Enquanto as tesourarias e os departamentos de TI dos bancos trabalham para adequar seus sistemas às novas regras do PSI Finame algumas montadoras estão tomando iniciativas próprias para acelerar as vendas neste início de ano, que está se mostrando difícil para o segmento, assim como ocorreu em 2014 – ainda que por diferentes razões.
A Mercedes-Benz, por exemplo, decidiu oferecer rápida alternativa aos clientes por meio de seu banco: nova modalidade de financiamento mesclada com recursos do BNDES e do Banco M-B estará disponível a partir da quarta-feira, 28, para atender compradores que não podem esperar a chamada compatibilização dos sistemas – algo que ainda pode levar bastante tempo, estimada por fontes do mercado em pelo menos mais 40 dias.
Embora publicadas desde o fim do ano passado, as regras do Finame PSI para 2015 ganharam um remendo no acender das luzes do ano. O porcentual de financiamento do veículo foi elevado, porém de forma diferente da usual: pequenas empresas podem financiar 70% do valor do caminhão pelo BNDES, com taxas de 9,5% ao ano, enquanto as grandes ficam com no máximo 50% do valor a 10% ao ano.
Os outros 20% a 40% – os 10% de entrada exigidos pelas regras de 2015 foram mantidos – também podem ser financiados pelo banco de fomento, porém com taxas de juros que variam de acordo com a Selic ou uma cesta de moedas, 99% baseada no dólar e 1% no iene.
Roberto Leoncini, vice-presidente de marketing e vendas da M-B, explica que a nova modalidade gera dois boletos para o cliente: um com valor fixo, com a taxa de 9,5% ou 10%, e um com valor variável, com base na outra taxa.
Para tornar esse remendo operacional, considerando os sistemas do BNDES e dos bancos, adaptações internas são necessárias. Levar essas mudanças ao mercado, porém, tomará o tempo que a Mercedes-Benz não quer esperar. Por isso, revelou Leoncini, a modalidade adicional chegará ao mercado como alternativa ao cliente até que os financiamentos do PSI e do BNDES para 2015 se tornem efetivamente operacionais.
“Vamos oferecer a linha com os recursos do BNDES no fixo e o variável com base no capital de giro do cliente, com fundos do Banco Mercedes-Benz. Esperamos com isso movimentar o mercado, que está um pouco estagnado. Não há ninguém operando Finame.”
Leoncini admitiu que as vendas de caminhões estão fracas no primeiro mês do ano, devido principalmente à migração de sistemas do PSI. “Há o CDC, o leasing… o mercado não parou. Mas grande parte das vendas ocorre por meio do Finame.”
De acordo com dados preliminares do Renavam obtidos com exclusividade pela Agência AutoData os emplacamentos de caminhões acima de 3,5 toneladas registraram apenas 6 mil 87 unidades até segunda-feira, 26.
Este resultado, que equivale aos dezessete primeiros dias úteis do ano, aponta média diária de 358 caminhões, queda de 26% ante 489 registrada no total de janeiro de 2014. Se mantido esse ritmo o primeiro mês deste ano deverá fechar com 7,5 mil emplacamentos, o que representaria baixa de 30% ante os 10 mil 773 de janeiro do ano passado.
Além das atualizações de sistema, o VP da Mercedes-Benz espera pela regulamentação do Finame convencional, atrelado à TJLP. Essa modalidade ficou indisponível há cerca de duas semanas, afirma. “O PSI está no ar, a TJLP ainda não. A Anfavea está trabalhando para acelerar esse processo, mas nós só podemos aguardar e oferecer essas alternativas por meio do Banco M-B.”
Coexistência – Outra fonte do segmento confirma o cenário e acrescenta que o BNDES, na prática, cancelou as operações do Finame convencional, conhecido informalmente como TJLP, ao estabelecer data-limite para protocolos da modalidade até a terça-feira, 13 de janeiro.
A aposta do mercado era de que os clientes preferissem essa linha ao Finame PSI, que iniciou operações com as novas regras na segunda-feira, 19, porém apenas na modalidade convencional – ou seja, sem a simplificada.
De acordo com a fonte, “a aposta era pela coexistência das linhas e que a maioria dos financiamentos passassem a ser feitos pela TJLP, mais atrativa que o Finame PSI depois das taxas majoradas e maior porcentual de entrada. Contudo, o BNDES argumentou que o Banco Central não teria aporte suficiente para as duas linhas”.
Este cenário, entende a fonte, atrasará a recuperação do mercado em 2015, repetindo a dificuldade registrada no início do ano passado: “Pelo PSI na modalidade convencional todo o processo é mais demorado que na simplificada, desde o protocolo até o faturamento. Este cenário está sendo agravado pela necessidade de espera da adequação dos sistemas bancários. Esperamos um início de reação apenas após a segunda metade de fevereiro”.
Outro executivo do segmento acrescenta que a baixa neste início de ano também pode ser explicada, em parte, pela forte antecipação de compra ocorrida em novembro, quando os clientes já aguardavam pela majoração das taxas do Finame PSI para 2015 – tanto que os emplacamentos realizados em dezembro alcançaram o maior volume de 2014, com 13 mil 695 unidades.
Leoncini, de qualquer forma, segue projetando mercado de caminhões de tamanho similar ao do ano passado, com características parecidas: primeiro bimestre mais lento, prejudicado pela readequação dos financiamentos do BNDES, e aceleração a partir daí. O executivo citou outros pontos que podem prejudicar as vendas, como as medidas tomadas pelo novo ministro da Fazenda Joaquim Levy e as mudanças no frete, mas evitou rebaixar as expectativas.