Marchionne confirma mais dois produtos para Goiana

O CEO da Fiat Chrysler Automobiles, Sergio Marchionne, confirmou durante a cerimônia de inauguração do Polo Automotivo Jeep em Goiana, PE, na terça-feira, 28, que a fábrica receberá dois novos produtos nos próximos dezoito meses: um segundo da marca Jeep, que fará companhia ao Renegade, e um com emblema Fiat.

Ainda que o executivo não tenha oferecido outros pormenores sobre os novos produtos, sabe-se que serão dois utilitários. “Goiana não concorrerá com Betim [fábrica da Fiat em Minas Gerais] em produtos. A unidade de Pernambuco produzirá sempre produtos de segmentos superiores, que não têm sofrido tanto com o recuo do mercado.”

Questionado sobre a forte participação de bancos estatais no financiamento da obra, o executivo não perdeu a chance de rebater qualquer insinuação a benevolências oficiais em excesso: “O dinheiro do financiamento do governo federal tem juros, e estes serão pagos” – de acordo com discurso da presidenta Dilma Rousseff na cerimônia de inauguração da fábrica, foram concedidos créditos de PIS e Cofins até 2020. Segundo Marchionne, a FCA bancou diretamente de 20% a 25% do total investido em Goiana.

O executivo entende, quanto ao atual momento econômico do País, que “o Brasil superou como nenhum outro país a crise mundial de 2008 e 2009. Era momento de ajustes e portanto o mundo saberá aguardar o Brasil agora. Os brasileiros precisam se manter calmos, porque o País tem um grande potencial”.

Cledorvino Belini, presidente da FCA para a América Latina, acrescentou ver alguma possibilidade de recuperação do mercado interno no ultimo trimestre: “Tudo dependerá do aumento do índice de confiança do consumidor”. Caso ocorra, estimou, o índice de queda do ano poderá ser inferior ao estimado hoje – de 13%, no caso da Anfavea.

O CEO global, entretanto, lembrou que “as condições de exportação do Brasil não permitem grandes sonhos”. Para ele, “a competitividade é prejudicada por questões tributárias, como impostos embutidos não recompensáveis no momento dos embarques”.

Durante a inauguração Marchionne comemorou os recentes números da Jeep em termos globais: as vendas cresceram 22% no primeiro trimestre, em boa parte graças aos resultados do Renegade na Europa. O CEO recordou que até o fim do ano mais uma fábrica da marca será inaugurada, desta vez na China, para produção de dois modelos. A capacidade total da unidade brasileira é de 250 mil unidades, mas segundo Stefan Ketter, VP mundial de manufatura da FCA e responsável pela construção de Goiana, há espaço físico suficiente para uma expansão a até 600 mil unidades/ano.

Quanto a possíveis negociações globais da FCA com a PSA Peugeot Citroën, Marchionne disse apenas que estudos são frequentes e que sempre têm como diretriz a rentabilidade. E aproveitou a oportunidade para brincar: “O fato do Carlos Tavares [CEO global da PSA] falar português pode ser uma vantagem”.

Sindipeças participa da Automechanika Johannesburg

Pela primeira vez o Sindipeças participará da Automechanika Johannesburg, mostra de autopeças da principal cidade da África do Sul. Um estande coletivo reunirá 21 empresas brasileiras que buscam oportunidades naquele país – e no continente africano – durante o evento que ocorrerá de 6 a 9 de maio, no Pavilhão 6 do Johannesburg Expo Centre.

Segundo Antônio Carlos Bento, conselheiro do Sindipeças responsável pela área de Feiras e Eventos, a mostra em Jo’burg é uma vitrine para a África do Sul e os demais países da região. Em nota, ele afirma que os expositores poderão encontrar clientes, prospectar novos compradores e observar tendências para o setor.

“Por isso decidimos participar pela primeira vez. O mercado externo é muito importante para o nosso setor e estamos em um momento favorável ao fomento das exportações, em virtude do desaquecimento do consumo doméstico e da desvalorização cambial”.

