Para montadoras, impacto do dólar é negativo

Embora o presidente da Anfavea, Luiz Moan, considere positiva a superação da barreira dos R$ 3 pelo dólar, a desvalorização do real ainda não foi bem digerida pelas montadoras. Nenhuma das empresas que retornaram às solicitações de entrevista da Agência AutoData observou aspectos positivos na recente escalada da moeda estadunidense – ao contrário: Chery, Fiat, Honda, Mercedes-Benz e PSA Peugeot Citroën entendem que a situação desfavorece a indústria e a própria economia.

A Chery tornou-se oficialmente uma montadora brasileira no mês passado. A companhia chinesa começou a produzir o Celer em sua fábrica de Jacareí, SP, ainda com alto índice de componentes trazidos do Exterior. Por isso a disparada do dólar preocupa seu diretor financeiro, Rubens Andrade, “principalmente nesta fase inicial de produção, em que boa parte dos nossos insumos, além de alguns modelos, como o Tiggo e o QQ, ainda são importados. Trazemos material do Exterior e ainda não estamos exportando carros, portanto não há benefícios para nós”.

Jean-Marc Lucenet, diretor financeiro do Grupo PSA Peugeot Citroën no Brasil, também enxerga a situação de forma desfavorável. “Gera impacto significativo em alguns componentes importados que utilizamos em nossa produção e também afeta, é claro, alguns modelos que trazemos do Exterior e compõem nossa gama local.”

Segundo o executivo não há benefícios para as exportações da companhia, vez que o principal destino, Argentina, também sofreu forte desvalorização na moeda local, o peso. “Por isso a desvalorização do real não aumentou a rentabilidade das nossas exportações.”

Para a Fiat o grau de repasse da desvalorização cambial afeta a economia como um todo e a empresa, pois parcela da matéria-prima e componentes são importados ou contam com parte dos insumos adquiridos do mercado externo. Segundo porta-voz da fabricante o efeito na operação local da montadora é em parte minimizado porque sua produção de Betim, MG, conta com elevado índice de nacionalização.

A companhia, porém, vê efeito favorável no caso das exportações. “Elas se tornam mais competitivas. De toda forma a Fiat frequentemente promove planos de eficiência internos e externos, junto à sua cadeia de fornecedores, para buscar a manutenção da competitividade.”

A Mercedes-Benz, por meio de porta-voz, afirmou ainda não conseguir dimensionar os efeitos da alta do dólar nas vendas ao mercado externo: “Não podemos afirmar que trará impacto positivo na rentabilidade. Dependerá do desenvolvimento e das estratégias comerciais para cada mercado em que atuamos”.

Os caminhões e chassis de ônibus M-B atualmente são exportados para países da América Latina, África e Oceania.

Por sua vez a Honda, em nota, afirmou que está avaliando a questão cambial e seus possíveis impactos nos negócios. A montadora considerou que “as operações da indústria são planejadas a partir de compromisso de longo prazo com toda a cadeia produtiva. Assim, para que sejam tomadas decisões a respeito de importação e exportação é necessário haver estabilidade e previsibilidade da taxa de câmbio”.

REAJUSTES – A General Motors não respondeu ao pedido da reportagem da Agência AutoData, mas recentemente a montadora divulgou reedição de campanha promocional que prevê desconto de funcionário para os consumidores que comprarem veículos da marca e, na ocasião, Samuel Russell, diretor de marketing da Chevrolet, afirmou em comunicado que os repasses de preços são iminentes: “Com a escalada dos custos de produção dos veículos, repasses futuros serão praticamente inevitáveis”.

Andrade, da Chery, também considera inevitável alteração na tabela de preços de seus veículos em função da alta do dólar, sejam importados ou nacionais. “Os produzidos aqui também serão impactados em decorrência dos insumos, mas em menor escala. Porém há tendência de melhora deste quadro à medida que aumentarmos a lista de fornecedores locais e ao mesmo tempo reduzimos a importação de veículos, substituindo-os por modelos nacionais.”

A Fiat e a PSA Peugeot Citroën afirmaram que a taxa do dólar é um dos fatores a determinar o preço final de seus produtos, mas não o único.

