Continental Pneus inaugura recapadora própria

Após três anos competindo no segmento de recapagem de pneus com parcerias, a Continental inaugurou sua primeira recapadora própria no Brasil – e na América do Sul. A Best Drive ocupa uma área de 1,8 mil m² em Mogi das Cruzes, SP, emprega trinta pessoas e tem capacidade inicial para produzir até 1,5 mil pneus recapados para veículos comerciais por mês.

A unidade foi projetada pensando em uma eventual expansão para até 5 mil pneus por mês, com o mesmo leiaute e maquinário. Abriga ainda espaço para venda de pneus novos, serviços de montagem, desmontagem, alinhamento, balanceamento, manutenção de eixos, suspensão e freios, com equipamentos automatizados de alta tecnologia.

Em comunicado Renato Sarzano, diretor-superintendente da Continental Pneus para o Mercosul, afirmou que a inauguração dá sequência à estratégia de entrar no segmento de recapagem de pneus no Brasil, há três anos.

“Começamos com a comercialização das bandas de rolagem ContiTread. Depois abrimos vinte unidades recapadoras em conjunto com parceiros. A Best Drive é uma evolução natural da empresa nesse nicho”.

O mercado brasileiro de reforma de pneus tem volume de cerca de 8,8 milhões de pneus de carga por ano, o segundo maior do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo dados da ABR, Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus, o setor movimenta R$ 5 bilhões, com 1,2 mil reformadoras de pneus comerciais, 18 fornecedores de matérias-primas e mais de 40 mil empregos diretos.

Governo regulamenta Programa de Proteção ao Emprego

O Comitê Interministerial do Programa de Proteção ao Emprego anunciou na terça-feira, 21, as regras, funcionamento e procedimentos para adesão ao PPE – cumprindo, assim, o cronograma de quinze dias estipulado durante o anúncio da criação do programa.

Desenvolvido para evitar demissões em massa decorrentes da crise que atinge setores da indústria, como o automotivo, o PPE permite reduzir em até 30% a jornada de trabalho e os vencimentos do trabalhador, com desembolso de 50% dessa redução pelo FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador, para complementar parte da perda do salário.

Não houve limitação setorial para o ingresso ao programa, segundo informações do MTE, Ministério do Trabalho e Emprego. Empresas de diversos portes e segmentos poderão aderir ao PPE, com prazo máximo de permanência limitado a doze meses, desde que estejam em plena regularidade fiscal, previdenciária e relativa ao FGTS. Os acordos deverão ser firmados com os sindicatos e aceitos pela maioria dos trabalhadores, após votações em assembleias.

O comitê também colocou como regra a empresa apurar até 1% no Indicador Líquido de Emprego, calculado com base no total de demissões e admissões dos doze meses anteriores à solicitação de adesões.

O cálculo funciona dessa maneira: se nos últimos doze meses uma companhia que emprega 1 mil colaboradores contratou 100 trabalhadores e demitiu 120 funcionários, terá geração formal negativa de 20 postos de trabalho. Dividindo este déficit pelo estoque de empregos, 1 mil funcionários, chegará ao porcentual de -2% de empregos gerados nos últimos doze meses, possibilitando à empresa se credenciar no PPE.

As empresas que aderirem ao programa não podem demitir trabalhadores com jornada reduzida durante todo o período, com mais 30% do prazo de carência. O empregador também não pode contratar funcionários para executar as mesmas atividades exercidas por estes trabalhadores com jornada e salários reduzidos. Quem não cumprir os termos terá que restituir ao FAT os recursos recebidos com correção e pagará uma multa de 100% do mesmo valor.

O formulário para cadastro estará disponível no portal Mais Empregos, do MTE, e todas as regras serão publicadas em pormenores na edição de quarta-feira, 22, do Diário Oficial da União.

Na cerimônia em que as regras foram divulgadas em Brasília, DF, os integrantes do comitê estimaram adesão de 50 mil trabalhadores.

À equipe de Comunicação do MTE Luiz Moan, presidente da Anfavea, afirmou que o programa ajudará a recuperar a confiança do consumidor brasileiro, que está abalada principalmente pela falta de segurança na manutenção do emprego.

Segundo Moan algumas montadoras já discutem com o sindicato a adesão ao PPE, mas não estimou prazo para ocorrerem as primeiras adesões. “O processo não é rápido. Empresa e sindicato precisam primeiro chegar a um acordo, que depois deverá ser aprovado pelos trabalhadores, em assembleia. Mas tenho a convicção de que é um programa de extrema importância, não só para o setor automotivo, mas para todos os setores empresariais brasileiros”.

Chery Tiggo 5 nacional será diferente do importado

A Chery anunciou na noite da segunda-feira, 20, investimento adicional de R$ 400 milhões na unidade de Jacareí, no Vale do Paraíba, que, entende, marca celebração de um ano da fábrica – inaugurada no fim de agosto do ano passado mas com início efetivo de produção apenas no último fevereiro.