A última edição, em 2013, recebeu 10,6 mil visitantes durante os quatro dias. Foram 643 expositores de 23 países diferentes.

De acordo com a Naamsa, a associação das montadoras da África do Sul, no primeiro trimestre foram vendidos 113,3 mil veículos no país, queda de 29% com relação a igual período de 2014.

No ano passado os sul-africanos consumiram 644,5 mil unidades, 1% abaixo do volume comercializado em 2013, de acordo com dados da Oica, organização global que representa as associações de montadoras nacionais. A produção cresceu 3,7%, para 566,1 mil veículos.

O mercado é o mais relevante do continente africano, com quase o dobro do volume do segundo – o Egito, que encerrou o ano passado com 350 mil unidades consumidas.

O estande coletivo do Sindipeças na feira será composto pela ABR, Autolinea, Autotravi-Metalmatrix, Chiptronic, Controil, Duroline, Farj, Fras-le, Fremax, Frum, Fundição Batatais, Master Power, Reserplastic, Riosulense, Sampel, Schadek, Suporte Rei, Suspensys, Tecfil, Univel e Urba-Brosol.

A participação brasileira é coordenada pelo programa Brasil Auto Parts, uma parceria do Sindipeças com a Apex-Brasil. Iniciativa semelhante ocorrerá um mês depois, quando autopeças brasileiras participarão de feira na Colômbia.

Inaugurado o Polo Automotivo Jeep de Goiana, Pernambuco

Com a presença da presidenta da República Dilma Rousseff e de vários governadores do Nordeste, além de Sérgio Marchionne, CEO mundial da Fiat Chrysler Automobiles, a FCA, e John Elkann, presidente do conselho do sétimo maior conglomerado automotivo do mundo, foi inaugurada na terça-feira, 28, a unidade fabril de Goiana, Pernambuco. O evento reuniu cerca de dois mil convidados e apenas formalizou o que já aconteceu, de fato, há cerca de dois meses, mais precisamente em 19 de fevereiro: o íniciou de produção do Jeep Renegade, primeiro modelo a sair da linha de montagem.

O complexo, batizado de Polo Automotivo Jeep, ocupa mais de 500 mil metros quadrados de área de construída e, além de fábrica de veículos, abriga dezesseis fornecedores. Tem capacidade produtiva de 250 mil unidades anuais e consumiu  investimentos de R$ 7 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões na fábrica Jeep, R$ 2 bilhões no parque de fornecedores e o restante em desenvolvimento de produtos. Contará com cerca de 9 mil funcionários até o fim do ano, 3,3 mil deles na fábrica de veículos e o restante nos fornecedores e serviços comuns.

De mãos dadas a presidenta, juntamente aos executivos e autoridades, acionou simbolicamente as gigantescas prensas, marcando o ato da inauguração. Em seu discurso, enfatizou a importância do complexo industrial para a economia do Estado e da região e o papel do governo federal no financiamento do novo polo – o custo total do projeto, afirmou Dilma, supera os R$ 10 bilhões, incluindo obras de infraestrutura na região, sendo que dois terços deste valor foram financiados pelo BNDES, Banco do Brasil e Banco de Desenvolvimento do Nordeste. 

A presidenta da República aproveitou a solenidade para anunciar que na segunda-feira, 27, foi aprovada a licença prévia ambiental que permitirá ao governo federal, finalmente, abrir licitação para o trecho rodoviário da BR-101 que circundará a região metropolitana de Recife e ligará o Norte do Estado, onde está o polo Jeep, até o porto de Suape, de onde os veículos serão embarcados para mercados internos e exportação.

Até a conclusão da obra, ainda sem data definida, os modelos produzidos pela FCA em Goiana seguirão em cegonheiras por longo trecho urbano, o que dificulda a logística. O transporte das primeiras unidades tem sido feito apenas no período noturno, em função do grande tráfego na região de Olinda, Paulista e Abreu e Lima, municípios da Grande Recife.

