Líder nas vendas do varejo por dois anos consecutivos e sem contabilizar prejuízo apesar da crise do mercado a General Motors vive um bom momento neste ano em que comemora 90 anos de Brasil. Santiago Chamorro, presidente da GM do Brasil, não esconde o entusiasmo com os acertos da empresa: “Estamos felizes porque em um ano difícil avançamos em muitas coisas”.
Nesta entrevista exclusiva o executivo fala das chamadas ‘bombas mercadológicas’ lançadas a cada trimestre para ampliar movimento na rede, da estratégia de abrir mão de vendas diretas para ganhar no varejo, do processo de nacionalização de peças após período importando mais do que a média do mercado e do segmento de entrada, ainda de grande importância no País. “O que oferecer nesse segmento, que abrange preço abaixo de R$ 33 mil e responde por 25% das vendas totais, é hoje um grande enigma do mercado”.
A empresa decidiu observar o comportamento do mercado este ano antes de tomar qualquer decisão na área. Não sabe sequer se o Celta terá um substituto: “É certo que precisamos ter um carro nesse segmento, mas o que estamos vendo é que não necessariamente o consumidor dessa faixa quer um carro pequeno. Não necessariamente o tamanho do carro é a solução. Qual vai ser a saída ainda não sabemos, estamos avaliando e teremos uma definição até o final do ano”.
Uma coisa nos chamou a atenção em todo o processo de atendimento aqui na GM: a gentileza dos funcionários, todos felizes. É um reflexo do bom momento pelo qual passa a GM?
Quando lançamos a nova S10 em Foz do Iguaçu no final de 2014 comentamos que estávamos felizes porque em um ano difícil havíamos avançado em muitas coisas. Os resultados ainda estão longe do que um mercado como o brasileiro pode gerar, mas temos a liderança das vendas do varejo, o que é importante para a marca. Talvez isso reflita em nossos funcionários.
A redução das vendas no atacado foi proposital?
A tentação de vender mais no atacado é grande, o volume é necessário no nosso negócio. Mas optamos por investir mais no cliente comum. A participação das vendas diretas em nossos negócios está em 25%, enquanto em algumas marcas esse índice supera 40%. Cerca de 100 mil unidades que poderíamos ter comercializado no atacado transferimos para o varejo.
Qual foi a estratégia para manter em 2014 a posição de líder no varejo conquistada em 2013?
Fizemos apostas fortes em movimentos mercadológicos, em campanhas ousadas de varejo. Já no início de 2014 lançamos a ação Breca Varejo e procuramos ter novidades a cada três meses, com campanhas como a Preço de Funcionário, Devolução do Carro e assim por diante. Foi tudo programado. Decidimos já de cara ter bombas mercadológicas a cada trimestre
Algumas campanhas, como a devolução do carro, certamente envolveram riscos. Como isso foi avaliado?
O primeiro passo era aprovar uma ideia. Daí a ordem era desconstruir a campanha. Todos os departamentos envolvidos, do marketing ao financeiro, incluindo o jurídico, tinham de avaliar os problemas que poderiam surgir. No caso da promoção para devolução do veículo caso o cliente não ficasse satisfeito até um mês após a compra, por exemplo, havia várias dúvidas, inclusive a hipótese de algum consumidor se aproveitar da situação. Mas o resultado foi zero de devolução.
A GM começou 2015 oferecendo prestação de R$ 90 nos primeiros doze meses. O gancho é apenas os 90 anos da empresa?
Na verdade fomos além. O consumidor ainda não retomou a confiança na economia do País, ainda está receoso. Mas acreditamos que a partir dos ajustes anunciados pelo governo a confiança seja retomada até o fim do ano. Então ele paga menos nesse primeiro momento e assume uma prestação maior na sequência quando já estiver mais confiante quanto ao seu emprego e os rumos econômicos.
Muda alguma coisa em 2015?
Nossa aposta este ano continuará sendo no varejo. Isso envolve compromisso da fábrica e da rede, que tem mostrado espírito guerreiro e investido e buscado todas as vendas possíveis. Pelos dados da Abrac, a associação dos concessionários da marca, atingimos em 2014 o melhor índice de satisfação do cliente desde que a pesquisa foi criada.
A venda maior no varejo garante aumento de rentabilidade para a rede e para a montadora?
Com todas as dificuldades enfrentadas no varejo é difícil conseguir resultados financeiros brilhantes. Mas pelo que vemos das outras marcas, estamos em situação melhor. Nosso balanço até o terceiro trimestre de 2014 mostra equilíbrio. A rede teve perda de rentabilidade, mas continua lucrativa.
Ao completar 90 anos, como a GMB vê os próximos 90?
