baratear o carro precisa voltar a testá-lo. A segurança e a saúde dos brasileiros não é algo negociável. A montadora terá que economizar em outras áreas”.

Volkswagen Virtus conquista cinco estrelas no Latin NCap

São Paulo – O Latin NCap avaliou a segurança do novo Volkswagen Virtus 2023, produzido na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, com base em seu novo protocolo de avaliação, válido até 2024, e o sedã conquistou cinco estrelas, nota máxima, assim como o Taos e o Nivus. No ano passado a entidade testou o Virtus produzido na Índia, que também recebeu nota máxima.

A segurança oferecida aos ocupantes aumentou após atualizações da Volkswagen, que adicionou ao veículo airbags laterais de cortina para o corpo, que já tinha airbags para proteger cabeça e tórax. A oferta do sistema ADAS, assistente de condução, como opcional no Virtus, também ajudou a elevar o índice de segurança.

De acordo com comunicado divulgado pelo Latin NCap a nota recebida pelo veículo considera o resultado da proteção para adultos, crianças, pedestres e a avaliação dos sistemas de assistência ao condutor. A proteção para adultos e crianças chegou a 92%, para pedestres 52% e os assistentes de condução obtiveram 66%.

Nissan chega a 1 milhão de veículos elétricos vendidos

São Paulo – A Nissan atingiu a marca de 1 milhão de veículos elétricos vendidos em todo o mundo, sendo o Leaf o modelo mais comercializado, 650 mil unidades desde o seu lançamento realizado em 2010. Do 1 milhão de vendas da Nissan quase um terço foi na Europa, de acordo com comunicado divulgado pela montadora. 

O Japão e a China aparecem como os outros seus dois principais mercados, consumindo 230 mil veículos.

Sete montadoras criam joint venture para acelerar rede de recarga na América do Norte

São Paulo – Sete montadoras se uniram para criar uma joint venture com foco no desenvolvimento da rede de recarga para veículos na América do Norte. BWM, General Motors, Honda, Hyundai, Kia, Mercedes-Benz e Stellantis pretendem instituir empresa que instale 30 mil pontos de recarga de alta potência em locais urbanos e rodovias, segundo comunicado divulgado pela Stellantis na quarta-feira, 26.

A joint venture alavancará recursos públicos e privados para tornar mais confiável, acessível e conveniente a rede de carga disponível para os motoristas. As instalações começarão em 2024 nos Estados Unidos, avançando em um segundo passo para o Canadá, com os carregadores disponíveis para todos os veículos.

Preços recuam em junho, diz monitor da KBB

São Paulo – Os preços dos veículos zero quilômetro apresentaram queda em junho, com redução média de 0,11% na comparação com maio, que foi um mês de acordo. Os dados foram divulgados pela KBB, Kelley Blue Book, por meio de seu MVP, Monitor de Variação de Preços> Segundo a empresa os incentivos do governo tiveram relação direta com a queda nos preços. 

Modelos com linhas 2024 já disponíveis tiveram redução de 0,05% na média, e os preços das linhas 2023 caíram 0,22%. 

Os veículos seminovos, com até três anos de uso, passaram por redução média de 0,67%. Os modelos ano/modelo 2024 caíram 0,70%, os 2023 0,73% e os 2022 0,74%.

Frota da Awto recebe mais 20 unidades do Kia Stonic

São Paulo – A Kia entregou mais vinte unidades do Stonic para a Awto, aplicativo que, na cidade de São paulo, permite a locação de veículos na rua. Agora a frota da Awto dispõe de sessenta Stonic, modelo híbrido da Kia, segundo comunicado divulgado pela montadora na quarta-feira, 26.

Das vinte unidades entregues doze são da série especial Nightfall, que vem pintada em preto ou cinza, com teto em azul e outros pormenores.

Lucro da Stellantis cresce 37% no semestre. América do Sul gera € 1,1 bi.

São Paulo – A cada balanço reportado os lucros da Stellantis crescem na mesma medida em que aumentam a certeza de que foi um negócio para lá de bom, para ambos os lados, a fusão dos grupos PSA e FCA, consolidada há apenas dois anos e meio. No curso do terceiro ano da união o balanço do primeiro semestre de 2023, divulgado na terça-feira, 26, reporta novos recordes de receitas líquidas, lucro operacional e lucro líquido, com margens sobre faturamento de dois dígitos em todas as suas cinco regiões operacionais.