A FCA tem mais dois veículos para entrar em produção na nova fábrica até o fim de 2016. Além do SUV compacto, cujas vendas começaram há poucos dias, sairão de Goiana ainda este ano uma inédita picape média Fiat – já vista inclusive rodando nos arredores da fábrica pernambucana durante o evento – e, no ano que vem, outro modelo Jeep. Oficialmente, contudo, a montadora não confirma quais serão os veículos.

“Este foi também o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não somente uma fábrica de automóveis, mas de incluir em seu perímetro um parque de fornecedores de classe mundial”, afirmou Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura da FCA, que coordenou o projeto e a construção do complexo.

O Renegade já sai da linha com índice de nacionalização de mais de 70%. Nos próximos meses, diz a FCA, esse índice de localização deve superar 80%, porcentual que será perseguido também nos demais veículos a serem fabricados em Pernambuco. Apenas os fornecedores internos ao perímetro da fábrica já fornecem cerca de  40% dos conteúdos. Os demais têm origem em São Paulo, Minas Gerais e outros Estados – os investimentos no parque de fornecedores foram compartilhados com a FCA. A empresa investiu R$ 1 bilhão em obras civis e utilidades e os fornecedores mais R$ 1 bilhão em equipamentos.

Quatro modelos brigam pela liderança de vendas em abril

A disputa pela liderança de vendas por modelo em abril no mercado brasileiro está acirradíssima: nada menos do que quatro modelos disputam diretamente a ponta do ranking – e somente cerca de duzentas unidades separam o primeiro do quarto colocado até a segunda-feira, 27, restando três dias úteis até o fechamento definitivo do mês, da terça, 28, à quinta, 30.

O Hyundai HB20 ainda é o ponteiro no período, repetindo o resultado da primeira quinzena. O hatch da montadora de origem sul-coreana registra, até o dia 27, 7,3 mil emplacamentos de acordo com dados preliminares do Renavam obtidos pela Agência AutoData.

Mas o modelo vê rivais diretos muito próximos: os Fiat Palio e Strada somam, no mesmo período, 7,1 mil emplacamentos cada, idêntico resultado do Chevrolet Onix. Assim, qualquer um deles pode encerrar o mês à frente – o que para os modelos da Hyundai e da GM representaria um feito inédito.

Ao término da primeira metade do mês o HB20 acumulava quatrocentas unidades de vantagem para o Onix e quinhentas para o Palio e a Strada.

Bem distante da disputa está o VW Gol, que aos poucos se recupera no ranking dos mais vendidos, em quinto com 6,2 mil. Completam os dez primeiros o Uno, com 6,1 mil, Ka, 5,9 mil, Corolla, 4,8 mil, Prisma, 4,7 mil, e Sandero, também com 4,7 mil.

Mais uma vez destaque para o Honda HR-V, que no primeiro mês cheio de comercialização já soma 4 mil emplacamentos no período, o que lhe confere a 13ª. posição no geral. Além de registrar número bem acima dos concorrentes diretos – ainda que seja muito cedo para análise mais aprofundada de seu desempenho comercial –, seu volume é superior ao de modelos bem mais baratos, como Fiat Siena, 3,9 mil, Hyundai HB20S e VW Voyage, 3,7 mil, e VW Up!, 3,2 mil. O SUV compacto será certamente o Honda mais vendido de abril, pois o Fit, modelo da marca mais próximo na tabela, registra até a última segunda-feira 2,8 mil emplacamentos.

Anfavea cobra maior previsibilidade do governo

A Anfavea acredita que o pior já passou para o segmento de caminhões. Em apresentação no Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, na tarde da segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo, o vice-presidente da associação, Luiz Carlos Moraes, afirmou acreditar em retomada do mercado – entretanto condicionada à aprovação do ajuste fiscal do governo.

