São Paulo – O atual cenário dos veículos 0 KM, em que quase a metade do mercado projetado para este ano, de 2,3 milhões de unidades, será composto por unidades de até R$ 120 mil, impõe patamar que privilegia o consumidor de classes A e B. Resta aos integrantes das classes C e D ficarem no segmento de seminovos e usados, disse Besaliel Botelho, integrante do conselho consultivo da Bright Consulting e ex-presidente da Bosch para a América Latina, durante o 5º Congresso Latino-americano para Negócios do Setor Automotivo, realizado por AutoData.
Tal condição, resultante da atualização de itens de segurança e de nova tecnologia, ao mesmo tempo em que não se tem escala não é exclusiva do Brasil pois estende-se por toda a América Latina: “O preço define a escala, a tecnologia e o comprador”.
Somado aos custos elevados a escassez de crédito, os juros altos e a perda do poder de compra o “carro usado é o novo carro popular”, segundo Botelho. Sendo assim o segmento de reposição tem possibilidade única, pontuou, ao complementar que se trata de mercado crescente e com potencial de expansão de 6% a 7% na América Latina.
Somente no Brasil, citou, esse mercado deve girar em torno de R$ 100 bilhões, sendo 60% gerados por automóveis e comerciais leves, 30% por pesados e 10% por motos. Números do Sindipeças mostram que no acumulado de 2023 tem-se expansão de 23% frente a 2022. Até a metade do ano foram comercializadas 6 milhões de unidades usadas, volume que pode chegar a 15 milhões até dezembro.
No México, na Argentina e na Colômbia a demanda por usados também está crescendo, citou o consultor, ao ponderar que, apesar da grande possibilidade há, ao mesmo tempo, muita importação: “A oportunidade também é vista por outros mercados. Por isso é importante que possamos nos unir para buscar alternativas que façam com que sejamos mais competitivos e geremos maior volume de produção e mais investimento no setor de autopeças”.
Botelho prosseguiu destacando a existência de potencial para fortalecer a produção nacional e focar em volumes, a fim de preparar o setor para essas novas tecnologias: “É preocupante o contexto da eletrificação porque é preciso preparar oficinas e concessionárias para lidarem com esse novo veículo na reposição. E isto em um tema que não está totalmente definido e que traz riscos”.
O consultor destacou que se trata de oportunidade de investimento para nacionalização, para se preparar para esse novo mundo tecnológico e exportar tecnologias nos mercados latinos. Mas chamou atenção para o fato de que, se não tivermos volumes, como seremos competitivos para exportar? Até porque a China produz quantidade muito maiores e em condições de produção muito mais favoráveis do que as brasileiras.
Ele ressaltou também que o setor tem a possibilidade de pensar em reciclagem veicular frente ao envelhecimento da frota com o objetivo de tentar reduzir o risco deste processo e o impacto no meio ambiente.
E que se abre leque de oportunidades nos modelo de negócios das concessionárias, oficinas e distribuidoras do varejo, que estão fazendo cada vez mais vendas remotas, por meio da internet: “A gestão de frotas também tem gerado oportunidades a partir do uso de big data, por meio do qual é possível reforçar a adesão à manutenção preditiva nos veículos e deixá-los mais seguros nas rodovias”.
Botelho afirmou que é preciso prestar atenção, também, à necessidade de desenvolver alguma forma de baratear os custos das peças de reposição: “É preciso ter discussão envolvendo montadoras, concessionárias e sistemistas para que haja alternativas, como peças genéricas, que caibam no bolso do consumidor e garantam qualidade e segurança sem fugir das especificações e do combate à pirataria”.