Lucenet, da PSA, entende que taxa do dólar mais próxima dos R$ 2 do que dos R$ 3 seria melhor para a companhia. Andrade, da Chery, acredita que a estabilidade da moeda, independentemente do patamar, é o mais importante. “A variação dentro de uma faixa estreita nos permitiria planejar melhor, com condições de flexibilidade.”

Montadoras buscam ajuste à nova taxa do dólar

A taxa do dólar alcançou, superou e, ao menos nos últimos dias, se estabilizou acima dos R$ 3. Devido o seu recente histórico, é arriscado dizer que a cotação da moeda estadunidense alcançou um novo patamar definitivo e que a indústria precisa se adaptar à nova realidade: em 26 de janeiro sua cotação estava em R$ 2,57. Na quarta-feira, 11, menos de 45 dias depois, fechou em R$ 3,12.

A superação da faixa dos R$ 3, porém, acendeu o sinal de alerta nas montadoras e, principalmente, nas importadoras. Muitas peças e componentes, mesmo naquelas indústrias presentes há mais tempo no mercado brasileiro, ainda são importados e a desvalorização do real gera impacto direto nos custos de produção dos veículos.

No caso das importadoras, lotes de veículos encomendados por um valor há um mês serão faturados a preços superiores, pois a valorização da moeda estadunidense ocorreu em poucas semanas – e, da efetivação do pedido até a produção e faturamento, certo tempo é decorrido.

Marcel Visconde, presidente da Abeifa, argumenta que ainda existem modelos em estoque comprados com o dólar mais baixo, mas considerou inevitável o repasse dos preços nos próximos lotes importados. “Haverá repasse, mas com muita cautela. O mercado não está favorável e é melhor vender os carros com margem menor do que ficar com eles parados no estoque.”

Por outro lado a apreciação do dólar abre mais oportunidades para o produto brasileiro no mercado externo. Luiz Moan, presidente da Anfavea, considera positiva a nova cotação da moeda: “Ainda bem [que o dólar chegou a R$ 3,10]”, afirmou o executivo na última coletiva à imprensa, realizada na quinta-feira, 5, em São Paulo. “O dólar neste patamar fortalece o setor de autopeças nacional.”

ATÉ ONDE VAI? – A escalada de 20% do dólar em apenas seis semanas prejudica muito mais o planejamento das empresas, sejam montadoras ou importadoras, do que a estabilidade da moeda em qualquer patamar. Visconde, da Abeifa, reclama da volatilidade.

“O problema não é o valor, mas a flutuação. Essa indefinição atrapalha a importação e a exportação. Os contratos são negociados em longo prazo e uma empresa pode dificultar o fechamento do acordo na esperança de que a moeda suba ou desça, dependendo de seu interesse, nos dias seguintes.”

A Agência AutoData procurou, além das associações de marca, fabricantes e importadores de veículos. Oito responderam às solicitações, gerando essa reportagem especial. A maior parte concordou com Visconde: a volatilidade é o pior inimigo do planejamento das empresas.

Na segunda-feira, 9, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, afirmou à Agência Brasil que as oscilações diárias da moeda resultam do atual momento político do Brasil e que a volatilidade passará, estabilizando o câmbio em um patamar que considera mais conveniente para o País.

“Teremos um câmbio que dará ao Brasil outra condição com relação à competitividade de suas exportações. Reconheço que esse movimento dos últimos dias é algo que decorre muito mais de uma reação do mercado ao momento político. Mas logo me parece que ele vá se estabilizar em um nível que dê competitividade às exportações brasileiras.”

Segundo ele a tendência estrutural é de um real depreciado – em um ano a moeda perdeu mais de 40% do seu valor. “Há condições que estruturalmente estão conduzindo à valorização do dólar. A economia estadunidense se fortaleceu e há expectativa de elevação da taxa de juros naquele mercado. Isso vai concorrer para maior afluxo de recursos para os Estados Unidos e, com isso, várias moedas, inclusive o real, estão flutuando no sentido da desvalorização.”

O ministro garantiu que a balança comercial brasileira será beneficiada, bem como a indústria nacional, vez que o dólar elevado naturalmente promove o encarecimento dos produtos importados.