“Acreditamos que todas as ações do governo, aliadas à baixa confiança do consumidor e mudanças nos financiamentos, provocaram um adiamento na compra do caminhão. Essa dificuldade permanecerá enquanto o governo não aprovar o ajuste fiscal. Mas, passada esta etapa, a confiança será retomada.”

As projeções divulgadas por Moraes foram as mesmas apresentadas pelo presidente Luiz Moan na última entrevista coletiva à imprensa, no começo do mês: queda de 32% nas vendas de caminhões e ônibus, para 113 mil unidades – o setor de caminhões, isoladamente, responderia por 90 mil unidades em 2015.

Será um ano de patamares baixos. De 2005 ao ano passado a média de licenciamentos do segmento alcançou 113 mil unidades, segundo cálculos da Anfavea. “Estamos em um patamar alto de vendas [na média], porém com volatilidade”.

Moraes cobrou do governo maior previsibilidade, principalmente com relação aos financiamentos. Ele citou como exemplo a situação do Finame PSI nos últimos dois anos, cuja regulamentação saiu apenas ao fim do primeiro bimestre, prejudicando dois meses de vendas.

“Não podemos trabalhar com essa insegurança: as coisas precisam ser mais previsíveis. As indefinições são ruins para os clientes, para os bancos, para a rede de concessionárias, para os implementadores e para a indústria. A previsibilidade é fundamental.”

O vice-presidente da Anfavea abordou também o programa nacional de renovação de frota que, segundo seus cálculos, poderia alavancar a venda de cerca de 30 mil caminhões por ano. Ele evitou, entretanto, afirmar se o programa sai ainda este ano.

Outro ponto lembrado por Moraes foi a agenda positiva que o governo pretende começar a adotar – o dirigente salientou que nas projeções da associação não há nenhuma compra governamental prevista. “Essa agenda positiva pode trazer benefícios para o setor, pois para construir aeroportos, ferrovias etc., caminhões são necessários. A infraestrutura demanda caminhão.”

Fim da greve M-B Moraes é também diretor de comunicação e relações institucionais da Mercedes-Benz e, ao fim de sua apresentação no Workshop AutoData, atendeu à reportagem da Agência AutoData para abordar a greve na unidade do ABCD da montadora, iniciada na quarta-feira, 22.

A paralisação terminou na segunda-feira, 27, após a montadora anunciar novo lay-off para 750 funcionários. Os 500 colaboradores que teriam os contratos de trabalho encerrados a partir de 4 de maio continuarão na empresa pelo menos até 15 de junho, com todos os custos arcados pela companhia, segundo Moraes. A eles se unirá grupo de 250 funcionários, que possuem estabilidade no emprego, que ficarão em lay-off até 30 de setembro.

Além disso, Moraes afirmou que a M-B abriu novo programa de demissão voluntária, PDV, na unidade do ABCD na própria segunda-feira, 27. “Até 15 de maio todos os trabalhadores podem aderir. Quem estiver de lay-off, sem estabilidade, recebe R$ 55 mil adicionais aos direitos trabalhistas. Os funcionários com estabilidade que quiserem aderir terão negociação caso a caso.”

Moraes afirmou que a M-B decidiu rever o fim dos contratos após negociações com o sindicato. “Mantivemos um diálogo constante e estamos em busca de novas alternativas para controlar o excedente na unidade, que é de 1,2 mil pessoas.”

Segundo comunicado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já há uma nova negociação marcada para 18 de maio. “Vamos avaliar o PDV. Se o resultado der conta de administrar o excedente, estará resolvido. Se não, haverá nova negociação e a mobilização será retomada com a mesma força”, afirmou em nota o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre.

Média diária de vendas de caminhões verá recuperação a partir de maio

Cerca de sete mil caminhões serão comercializados por mês no País a partir de maio. Esta é a previsão compartilhada por Ricardo Alouche, vice-presidente de Vendas, Marketing e Pós-Vendas da MAN Latin America, e Gilson Mansur, diretor de Vendas de Caminhões da Mercedes-Benz.