O montante será aplicado na construção de nova linha de montagem para produção de um SUV, o Tiggo 5, que chegará ao País no fim do ano importado da China. De acordo com fonte ligada à montadora, entretanto, a versão nacional será diferente desta, especialmente em aspectos do design. O modelo original foi mostrado no estande da montadora no Salão do Automóvel, em São Paulo, em outubro de 2014.

De acordo com a fabricante as primeiras unidades deverão sair da nova linha, com capacidade para montar até 30 mil unidades/ano, em 18 meses, gerando 220 vagas de emprego, levando o quadro a pouco mais de novecentos.

O Tiggo 5 nacional será assim o terceiro modelo Made in Jacareí: já é produzido ali o Celer, em carrocerias hatch e sedã, e a montadora promete até o fim do ano o novo QQ, que agregará mais duzentos funcionários aos atualmente quinhentos.

A Chery ainda aproveitou a ocasião para confirmar a construção de parque de fornecedores ao redor da planta, iniciativa anunciada em maio: o plano prevê 24 empresas instaladas ali, para fornecimento de rodas, amortecedores, freios, sistema de direção, bancos, tanques de combustível, motores e transmissões. A montadora diz que oito fabricantes de peças estão em “negociação avançada” e uma já opera ali, a Brazul, de logística. A estimativa é de investimento somado de US$ 300 milhões.

As interessadas terão à disposição benefícios patrocinados pela prefeitura: isenção de IPTU por quatro anos e do ITBI, cobrado na compra de imóveis e terrenos, além de ressarcimento dos custos da obra via créditos tributários municipais.

O cronograma prevê início da construção do polo ainda neste segundo semestre e início de operação efetiva em dois anos, com geração de cinco mil empregos.

Automóveis estáveis no segundo semestre ante o primeiro

Ritmo de vendas do segundo semestre semelhante àquele que o mercado assistiu no primeiro semestre. Este cenário resume o sentimento de representantes das fabricantes de automóveis e comerciais leves participantes de painel no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, realizado na segunda-feira, 20, na sede do Fecomercio, em São Paulo.

Marcos Munhoz, vice-presidente da General Motors do Brasil, no entanto, lembra que há uma matemática a ser feita para o período que agora segue: “Além da sazonalidade tradicional do segundo semestre, geralmente melhor que o primeiro, há uma diferença de 7% no número de dias úteis, para mais. O mercado do ano deve somar em torno de 2,7 milhões de unidades, o que acredito ser um volume razoável.”

Na análise de Bruno Hohmann, diretor de marketing da Renault, os segmentos que mais sofrem são o de entrada e o de comerciais leves, devido à falta de confiança do consumidor e dificuldade de crédito, mas o registro de crescimento de 4% na venda de usados, para mais de 4,2 milhões nos primeiros seis meses, o faz acreditar no potencial das vendas quando o mercado de 0 KM retomar. “Aquele que não está comprando carro novo adquire um usado. O consumidor brasileiro ainda tem o carro como um sonho a ser conquistado. Em dezembro, por exemplo, com o 13º. salário na mão, ele irá querer sair de férias com o carro novo e isso pode dar uma leve aquecida no fim do ano.”

Embora não se tenha outra expectativa geral senão a queda de vendas no mercado, na Toyota o ambiente é mais amistoso. Segundo Luiz Carlos Andrade Jr., vice-presidente, a companhia cresceu 3% no primeiro semestre enquanto o mercado de automóveis e comerciais leves caiu 20%. Sua expectativa é encerrar o ano com vendas de 195 mil unidades negociadas, o mesmo volume do ano passado. “Nossa visão é lastreada não no otimismo, mas no trabalho. Nesse momento é mais importante olhar para dentro de casa.”

Como ponto fora da curva, o executivo da Toyota ainda contou que está em negociação com o sindicato local para aumento de horas extras na unidade e Indaiatuba, SP, onde produz o Corolla. Hohmann, da Renault, também disse ter esperança em maior participação no segmento B, devido ao recente aumento de mix no portfólio de produtos da empresa, o que também resulta em menores fatias para as chamadas Quatro Grandes.

“É um processo de amadurecimento do mercado. A própria Renault mostrou melhor desempenho ao crescer sua gama. Antes cobríamos 70% da oferta no mercado, com o Duster alcançamos 80% e com a picape Oroch teremos mais alguns pontos nesse índice.”

Andrade Jr., da Toyota, completa: “A menor participação das fabricantes grandes é algo que já estava para acontecer. Nenhum mercado no mundo, com exceção do Brasil, vive com fabricantes com 30%, 40% de participação. Isso vai mudar aqui também”.

O vice-presidente da GM admite que as grandes terão de ceder espaço. Mas como seus colegas aponta o portfólio como fundamental para galgar posições e lembra que a própria GM conquistou liderança de vendas no varejo em virtude de uma linha de produtos renovada. “A GM resolveu renovar quase todo o seu portfólio ao mesmo tempo. Foi um processo de 15 meses, fundamental para colhermos agora o que plantamos.”

