Produzir veículos em Goiana, na região Norte de Pernambuco, demandará uma complexa operação logística da Fiat Chrysler. Instalada mais de dois mil quilômetros de distância dos principais mercados brasileiros – os Estados das regiões Sudeste e Sul –, a fábrica receberá peças de fornecedores paulistas, mineiros, baianos, paranaenses, gaúchos e sergipanos, além de empresas da Europa, América do Norte e Ásia.
Estruturar todo esse recebimento de peças de modo a não prejudicar a produção e nem acumular estoques, bem como distribuir os veículos para todo o Brasil, não será tarefa simples. A FCA criou duas bases para esses trabalhos: a primeira em São Paulo, para receber e distribuir as peças, e a segunda em Betim, MG, para centralizar a distribuição de veículos para o Centro-Sul do País.
Os galpões estratégicos para as autopeças, chamados de cross-docks, estão distantes 2,1 mil e 2,8 mil quilômetros de Goiana – em Betim e São Paulo, respectivamente. Mauricélio Faria, gerente de logística e distribuição da FCA para a América Latina, explicou em entrevista exclusiva à Agência AutoData o funcionamento da operação.
“A grande maioria dos fornecedores Jeep estão nas regiões Sul e Sudeste. Os caminhões menores sairão carregados dessas empresas e deixarão as peças e componentes nos cross-docks, que são os responsáveis por reorganizar o material em veículos de maior capacidade. São estes, em menor número, que farão o transporte das peças para Goiana.”
Segundo Faria essa operação reduzirá o volume de caminhões nas estradas e as viagens de idas e vindas de Goiana para outros estados. Há ainda os fornecedores do parque anexo à fábrica da Jeep, que farão a distribuição just-in-time para o Centro de Distribuição de Carga, um galpão de 54 mil m² construído ao lado da unidade. Os componentes são enviados em ordem de chegada – ou seja, os primeiros que chegam são os primeiros a ir para a linha de produção.
“Esse modelo ajuda a reduzir o estoque de peças, diminui as movimentações e, por consequência, o risco de danos aos materiais. É um modelo mais eficiente do que o tradicional.”
Também de modo a aproveitar ao máximo a capacidade de transporte de cargas dos caminhões foi estruturada a operação logística de distribuição dos veículos. Quando estiver a todo o vapor a fábrica da Jeep terá capacidade para produzir 250 mil veículos, dos quais 80% terão como destino os Estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
A base de distribuição para as concessionárias dessas regiões será a fábrica da Fiat em Betim. Segundo Faria os caminhões sairão de lá com modelos Fiat para distribuição no Norte e Nordeste e voltarão com os Jeep, aumentando, assim a eficiência das cegonheiras.
“A Fiat vende em torno de 700 mil a 800 mil unidades por ano, das quais cerca de 20% na região Norte e Nordeste. Temos, portanto, caminhões-cegonha suficientes para transportar carros de uma fábrica para a outra sem desperdício de viagens, pois o volume Jeep inicialmente chegará a cerca de 140 mil a 150 mil veículos por ano.”
O executivo calcula que a estratégica logística poupará 23 mil viagens por ano, o que representa economia de 104 milhões de quilômetros e 42 milhões de litros de diesel, que resultariam na emissão de 101 mil toneladas de dióxido de carbono.
A distribuição será feita pela Sada Transportes e toda a estrutura desenvolvida pela FCA procurou proporcionar suporte aos motoristas, de acordo com a nova Lei dos Caminhoneiros assinada pela presidenta Dilma Rousseff na segunda-feira, 2.
“Todo o transporte será feito por rodovias. Teremos atenção especial com essa operação, porque precisamos evitar possíveis danos.”
A preocupação e o zelo com os veículos são tamanhos que a FCA assumirá a operação no pátio de veículos de Goiana, operação que costumeiramente é terceirizada para operadores logísticos especializados. “Pode haver um custo maior, mas temos uma preocupação muito grande com a marca Jeep. Seremos muito cuidadosos no manuseio dos veículos.”
A iniciativa, apesar de inédita no País, não é nova em termos globais: já é adotada na fábrica da Fiat na Sérvia, inaugurada em 2012.
SUAPE – Faria revelou ainda que existe previsão de exportação dos primeiros Jeep Renegade para países sul-americanos, em operação que poderá ter início ainda este ano. Toda a logística será conduzida a partir do Porto de Suape, em Pernambuco.
“Quando assinamos o contrato da fábrica fizemos um acordo com o governo local para construção de um pátio de veículos em Suape. Ele está lá e é público, pode ser usado por qualquer montadora. Nós usaremos para exportação e importação de modelos que tiverem como destino as regiões Norte e Nordeste. A ideia é começar ainda este ano.”
Mais para frente, a depender ainda de regulamentações e questões burocráticas, a FCA pretende fazer operações de cabotagem no porto, onde originalmente foi assentada a pedra fundamental da fábrica da Fiat que, em 28 de abril, será inaugurada como legítima unidade Jeep.