São Paulo – O acordo firmado pela Prefeitura de São Paulo com o BNDES, para dispor de crédito de R$ 2,5 bilhões para a compra de 1,6 mil dos 2,6 mil ônibus elétricos pretendidos até o fim do ano que vem, animou os fabricantes, especialmente os quatro cadastrados no Finame: Mercedes-Benz, Eletra, Marcopolo e BYD. Ao mesmo tempo, no entanto, trouxe à tona preocupação com a infraestrutura da rede elétrica.
Durante o segundo dia do Seminário Elétrico + ESG, realizado por AutoData, Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus da Mercedes-Benz, e Silvestre Cavalcante, gerente comercial da Eletra, foram uníssonos quanto ao fato de que volume é algo essencial para que o preço diminua e essa nova tecnologia engrene no País. Mas, ainda mais importante do que isto, é a necessidade de infraestrutura.
“Vejo grande ponto de atenção nessa questão porque boa parte do País possui rede elétrica de baixa e média tensão instalada nas ruas, de 13,8 mil volts a 37 mil volts”, disse Barbosa. “Que é o que atende residências e empresas. E cabe dizer que ela suporta até cinquenta veículos na garagem. Quarenta, dependendo do porte do carro.”
O diretor da Mercedes-Benz prosseguiu dizendo que quando se vê a intenção da Prefeitura [de São Paulo] em adquirir aquela quantidade de ônibus, sendo 650 até o fim deste ano, tem-se ponto fundamental que é a iniciativa do poder público, e São Paulo sai na frente com a oferta do financiamento junto ao BNDES, sendo que 66% do valor do ativo será subsidiado pelo governo e 33% ficará a cargo do operador.
“A infraestrutura, porém, é ponto que requer atenção, pois são precisos investimentos mais altos e que não estavam na conta para criar subestações e gerar voltagem de 69 mil volts até 230 mil volts, e para ter mais de cinquenta carros em uma frota, que é comum na Capital. Vamos ter alguns desafios, portanto.”
Cavalcante concordou e completou lembrando que o problema nem é o aporte em si mas o período de tempo que o poder municipal pretende colocar os ônibus na rua:
“As autoridades, em geral, querem os ônibus elétricos em uma velocidade muito rápida e focam sua preocupação no material rodante. Só que o processo da infraestrutura é mais lento do que a construção do ônibus. Se eu pudesse dar um conselho é: comecem pela infraestrutura, trabalhem por ela”.
Se for preciso fazer investimento maior em uma subestação de um bairro, além de os investimentos serem na casa dos R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, é uma obra que demora porque as peças não são padronizadas e os projetos são feitos caso a caso, ressaltou o gerente da Eletra.
“Temos de correr contra o tempo. Temos infraestrutura suficiente para atender a frota que será colocada em um primeiro momento”, contou Cavalcante. “Mas, em um segundo, é necessário estudo bastante rigoroso e preciso, principalmente das distribuidoras e geradoras de energia.”.
E o alerta vale, reforçou Barbosa, para todas as cidades interessadas em ter ônibus elétricos. Ele chamou atenção ao fato de que, se não for feito a tempo, as empresas não conseguirão gerar demanda nem produzir baterias.
“É preciso lembrar que o carro elétrico é quase como uma carga perecível. Não é igual a um chassi a diesel que pode ficar seis meses no estoque, no qual basta trocar o fluido e está tudo certo. No caso do elétrico há uma perda de vida significativa da bateria. Talvez o caminho seja comprar gradativamente conforme houver infraestrutura.”