São Paulo — É consenso no setor automotivo que a conectividade e a análise de dados são peças-chave para a sobrevivência das empresas da cadeia. A transformação digital reduz custos, promove ganho de tempo, auxilia a monitorar o desempenho dos funcionários e oferece maior segurança e experiência customizada aos clientes.
“A transformação digital abre oportunidades de novas modalidades de negócios”, afirmou Fernando Cusin, diretor de qualidade da Iveco, durante o 9º Fórum da Qualidade Automotiva do IQA, realizado na terça-feira, 17, na sede da Fiesp, em São Paulo.
Cusin disse que dados fora de contexto não dizem nada e que o primeiro passo é organizá-los e transformá-los em informação. A partir de então é possível tomar decisões mais assertivas. “Com a conectividade é possível solucionar um dos maiores percalços em frotas que é a identificação de falhas em campo, o que permite antever esses problemas e evitar custos maiores e acidentes.”
A tecnologia permite o monitoramento do comportamento do condutor no veículo, por exemplo: se ele está freando de forma abrupta, acelerando mais do que deveria, mudando de faixa de forma repentina. Muitas companhias bonificam seus profissionais pelo desempenho, e a conectividade permite avaliá-os de forma mais precisa e imediata.
O diretor assinalou que é possível comparar o desempenho do dia a dia com a proposta em testes dos veículos, analisar os sintomas e apurar se existe alguma falha grave, tudo a distância. Assim é possível recomendar a parada do veículo, levá-lo a uma concessionária, agilizar o fornecimento de peças para o reparo. Facilita, inclusive, para dar um retorno de qualidade ao fornecedor. A mudança também se dá no custo, pois, segundo Cusin, a manutenção preventiva com o uso da inteligência artificial altera o intervalo em que ela é feita e reduz, em média, em 20% seu custo. Hoje a Iveco possui cerca de 1 mil caminhões da linha S-Way conectados.
A Bosch também vem trabalhando no desenvolvimento de produtos que contribuam para a melhora da segurança enquanto os níveis de automação vão avançando, com a tecnologia do nível 2 dominada e com alguns exemplos do nível 3 em circulação, como assinalou Leimar Mafort, gerente de engenharia da Bosch:
“Ao tirar do motorista algumas ações do ato de dirigir pratica-se a digitalização. O sistema de frenagem autônoma é exemplo de que ao detectar situação de risco o carro assume a responsabilidade de conduzir”.
Mafort contou que a companhia está prestes a desenvolver nova geração de câmaras: “Temos carros rodando pela América Latina, no momento, pelo trânsito da Colômbia, a fim de aprimorar o dispositivo e também o comportamento do condutor”.
Gisele Tonello, gerente de planejamento, produto, BI automação da General Motors, afirmou que não seria possível chegar ao último nível do ADAS sem um veículo conectado. E contou que o sistema de conectividade oferecido nos veículos Chevrolet, o OnStar, tem como objetivo salvar vidas.
Isso é possível, ela contou, ao entrar em contato com o condutor no carro em situação de risco, por exemplo, durante um mau súbito ou um acidente, em que o celular voa pela janela. Desde o lançamento da tecnologia já foram feitas 650 mil atualizações, realizadas de forma remota: “No mundo estamos com mais de 22 milhões de clientes e, no Brasil, estamos chegando a 500 mil veículos conectados.”
Tonello exemplificou como a tecnologia pode auxiliar o condutor também para acompanhar sua experiência de uso ao personalizá-la para auxiliar em situações inesperadas: se a chave for esquecida dentro do veículo e ele for travado, basta acionar o aplicativo para destravá-lo.
Digitalização dobra capacidade de produção no chão de fábrica
A transformação digital também tem seus benefícios na linha de produção, como relatou Gustavo Mwosa, presidente do Grupo Paranoá. O processo de digitalização do chão de fábrica começou em 2017 e, desde então, a capacidade de produção foi duplicada.
O ponto do operador está integrado e as horas de produção estão em um plano de controle. Ao conectar a máquina a Paranoá começa a extrair dados que mensuram a produtividade do profissional — mas não só isto.
“Por meio desses dados é possível detectar, por exemplo, se ele possui algum problema psicossocial. É a magia de usar a engenharia e gerar informações importantes: é fascinante!”.
Desafio extra para o universo da qualidade conectada é a capacitação da mão de obra e aquela formada para dar conta da mão de obra. Mwosa contou que a empresa tem formado, por ano, em torno de sessenta jovens de Diadema, SP, onde está a empresa, para ensiná-los a programar e, assim, ajudar a sanar este gargalo.