Renault anuncia investimento de US$ 100 milhões na Argentina

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, recebeu no início da noite da terça-feira, 10, em seu gabinete na residência presidencial de Olivos, o presidente da Renault local, Thierry Koskas, que anunciou investimento de US$ 100 milhões na fábrica de Santa Isabel, em Córdoba – coincidindo com aniversário de 60 anos da unidade.

Com o aporte a unidade passará a produzir modelos da plataforma de compactos Dacia: Logan e Sandero, incluindo, para o hatch, a variante Stepway. Atualmente estes modelos são vendidos na Argentina importados do Brasil, que também abastece o vizinho com Duster e Master.

Atualmente Santa Isabel é responsável pela fabricação de Clio, Fluence e Kangoo.

De acordo com comunicado da unidade argentina da montadora, a produção dos novos modelos ali está marcada para meados de 2016. A fabricante divide o investimento, que equivale a 875 milhões de pesos, em cinco etapas, a serem realizadas nos próximos 18 meses. A primeira é o desenvolvimento de fornecedores, com 175 milhões de pesos, incluindo ferramentais para produção de armação de portas, capô e porta-malas, “processo atualmente a cargo de fornecedor estrangeiro”. Bancos, parachoques, tapetes, escapamentos, tubos de freio e outras peças também serão localizados.

A segunda é adaptação e modernização de equipamentos da fábrica, com 263 milhões de pesos, a terceira pesquisa, desenvolvimento e engenharia, com 192 milhões de pesos, a quarta é treinamento e formação de trabalhadores – não há menção a contratações –, $ 26 milhões, e a quinta atualização da área de pintura, que receberá novos robôs e processos automatizados para aplicação de selantes e tintas, com $ 219 milhões.

“A chegada desta nova plataforma à unidade permitirá a incorporação de novos modelos ao plano produtivo da Renault na Argentina em médio e longo prazo”, afirma o comunicado.

Segundo o governo argentino o plano da Renault é alcançar, em 2017, produção conjunta de 50 mil unidades de Logan e Sandero na fábrica. Santa Isabel possui atualmente 1,8 mil funcionários e trabalha em dois turnos. Desde sua inauguração, em março de 1955, quase três milhões de unidades de 23 modelos saíram de sua linha de montagem.

O mercado argentino respondeu por cerca de 95% das exportações da Renault do Brasil em 2014, de 34,4 mil unidades segundo dados da Anfavea, em queda de aproximadamente 45% ante 2013, 63,3 mil. No ano pasado o mercado externo respondeu por cerca de 16% da produção total da montadora no País, índice que um ano antes fora próximo de 22%.

Mini prevê salto em vendas no Brasil a partir de 2016

Após crescer 26,5% em 2014, atingindo venda de 2,5 mil unidades, a Mini prevê estabilidade para este ano, mesmo com o lançamento da versão cinco portas, apresentada na quarta-feira, 11, em Bragança Paulista, SP. De acordo com o diretor-geral da Mini no Brasil, Julian Megri, um crescimento mais expressivo da marca deve se dar a partir do início de produção do modelo Countryman, em Araquari, SC, previsto para o terceiro trimestre deste ano.

A estabilidade das vendas da marca prevista para 2015 não guarda relação direta com comportamento do mercado brasileiro que, no geral, apresenta queda. A empresa também enfrenta limitação no volume que trará da Inglaterra, visto que a demanda lá fora pelo modelo cinco portas, principalmente, está elevada.

De qualquer forma a previsão é a de que a nova versão, que começa a ser vendida esta semana com preços de R$ 106 mil a R$ 140 mil, responda por 25% do total de Mini vendido por aqui. O modelo de maior demanda é o hatch três portas, que deverá responder por 43% das vendas este ano, e o próprio Countryman, que no ano passado teve participação de 22% e deve chegar a 30% justamente em função de sua produção local a partir do segundo semestre.

De acordo com Megri a rede de concessionárias Mini iniciou o ano com trinta pontos de venda e encerrará com 34: “Estamos presentes em todos as principais Capitais e em algumas grandes cidades do Interior. Nossa prioridade agora é estreitar o relacionamento rede-consumidor e investir na qualidade do atendimento”.

