Caso venha a ser efetivamente colocado em prática o PPE, Programa de Proteção ao Emprego, em gestação nos corredores do governo federal com apoio pela Anfavea e de alguns sindicatos de metalúrgicos, passou longe do teste de popularidade a que foi submetido na quinta-feira, 2.
Diante da demora na divulgação do plano pelo governo, a Mercedes-Benz e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC negociaram uma espécie de PPE próprio. A base do acordo previa redução de jornada de 20% com diminuição de 10% dos salários, termos similares aos previstos no PPE federal. O plano foi submetido a voto dos metalúrgicos dos três turnos da montadora na quinta-feira, 2, e o resultado saiu na sexta-feira, 3: rejeição por “ampla maioria”, segundo o sindicato, que não revelou números mais pormenorizados da votação.
Para Sérgio Nobre, diretor do Sindicato, em nota, “a negociação foi dificultada pela incerteza em relação à continuidade da queda na produção, a decisão da matriz de não carregar o custo sozinha e a recusa da empresa em discutir a situação dos acampados. O Sindicato entendeu que a proposta foi construída com muita responsabilidade. O voto em urna é para que cada trabalhador vote pela sua própria consciência”.
No fim de maio a Mercedes-Benz demitiu quinhentos funcionários, sendo que duzentos aderiram a PDV na data em que seriam cortados da empresa. Como protesto foi montado um acampamento em praça pública, próximo à entrada da montadora em São Bernardo do Campo, SP, que permanecia ativo até a sexta-feira, 3.
O Sindicato era claramente a favor do acordo. Para Aroaldo Oliveira da Silva, VP do Sindicato, “medidas como o layoff não tem sido suficientes para administrar o excedente” – que a montadora calcula em dois mil funcionários, mesmo com as quinhentas demissões já efetivadas. “A solução seria a retomada da produção e a previsão é que, se ocorrer, a melhora seja a partir de julho de 2016. O desafio é atravessar esse período sem demissões.”
A proposta rejeitada pelos metalúrgicos previa redução da jornada de trabalho em 20% de julho de 2015 a junho de 2016 com redução de 10% do salário para todos os trabalhadores da unidade do ABCD. Também estava previsto que caso o governo anunciasse a criação do PPE após a aprovação do acordo a montadora adotaria o sistema em lugar dos termos selados internamente. Ao final dos 12 meses seria feita recomposição integral dos salários, além da aplicação de 50% do INPC como reajuste em maio de 2016 – haveria ainda congelamento da evolução salarial até 2016.
Em contrapartida haveria estabilidade de todos os trabalhadores por um ano, de 1º. de agosto de 2015 a 30 de julho de 2016, e abertura de um novo PDV, destinado aos trabalhadores estáveis e aposentados. A quantidade de adesões a este Programa de Demissão Voluntária determinaria o número de trabalhadores recontratados pela empresa do total de trezentos demitidos em maio.
Após o resultado da votação o sindicato, em tom lacônico, informou apenas que “por enquanto não há nenhuma reunião marcada com a empresa”, acrescentando ainda que “os trabalhadores estão em banco de horas até o dia 10 de julho”.
De qualquer forma, o sindicato assegurou que “o que vale é vontade do trabalhador”.