Royal Enfield acelera sua expansão no mercado brasileiro

São Paulo – Nos primeiros sete meses do ano a Royal Enfield registrou a venda de 9,1 mil motocicletas no mercado brasileiro, crescimento de 44% sobre o resultado de período idêntico em 2023. A expansão não deverá parar por aí, segundo seu diretor executivo para a América Latina, Gabriel Patini: até dezembro dez concessionárias serão abertas, somando 38 pontos de venda, e o ritmo da montagem em Manaus, AM, subirá, também com a introdução de novos modelos. A expectativa é fechar o ano com 17 mil a 20 mil unidades vendidas.

Hoje a operação brasileira é a maior depois da Índia, segundo Patini. No mês passado a fábrica de Manaus entregou mais de 2 mil unidades: “Há capacidade para produzir mais. Temos, hoje, um gargalo na linha de produção de kits CKDs na Índia, mas dois turnos adicionais serão abertos apenas para atender à demanda do Brasil”.

Patini calcula que a Royal Enfield tem condições de vender em torno de 35 mil motocicletas por ano no Brasil. Com a expansão da rede, que em 2025 deverá alcançar sessenta casas, a produção deverá ficar na ordem das 2 mil unidades por mês – e toda ela é direcionada ao mercado local, que, no caso, é abastecido totalmente por Manaus.

As motocicletas são produzidas na fábrica da Dafra em uma operação logística complexa: os kits são produzidos na Índia e são embarcados para o Brasil: “Da produção à chegada na fábrica são pelo menos cinco meses. Só no navio são três meses, e ainda temos os transportes internos”.

Uma parte dos itens são comprados de fornecedores nacionais, como as baterias. O objetivo é atender o PPB exigido na Zona Franca de Manaus e não pagar imposto de importação, que em motocicletas chega a 35%. 

A diretoria está de olho, também, na seca da Amazônia: os rios por onde as peças e motocicletas transitam estão em torno de 4 m 50 abaixo do nível do ano passado. Mas, por enquanto, as operações seguem normalmente.

Brose completa 25 anos de produção no Brasil

São Paulo – A Brose celebra, em agosto, seus primeiros 25 anos de produção no Brasil. A primeira fábrica foi a de São José dos Pinhais, PR, para abastecer de módulos de porta a Volkswagen, instalada ali próximo. Em 2008 a companhia adquiriu uma empresa de motores elétricos em Salto, SP, que foi transferida para o Paraná anos depois.

Em 2013 a Brose inaugurou fábrica em Diadema, SP, que logo ficou pequena: em 2017 precisou ser transferida para Jarinu, que hoje produz módulos de porta e novos projetos. Antes, em 2015, abriu uma operação em Goiana, PE, para atender a FCA, hoje Stellantis.

BYD lança programa de recompra garantida

São Paulo – A BYD criou um programa de recompra garantida para seus modelos para tentar fisgar aqueles clientes que temem a desvalorização, especialmente dos 100% elétricos. Neles a companhia promete pagar 80% do valor da tabela Fipe vigente no BYD seminovo na troca por um igual, ou superior.

Estão fora, porém, os veículos blindados. A condição é válida para os compradores de BYD até 31 de dezembro.

Volvo anuncia novos gerentes de marketing e de pós-venda

São Paulo – A Volvo anunciou novos gerentes para sua operação local: Alessandra Almada assumiu o marketing e Alexandre Hartl a área comercial de pós-venda. Ambos responderão a Alcides Cavalcanti, diretor executivo da Volvo Caminhões

Na Volvo desde 2011 Almada acumula mais de vinte anos de experiência em planejamento e gestão de marketing. Sua missão, agora, será aprimorar o relacionamento com a rede, promover a melhor experiência dos clientes e fortalecer a marca no mercado brasileiro.

Alexandre Hartl está na Volvo há doze anos, com passagens pelas áreas de suporte técnico e marketing e desenvolvimento de concessionárias. Com passagens por Renault e PSA assume o pós-vendas que dispõe de 106 concessionárias no Brasil.

Argentina está no bom caminho mas 2024 ainda se apresenta muito difícil

São Paulo – Depois de oito meses e onze dias da posse do novo presidente a situação da economia argentina dá mostras de estar iniciando um processo de estabilização. A trajetória rumo à recuperação plena, entretanto, é longa e terá muitos percalços, especialmente este ano. Este é o resumo do tango contado por Andrés Civetta, analista de economia e negócios da consultoria Abeceb, em palestra do terceiro dia do 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, com realização de AutoData.

