Embora o presidente da Anfavea, Luiz Moan, considere positiva a superação da barreira dos R$ 3 pelo dólar, a desvalorização do real ainda não foi bem digerida pelas montadoras. Nenhuma das empresas que retornaram às solicitações de entrevista da Agência AutoData observou aspectos positivos na recente escalada da moeda estadunidense – ao contrário: Chery, Fiat, Honda, Mercedes-Benz e PSA Peugeot Citroën entendem que a situação desfavorece a indústria e a própria economia.
A Chery tornou-se oficialmente uma montadora brasileira no mês passado. A companhia chinesa começou a produzir o Celer em sua fábrica de Jacareí, SP, ainda com alto índice de componentes trazidos do Exterior. Por isso a disparada do dólar preocupa seu diretor financeiro, Rubens Andrade, “principalmente nesta fase inicial de produção, em que boa parte dos nossos insumos, além de alguns modelos, como o Tiggo e o QQ, ainda são importados. Trazemos material do Exterior e ainda não estamos exportando carros, portanto não há benefícios para nós”.
Jean-Marc Lucenet, diretor financeiro do Grupo PSA Peugeot Citroën no Brasil, também enxerga a situação de forma desfavorável. “Gera impacto significativo em alguns componentes importados que utilizamos em nossa produção e também afeta, é claro, alguns modelos que trazemos do Exterior e compõem nossa gama local.”
Segundo o executivo não há benefícios para as exportações da companhia, vez que o principal destino, Argentina, também sofreu forte desvalorização na moeda local, o peso. “Por isso a desvalorização do real não aumentou a rentabilidade das nossas exportações.”
Para a Fiat o grau de repasse da desvalorização cambial afeta a economia como um todo e a empresa, pois parcela da matéria-prima e componentes são importados ou contam com parte dos insumos adquiridos do mercado externo. Segundo porta-voz da fabricante o efeito na operação local da montadora é em parte minimizado porque sua produção de Betim, MG, conta com elevado índice de nacionalização.
A companhia, porém, vê efeito favorável no caso das exportações. “Elas se tornam mais competitivas. De toda forma a Fiat frequentemente promove planos de eficiência internos e externos, junto à sua cadeia de fornecedores, para buscar a manutenção da competitividade.”
A Mercedes-Benz, por meio de porta-voz, afirmou ainda não conseguir dimensionar os efeitos da alta do dólar nas vendas ao mercado externo: “Não podemos afirmar que trará impacto positivo na rentabilidade. Dependerá do desenvolvimento e das estratégias comerciais para cada mercado em que atuamos”.
Os caminhões e chassis de ônibus M-B atualmente são exportados para países da América Latina, África e Oceania.
Por sua vez a Honda, em nota, afirmou que está avaliando a questão cambial e seus possíveis impactos nos negócios. A montadora considerou que “as operações da indústria são planejadas a partir de compromisso de longo prazo com toda a cadeia produtiva. Assim, para que sejam tomadas decisões a respeito de importação e exportação é necessário haver estabilidade e previsibilidade da taxa de câmbio”.
REAJUSTES – A General Motors não respondeu ao pedido da reportagem da Agência AutoData, mas recentemente a montadora divulgou reedição de campanha promocional que prevê desconto de funcionário para os consumidores que comprarem veículos da marca e, na ocasião, Samuel Russell, diretor de marketing da Chevrolet, afirmou em comunicado que os repasses de preços são iminentes: “Com a escalada dos custos de produção dos veículos, repasses futuros serão praticamente inevitáveis”.
Andrade, da Chery, também considera inevitável alteração na tabela de preços de seus veículos em função da alta do dólar, sejam importados ou nacionais. “Os produzidos aqui também serão impactados em decorrência dos insumos, mas em menor escala. Porém há tendência de melhora deste quadro à medida que aumentarmos a lista de fornecedores locais e ao mesmo tempo reduzimos a importação de veículos, substituindo-os por modelos nacionais.”
A Fiat e a PSA Peugeot Citroën afirmaram que a taxa do dólar é um dos fatores a determinar o preço final de seus produtos, mas não o único.
Lucenet, da PSA, entende que taxa do dólar mais próxima dos R$ 2 do que dos R$ 3 seria melhor para a companhia. Andrade, da Chery, acredita que a estabilidade da moeda, independentemente do patamar, é o mais importante. “A variação dentro de uma faixa estreita nos permitiria planejar melhor, com condições de flexibilidade.”