A rede Mini conta com algumas lojas exclusivas e outras compartilhadas com a BMW, da qual faz parte do Grupo. Os showrooms estão no mesmo espaço, lado a lado, mas com identidades distintas. A Mini é caracterizada pela cor preta e a marca alemã pela branca.

Argentino, Megri assumiu a direção geral da Mini no Brasil em janeiro. Ao analisar o atual momento do mercado local, em baixa desde o ano passado e com agravo da retração registrada no mesmo período de sua chegada ao País, disse já estar acostumado com este tipo de cenário: “Afinal, vim da Argentina. Todos sabem como o mercado está por lá”.

Em função da situação atual do mercado brasileiro o executivo preferiu não fazer projeções de venda para 2016. Mas deixou claro que a Mini quer dar um salto a partir da produção local do Countryman na fábrica catarinense – já são fabricados lá o Série 3 e o X1 e ainda este mês será iniciada a produção do Série 1, seguido do X3, deixando o Mini como último da lista.

O modelo cinco portas oferece mais espaço e conforto interno do que o hatch três portas, e com isto a empresa quer conquistar um público diferente, já com família. No comprimento é 161 mm maior do que a versão três portas, sendo ainda 11 mm mais alto e com entreeixos alargado em 72 mm. Seu porta-malas comporta 67 litros.

Metalúrgicos protestam na Bosch em Curitiba

Metalúrgicos da unidade da Bosch em Curitiba, PR, realizaram na tarde da quarta-feira, 11, protesto em frente à fábrica. De acordo com o SMC, Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, em comunicado, a manifestação ocorreu contra “o assédio moral, as demissões arbitrárias e os ataques sistemáticos contra a liberdade de organização dos trabalhadores”.

O SMC alega que um metalúrgico foi demitido no início do mês por suas atividades como delegado sindical, cargo para o qual foi eleito em maio de 2014.

Procurada, a Bosch declarou, também em nota, que “apesar da retração do mercado nacional [a empresa] tem conseguido equilibrar parte da ocupação de sua unidade de negócios em Curitiba por meio dos mercados de exportação e de reposição. E, por isso, a variação no seu quadro de colaboradores está dentro dos níveis normais e de acordo para atender às demandas de seus clientes. A empresa repudia e não compactua com qualquer forma de perseguição a seus colaboradores. A Bosch esclarece ainda que preza pela saúde e bem estar de seus colaboradores em seus ambientes de trabalho”.

No ABCD – Outras mobilizações sindicais ocorreram no ABCD paulista nos últimos dias. Na Affi¬nia, Dana e Melling, em Diadema, houve paralisação por duas horas na manhã da quinta-feira, dia 5, em protesto contra a demissão de duas metalúrgicas na Melling. No mesmo dia, trabalhadores na Dura Automotive, em Rio Grande da Serra, aprovaram em assembleia acordo para teto do banco de horas, que não poderá ultrapassar 120. E nessa semana acontecem eleições para representantes da Cipa na Arteb e na Kostal, em São Bernardo do Campo.

Na terça-feira, 11, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC divulgou comunicado elogiando o novo acordo automotivo do Brasil com o México, assinado na segunda-feira, 9, e que manteve o sistema de cotas no comércio bilateral por mais quatro anos. “O México tem uma legisla¬ção própria com condições especiais para produzir car¬ros apenas para exportação. Com isso, há uma desvantagem enorme para qualquer país da América La¬tina e até mesmo da América do Norte. O México é a China das Américas”, afirmou na nota o presidente do sindicato, Rafael Marques. “Sempre defendemos a manuten-ção das cotas.”

Os metalúrgicos também consideraram positiva a regra de conteúdo regional de autopeças, prevista no novo acordo: “As peças mexicanas serão rastreadas e isso impede que o veículo seja montado no México com peças produzidas na China”.

Abeifa: queda além do mercado no primeiro bimestre.

Sem aspectos positivos no curto prazo.

É desta maneira a Abeifa encara a situação do segmento de veículos importados, que no primeiro bimestre apresentou retração de 27,1% com relação ao mesmo período do ano passado, e portanto além da queda de 22,5% das vendas de automóveis e comerciais leves do mercado geral.

De acordo com dados revelados pela associação na terça-feira, 10, foram licenciados por suas filiadas 13,2 mil veículos em janeiro e fevereiro, ante 18,2 mil há um ano.