Ambos participaram de painel do Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, realizado na segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo, e nele afirmaram crença de melhora no cenário a partir do próximo mês.

“A média de vendas dos primeiros três meses deste ano ficou na faixa de 5,5 mil a seis mil caminhões. Parece pouco subir para sete mil, mas se conseguirmos chegar a este patamar já será um bom avanço”, avaliou Alouche.

A previsão um pouco mais otimista dos executivos está embasada em uma possível retomada no segmento de construção civil e na manutenção das taxas do programa Finame PSI.

“O que faltou até agora foi previsibilidade e esperamos que isso comece a mudar. Depois do episódio da Petrobras as companhias devem começar a tomar novos rumos e voltar a fazer negócios”, disse Mansur.

De acordo com Alouche “já não existe mais a expectativa que a taxa do Finame irá cair. Isso é bom, uma vez que essa possibilidade estava adiando as compras”.

Para o total deste ano os executivos esperam vendas no patamar de 80 mil a 85 mil unidades, abaixo portanto da expectativa da Anfavea, de 90 mil unidades. “Esse volume representa o tamanho do nosso mercado ao menos nos próximos dois anos, quando ainda estaremos passando por ajustes. Esperamos retomar o patamar dos bons tempos a partir de 2018”, avaliou Mansur.

Os executivos das duas montadoras de caminhões também apostam na iniciativa da Anfavea, Fenabrave e Abac, que prevê estimular os consumidores que já tem consórcios contemplados a retirarem o veículo. No caso de caminhões são cerca de 15 mil veículos em potencial, segundo cálculos dos executivos.

Segundo Alouche convencer os consumidores é um trabalho pontual. “Grande parte deles ainda não comprou o caminhão porque está sem serviço ou porque usa a carta como forma de investimento. O trabalho dos nossos vendedores será encontrar as exceções.”

Vendas de implementos pesados devem recuar 33% neste ano

As vendas de implementos pesados devem acompanhar a tendência de queda observada no segmento de caminhões e encerrar o ano em baixa. Segundo o presidente da Anfir, Alcides Braga, devem ser comercializados cerca de 40 mil reboques e semirreboques no País em 2015, ante 60 mil no ano passado – retração de 33%.

Braga revelou a projeção durante o Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões, realizado na segunda-feira, 27, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo. De acordo com o executivo mesmo com a baixa esperada o segmento ainda continua com um bom desempenho.

“O Brasil orbita na faixa de 50 mil reboques e semirreboques anuais. Se calcularmos a média de 2011 a 2014 temos 62 mil unidades. Ainda que a projeção de 2015 se concretize teremos uma média de 52 mil unidades nos últimos quatro anos, e isso ainda é bom número.”

O presidente da Anfir ressaltou o esforço da indústria para evitar demissões, em momento que os estoques chegam a cerca de dois meses. “A maioria das empresas está usando a bola de cristal e produzindo as formatações mais comuns na expectativa de que as vendas sejam retomadas. É uma tentativa para reduzir a ociosidade nas fábricas. O segmento, que sempre trabalhou por encomendas, agora se vê obrigado a produzir antes mesmo de vender.”

Pelos cálculos do dirigente a força de trabalho do setor já caiu 20% desde o final de 2014. “Há muitas medidas de flexibilização em andamento, mas as empresas ainda falam em mão de obra excedente.”

Cesar Pissetti, diretor de Marketing e Exportação da Randon, também participou do painel, no qual confirmou que o cenário é de dificuldades: “Estou há 42 anos na Randon. Passei pela concordata em 1982 e fazia muito tempo que não vivíamos um momento tão delicado”.

O diretor completou afirmando que os negócios na Argentina, onde a companhia mantém operação, estão ainda mais complicados. “Quem reclama do Brasil não imagina como é difícil na Argentina.”