Para ele as primeiras medidas de choque do novo governo já estão produzindo bons dividendos, como a redução da inflação mensal, de 13% em novembro para 3,8% em julho, e o fato de as reservas líquidas do país crescerem de US$ 11 bilhões negativos para US$ 8 bilhões.

Porém a atividade econômica só deverá voltar a crescer em 2025, com projeção de 4,5% de alta. No segundo trimestre deste ano houve retração de 5%, recessão ainda maior do que a queda de 1,2% no último trimestre de 2023, e a previsão é que o ano termine com diminuição de 3,3%.

Outra questão fundamental levantada é do câmbio, que tem duas cotações para o dólar, a oficial e a paralela: “Esta diferença chegou a ser de 150% no fim do ano passado e agora está em 45%, sendo que já esteve em 20%”, disse Civetta. “É uma redução importante para que o governo atinja um dos seus objetivos, que é a unificação cambial, para que não haja dois valores”.

Para tanto ele acredita que uma ação fundamental foi o ataque ao déficit fiscal, que era de 4,4% do PIB em novembro. Hoje há superávit de 0,4%.

Portanto, para o consultor, o cenário geral mostra pontos positivos como a baixa da inflação, a valorização do peso argentino e o aumento do crédito. De outro lado persistem fatores que jogam contra a recuperação, a exemplo da política monetária restritiva, a contração fiscal e a dificuldade de atrair investimentos.

Na sua opinião as tensões permanecem e os maiores desafios são acelerar o declínio inflacionário, cuidar das reservas e conseguir recuperação mais rápida. Desta forma as perspectivas para 2025 são de unificação e de acomodação da taxa de câmbio no início do ano, seguida de aumento transitório da inflação e pausa na recuperação, finalizando com redução rápida da inflação e recuperação da atividade econômica a partir do segundo trimestre.

Setor automotivo desce antes de subir

Civetta sinalizou que as projeções para este ano indicam, já, que haverá setores crescendo na Argentina, com destaque para petróleo e gás, mineração, agronegócio e economia do conhecimento. Já a área automotiva está no balaio das que ainda cairão este ano, com baixa prevista de 24,7%, e que deverão retomar tempos melhores somente em 2025 – alta estimada em 10,5%.

Aprofundando os números: o mercado argentino, que fechou o ano anterior com produção de 636 mil unidades, deve atingir apenas 480 mil em 2024 e subir para 532 mil no ano que vem. Vale ressaltar que o recorde foi conquistado recentemente – em 2017, com mais de 800 mil. 

O consultor prevê que, da mesma forma que as vendas internas as exportações cairão 18,1% este ano, recuperando-se em 2025 com um avanço de 12,4%. Neste caso a queda deve-se especialmente à retração forte de alguns mercados médios da região, como Chile, Colômbia, Equador e Peru, compensada em parte pelo aquecimento no Brasil. Apesar de tudo alguns fatores podem contribuir para a retomada geral, como a desburocratização e a facilitação do comércio.

A situação da indústria automotiva na Argentina só não é pior neste momento pelo sucesso da especialização do país em produzir picapes médias. De janeiro a julho de 2024, por exemplo, a baixa das exportações de comerciais leves foi de 10%, bem menor que os 29% de queda registrados nos automóveis.

“A Argentina é o quarto maior produtor mundial de picapes médias, atrás de Tailândia, Estados Unidos e China.” 

Metade da demanda latino-americana, México incluso, neste segmento é abastecida por modelos argentinos, que chegam a vinte nações diferentes. E se em 2012 esta categoria representava 6% das vendas em toda a região hoje representa 10%.

Na conclusão de André Civetta o setor automotivo – o quarto maior exportador do país – continua com alto potencial mas precisa de mais competitividade e avanços nos acordos comerciais que facilitem as exportações e diversifiquem os destinos. E, de modo mais amplo, o maior teste para o sucesso do governo atual serão as eleições legislativas em 2025, que servirão como um termômetro do apoio popular às medidas que estão sendo aplicadas.