A participação das vendas das 28 marcas da associação no mercado total caiu de 3,3% para 3,1% no período. “Ano passado tínhamos um problema crônico, que agora se tornou agudo. Não existem mais razões isoladas que expliquem a queda nas vendas, é uma soma de fatores e não há qualquer sinalização positiva no curto prazo”, afirmou Marcel Visconde, presidente da Abeifa. “A crise esta aí e precisamos encará-la da melhor forma.”

O cenário deverá se agravar nos próximos meses, vez que o efeito da valorização cambial – Visconde calcula que o dólar subiu 20% nas últimas seis semanas – ainda não atingiu as importadoras, que estão vendendo os estoques adquiridos com a moeda ainda em patamares mais baixos e não repassaram o aumento aos seus produtos.

“A tendência do dólar é de alta. Antes havia volatilidade, mas agora entrou um pouco de especulação e a moeda apreciou. Acredito que o valor real seja um pouco mais baixo, porém não há qualquer indicação de recuo.”

Como o mercado está em baixa, não há muito espaço para que as importadoras reajustem o preço de seus veículos sem que percam mais vendas. Por isso, segundo Visconde, o cenário é de enxugamento do setor. “A conjuntura atual não permite a manutenção do tamanho da rede. Demissões e redução de estrutura não estão longe do radar e o desenho converge para isso, embora sejam decisões internas de cada associada.”

A Abeifa estima queda de 10% nas vendas por suas filiadas neste ano, para 84,3 mil unidades. O índice é o mesmo adotado desde o início deste mês pela Fenabrave para o mercado geral. “É a perda mínima, pois acredito que a queda seja ainda maior”.

Visconde revelou que a Abeifa se reunirá no começo de abril, e pela primeira vez, com Armando Monteiro, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Não há uma pauta definida, segundo o dirigente, mas a associação pretende solicitar o aumento das cotas de importação sem IPI majorado do Inovar-Auto.

“O sistema é arcaico”, disparou Sérgio Habib, vice-presidente da Abeifa e presidente do Grupo SHC, dono de concessionárias Jac Motors, Aston Martin, Jaguar Land Rover, Citroën e Volkswagen. “Aconteceu com o dólar a R$ 1,60 [o incremento de 30 pontos porcentuais no IPI] e a taxa agora chegou à casa dos R$ 3. Atualmente é desnecessário [o aumento no imposto]”.

Visconde e Habib acreditam que, mais do que os indicadores econômicos negativos ou restrição de crédito, “a baixa autoestima do consumidor” é o fator que mais prejudica o mercado brasileiro de veículos. O presidente da Abeifa entende que o consumidor está mal humorado: “O índice de confiança do consumidor está no nível mais baixo desde 2001”.

Os dirigentes defendem que as medidas do governo para reajustar a economia precisam ser tomadas de uma só vez. “Se houver algo negativo a ser feito, que seja feito de uma só vez, e não de forma pontual, mensalmente. A inércia política só piora a situação e precisamos fazer o plano do [Ministro da Fazenda, Joaquim] Levy decolar.”

Audi já produz o A3 Sedan em pré-série no Paraná

Durante encontro anual com a imprensa, realizado em Ingolstadt, na Alemanha, na terça-feira, 10, o board da Audi AG respondeu, por escrito, às perguntas dos jornalistas brasileiros.

Os executivos da montadora demonstraram extremo otimismo com o mercado brasileiro e a futura parcela do País nos negócios globais da Audi – a aposta é que estaremos no top 10 da marca até 2020. Mesmo os resultados de curto prazo justificam as expectativas: em janeiro e fevereiro, apesar da retração significativa do mercado total, as vendas da fabricante cresceram 20% e 10%, respectivamente, no comparativo anual – e isso mesmo com 2014 representando recorde histórico de vendas para a marca das quatro argolas por aqui.

Confira a seguir a entrevista concedida pelos executivos do board da Audi, direto da Alemanha.

A Audi reforçou suas vendas no Brasil em um momento em que o mercado encolhe. Qual é a importância do País e da futura planta local para os negócios da Audi?