Uma das saídas da Randon foi ampliar o foco nas exportações. Segundo o executivo 70% dos implementos exportados no País atualmente são da companhia: “Nós não priorizamos o mercado interno nem quando a situação aqui está favorável. Contamos com o mercado externo em todos os momentos e cultivamos nossos clientes. Em épocas como esta, isso é valioso.”

Apesar do momento complicado os dois executivos preveem o inicio de uma retomada no segundo semestre. Braga afirmou que manteve conversas com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, e disse que ele “afirmou de forma subliminar” que haverá um PAC 3. “Seriam demandados cerca de 2,5 mil caminhões e isso nos ajudaria muito.”

Já Pissetti aposta na realização da Fenatran como uma forma de reanimar a indústria. “É um lugar de rever amigos e de cultivar o otimismo.” Braga garantiu que 40 empresas do segmento já confirmaram presença na feira, que acontece em novembro.

Exportações: só potencial não basta para ganhar o jogo.

O Brasil tem potencial para exportar mais caminhões, mas a retomada não acontece de uma hora para a outra. Crescimento, mesmo, só deve ocorrer a médio e longo prazo. A análise foi apresentada pelo vice-presidente de vendas e marketing internacional da MAN Latin America, Marcos Forgioni, na segunda-feira, 27, em palestra sobre exportações do segmento no Workshop AutoData Tendências Setoriais – Caminhões:

“O Brasil tem o que exportar e tem condições de ampliar seus negócios no Exterior. Sem dúvida temos potencial. Mas só potencial não ganha o jogo”.

Forgioni destacou três fatores que considera essenciais para que a indústria automotiva nacional amplie suas exportações. Em primeiro lugar, a previsibilidade: “É difícil administrar vendas externas com o dólar variando de R$ 1,70 a R$ 3,20 em período relativamente curto considerando o perfil dos negócios externos.” Em segundo a necessidade de acordos comerciais na área de caminhões, citando o caso do México, que mantém parcerias com vários países nessa área e, no caso, o Brasil está de fora. Por último defende ser importante haver um instrumento de financiamento para quem quer comprar produto brasileiro: “Até existem alguns instrumentos em vigência, mas eles esbarram no excesso de burocracia. Há caso em que houve demora de um ano para o crédito ser aprovado”.

O vice-presidente da MAN apresentou um amplo balanço dos mercados latino-americanos e sul-africanos, regiões que concentram os principais negócios externos da companhia. Na América Latina, por exemplo, as vendas de caminhões chegaram a 285 mil unidades no ano passado, das quais praticamente a metade foi comercializada no Brasil: “Ou seja, há um outro Brasil na América Latina”. Comentou ainda sobre as especificidades de cada mercado, citando, por exemplo, que no Peru concorrem 62 marcas de caminhões, número que no Brasil está restrito a doze.

No caso da África as vendas de caminhões atingiram no ano passado 99 mil unidades.

No primeiro trimestre deste ano as vendas de caminhões na região latino-americana caíram 2%. Na avaliação de Forgioni o resultado do ano deverá ser estável em relação a 2014, com perspectiva de pequeno crescimento em 2016. Desde 1981, quando exportou seu primeiro veículo, a MAN totalizou vendas para fora de 130 mil caminhões, dos quais 75% embarcados nos últimos dez anos. “Nos próximos dez anos podemos mudar de patamar, mas não acredito em recuperação no curto prazo.”

Dentre as dificuldades enfrentadas na área externa o executivo destacou a questão da legislação de emissões: “Alguns países ainda estão no Euro 1, outros no Euro 0. Não temos como colocar Euro 5 nesses mercados por causa do preço, mais elevado. É só lembrar que até hoje não conseguimos repassar todos os custos do Euro 5 para os caminhões vendidos internamente”. Outro desafio é manter rede de vendas e assistência técnica em todos os países compradores – a MAN tem hoje 183 concessionárias na América Latina e África do Sul. Mantém linhas de montagem no México, Colômbia e África do Sul.