Na contramão da indústria Volkswagen amplia exportações em 36%

São Paulo – A Volkswagen já exportou 47 mil veículos este ano, aumento de 36% na comparação com o resultado acumulado do mesmo período no ano passado, 34 mil. Enquanto trilha trajetória de recuperação neste tipo de venda — encerrou 2023 com queda de 29,2% e 63 mil unidades — a empresa segue na contramão do mercado: dados da Anfavea mostram que os 204,4 mil veículos exportados pela indústria brasileira estão 21,7% aquém em igual período anterior.

Os números foram apresentados por Reginaldo Barossi, gerente de planejamento de vendas da Volkswagen para a América do Sul, durante o 6º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana, realizado por AutoData de 19 a 23 de agosto.

De acordo com Barossi a reação deve-se, primeiramente, ao fato de a Volkswagen ter apostado na Argentina diante das persistentes dificuldades econômicas e maiores restrições às importações: “Continuamos acreditando na Argentina, não freamos bruscamente as exportações para lá mesmo sabendo dos riscos, e tivemos crescimento em outros mercados latinos também, como o México”.

A Volkswagen exporta para vinte países na América Latina e América Central.

O desempenho descolado das exportações brasileiras deveu-se também ao fato de a montadora ter lançado o novo T-Cross no Uruguai e, desde o fim do ano passado, introduzido o Polo em alguns mercados da América Latina. Não à toa o modelo foi o mais exportado pela Volkswagen até julho, seguido por Saveiro, T-Cross, Nivus e Virtus, respectivamente. Os países que mais compraram veículos Volkswagen no acumulado do ano foram Argentina, México, Colômbia, Chile e Uruguai.

O mercado sul-americano foi o segundo que mais cresceu nas vendas globais nos primeiros sete meses de 2024, o que, conforme o executivo, faz com que as Volkswagen da região tenham autonomia para desenvolver produtos e expandir exportações para outros mercados. No mês passado o Brasil respondeu pelo segundo maior volume de vendas, atrás apenas da China.

O plano agora, de acordo com Barossi, é voltar a explorar países da África e do Oriente Médio, especialmente a nova geração do T-Cross, modelo que já foi exportado anteriormente, até 2023, para Angola, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Madagascar, Ruanda, Senegal, Sudão e Líbia.

Quanto à América Latina segue sinal de alerta, apesar do crescimento dos negócios: de janeiro a julho 60,4% dos veículos vendidos na região são de origem asiática, enquanto que apenas 18,5% são do Mercosul. No mesmo período do ano passado estes porcentuais foram, respectivamente, de 56% e 22,5%: “Temos bons produtos mas precisamos ter mais competitividade nos preços para concorrer com os produtos asiáticos, principalmente os chineses”.

Apesar do desafio o potencial é de 1,5 milhão de carros para América Latina e América Central, excluído o México, sendo 425 mil na Argentina, 314 mil no Chile e 122 mil no Equador, citou o gerente da Volkswagen.

“Queremos continuar aumentando as exportações, então trazemos pessoas que estão nos mercados para o nosso centro de desenvolvimento para ouvir o que o cliente do Paraguai, do Chile e da Guatemala, por exemplo, estão desejando, a fim de adequar os produtos para atender a todos estes mercados.”

Produção local de tecnologia trará mais competitividade à região, analisa Nissan

São Paulo – A Nissan ampliou suas vendas na América Latina em 29% durante o ano passado, totalizando 412 mil veículos, equivalente a um terço do que comercializa em toda a América. Deste volume, 90% é produzido na própria região: das 717 mil unidades fabricadas nas suas cinco fábricas a maior parte, ou mais de 600 mil unidades, são provenientes do México, 80 mil saíram da linha brasileira e 10 mil da Argentina.

“Por isto é importante o Mover [Programa Mobilidade Verde e Inovação], para trazer novas tecnologias para serem produzidas no Brasil e para que possamos nos tornar mais competitivos”, afirmou Guy Rodríguez, presidente da Nissan para a América Latina e vice-presidente corporativo global, durante o 6º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana, realizado por AutoData de 19 a 23 de agosto.

A diferença das fábricas mexicana e a brasileira está, principalmente, na competitividade de cada uma delas, analisou Rodríguez. A unidade mais antiga do México e primeira fora do Japão, existe há seis décadas. A Nissan lidera as vendas do mercado local há dezesseis anos e exporta para 88 países.