As vendas acumuladas de janeiro a junho, de 3,3 milhões de veículos em todo o mundo, expansão de 10% sobre o primeiro semestre de 2022, asseguraram à Stellantis o impressionante faturamento de € 98,3 bilhões, avanço de 12% ou € 10 bilhões a mais do que no mesmo período do ano passado, graças principalmente à redução dos problemas de abastecimento de componentes, o que permitiu o aumento da produção e das entregas de veículos aos clientes.

E graças ao que a Stellantis chama de “disciplina de preços” – o que pode ser traduzido em reajustes constantes evitando entrar em guerras de promoções –, o lucro operacional ajustado, antes de despesas financeiras e impostos, somou € 14,2 bilhões, em crescimento de 11% na comparação com o primeiro semestre de 2022, sustentando assim a forte margem operacional de ganho de 14,4% sobre o faturamento do grupo.

Segundo relatório financeiro da Stellantis o excelente desempenho financeiro e uma redução de custos não usuais culminou em lucro líquido semestral recorde de € 10,9 bilhões, aumento de 37% na comparação com o mesmo período de um ano antes.

Com este desempenho financeiro positivo sobrou mais dinheiro disponível para bancar gastos e investimentos: os fluxos de caixa livres industriais da companhia somaram € 8,7 bilhões, ou € 3,3 bilhões acima do primeiro semestre de 2022.

Em comunicado o CEO Carlos Tavares declarou que os resultados recentes garantem o futuro da Stellantis: “O nosso excelente desempenho no primeiro semestre deste ano apoia a nossa sustentabilidade a longo prazo e a nossa capacidade de concretizar as ambições arrojadas do nosso plano Dare Forward 2030. Orgulho-me de dizer que as equipes apresentam resultados em múltiplas dimensões. Estamos bem-posicionados para a continuidade de 2023 e além”.

América do Sul sustenta bom desempenho

Nos mercados sul-americanos, onde o Brasil representa em torno de 70% dos resultados, a Stellantis continuou a apresentar desempenho positivo no primeiro semestre: apesar do fraco avanço das principais economias da região as vendas cresceram 4%, para 420 mil veículos, colocando a empresa na liderança na América do Sul, com participação de 23,7% somando todas as marcas e com a Fiat à frente de todas com market share de 14,1%.

Apesar de os volumes não terem crescido tanto o lucro operacional continua vistoso: € 1,1 bilhão no semestre, em crescimento de 7% sobre o mesmo período de 2022, o que representa boa margem de 14,2% – praticamente igual à média global do grupo – sobre o faturamento de € 7,6 bilhões na região, 5% maior do que o registrado um ano antes.

Segundo relatório da Stellantis o principal combustível para sustentar a boa margem operacional de lucro na América do Sul foi a liderança de mercado combinada com reajustes de preços, o que compensou o mix desfavorável de vendas e elevação de custos industriais causada pelo aumento nos preços de insumos.

A Stellantis foi a fabricante que mais se utilizou dos descontos patrocinados pelo governo durante os meses de junho e julho e, para aquecer ainda mais suas vendas, concedeu descontos adicionais. Em recente conversa com jornalistas Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, ponderou que estas ações foram temporárias e não devem prejudicar os resultados financeiros na região: “Conseguimos compensar as reduções de preços com aumentos de volumes”.

Margens robustas

Além do bom desempenho na América do Sul em todas as regiões do mundo onde opera a Stellantis conseguiu registrar lucros expressivos e margens operacionais robustas, mesmo diante de ambientes adversos com inflação em alta e câmbio desfavorável.

O grupo registrou o maior lucro operacional na América do Norte, o recorde de € 8 bilhões, e também a segunda maior margem operacional, de 17,5%, mesmo com o recuo de 1,3 ponto porcentual na participação de mercado, para 10%.

Na Europa, em trinta países, mesmo com perda de 2,2 pontos, a participação de mercado das marcas Stellantis segue alta, em 19%, o que garantiu o segundo maior lucro operacional da empresa no mundo, de € 3,7 bilhões, e a mais baixa margem, de 10,7%.

Ao contrário de vários concorrentes a Stellantis tem participação tímida nos mercados de China e Índia e Ásia-Pacífico, mas o lucro ainda baixo de € 294 milhões no primeiro semestre cresceu 9% sobre o ano passado e a margem avançou 2,3 pontos, para 14,8%.

