São Paulo – Após o desempenho do setor automotivo em junho e julho, impulsionado pela MP 1 175, que concedeu descontos na aquisição de automóveis novos e que ganhou mais força com algumas ofertas adicionais das fabricantes, as vendas em 2023 podem superar a projeção da Anfavea, de acordo com algumas consultorias especializadas na indústria automotiva. A entidade espera um mercado com 2 milhões 40 mil veículos leves vendidos este ano, crescimento de 4,1% sobre 2022. Diante do bom resultado no período em que durou a ajuda do governo federal, Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea reconheceu, no início do mês, que sua expectativa pode melhorar até o fim do ano, mas com ressalvas:
“Até agora estamos dentro do previsto, podendo melhorar e crescer 5%. Mas ainda é cedo para dizer. Acompanhamos as vendas diárias e, neste momento, achamos que ainda não temos fatos que justifiquem a revisão”.
A entidade considera que após o fechamento do terceiro trimestre avaliará o desempenho das vendas para estudar uma possível revisão da sua projeção inicial.
Cássio Pagliarini, consultor da Bright Consulting, revelou que já espera 2 milhões 70 mil unidades este ano, melhorando o resultado divulgado pela Anfavea. Ele acredita que a medida provisória trouxe de 25 mil a 30 mil unidades a mais em junho e julho: “Revisamos nossa projeção porque vimos um volume adicional nesses meses por causa dos descontos. Mas em agosto e setembro deve haver um pequeno hiato”.
A KPMG ainda não revisou sua projeção e, assim como a Anfavea, aguarda um pouco mais, de acordo com Ricardo Roa, responsável pelo segmento automotivo da empresa, que divulgou a mesma expectativa de 2 milhões 40 mil unidades em 2023. Há indícios, no entanto, de que este resultado poderá ser maior. Roa disse que, para isto, a política de preços será decisiva: “Se as montadoras continuarem a oferecer descontos as vendas poderão ser um pouco maiores do que o projetado”.
A consultoria Carcon Automotive é a que apresentou projeção mais otimista para 2023, com 2,1 milhões de unidades até dezembro, resultado esperado desde janeiro, mesmo sem ter o programa de descontos do governo no horizonte. Jomar Napoleão, consultor da Carcon, disse que após os incentivos do governo o mercado atingiu um bom ritmo de vendas e que seus indicadores apontam para um desempenho ainda melhor do que o projetado pela consultoria:
“Com a primeira queda da taxa de juros talvez esse número melhore ainda mais. Acreditamos que até o fim do ano haverá, pelo menos, mais uma redução, mas há espaço para mais de uma pois ainda estamos em agosto”.
Bright e KPMG também reconhecem que o início da redução da taxa de juros poderá trazer um fôlego adicional para o mercado e que novas reduções precisam ser efetivadas.
Agosto é considerado um mês decisivo por Roa, da KPMG, que precisa manter um ritmo diário interessante de vendas para indicar que o setor atingirá melhores resultados em 2023. O mês traz alguns desafios, pois há algum nível de antecipação de compras para aproveitar os descontos do governo. De acordo com dados preliminares obtidos com exclusividade pela Agência AutoData a primeira quinzena cresceu na comparação com agosto do ano passado mas recuou com relação a julho, movimento que já era esperado com o fim da MP 1 175.
Em duas semanas, com o anúncio do resultado de vendas de agosto, os números estarão na mesa para dizer: 2023 será, de fato, melhor do que as expectativas iniciais?