São Paulo – Saíram das linhas de produção, no mês passado, 8,2 mil caminhões, volume 45% inferior ao que havia sido fabricado um ano atrás, 15 mil unidades. Na comparação com agosto, quando foram fabricadas 9,6 mil unidades, houve queda também, de 14,6%. Os dados foram divulgados pela Anfavea na sexta-feira, 6.
O economista Vinicius Pereira, assessor da presidência da entidade, justificou a diferença pelo fato de que nos últimos meses de 2022 começou movimento de antecipação da compra de veículos Euro 5, uma vez que a partir de 2023 a tecnologia mudaria para Euro 6 e os preços aumentariam de 20% a 30%: “Por estes motivo a produção foi intensificada na reta final do ano passado e, consequentemente, a base de comparação ficou desigual”.
Com relação ao menor volume de um mês para outro o economista assinalou que isto se deveu ao reflexo no ajuste da demanda de mercado.
Os 71,8 mil caminhões fabricados de janeiro a setembro também ainda estão 38,5% aquém do resultado em idêntico período de 2022, 116,7 mil unidades. Pereira lembrou que durante os meses iniciais de 2023 o mercado estava adquirindo, ainda, veículos produzidos no ano anterior, o que mais uma vez prejudicou a demanda e, consequentemente, a oferta foi ajustada.
“A mudança nas normas do Proconve e a dificuldade de penetração do produto com a nova tecnologia devido a problemas na renda impactaram o resultado.”.
Mesmo com programa de descontos do governo vendas caem
Este cenário de retração se deu em meio ao último mês em que esteve vigente a MP 1 175, que estabelecia descontos de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil para a compra de pesados 0 KM. No caso de caminhões, dos R$ 700 milhões ofertados, apenas R$ 130 milhões foram consumidos, citou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite:
“Este foi um programa excepcional por privilegiar a renovação da frota e promover a descarbonização. É uma pena que a economia e a indústria perderam esses descontos”.
Foram comercializados 8,8 mil caminhões no mês passado, 23,7% abaixo dos 11,5 mil emplacados em setembro de 2022. Frente aos 9,3 mil vendidos em agosto a redução foi de 5,8%. No acumulado de 2023 as 79 mil unidades estão 15,2% abaixo das 93,2 mil registradas nos nove primeiros meses de 2022.
Um dos motivos que contribuiu para a baixa adesão foi a dificuldade em destinar um veículo acima de vinte anos para a reciclagem, o que começou a ser facilitado pela startup Octa, que faz a ponte dos proprietários de veículos depreciados com os desmanches legalizados a partir de julho, quando a medida foi flexibilizada e o cliente que pretendia comprar o pesado novo não precisaria ser o mesmo dono do velho.
A Anfavea não aposta na possibilidade de aproveitar os recursos que não foram utilizados, mas aguarda o destravamento definitivo do Renovar, que propõe plano de renovação de frota mais perene.
A demanda externa por caminhões brasileiros também causou impacto negativo sobre a produção, uma vez que houve recuo de 38,9% nas exportações em setembro, totalizando 1,5 mil unidades.
O volume, que superou em 5,9% as 1,4 mil unidades exportadas em agosto, não foi suficiente para reverter saldo negativo no acumulado do ano. As 12,5 mil unidades exportadas estão 30,7% abaixo das 18 mil embarcadas nos nove primeiros meses de 2022.
Todo esse contexto fez com que a Anfavea revisasse para baixo as projeções de produção dos pesados, que devem encerrar 2023 com queda de 34,2% na fabricação ante projeção anterior de 20,4%. A expectativa de queda nas vendas foi mantida em 11,1%.