Representantes dos governos de Brasil e México reuniram-se para a segunda rodada de negociações para renovação do acordo automotivo bilateral na sexta-feira, 27, na Cidade do México.
Ao menos publicamente o governo mexicano está se mostrando aberto ao diálogo e disposto a negociar um acordo que contemple as necessidades brasileiras – o tratado anterior, fechado em março de 2012, previa o reinício do comércio bilateral livre em três anos, ou a partir deste abril, mas o Brasil quer manter o sistema de cotas vigente desde então.
À saída do encontro o titular da Secretaria de Economia mexicana, a SE, Ildefonso Guajardo, se mostrou confiante na negociação, que envolve também a Argentina. À imprensa local, afirmou que “a possibilidade de um acordo está sendo construída e seguramente este será anunciado nas próximas duas semanas” – o prazo do texto em vigência encerra-se em 19 de março.
Ele antecipou que o pior cenário seria o puro cancelamento do comércio bilateral automotivo – que possibilita aos dois países exportar veículos sem a incidência de impostos – e antecipou que, neste caso, o México não acionaria a OMC, Organização Mundial do Comércio, como fez com a Argentina em 2012. Mas garantiu confiar que “os negociadores saberão conduzir o diálogo com inteligência para alcançar definições que sejam aceitáveis para todas as partes”.
Guajardo acrescentou que o México “tem consciência de que o Brasil atravessa um período de dificuldades econômicas”, o que pode indicar que os pedidos nacionais serão, ao menos em parte, aceitos.
Do lado brasileiro as declarações são um pouco mais contundentes. Na quinta-feira, 26, ao site G1, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, afirmou que o processo de renovação do acordo precisa levar em consideração “as novas condições que estão presentes hoje na realidade do setor automotivo brasileiro”.
O titular do MDIC deixou muito claro à publicação que o Brasil não aceitará o retorno do livre comércio: “A perspectiva de livre comércio não se coloca, na medida em que nós precisaríamos nesse caso olhar todo o universo tarifário. Havendo renovação [do acordo automotivo com o México], isso terá de acontecer necessariamente dentro do sistema de cotas”.
ARGENTINA – Enquanto isso na Argentina o governo local anunciou que as montadoras locais terão acesso a recursos adicionais em dólares, de US$ 231 milhões ao mês até o fim de junho, para arcar com fluxo de caixa e pagamento de dívidas ligadas a investimentos.
No ano passado diversas montadoras tiveram de interromper atividades produtivas na Argentina por falta de divisas em dólar para pagamento de autopeças importadas, o que afetou ainda o comércio com o Brasil, vez que as fabricantes guardavam o quanto de divisas possível para compra de peças de forma a manter a produção rodando, descartando importações de veículos prontos.
O acordo foi anunciado pela ministra local da indústria, Débora Giorgio, em reunião com representantes da Adefa e de montadoras. Do montante US$ 154 milhões ao mês estarão disponíveis via MULC, o Mercado Único e Lybre de Cambios, e US$ 77 milhões adicionais ficam disponíveis para pagamento de investimentos. Em troca estes devem ser mantidos e a indústria não poderá realizar demissões, de acordo com o ministério argentino.