O Brasil teve o maior crescimento dentre os vinte principais mercados da Audi no mundo em 2014, e seu potencial de crescimento é enorme. O segmento premium ainda representa apenas 2% do mercado total, enquanto esse índice na China é de quase 10%. Esperamos que o Brasil se torne um dos dez maiores mercados da Audi em 2020.

Que desafios a Audi enfrenta para tornar viável sua produção no Brasil?

O Brasil reserva conta para todas as indústrias, como a logística. No entanto a produção no País foi avaliada com muito cuidado e estamos nos preparando da forma mais completa possível. Além disso temos a vantagem dos muitos anos de experiência na rede de produção global. Temos, portanto, as ferramentas certas para administrar com sucesso essa nova expansão.

A Audi compartilhará componentes e fornecedores com a Volkswagen no Brasil?

Como fazemos parte de um grande Grupo temos vantagens competitivas na negociação com fornecedores, como escala maior na compra de produtos e serviços. Desenvolvemos também outros fornecedores que estarão aptos a atender nossos padrões de qualidade. É importante ressaltar que manteremos o sistema de produção da Audi na unidade brasileira, com normas comuns de qualidade para todas as fábricas, que todos os fornecedores devem cumprir.

Qual o tamanho da cadeia de abastecimento local?

Compraremos a quantidade de peças nacionais que for possível. Também usaremos motores flex 1,4 litro turbo FSI produzidos na planta [da Volkswagen] de São Carlos, SP. A decisão de compra de componentes locais leva em conta aspectos econômicos, qualitativos e estratégicos: compraremos no Brasil as peças certas e cumpriremos plenamente os requisitos do Inovar-Auto.

Quais serão os componentes locais dos Audi feitos no Brasil? Quais componentes ainda serão importados?

A quantidade de peças locais e peças importadas serão definidas pelas regras do Inovar-Auto. Ainda não é possível confirmar o porcentual de conteúdo local.

A construção da linha de produção brasileira está seguindo o cronograma?

Sim, estamos seguindo nosso cronograma da linha de produção em São José dos Pinhais, PR. O A3 Sedan começou a ser montado em pré-séries no princípio de 2015 e o início da produção nacional está programado para setembro ou no máximo outubro.

Modelos Audi e Volkswagen serão produzidos na mesma linha de montagem?

Produziremos nas instalações da fábrica da Volkswagen, no entanto a equipe, os padrões de qualidade e os fornecedores seguirão diretrizes da Audi. Para atender aos requisitos específicos Audi é importante reforçar que as unidades de produção multimarcas são uma prática comum e bem-sucedida no Grupo VW, como se vê com o Q3 em Martorell [planta da Seat na Espanha] e pelo Q7 em Bratislava [fábrica da Volkswagen na Eslováquia].

Quais são os planos imediatos, de médio e longo prazo da Audi no País?

A Audi traçou uma estratégia de investimento que sustente seu crescimento no Brasil em longo prazo. Este planejamento, que já está sendo aplicado, traz não só resultados imediatos como suportará a nossa meta de 30 mil unidades vendidas por ano no país em 2020 – 26 mil de produção local e os outros 4 mil importados. Comprovando que nossa perspectiva é factível já começamos 2015 com resultado positivo de vendas para a Audi do Brasil: em janeiro registramos crescimento de 20% em vendas no varejo com relação ao mesmo período do ano anterior, com 1 mil 331 carros entregues. Em fevereiro o resultado também superou os números do mesmo mês de 2014, com 1 mil 223 unidades vendidas no varejo, alta de 10%. No curto prazo, além do início das operações da nossa linha de produção em São José dos Pinhais com o A3 Sedan, destacamos investimento em infraestrutura e serviços de pós-venda, com aumento da capacidade do Centro de Distribuição de Jundiaí, que será concluído até junho.

Como está a situação dos salários nesta equação de economia difícil? E o que o Brasil deveria fazer para ser competitivo?

O País passa por reformas e já é a sétima economia do mundo. Neste sentido a empresa segue confiante no seu poder de recuperação, que não deverá ser de curto prazo mas que até 2017 já estará mais célere.

O A3 Sedan nacional seguirá exatamente as mesmas especificações do modelo ora importado? Haverá alguma subtração com relação a equipamentos?