A de Resende, RJ, acabou de completar seus primeiros dez anos de operação e prepara-se para comercializar um SUV inédito para mais de vinte países, sendo que hoje o Kicks é exportado apenas para Paraguai e Argentina – que, por sua vez, desde 2018 produz a picape Frontier e a comercializa para três países.

“É comum nos perguntarmos: por que o México exporta tanto? Porque é muito eficiente do ponto de vista de custo logístico, o que é fundamental. Assim como ter as tecnologias no país de onde se fabrica e se exporta. No caso do Brasil talvez nós precisemos disso para que ele se torne mais competitivo”, Rodríguez lembrou. “Se trazemos tecnologia eletrônica de fora, quanto mais importamos, mais custo logístico teremos.”

O presidente latino-americano da Nissan garantiu que é necessário haver um trabalho conjunto que envolva parceria dos fornecedores e investimento das montadoras para que foquem em desenhar veículos para os mercados em que os vendem e medidas do governo a fim de diminuir o custo país: “Não conquistamos 88 mercados desde o México em cinco anos. E à medida que exportarmos mais, mais incentivos teremos”.

Ele acredita na importância de ampliar a localização a fim de se proteger da alta volatilidade que vez ou outra bate à porta dos países da região. Na próxima semana a Nissan realizará convenção com fornecedores da América do Sul, que reunirá mais de sessenta companhias do Brasil e da Argentina, a fim de que seja apresentado o plano estratégico da empresa para os próximos anos.

“O novo Kicks terá um índice de nacionalização bem maior que o modelo comercializado hoje, fabricado em Resende desde 2017. E isso não é só vontade. É resultado de trabalho conjunto, porque temos demonstrado com os fornecedores que sabemos fabricar com qualidade.”

O executivo reforçou que o grande desafio não está nas peças tradicionais, mas na qualidade de tecnologia adicional que os veículos de hoje têm: “É onde podemos crescer, pois essas tecnologias precisam de escala maior. Não precisa entrar somente o volume de uma montadora. São discussões que teremos na próxima semana. O objetivo é que trabalhemos juntos para poder crescer”.

A Nissan prepara nove novos modelos para a América Latina até 2026. No Brasil serão fabricados dois deles, o SUV inédito e o novo Kicks, que foi mostrado nos Estados Unidos, mas ainda não começou a ser vendido. Até o fim do ano ele chegará no México e começará a ser produzido em Resende em 2025.

Diversidade regional gera oportunidade para veículos pesados

São Paulo – Um dos maiores desafios para o setor de veículos pesados na América Latina é a imensa diferença de condições dos países, seja em relação às características geográficas ou quanto a legislações veiculares. Mas na visão de Márcio Querichelli, presidente da Iveco para a América Latina, isso pode representar um campo de oportunidades. Essa foi a principal mensagem dele durante palestra no terceiro dia do 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, organizado por AutoData.

“Estamos numa região com potencial enorme e sempre quando se fala de desenvolvimento econômico, os caminhões e os ônibus são chaves para esse processo”.

A América Latina, afirmou, tem recursos abundantes, mercados emergentes e muitas possibilidades de crescimento com sustentabilidade. Ele citou agricultura, mineração, petróleo e gás e construção civil como algumas das áreas que se destacam e acabam originando negócios.

Sobre números, o mercado de caminhões acima de 3,5 t tem projeção de 130 a 140 mil unidades no Brasil, de 15 mil na Argentina e de 70 mil no consolidado dos demais países das Américas do Sul e Central. No caso dos nossos vizinhos argentinos, é um volume bem abaixo dos 25 a 30 mil exemplares já registrados. Mas Querichelli analisa que o cenário macroeconômico mostra sinais de revitalização, com inflação em baixa e nível mais saudável das reservas cambiais, apesar da instabilidade política.

Ainda melhor é a situação do Chile, com PIB em alta e juros e inflação caindo. Entretanto, é o país com a maior presença asiática. Não apenas pelos chineses, que dominam 85% do segmento de caminhões leves até 7,5 t, por exemplo, mas de produtos da Coréia do Sul e Japão.

Dentre os dados que o dirigente da Iveco apresentou, o Brasil se coloca como o maior fornecedor geral de caminhões e ônibus em todos os países, com exceção do já citado Chile e do México, que é uma nação latina mas está na América do Norte e tem grande participação de veículos da China.

