O faturamento do setor de autopeças retornará ao nível de 2007, caso as projeções divulgadas pelo Sindipeças na segunda-feira, 6, se confirmem. Segundo estimativas do departamento econômico da entidade a indústria terá R$ 67,9 bilhões em receita, 11,5% abaixo do valor apurado no ano passado. Há oito anos o setor faturou R$ 68,2 bilhões, de acordo com os dados da associação.
“Será o pior ano da década”, destacou Paulo Butori, presidente do Sindipeças, baseado em outro índice: a receita em dólares. Nesse caso a indústria terá uma queda de 33,2% na receita, para US$ 21,8 bilhões. “Desde 2005 não temos um desempenho tão ruim no faturamento em dólares. A valorização da moeda ajudará a derrubar esse valor”.
Mas Butori não vê apenas aspectos negativos com a valorização do dólar. Ele destacou que as exportações começaram dar sinais de retomada, o que ajudará a reduzir o impacto da queda no fornecimento para as montadoras.
No ano passado as compras de montadoras representaram 67,5% das receitas e a fatia deverá cair para 64% este ano, de acordo com a projeção da associação. Espera-se um salto de 17% para 19,2% na participação do segmento de reposição e de 9,5% para 11,8% nas exportações, que deverão crescer 2,5% com relação ao ano passado, para US$ 8,6 bilhões.
“Reposição e exportações compensarão em partes a queda nas vendas para as montadoras. Acreditamos que em vez de comprar um carro novo, o brasileiro vá ampliar a manutenção do seu usado, o que ajuda a reposição. Já o real desvalorizado deixa nossos produtos mais competitivos no Exterior, ampliando oportunidades em outros mercados como Estados Unidos, México, Canadá e Europa.“
Com isso o déficit na balança comercial brasileira será aliviado: o Sindipeças estima US$ 7,2 bilhões negativos, 7,2% abaixo dos US$ 9 bilhões de déficit do ano passado. “Desde 2007 a indústria de autopeças só apresenta déficit na balança”.
O Sindipeças espera também redução na importação de peças: 9%, para US$ 15,8 bilhões. Em 2013 as importações chegaram próximas dos US$ 20 bilhões, mas a introdução do Inovar-Auto, a valorização cambial e a própria redução do mercado ajudaram a reduzir o volume de peças compradas no Exterior, segundo o dirigente.
Todos esses índices que mostram redução da indústria afetarão também os postos de trabalho. A indústria que em 2011 chegou a empregar quase 230 mil pessoas deverá fechar o ano com 177,2 mil trabalhadores, 9% a menos – ou 17 mil postos de trabalho fechados.
“Desde novembro a indústria começou a ajustar o nível de emprego ao de produção. Não há outra solução a não ser continuar com esses ajustes.”
Para 2016 o Sindipeças prevê recuperação nos números de faturamento, próximo de 4%, “devido principalmente aos efeitos do Inovar-Auto, que estimula a produção local de autopeças, e também ao câmbio, atualmente desfavorável à importação”.
Confira as projeções completas do Sindipeças clicando aqui.
COALIZÃO – Butori foi o representante do Sindipeças na apresentação de um manifesto para a sociedade brasileira, redigido em conjunto com associações de classe de outros setores da indústria de transformação e centrais sindicais na segunda-feira, 6, em São Paulo. Em nome da associação o dirigente disse não ser contrário aos ajustes promovidos pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy. Com ressalvas:
“Precisaria haver uma isonomia com os setores. Do jeito que foi feito, apenas a indústria será, novamente, a grande prejudicada. No setor financeiro, no comércio, os efeitos do ajuste serão menores”.
O discurso foi amplificado por seus colegas que compareceram ao Auditório Celso Furtado, no Parque de Exposições do Anhembi, para apresentar a denominada Coalizão Indústria-Trabalho para Competitividade e Desenvolvimento. Trata-se, nessa primeira etapa, de um manifesto assinado por Abifa, Abifer, Abimaq, Abiplast, Abiquim, Abramat, Instituto Aço Brasil, Simefre, dentre outras associações de classe, e centrais sindicais como Força Sindical e CGTB.
O manifesto pede, dentre outras coisas, o resgate da indústria de transformação, redução da taxa de juros, fim da intervenção na política cambial e simplificação dos impostos.
“Nos últimos dez anos a indústria de transformação foi destruída. Precisamos mudar para resgatá-la. Não somos um movimento partidário ou de oposição, queremos apenas melhorar o Brasil”, disse Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, que representa o setor de máquinas e equipamentos. “Apresentamos aqui um retrato da situação. Não temos uma fórmula: quem tem que resolver isso é o governo.”
Para Jorge Gerdau Johanpetter, presidente do Instituto Aço Brasil, “é um momento histórico. Estou convicto de que vamos ganhar essa disputa”.
Durante a apresentação integrantes das centrais sindicais presentes ao evento bradaram gritos contra o governo. Os executivos foram mais comedidos e limitaram-se a criticar a política econômica e a falta de atenção com a indústria de transformação.
“Precisamos copiar modelos vencedores, como a Alemanha e os países asiáticos”, considerou Butori. “O desenvolvimento destes mercados ocorreu com investimentos na indústria. Um país que abandona a indústria tem queda na qualidade de vida, no nível de emprego etc., como está ocorrendo com o Brasil.”