Ainda não divulgamos muitas especificações do A3 Sedan brasileiro. Mas certamente terá um nível similar de equipamentos ante o modelo oferecido atualmente [importado da Alemanha].

Audi: recordes em 2014 e as boas perspectivas para 2015.

O pragmatismo do doutor Rupert Stadler, chairman da Audi AG, é enternecedor e reflete o andamento dos negócios da companhia e sua promessa de investir 24 bilhões de euro até 2019: “Tenho profundo orgulho pelo fato de o nosso perfil de capacitações e de competências mudar dia a dia”. Isso reflete nos resultados, anunciados na terça-feira, 10, em Ingolstadt, Alemanha, pertinho de Munique, e revelam os esforços desenvolvidos pelas equipes no ano passado:

• lucro operacional de 5 bilhões 150 milhões de euro;
• retorno operacional sobre as vendas de 9,6%;
• lucro antes dos impostos de 6 bilhões de euro.

Stadler declarou aos 350 jornalistas de todo o mundo presentes que “em 2014 entregamos mais do que prometemos um ano antes”, desvelando o recorde de vendas que alcançou – exatas 1 milhão 741 mil 129 unidades. E prometeu repetir o desempenho este ano: ele quer bater logo o recorde histórico de 2 milhões de unidades vendidas.

O doutor Ulrich Hackenberg, também integrante do board, responsável pelo desenvolvimento técnico, indicou que, de acordo com suas perspectivas, os destaques Audi deste ano serão Q7, R8 e A4.

E o responsável no board por recursos humanos, Thomas Sigi, festejou a criação, em todo o mundo, durante este ano, de novos 6 mil postos de trabalho, coisa de 4 mil dos quais na Alemanha. Em 31 de dezembro a empresa dispunha de 79 mil 483 funcionários.

E boa nova brasileira foi igualmente comemorada, a assunção da Audi como a melhor vendedora de veículos premium em fevereiro – isto depois de obter, no conjunto do resultado do ano passado, crescimento de 86,1%, para 12 mil 488 unidades vendidas.

Luca de Meo, o chefão de vendas e marketing no board, disse que é “impressionante o crescimento Audi no mercado brasileiro nos últimos dois anos”.

Lamborghini e Ducati, marcas que integram o mundo do Grupo Audi, foram também lembradas por seus muito bons resultados.

O doutor Stadler reconheceu que 2014 foi pleno de exigências e de emoções e dificuldades foram enfrentadas para manter os objetivos traçados, “mas conseguimos melhoras para a nossa marca em todos os continentes. Na América do Norte, por exemplo, vendemos 182 mil unidades e pretendemos chegar às 200 mil este ano”.

Segundo ele a fábrica estabelecida no Máxico, que estará plenamente operativa em 2016, terá tarefas francamente exportadoras, para qualquer país à exceção da China: “A garantia da qualidade será realizada por meio de nossas boas relações com os fornecedores locais e de seus esforços”.

Fazem fila – O vice-presidente de vendas da Audi para as Américas, Martin Sander, é tão otimista como o seu chefe De Meo e com seu chefão Stadler a respeito do bom desenvolvimento dos negócios da companhia ao longo dos anos e do futuro. Uma das suas razoes é o fato de que “concessionários fazem fila para trabalhar conosco, inclusive no Brasil”.

De acordo com ele a rede Audi no Brasil é particularmente motivada, vibrante, apaixonada, “o sonho de todo fabricante de veículos”. Ele provavelmente tem toda a razão até porque a empresa ganhou, em 2014, prêmio da Fenabrave por ser aquela mais desejada pela constelação dos revendedores de veículos, deixando para trás antigas unanimidades como Toyota e Volkswagen.

“A verdade é que nossos concessionários fazem contas e sabem que o atual volume de veículos premium no Brasil é muito pequeno, subdesenvolvido mesmo, e só tende a crescer. Isso significa bons negócios e nós, Audi, somos um excelente negócio, sólido.”

Produção de veículos recua 14% na Argentina em fevereiro

A produção argentina de veículos somou 45,6 mil unidades em fevereiro. Segundo dados divulgados pela Adefa, associação que representa as montadoras daquele país, o volume foi 13,9% menor na comparação anual.