Com relação à conquista de mercados novos, Forgioni diz que sempre há oportunidades. Citou a África do Norte, um mercado com potencial, mas destacou que hoje os países dessa região são abastecidos pelos fabricantes europeus.

Ao som de Tim Maia

“Vou pedir pra você voltar/vou pedir pra você ficar/eu te amo/eu te quero bem…”

Consagrada pelo saudoso Tim Maia, essa é apenas uma das sessenta músicas que tocam dentro da fábrica da Jeep em Goiana, PE, indicando algum problema na linha de montagem final. No caso o funcionário acionado é Diego Pena Forte, que não à toa escolheu tal canção. Ouvi-la significa que alguém da sua área está requisitando sua presença o mais rápido possível.

Forte, de apenas 24 anos, é um dos sessenta team leader da linha de montagem final do Polo Automotivo Jeep, considerado o mais moderno complexo industrial da FCA, Fiat Chrysler Automobiles, no mundo.

A figura do team leader, responsável por um grupo de seis funcionários e identificado internamente por uma canção de livre escolha, é apenas uma de várias inovações.

Nascido em Goiana, Forte trabalhava como digitador em um posto fiscal na cidade quando foi informado por um colega que haveria seleção em uma montadora que estava se instalando por lá. Foi admitido na Jeep em 20 de janeiro de 2014, passou três meses na fábrica de Betim, MG, e outros três em Melfi, Itália, antes de virar team leader na fábrica pernambucana.

Formado em administração em uma faculdade local, pensa agora em uma pós-graduação em engenharia de produção: “Não teria tal oportunidade aqui se não fosse a fábrica. Profissionalmente estou bem melhor”.

ESPAÇO DIVIDIDO – Diego, assim como os demais 2,2 mil funcionários que trabalham na montadora, divide o espaço interno da fábrica com setencentos robôs – a maior parte,  650, nas prensas e funilaria, outros quarenta na pintura e dez na montagem final.

Justamente para integrar trabalhadores e equipamentos, a base de tudo no novo polo automotivo é o sistema de produção WCM, World Class Manufacturing, desenvolvido dentro do Grupo Fiat e depois estendido à Chrysler.

“O objetivo é assegurar a melhor interação do homem com a máquina, melhorando continuamente todos os processos. E aí entra o team leader”, explica Andrea Bellagarda, coordenador de WCM no Polo Automotivo Jeep.

O vice-presidente mundial de manufatura da FCA, Stefan Ketter, responsável pela implantação do novo polo, reforça: “O WCM baseia-se no envolvimento de pessoas e se alicerça na liderança da organização. Se você não tem liderança, não consegue envolvimento. E o team leader é elemento-chave desse processo. O bom funcionamento da fábrica depende decididamente da qualidade da liderança no dia a dia”.

Bellagarda destaca que os investimentos em automação priorizaram, além da qualidade, a ergonomia: “O objetivo é poupar os trabalhadores de esforços físicos e movimentos desconfortáveis que prejudicam sua saúde”.

Com esse conceito, um dos destaques na linha de montagem final é o skillet, carrinho que sobe e desce, adaptando-se à altura do trabalhador. “E sua base é de madeira, o que comprovadamente reduz o estresse nas costas”, informa Bellagarda.

A linha conta ainda com ganchos que giram lateralmente os carros, facilitando a montagem das peças nos lugares com acesso mais difícil. Também há ferramentas como a parafusadeira com controle de torque, que elimina o contragolpe ao final da operação. A acoplagem do powertrain, que vem por uma linha no nível do piso, com a carroceria, transportada via aérea, é feita automaticamente.

Responsável pela última etapa de todo o processo produtivo, a linha de montagem recebe mais de 1,8 mil autopeças, ou cerca de 800 quilos de componentes, que culminam no carro que sai da fábrica direto para a concessionária.