A região operacional de maior crescimento para a Stellantis na primeira metade de 2023 foi no conjunto de países da África e Oriente Médio, com lucro operacional de € 1,2 bilhão e margem que cresceu 8,5 pontos, para 25,9%, a maior no mundo. As marcas do grupo na região ocupam a segunda posição no ranking dos veículos mais vendidos, com participação combinada de 15,1%.

Mulheres buscam segurança, conforto e espaço interno em um carro

São Paulo – Tecnologia de segurança é o principal item a ser considerado por mulheres na compra de um carro, porcentual que sobe a 17% no universo feminino de classe A, apontou pesquisa do Google sobre intenção de consumo que considerou amostra de 1,2 mil proprietários de automóveis e interessados em comprar um carro no período de até três meses, das classes A a E. Conforto também é palavra-chave, tanto que possui o dobro de importância para as consumidoras, em comparação aos consumidores. E espaço interno é quase quatro vezes mais relevante para elas do que para eles.

“A mulher tem um olhar funcional para o carro. É onde ela leva os filhos para a escola, onde vai trabalhar, onde carrega suas coisas. O homem tem olhar mais passional. Gosta de entender mais, de motor, de design”, afirmou Lara Guedes, líder de mobilidade do Google Brasil, ao citar que 24% dos homens percebe o veículo como paixão frente a 17% das mulheres.

Os dados foram apresentados pela executiva durante o evento Nissan Mulheres 2023, promovido com o objetivo de debater a equidade de gênero no setor.

Embora o uso principal do veículo seja a ida ao trabalho, para 28%, assim como para 30% dos homens, elas utilizam o veículo como ferramenta de trabalho mais que eles — para visitar clientes, por exemplo, 17% versus 12%, e para levar as crianças à escola diariamente, 12,5% contra 7%. Mas, na estrada, usam quatro vezes menos do que os homens.

E como para elas segurança é algo preponderante na compra do automóvel o levantamento constatou que as representantes do sexo feminino estão mais predispostas a investir em um 0 KM do que os do sexo masculino, uma vez que eles sentem-se mais confortáveis ao adquirir um modelo usado. A diferença na pesquisa foi de 6 pontos porcentuais.

“De um modo geral as mulheres sentem-se inseguras, têm a impressão de que se comprarem carro 0 KM será uma escolha mais assertiva quanto à segurança”, assinalou Guedes. E, neste caso, está incluída tanto a segurança promovida por aparatos tecnológicos como também a percepção de se estar mais segura com carros que chamam menos atenção e que sejam menos visados.

A executiva relatou também que elas estão mais propensas a comprar um SUV do que eles, 35% versus 32%. Mas eles superam na intenção de obter picapes pequenas e hatches.

Mas nem sempre o objetivo da mulher é transportar seus filhos, até porque muitas delas não têm a vontade de ser mãe: “Algumas, como eu, querem saber se cabe uma segunda cadeirinha no carro e um adulto no meio. Outras querem espaço para transportar suas plantas ou seus pets de grande porte. E as montadoras precisam estar atentas a isso”, disse a executiva, grávida de sete meses de seu segundo filho.

Mulheres estão mais ligadas à posse do que os homens

Além de todos os dados apresentados por Lara Guedes o levantamento do Google identificou ainda que 60% das mulheres enxergam o carro como uma conquista material enquanto que, nos homens, o porcentual é 48%. Outro dado é que dos consumidores que pretendem alugar veículo nos próximos três meses têm-se 9% deles e 5% delas.

Para 55% das representantes do sexo feminino a posse do automóvel é sinônimo de liberdade, enquanto que para os do sexo oposto o índice é 43%.

Dado curioso é que as mulheres olham mais para Ásia como provedora de tecnologia do que os homens, 66% versus 56%. E 33% delas mencionaram a China, frente a 28% dos homens.

“Em nosso levantamento, e também após participações em fóruns e grupos de pesquisa, percebemos que as marcas mainstream, ou seja, as montadoras grandonas, foram feitas por homens e para homens.”

Guedes afirmou que embora a participação de mulheres nas montadoras tenha evoluído nos últimos anos ainda há muito o que ser feito e, inclusive, refletido no produto final:

“Marcas menores e que estão chegando agora ao mercado, inclusive as asiáticas, portanto, acabam despertando mais o interesse das mulheres. Mas não podem apresentar nenhum tipo de risco, senão as afugenta. Isso tanto quanto ao carro como quanto à marca. Por exemplo: ela quer saber se passou pelo crash test, se tem manutenção garantida, se não ficará na mão, se a marca já chegou ao Brasil ou se foi embora do País”.