Em relação a janeiro, quando saíram das linhas de montagem argentinas 25,6 mil veículos, houve expressiva alta de 78%. A diferença foi ocasionada pelas férias coletivas no início do ano.

De acordo com a Adefa ajuda a explicar a retração anual o fato deste fevereiro contar com apenas 14 dias de produção, ou quatro a menos do que o mesmo mês de 2014, devido às férias coletivas prolongadas e ajustes em linhas de montagens de fabricantes para produção de novos modelos.

No bimestre a produção de veículos na Argentina somou 71,2 mil unidades, volume 20,1% menor em comparação às 89,1 mil unidades fabricadas no mesmo período de 2014.

Em nota a presidente da Adefa, a brasileira Isela Costantini, afirmou que “mesmo com o fechamento do primeiro bimestre é prematuro fazer projeções sobre o desempenho anual”.

Em fevereiro as montadoras instaladas na Argentina exportaram 24,2 mil unidades, crescimento de 217,9% em comparação a janeiro e queda de 6,8% em relação a fevereiro de 2014.

No acumulado do bimestre foram exportadas 31,8 mil unidades, retração de 30,1% em relação ao mesmo intervalo de 2014.

Segundo a Adefa as exportações para o Brasil, o principal destino, recuaram cerca de 20% no bimestre. Em nota, Isela destacou o compromisso da associação em reforçar os laços comerciais com parceiros importantes, como Brasil e México, considerando-se a proximidade do fim do negócio bilateral atual, no dia 19.

Além disso, a dirigente citou negociações para novos acordos comerciais, como com a Colômbia e outros países da América Latina.

Indústria de implementos espera queda mais brusca

O desempenho bem abaixo das expectativas do primeiro bimestre fará os fabricantes de implementos rodoviários revisarem suas estimativas para o ano. Inicialmente a Anfir, associação que representa o setor, projetava queda na ordem de 5% a 10% com relação ao ano passado, mas o presidente Alcides Braga já admite retração mais acentuada.

“Vamos esperar mais um pouco, talvez até meados de abril, quando poderemos ter uma visão mais clara da situação. Na verdade a gente mais torce do que faz previsão, então se cair até 10%, como no ano passado, será ótimo diante da atual conjuntura do mercado.”

Nos primeiros dois meses do ano foram licenciados 14 mil 728 implementos rodoviários, volume 41% inferior ao registrado em janeiro e fevereiro do ano passado, quando as vendas alcançaram 24 mil 987 unidades. Tanto a linha leve, de carroceria sobre chassis, quando a pesada, de reboques e semirreboques, apresentaram desempenho inferior: 32% e 55,8% de queda, respectivamente.

Braga afirmou que o desempenho foi negativo em todos os segmentos de negócios, com exceção ao mercado de transporte de toras, que apresentou crescimento de 70%. “Trata-se, entretanto, de um segmento de baixo volume, de cerca de 200 unidades. A queda foi generalizada nas linhas pesada e leve, sendo que esta última vinha apresentando resultados melhores”.

Segundo o empresário o fraco desempenho da economia aliado às indefinições do BNDES com relação a financiamentos prejudicaram as vendas neste início de ano. Ele calcula que 85% das vendas do setor sejam por meio do Finame, que, a exemplo do ocorrido no ano passado, ficou praticamente estagnado no começo do ano devido à demora para promover mudanças operacionais.

O presidente da Anfir reclamou também da ociosidade da indústria, que praticamente não tem pedidos em carteira. “As entregas são quase imediatas e a preços que eram praticados a três, quatro anos atrás”.

Braga admitiu que a situação já provoca demissões no setor: desde o fim do ano passado as fabricantes reduziram em torno de 20% do seu quadro de funcionários, em média. Ele estima que dos 70 mil trabalhadores que a indústria de implementos rodoviários empregava direta e indiretamente, cerca de 15 mil foram demitidos.

“Não posso dar números absolutos porque não fazemos uma pesquisa em todas as empresas. Dentro da métrica usada, os dados são esses. Posso garantir, porém, que a indústria fez de tudo para evitar essas demissões: usou lay offs, férias prolongadas, etc. Mas alcançamos uma situação em que não dava mais para segurar a mão-de-obra.”