Os quase quarenta representantes do alto escalão da indústria automotiva reunidos com Armando Monteiro, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior por uma hora e meia em um hotel da Zona Sul de São Paulo na manhã da quinta-feira, 26, deixaram o encontro sem nenhum pedido atendido de forma concreta. Entretanto o titular do MDIC deixou claro que há, ao menos em sua pasta, intenção de atender aos pleitos da indústria – em especial aqueles que possibilitariam reavivar o mercado de forma rápida, reduzindo a pressão sobre as fábricas.
Monteiro afirmou que há possibilidade de alteração nas atuais regras do BNDES Finame PSI, a principal linha de financiamento para caminhões, ônibus, implementos rodoviários e máquinas agrícolas, “especialmente no que se refere à participação da instituição no total do financiamento”. Até o ano passado a linha financiava 100% do valor do bem, mas a partir deste 2015 o índice caiu para 70% para pequenas e médias empresas e 50% para grandes, aliado a aumento da taxa de juros. Há possibilidade do comprador financiar mais 20% a 40% pelo banco estatal, puxando o total a 90%, mas para esta parcela as taxas de juros são ainda mais elevadas.
O segmento de caminhões é o mais afetado pela queda nas vendas neste início de ano, com retração de 39% no primeiro bimestre. De acordo com projeção da Agência AutoData o índice de março não deverá ser muito melhor, com baixa pouco além de 30%.
Na saída do encontro Luiz Moan, presidente da Anfavea, cobrou “regras e condições mantidas a longo prazo: é disso que precisamos”, ao se referir ao programa PSI. Circulares mensais do BNDES têm alterado mês a mês a taxa de juros da parcela adicional de 20% a 40% do financiamento, e os clientes interessados em adquirir caminhões, que já não são muitos, acabam esperando para fechar o negócio à espera de condições mais vantajosas no mês seguinte.
Para o ministro, um afrouxamento das regras “não afeta o ajuste fiscal” que está sendo promovido pela nova equipe econômica do governo federal. Um dos participantes da reunião confidenciou à reportagem, na condição de anonimato, que o MDIC de fato é solícito à reivindicação, mas “depende agora do [Joaquim] Levy [Ministro da Fazenda] assinar”.
EXPORTAÇÕES – O titular do MDIC também afirmou que o governo estuda formas de estimular as exportações do setor automotivo, “um importante canal de escoamento da produção”. Apesar de não oferecer pormenores, disse que as maiores possibilidades neste tema estão ligadas “ao câmbio e a instrumentos de financiamento”. Ele complementou assegurando que “o setor automotivo está ligado a parcela significativa do plano nacional de exportações” e recordou que “a exportação chegou a representar 30% da produção nacional de veículos e hoje este volume embarcado caiu para cerca de um terço do que já foi um dia”.
O próprio ministro, entretanto, reconheceu que não há perspectivas para aumento das exportações em curto prazo: “Isso não acontece de um dia para outro, mas há boas perspectivas para os próximos anos. A exportação de veículos está no nosso radar”.
Outro tema abordado no encontro foi a renovação de frota – algo discutido há anos. “É um tema importante”, limitou-se a dizer, sem assegurar que o plano possa entrar em vigor ainda este ano. Mas acrescentou que, assim como no caso da possível revisão do PSI, em seu entendimento esta iniciativa não afetaria o programa de ajuste fiscal.
Quanto ao atual momento do mercado, Monteiro considerou que “não há crise no setor automotivo. Há, sim, queda nas vendas, mas crise é algo que passa longe deste segmento. Acreditamos que após os ajustes na economia haverá retomada das vendas”.
E diante da possibilidade de demissões na indústria o ministro assegurou que “o cenário é acompanhado de perto pelo governo, não só pelo MDIC mas por outras esferas oficiais. Estamos cientes dos esforços promovidos pelas empresas para manter o nível dos quadros”.
Moan acrescentou somente que o MDIC “se comprometeu conosco a trabalhar em conjunto” nos temas mais urgentes para a indústria.
ARGENTINA – Os dois dirigentes comentaram ainda as negociações com o governo argentino para renovação do acordo automotivo bilateral. O ministro garantiu que “não há nenhuma dificuldade” nas conversas com o país vizinho e acrescentou que o nível de conteúdo regional é um dos principais temas abordados nas reuniões. Sua expectativa é a de que o novo acordo “saia antes do vencimento do atual” – o que ocorrerá no fim de junho.
O presidente da Anfavea acrescentou que “o mais importante é a manutenção do fluxo de comércio”, assim como já o fizera quando das conversas para renovação do acordo automotivo bilateral com o México.