O projeto original da Chery na inauguração da fábrica de Jacareí, SP, previa a produção em paralelo das versões hatch e sedã do Celer e da nova geração do subcompacto QQ, modelo com maior potencial de volume para a marca de origem chinesa no mercado nacional. No meio do caminho, porém, houve a necessidade de priorizar um dos projetos – e o QQ ficou para depois.
Segundo Luis Curi, vice-presidente da Chery, as condições do mercado brasileiro de veículos e principalmente a alta volatilidade do dólar fizeram a empresa tomar essa decisão. “Queremos que o QQ entre no mercado com mais conteúdo local.”
O QQ tem no seu DNA o atrativo do preço baixo. Muitas peças e componentes importados aumentariam a exposição do modelo ao dólar, hoje acima de R$ 3 – no fim do ano passado, segundo Curi, a empresa trabalhava com a cotação a R$ 2,85. “Cada 1% ou 2% de variação cambial afetam muito nossos planos. Portanto resolvemos trabalhar na nacionalização das peças e adiar o lançamento dele para o fim do ano.”
Agora a Chery trabalha para encontrar fornecedores dispostos a investir no projeto. E tem uma carta na manga: sua operação no Irã.
Aqueles que fornecerem peças para o Celer ou QQ nacionais poderão também exportar para a fábrica da Chery que produz os mesmos modelos no Irã, uma operação que monta em torno de 55 mil unidades por ano e que atualmente é abastecida com peças importadas da China, Tailândia e outros mercados asiáticos.
”É uma situação de ganha-ganha: nós ganhamos com a nacionalização das peças e os fornecedores ganham em volume, com potencial de produzir mais e ganhar novos mercados.”
Curi disse que peças de menor porte, como chicotes, retrovisores, limpadores de para-brisa e componentes de ignição são candidatas naturais a fazer parte do programa de exportação. Ele entende que componentes maiores, que exigem grande operação logística, provavelmente não conseguirão ser competitivos.
Ao mesmo tempo a Chery luta para conquistar mercados sul-americanos, candidatos naturais a receber os modelos de Jacareí. Atualmente não há nenhum contrato fechado, mas a facilidade de transporte e redução no tempo de entrega podem ajudar nas negociações com distribuidores instalados na Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela – em nenhum destes países a Chery é dona do negócio.
“Na Argentina existe o agravante da balança comercial. Por isso procuramos também fornecedores lá para abastecer nossos modelos de Jacareí com peças argentinas e podermos exportar para o país.”
O atual cenário do mercado brasileiro e a decisão de postergar a produção do QQ fizeram a montadora mexer em seus prognósticos para 2015: reduziu de 30 mil para 20 mil veículos sua meta de vendas, metade produzida localmente. Ainda assim o resultado seria o dobro do ano passado, quando foram vendidos cerca de 10 mil unidades da marca.
“Antes os bancos estavam seletivo para liberar financiamentos. Agora é o consumidor que está seletivo para assumir compromisso de longo prazo.”
GREVE – O lançamento do Celer nacional, realizado na terça-feira, 14, em Tuiuti, SP, coincide com a primeira greve enfrentada pela Chery desde sua instalação no Brasil, em agosto do ano passado. Para Curi “essa greve estava escrita nas estrelas. Todos conhecem a forma de atuação do sindicato [de São José dos Campos] e a estratégia deles é a de parar a produção junto com o lançamento, quando nossa rede estará ansiosa por receber os veículos”.
Na terça-feira, 14, houve reunião da diretoria com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, que rejeitou a proposta dos representantes da empresa e manteve a greve por tempo indeterminado.
“Seguiremos negociando. Já oferecemos antecipação do dissídio, que seria em setembro, com valores até 20% superiores, e eles não aceitaram. Fazem comparações irreais, de salário nível três de empresas concorrentes com nível um das nossas. Nós pagamos menos que as outras, sim, mas estamos começando agora, não podemos nos comparar com Ford ou General Motors, que estão há anos no País”.
Curi reclama que o sindicato pede jornadas de 40 horas semanais, quando a lei prevê 44 horas. E destaca: “Ford e GM estão fazendo lay off e reduzindo seus quadros, enquanto nós estamos contratando. O cenário é outro. Não podemos oferecer jornada de 40 horas logo no começo. Precisamos de tempo”.
A greve teve início no dia 6. Em comunicado, o sindicato afirmou que “a proposta apresentada pela empresa é muito ruim, por isso já foi rejeitada na mesa de negociação. Enquanto a Chery não melhorar os salários e condições de trabalho, ninguém volta a produzir”.