São Paulo – Com o início da produção local de modelos MHEV, híbridos leves ou micro híbridos conforme a nomenclatura adotada pela ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico, é esperado o crescimento considerável da participação dos modelos eletrificados no mercado brasileiro. Nos cálculos da entidade a venda deverá superar as 160 mil unidades em 2024 e alcançar algo em torno de 240 mil unidades no ano que vem, com boa parte do crescimento composta por MHEV nacionais, aliado à tecnologia flex.
Tais modelos gozam de benefícios em alguns estados, uma forma de impulsionar tecnologias de propulsão de menor emissão de CO2. São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Distrito Federal são alguns exemplos de entes federativos que concedem desconto no IPVA, com alíquotas que variam de Estado para Estado. Na Capital paulista outro exemplo de benefício atrativo: isenção do rodízio municipal, permitindo que os elétricos ou híbridos circulem os cinco dias da semana pelo centro expandido.
Os incentivos são os mesmos independentemente da tecnologia, que começa nos MHEV com motor elétrico de 3 kW e bateria de 12 v e segue até os BEV, que contam com motor de 285 kW e bateria de 100 kWh, pegando como exemplo as configurações de dois lançamentos recentes – Fiat Pulse Bio Hybrid e Audi Q6 e-tron. Algo que levanta preocupação ao presidente da ABVE, Ricardo Bastos: ele teme que os governos simplesmente cortem os benefícios que os eletrificados têm por causa do aumento do volume.
“Estamos sentindo o mercado”, disse em entrevista após sua participação no Electric Days 2024, organizado pela Motorsport Network em São Paulo em 12 e 13 de novembro. Em conversas com representantes do governo Bastos já escutou que o nível de incentivo está batendo no teto e começa a prejudicar a arrecadação: “Temos que nos adiantar aos governos e mostrar que existem tecnologias diferentes, com graus distintos de eficiência, e manter os poucos benefícios que temos”.
Colocar no mesmo balaio os micro híbridos com seus pequenos alternadores e carros recarregados na tomada pode ser prejudicial no médio prazo, avaliou o presidente, que busca internamente, com a equipe técnica da ABVE e de suas associadas, uma proposta que mantenha os benefícios ao menos para aqueles modelos mais eficientes.
“Podemos traçar uma régua: se o veículo híbrido tiver um consumo de 30% a 40% mais eficiente do que seu equivalente a combustão, por exemplo, pode ter o benefício”. Nada está definido e nem rascunhado, porém: este foi apenas um exemplo de alternativas que o presidente da ABVE apresentou à reportagem.
Neste caso excluiria os MHEV, uma tecnologia de baixo custo mas de eficiência considerável, que pode chegar a 10% segundo Bastos: “É uma tecnologia interessante para o mercado brasileiro e atende às exigências do Mover [Programa Mobilidade Verde e Inovação]”. Outro argumento: no caso dos híbridos leves, ou micro híbridos, as rodas não são tracionadas pelo motor elétrico em momento algum.
Os planos de Bastos de se adiantar nesta questão deverão, no entanto, provocar reações. A isenção do rodízio municipal em São Paulo foi uma das vantagens listadas pelo vice-presidente da Fiat para a América do Sul, Alexandre Aquino, durante a apresentação dos Pulse e Fastback Bio Hybrid. Vale ressaltar que a tecnologia não está presente apenas em veículos Fiat: há modelos Caoa Chery, Kia, Audi e Land Rover, dentre outras marcas, com sistema MHEV.
As conversas estão apenas no âmbito da ABVE, sem participação das associadas da Anfavea, diretamente interessadas na discussão e com um forte argumento: os híbridos leves que deverão sustentar o crescimento dos eletrificados em 2024 são, ao menos, produzidos nacionalmente, ao contrário da maior parte dos 170 mil híbridos e elétricos que serão vendidos no mercado brasileiro em 2024, que é importada da China.