O mercado chileno ainda se destaca por ser o que primeiro recebe novas tecnologias em veículos pesados, dentro da região.“É o segundo maior consumidor mundial de ônibus elétricos”, disse. “E a Colômbia também já conta com uma frota muito representativa nesse sentido.” 

Nesse caso específico, quase tudo é made in China.

Adaptar para sobreviver

“É preciso conhecer muito bem as especificidades de cada mercado e se adaptar a elas para ter alguma chance de sucesso na América Latina”, declarou o dirigente da Iveco, que atua em 20 países da região. 

Uma boa amostra é a situação dos níveis de emissões de poluentes: Brasil e Colômbia estão com a norma Euro 6, a Argentina ainda está com Euro 5, bem como Chile e Uruguai, mas nestes já existem combustíveis e veículos compatíveis com a lei mais rígida.

“Por sua vez, o Peru é Euro 4 e vai mudar direto para Euro 6 em 2026, enquanto Equador e Paraguai ainda estão com Euro 3, o que resume bem como são os desafios nesses mercados”.

Sem falar que alguns países nem têm legislação de emissões. O executivo frisou que um cenário como esse obriga as montadoras a adaptar motorizações com tecnologias anteriores para atender às especificações dos combustíveis de certos países. “É uma forma de ver o copo meio cheio.”

Já o Chile representa outro extremo quando se pensa nas necessidades da mineração. Segundo ele, esse setor demanda veículos com níveis de segurança e controle de emissão de poluentes ainda maiores do que os exigidos no Brasil.

Outro ponto que exemplifica a diversidade da região é a geografia dos montanhosos países andinos, que obriga o desenvolvimento de produtos que funcionem bem em altitudes de até 5 mil metros. Chile, Peru e Colômbia retratam bem essa questão.

Obstáculos

Dentre as dificuldades para atuar na América Latina Querichelli citou que certos países, como Bolívia e Paraguai, além da maior parte da América Central, é possível importar veículos usados com facilidade. O presidente da Iveco também lembrou que os financiamentos representam dois terços das vendas de caminhões e ônibus, o que torna o setor muito dependente de apoio governamental, como a criação de linhas de crédito para exportações.

Contudo, ele reforçou a aposta da marca na região, que está recebendo investimentos de R$ 1 bilhão em suas fábricas de Sete Lagoas, MG, e Córdoba, Argentina. E os resultados já estão aparecendo neste ano, com crescimento nas vendas de 58% em veículos e 41% em peças de reposição.

Carlos Storniolo é o novo CEO da ResfriAr

São Paulo – A ResfriAr, fabricante de geladeiras e climatizadores automotivos, anunciou Carlos Storniolo como seu novo CEO. Seu objetivo é dobrar o faturamento da empresa em cinco anos, traçado pelo presidente e fundador Roberto Cardoso.

Storniolo acumula mais de quarenta anos de experiência, com passagens por Pirelli, General Motors, Delphi, Omron e NSK, na qual foi presidente. Também tem experiência fora do setor, como presidente da Hoshizaki, de alimentação.

A chegada de Storniolo reforça o processo de profissionalização da ResfriAr. Sua equipe tem o diretor de vendas aftermarket, marketing e p&d Thobias Cardoso, o de vendas O&M, pós-vendas e RH Leonardo Cardoso e o de operações, melhoria contínua e engenharia Régis Magnus.

Carro importado abre rombo moral e financeiro na balança comercial do País

As poucas altas e as muito baixas das exportações brasileiras de veículos, em combinação com o substancial aumento de importações sempre que nenhum protecionismo é adotado, abre dois rombos no comércio exterior do Brasil: um moral, outro financeiro.

O déficit moral decorre da difícil aceitação de que a indústria instalada no País há mais de setenta anos é incapaz produzir carros mais exportáveis, como faz a China que após vinte e poucos anos de desenvolvimento deve se tornar o maior exportador de veículos do mundo, com estimativa de 6 milhões de unidades este ano.

Já o rombo financeiro acontece porque a importação de bens de alto valor agregado reduz o saldo da balança comercial, hoje dependente de sobreviver só com vendas externas de commodities de baixo valor agregado, que trazem pouco desenvolvimento econômico.

