São Paulo – As despesas domésticas com o setor automotivo deverão movimentar, este ano, R$ 731,7 bilhões, cifra 9,2% superior à projetada no ano passado, R$ 670,1 bilhões. Ou seja: até o último dia de dezembro o consumidor deverá ter ampliado em R$ 61,6 bilhões seus gastos não somente com a compra de veículos mas, também, com combustível, manutenção, troca de óleo, aquisição de peças e acessórios, pneus, câmaras de ar, lubrificação e serviços de estacionamento e lavagem.
É o que aponta levantamento realizado pelo IPC Maps, publicado anualmente pela IPC Marketing Editora, que observou mudança no comportamento do consumo neste segmento a partir da pandemia, quando muita gente passou a utilizar mais condução própria em vez de transporte público.
Ao mesmo tempo, com a disseminação do trabalho remoto, muitos profissionais passaram a trabalhar de casa, o que fez com que disparasse a procura por serviços de entrega de alimentos e medicamentos, dentre outros produtos adquiridos pelo comércio eletrônico. O que, consequentemente, vem estimulando gastos no setor desde 2020.
Tanto que a diferença é ainda mais expressiva quando se compara a expectativa de gastos de 2023 com os números de 2019, de R$ 202 milhões, período em que o aumento deverá chegar 262,2%. Apesar de estes valores serem correntes, ou seja, não terem descontados o impacto da inflação, a participação dos gastos com veículos no total do orçamento mais do que dobrou.
Cinco anos atrás o desembolso no ramo automotivo representava 4,31% do total do consumo do País, R$ 4,6 trilhões. Esta fatia, hoje, é de 10,8% do total do consumo aguardado para este ano, R$ 6,7 trilhões.
O responsável pelo IPC Maps, Marcos Pazzini, ponderou, no entanto, que os dados não mostram, necessariamente, que a população está comprando mais:
“Esse avanço sinaliza, por exemplo, que muita gente viu oportunidade de gerar renda na pandemia frente ao crescimento da demanda por entrega, o que estimulou a aquisição e o uso de motos, por exemplo. O mesmo se deu com os carros de aplicativo, em que houve aumento da oferta deste serviço diante da maior procura por ele.”
Esse comportamento do consumidor mostra que, pelo terceiro ano seguido, se está gastando mais com veículo próprio do que com alimentação no domicílio, que deverá movimentar R$ 574,3 bilhões em 2023, 5% acima do que no ano passado.
A frota de veículos, incluídos automóveis, motocicletas, caminhões e ônibus, também deverá seguir aumentando, mas em velocidade menor, de 113,4 milhões no ano passado para 117 milhões este ano, avanço de 3,2%. Quando comparado com o número de 2019, 102,8 milhões de unidades, é prevista a expansão de 13,8%.
Consumidor da classe B é o que mais movimenta o ramo automotivo
Ao se analisar o consumo do setor por estrato sócio-econômico o maior desembolso e o avanço mais expressivo em termos porcentuais na expectativa de consumo são observados na classe B, com renda média familiar mensal de R$ 5,7 mil a R$ 10,3 mil. O potencial de consumo com veículo próprio deverá alcançar R$ 363,2 milhões, alta de 17,2%.
A classe C, com rendimento médio girando de R$ 1,9 mil a R$ 3,2 mil, e potencial de R$ 206,4 milhões, é a única que deverá recuar os gastos, em 2,06%.
Segundo Pazzini, nas classes A – em que o aumento será de 11%, para R$ 121,5 milhões – e B os desembolsos no setor estão mais concentrados na troca de veículos, enquanto que na C e na D – que ficará praticamente estável, com alta de 1%, para R$ 40,5 milhões – existe maior dependência do trabalho, e o crescimento acomodou.
Por estados São Paulo lidera a intenção de gastos no setor, com R$ 119,6 bilhões, seguido de Minas Gerais, com R$ 73,3 bilhões, e Paraná, com R$ 59,5 bilhões.
Pandemia impactou oficinas, mas demanda estimulou crescimento
Os dados do IPC Maps mostram, ainda, que é esperado que a quantidade de empresas de comércio e reparação de veículos cresça 5,3% em 2023, totalizando 909,1 mil estabelecimentos. Por outro lado, quando se compara com 2019, em que havia 1 milhão 59 mil CNPJs, percebe-se a força do golpe da pandemia, uma vez que esse número deverá encolher 14,8%, o que refletirá o fechamento de 105,1 mil empresas.
Pazzini analisou que ultimamente tem havido maior demanda por estes serviços, principalmente de oficinas mecânicas, diante do envelhecimento da frota, porém, no auge da pandemia, isso não era visto:
“Apesar de ter havido menor volume de encerramento de empresas de 2021 para cá muitas delas demoraram para dar baixa nos CNPJs, com algumas delas levando até dois anos para concluir este movimento, o que pode ter refletido somente agora”.