A gente fica de olho no espelho retrovisor. Mas ao mesmo tempo em que olhamos para o passado, olhamos para o futuro. Que os próximos 90 anos sejam marcados por compromissos renovados com os brasileiros. Em nossas pesquisas de satisfação o cliente sempre descreveu a Chevrolet como amigável, destacando itens como bom valor de revenda e a confiança na marca. Mais recentemente entraram adjetivos como marca estilosa, tecnológica, de design jovial.
E o que se espera para os próximos 90 anos?
Queremos agregar novos adjetivos. Queremos ser a marca mais fácil para fazer negócios, da pesquisa à compra. Queremos incorporar mais o mundo virtual tanto no negócio como no que diz respeito à maior conectividade pessoa-carro. Também na rede, em nossos seiscentos pontos de venda, queremos agendamento e acompanhamento do veículo on-line. Nossa base será formada por três valores: design, tecnologia e desempenho.
O Onix mostrou-se um sucesso e já está dentre os cinco mais vendidos no País…
Realmente é um sucesso. Reduzimos a oferta de carros mais antigos para que ele pudesse ganhar espaço. Em 2012 havíamos vendido 135 mil Celta e 110 mil Classic e no ano passado foram 45 mil de cada um. Estamos trabalhando em três turnos em Gravataí para poder atender a demanda pelo Onix, o que é muito bom para nossa imagem.
E o que acontecerá com o Celta? O presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, comentou em Detroit que a empresa no momento não está trabalhando em um substituto…
O chamado segmento de entrada, com preço abaixo de R$ 33 mil, é indiscutivelmente importante no Brasil, respondendo por 25% do mercado total. Observando esse dado é óbvio que precisamos ter um carro nesse segmento. Mas o que estamos vendo é que não necessariamente o consumidor dessa faixa quer um carro pequeno. Não necessariamente o tamanho do carro é a solução. Qual vai ser a solução ainda não sabemos, estamos avaliando o mercado.
Poderia ser um Onix mais básico?
Pode ser, por que não? Mas ainda não sabemos. É hoje um enigma do mercado. Vamos acompanhar os negócios ao longo do ano para ver o que fazer, qual é a melhor solução hoje para estar no segmento. Até o final do ano deveremos ter uma decisão.
Como a GM avalia o que será 2015?
Nosso orçamento hoje é 47% para o primeiro semestre, que acreditamos será mais difícil, e 53% para o segundo. Tivemos férias no final do ano e conseguimos reduzir o estoque da rede de 67 mil para 50 mil unidades. Sabíamos que o IPI subiria, que haveria ajustes nos juros e que a confiança neste início de ano continuaria enfraquecida. Mas se o governo botar o País nos trilhos e o crescimento voltar, também retornará a confiança do consumidor, gerando um segundo semestre melhor. Não estamos vendo cenário calamitoso.
A GM anunciou em outubro, durante o Congresso AutoData Perspectivas 2015, que pretendia atingir US$ 1 bilhão em nacionalização de peças. A meta já foi alcançada?
Já chegamos a US$ 750 milhões em compras com fornecedores brasileiros e até o fim do primeiro trimestre ou no máximo do quadrimestre vamos atingir o US$ 1 bilhão. Os US$ 250 milhões restantes já estão identificados e estamos em fase de execução, definindo os fornecedores.
Qual o nível de conteúdo local ideal?
O nível de conteúdo local ideal é o que trabalha o mercado como um todo. A gente estava abaixo da média e agora estamos chegando ao nível dos concorrentes. Isso é fundamental para não ficarmos sujeitos à volatilidade cambial.
A GM passou a depender mais da importação ao renovar de uma só vez praticamente todo seu portfólio. Alguns fornecedores inclusive diziam que a empresa estava montando CKDs. Foi uma decisão acertada?
Tínhamos de renovar nossa linha e a aposta nesse sentido foi certa. Não podemos falar que montávamos CKD, mas o índice de compras externas realmente era alto. Agora estamos nacionalizando por meio de um processo que envolve ter menos fornecedores, porém fornecedores mais fortes. Temos menos fornecedores hoje do que em 2013.
É uma revisão do processo produtivo da companhia?
Certamente estamos revendo nossa industrialização. São compromissos de longo prazo, parcerias que começam desde o início de um novo projeto, com transparência total. Abrimos o jogo antes e trabalhamos em conjunto para garantir produtividade. Atuamos com fornecedores globais e também fortalecendo os locais, sem descartar que novos se instalem aqui. E estamos priorizando parceiros próximos de nossas linhas produtivas.
Há planos de produzir o Tracker no Brasil?
Posso responder esta pergunta com uma afirmação: eu gostaria de vender mais Tracker no mercado brasileiro. Existe essa demanda, mas as cotas de importação do México não permitem que elevemos a oferta do modelo hoje.