São Paulo – Mais do que o corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros, anunciado pelo Banco Central na quarta-feira, 2, para 13,25% ao ano, o que mais deixou animado Paulo Noman, presidente da Anef, a associação dos bancos das montadoras, foi a indicação de que esse movimento de queda, o primeiro em três anos, deverá ser mantido nas próximas reuniões do Copom. O que abre portas, segundo ele, para que o cliente pessoa física volte a comprar veículos 0 KM.
Noman disse que os bancos de montadoras já preparam nova tabela de juros, que deverá começar a ser anunciada na semana que vem: “O PIB está maior do que se imaginava, com juros em queda e tendência de se manter assim. Isso permite a retomada de investimentos, geração de emprego, melhora da renda e redução da inadimplência, o que melhora o acesso ao crédito”.
Noman reconheceu que, embora pequeno, esse corte de 0,5 ponto era o esperado. Em uma taxa mensal o impacto é pequeno, avalia: se os juros forem de 1,5% ao mês eles não vão recuar a 1% ao mês, e sim a 1,47% ao mês, exemplificou. Na média, de acordo com dados do BC, até abril a taxa estava em 28,5% ao ano, com inadimplência de 5,5%.
E, como as instituições financeiras passarão a captar recursos a taxas menores, uma vez que geralmente optam por papéis pós-fixados indexados pela Selic, isso trará certo fôlego a suas operações:
“Há muito tempo os bancos de montadoras oferecem taxa zero subsidiada. Ou seja: hoje são as fabricantes que arcam com este custo. Mas o cenário permitirá que eles mexam em outras variáveis: é possível que se exija uma entrada menor do que as usuais 30% a 40%, que têm sido pedidas nos últimos anos para ter acesso a taxas menores ou zeradas”.
Ou, ainda, prosseguiu Noman, há a possibilidade de as parcelas ficarem menores a fim de caberem no bolso do consumidor pessoa física e trazê-lo de volta ao mercado, uma vez que a maioria dos consumidores dos veículos novos têm sido composta por frotistas ou então pessoas físicas que não precisam de financiamento.
O dirigente da Anef ressaltou que as condições deverão variar a depender da concessionária, mas que é possível afirmar que haverá mudanças ainda este mês. Mesmo para pesados, cuja demanda está intimamente ligada ao aquecimento da economia, e em um segmento em que a maior parte do crédito é buscada por meio do Finame, deverá haver um fôlego maior e condições mais atrativas.
“O mais importante neste momento é ver a indicação do potencial de redução futura da taxa básica de juros. Porque o Brasil precisa controlar a inflação e retomar seu crescimento. Isso por si só regulará o mercado e terá um impacto muito maior do que uma queda mais robusta de uma só vez. O processo tem de ser paulatino. E ao que tudo indica, será.”
Anfavea e Fenabrave estão otimistas com corte da Selic
Em linha com os pontos de vista do presidente da Anef os representantes da Anfavea, Márcio de Lima Leite, e da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, demonstraram otimismo também pelo efeito do movimento de queda nos juros na economia brasileira.
De acordo com Andreta Jr. “para trazer o consumidor de volta é necessário queda nos juros e aprovação de crédito. Se isso acontecer, as perspectivas do mercado melhoram”.
Para Leite após a melhora do rating do País, que classifica o risco de crédito, o início do ciclo de redução da Selic é sinalização fundamental para começar a destravar os negócios, sobretudo em um setor, como o automotivo, que depende muito de financiamentos. O objetivo, segundo ele, é retomar o patamar de vendas financiadas, que há alguns anos representava 70% do total e, hoje, representa 30%.
“Este cenário, somado à aprovação da reforma tributária, deverá elevar a confiança dos consumidores, aumentar o giro na economia e atrair investimentos internos e externos. A expectativa do setor é que este seja apenas o primeiro passo para uma redução maior da taxa de juros, que possa levar a um círculo virtuoso e a uma contínua melhora dos nossos indicadores de vendas e produção ainda neste ano.”