Elas gostam do digital, mas efetuam compra presencialmente

Guedes destacou que o fato de mulheres geralmente terem jornada tripla demanda comunidade de serviços e de apoio, mas que nem sempre todos os atores estão atentos a esta necessidade.

“Elas precisam mais do digital como ferramenta de aprendizagem e apoio, enquanto que eles, muitas vezes, se viram mais sozinhos. As decisões de compra, porém, são mais técnicas ou contextuais e precisam ser baseadas em apoio humano. Ou seja: ela pesquisa, entende e quer ser bem atendida por alguém que preste atenção nas necessidades dela. Se ela for com o marido e o vendedor olhar só para ele, não tem negócio.”

Traduzindo: não adianta a marca fazer uma extensa e completa jornada no digital, mas, na hora de efetuar a compra, na concessionária, a mensagem não ser passada e não haver um olhar igual para homens e mulheres.

Outro dado da pesquisa é que as consumidoras consideram menos marcas dos que os consumidores, por exemplo, cinco ou seis, enquanto que elas, duas ou três.

“Fato é que o potencial de consumo das mulheres é crescente. Dados públicos mostram que, hoje, 35% delas possuem CNH, mas que, 60%, estão cursando ensino médio. Daqui a alguns anos o poder aquisitivo delas vai aumentar e elas se tornarão ainda mais consumidoras do que os homens.”

Renault confirma híbrido flex

São José dos Pinhais, PR — A Renault está desenvolvendo o seu sistema híbrido flex, que no futuro equipará modelos produzidos no Brasil. O presidente Ricardo Gondo disse que a tecnologia, que combina um motor elétrico com outro a combustão interna flexfuel, será adotada no que a empresa acredita ser um processo de transição para o 100% elétrico.

“Sim: nós teremos e já estamos trabalhando em um motor híbrido flex”, afirmou o executivo em entrevista coletiva na fábrica de São José dos Pinhais. “O elétrico é o futuro, mas ainda teremos um prazo para a transição.”

Gondo acredita que esta transição será longa: segundo ele a eletrificação na Europa teve início em 2010 e este processo estará totalmente concluído apenas em 2035. Seguindo esta lógica por aqui, portanto, há oportunidade para ocupar o mercado por mais 20, 25 anos com a transição, na sua avaliação, a partir da produção do primeiro híbrido nacional: “Metade das vendas globais, em 2050, será de veículos térmicos”.

Tanto que a Renault apostou na criação da Horse, sua divisão dedicada aos motores a combustão, híbridos e transmissões. As fábricas de motores e de injeção de alumínio no Complexo do Ayrton Senna integram a nova divisão. Portanto, de alguma forma sua engenharia participa do desenvolvimento da tecnologia híbrido flex.

A fábrica de veículos de passeio no Paraná opera, atualmente, em turno único, enquanto espera pela retomada do mercado. Para o presidente da Renault do Brasil o programa de descontos do governo foi importante, ajudou a desenvolver as vendas no curto prazo, mas será impossível a manutenção dos preços no patamar em que estavam: “Perderíamos dinheiro com isto e não é a nossa intenção”.

Para ele é preciso que a população retome a confiança e consiga voltar a acessar os financiamentos para que, enfim, o mercado volte a crescer.

“O mercado brasileiro está muito abaixo de seu potencial. Chegamos a 3,6 milhões de unidades de leves há pouco mais de dez anos e agora estamos estagnados nas 2 milhões de unidades. O brasileiro ainda quer comprar carro, mas não tem a confiança para fazer isso agora.”

InstaCarro chega a R$ 1 bilhão em negócios fechados

São Paulo – O InstaCarro, plataforma digital de compra e venda de veículos, atingiu a marca de R$ 1 bilhão em negócios fechados a partir do site, que apoia os negócios de quase todos os lojistas de seminovos e usados no Brasil, segundo comunicado divulgado pela empresa na terça-feira, 25. No primeiro semestre os negócios foram impulsionados pela demanda em alta no segmento de seminovos e usados, segundo a Fenauto, que registrou alta de 15,3% nas vendas ante os primeiros seis meses de 2022.