Déficit industrial aumentado

Levantamento da AEB, Associação de Comércio Exterior do Brasil, produzido em julho, mostra que os automóveis de passageiros híbridos e elétricos, que têm imposto de importação reduzido, serão os principais responsáveis por alargar de US$ 108 bilhões em 2023 para US$ 123 bilhões o enorme déficit da balança comercial brasileira de produtos industrializados.

A AEB projeta que as importações de automóveis este ano – em sua grande maioria híbridos e elétricos vindos da China – deverão somar US$ 11,5 bilhões, em crescimento de vistosos 98% sobre os US$ 5,8 bilhões de 2023, quando a expansão já havia dado um salto expressivo de 61% ante os US$ 3,6 bilhões importados em 2022.

Se a projeção da AEB for confirmada, de acordo com dados da associação, os automóveis serão, em 2024, o segundo produto mais importado pelo Brasil, ficando só atrás de óleos combustíveis e à frente de petróleo, adubos e fertilizantes.

Enquanto isso estão em queda livre as exportações de carros brasileiros – que são gritantemente inferiores em acabamento e tecnologia aos importados chineses que aprenderam a fazer veículos em vinte anos.

Segundo projeta a AEB as vendas de automóveis brasileiros devem somar US$ apenas 3,7 bilhões este ano, em retração de 10,8% sobre 2023, abrindo déficit anual de US$ 7,8 bilhões só nesta conta.

Saldo negativo ampliado

Para piorar o rombo na balança comercial do setor automotivo no Brasil não se limita às importações de automóveis, mas a todos os produtos desta indústria.

Ainda segundo o levantamento da AEB as importações de veículos de carga devem crescer 12% este ano, para US$ 4 bilhões – impulsionadas principalmente por modelos de menor porte que deixaram de ser produzidos no Brasil, como vans e furgões – e as exportações destes modelos deverá cair 8,5%, para US$ 2,3 bilhões, gerando déficit de US$ 1,7 bilhão.

Já o Sindipeças projeta em quase US$ 12 bilhões o déficit da balança de autopeças, com importações de US$ 20 bilhões e exportações de US$ 8,1 bilhões.

Para pneus – outro item duramente atingido pela concorrência chinesa este ano, mas aqui com qualidade inferior ao produto brasileiro no mercado de reposição – a AEB projeta exportação de US$ 1,2 bilhão, queda de 5% em comparação ao ano anterior, e o dobro disto em importações: US$ 2,1 bilhões, em alta de 13% sobre 2023.

Exportação de empregos e PIB

Todos os quinze produtos mais exportados pelo Brasil este ano são commodities, como soja, minério de ferro e até petróleo, que encabeça esta lista pela primeira vez. Nada contra mas depender só destes produtos limita bastante as possibilidades de ganhos e de desenvolvimento industrial do País.

Automóveis estão fora da lista dos produtos mais exportados pelo Brasil por causa da dependência de mercados latino-americanos, especialmente da Argentina, o maior mercado externo dos veículos brasileiros, que passa por severos problemas econômicos e vem diminuindo as compras ano a ano.

Em outros mercados, como México, Chile e Colômbia, as vendas também estão caindo, não só por problemas locais como também por causa da concorrência chinesa que também está chegando com força nestes países com produtos melhores e mais baratos do que os brasileiros.

Países que importam muitos produtos industrializados exportam PIB e empregos. Segundo aponta a Associação de Comércio Exterior do Brasil a cada US$ 1 bilhão em importações de manufaturados, além da perda de divisas em si, o País sutenta cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos no Exterior. O contrário também é verdadeiro: ao exportar US$ 1 bilhão são gerados 30 mil empregos aqui e o valor entra como saldo positivo na balança comercial.

Nesta jornada não há caminho bom. Se as importações de carros continuarem a aumentar no ritmo que estão é bastante provável, como já aconteceu antes, que o governo adote barreiras tarifárias para evitar o alargamento do rombo na balança comercial, o que mais uma vez dará à indústria instalada no País a liberdade de continuar a produzir veículos de preços altos e qualidade inferior.

Por outro lado caso nenhuma barreira for adotada os importados tendem a engolir esta indústria, provocando perda de empregos e PIB, além de déficit de desenvolvimento tecnológico. É uma equação difícil de equilibrar mas que precisa de equilíbrio.