Atualmente a capacidade instalada é de 30 carros por hora, ou 180 mil por ano, e até o terceiro trimestre a operação já estará preparada para atingir 45 por hora ou 250 mil por ano.

Até chegar à montagem final são três etapas de produção, começando pela área de prensas que, segundo Bellagarda, envolve alto nível de tecnologia e precisão. As bobinas de aço são levadas à linha de corte fornecida pela Schuler, onde o material é limpo, estirado e cortado em chapas com dimensões distintas. Totalmente planas, as chapas seguem para duas linhas HTL, High Transfer Line, de estampagem, fornecidas pela Komatsu, que têm capacidade para dezoito estampos por minuto.

A próxima etapa é a funilaria, área na qual a FCA também garante ter inovado. Nela é possível trabalhar com a produção simultânea de até quatro modelos sem que as mudanças nas linhas gerem parada no processo produtivo.

Uma flexibilidade obtida a partir de tecnologia projetada e executada pela Comau, que desenvolveu uma linha com dezoito robôs instalados no piso e no teto e que envolvem a carroceria e aplicam cem pontos de solda em apenas sessenta segundos.

Todo o serviço de soldagem é feito em uma única estação, ao contrário do processo tradicional, que envolve três diferentes etapas – o que pode comprometer a precisão da geometria e dar origem a futuros problemas, como encaixe imperfeito de componentes e consequentes ruídos.

borboleta – Assim como em outras áreas da fábrica, a logística é peça-chave na funilaria, com operação baseada no sistema Butterfly, cujo nome surgiu da semelhança que o fluxo de produção das linhas, visto de cima, tem com o desenho de uma borboleta. Esse método de produção nasceu de forma embrionária na planta de Tychy, na Polônia, foi melhorado na unidade industrial de Pomigliano, na Itália, e agora chega ainda mais avançado em Goiana.

As peças vindas das prensas e do parque de fornecedores abastecem a linha de funilaria utilizando a metodologia just in time e para as movimentações internas são utilizados transportadores automáticos instalados no teto, chamados de conveyors. O transporte até a pintura também é feito de forma automatizada e aérea.

Na área de pintura  o processo dispensa o uso da primer, utilizando-se a tecnologia primerless, que assegura a qualidade final do veículo e a durabilidade da pintura, resultando ainda em menor consumo de energia e em menos emissões de produtos químicos na atmosfera.

Communication Center – O Polo Automotivo Jeep reúne, de acordo com os seus dirigentes, os 15 mil melhores processos, práticas e tecnologias acumulados pelo Grupo no mundo.
Uma das inovações é o Communication Center, considerado o cérebro de todo o complexo.

Com 11 mil m² de área construída, está localizado no centro da fábrica e é possível, a partir dessa área, percorrer a pé os pontos essenciais dos processos de produção, desde a área de prensas até os veículos prontos para entrega.

De acordo com Adauto Duarte, diretor de recursos humanos, o Communication Center da fábrica de Goiana, que reúne 150 profissionais, é um exemplo para a área de RH no mundo: “Aberta e sem divisórias, a área concentra nossas estações do escritório e se comunica com outras áreas da produção. Foi pensada para as pessoas trabalharem interagindo face a face, reduzindo a necessidade de envio de e-mails e de telefonemas”.

Segundo ele, o resultado de tal configuração é uma tomada de decisão rápida, uma organização eficiente da planta e o aumento no conhecimento do negócio.

No interior do departamento quatro áreas atuam em sinergia com esses conceitos: Centro de Componentes, Centro de Processos, Centro de Veículos e escritórios abertos.

Nessa mesma área está localizado o Espaço Jeep, ambiente para receber visitantes e crianças, decorado com arte e cultura regional, e dotado de painéis touchscreen com vídeos sobre a marca, o carro e tudo o que faz parte do polo. Também há um showroom com toda a gama de produtos Jeep.