Análise unânime de todos os executivos do painel, independentemente da crise que o País atravessa, trata do investimento, que precisa ser contínuo, caso contrário perde-se o bonde, e de que as empresas do setor poderão sair melhor disso tudo. Como resumiu Andrade Jr., “a visão é estratégica e de longo prazo para qualquer que seja a montadora. No caso da Toyota, ao investir aqui ela planejou o queria do mercado brasileiro. Tinha em mente que viveria a montanha russa habitual da região. Quem tanto quer estabilidade que invista no mercado suíço”.

 

Quando a economia domina e a política determina

Letícia Costa, diretora da Prada Consultoria, aponta uma possibilidade na economia: a de que a inflexão rumo ao crescimento possa vir a acontecer, para o setor automotivo, em algum instante próximo ao segundo semestre do ano que vem. Mas que pode tomar uma outra forma, não a de retomada mas a de crise que simplesmente para de piorar. Ela aponta um risco político: o de a presidente da República ser mantida isolada, com poucos aliados no Congresso, como está hoje, até o fim de seu mandato. Para o setor automotivo, fabricantes de veículos e de autopeças, reservou recomendação: dediquem-se mais à reposição e à exportação.

Ela também reservou observações, durante palestra no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, realizado na segunda-feira, 20, na Fecomercio, em São Paulo, para a indústria brasileira, independente de setor, sugerindo fortemente que se prepare – embora esteja muito atrasada nesse embate – para vencer a batalha pela competitividade por meio de todas as ferramentas disponíveis para se alcançar a produtividade a todo o custo.

Na primeira parte de sua exposição ela situou a crise brasileira diante do que acontece no mundo, como crises hídrica e energética – que só não é maior por causa da recessão –, preço do petróleo em baixa, crise na Grécia, China desacelerando seu crescimento. Logo a China, importante parceiro de negócios do Brasil. E criticou o governo pela fuga do cumprimento do superávit primário de suas contas e por sua forma de tratar as contas públicas.

“E aí a crise política teve a capacidade de amplificar a crise econômica, e 1,2% de superávit em 2015 é meta quase impossível. A consequência é a possibilidade da perda, pelo País, de seu grau de investimento, o que, certamente, afastará investimentos daqui, uma fuga do capital de que precisamos. Daí a importância de se perseguir aquela meta de 1,2%.”

A política desenvolvimentista adotada no primeiro mandato da presidente não fechou suas contas, e a crise política foi amplificada mais uma vez “com tanto disse e desdisse durante e pós campanha, que levou à perda de sua credibilidade junto à opinião pública e a uma dura realidade: neste instante nenhuma força política quer colar seu futuro ao dela”.

Junte-se, então, recessão, queda avaliada de 2% no PIB, inflação alta – que cobra as contas do passado recente –, desemprego em alta, taxa de juros idem: “É o preço da inflação durante o primeiro mandato, quatro anos tentando dribles sem enfrentá-la de verdade”.

Letícia Costa até acredita que a ansiada luz no fim do túnel possa surgir, em alguma dimensão, no curto prazo, “mas talvez seja mais realista acreditar no risco da situação piorar, um pouco mais que seja, antes de começar a melhorar”.

Em 2016 a inflação deve cair, ela acredita, quem sabe até rapidamente?, por causa dos ajustes, a taxa Selic também deverá baixar, e o PIB poderá chegar a crescimento de 0,5%. Tudo deverá estar melhor no segundo semestre do ano que vem, no começo de 2017 – mas até chegar lá teremos um segundo semestre difícil em função da questão política, de um Congresso arredio que força a presidente a vetar decisões em tese populares, justas, mas, neste instante, anti-ajuste.

Esta geléia geral desandada gera crise de confiança que é comum a empresários e a consumidores, é certo, em índices que superam os registrados na crise de 2008. Independente da efemeridade de mais uma crise, porém, Letícia Costa insiste naquela outra lição de casa, que é a batalha pela produtividade visando à competitividade, que são virtudes permanentes.

Cortes: retomada apenas no ano que vem.

O sempre otimista Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America, afirmou durante sua apresentação no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, na segunda-feira, 20, na Fecomércio, em São Paulo, que acredita em retomada do setor de caminhões no ano que vem. Sem citar números, o executivo disse que a produção e as vendas em 2016 deverão ficar em nível intermediário dos volumes de 2014 e 2015.

O executivo acredita se houver melhoria no nível da atividade econômica, da confiança do consumidor e no retorno de incentivos, como o PSI e a renovação de frota, além da retomada da Argentina, o mercado poderá crescer até um pouco mais em 2016.

No ano passado a indústria vendeu 137 mil unidades e produziu 140 mil caminhões. “Neste ano vamos cair mais ou menos pela metade”.

Cortes disse que neste momento o setor de caminhões passa pela tempestade perfeita. Compõem essa tempestade, segundo ele, a instabilidade política, nível baixo de confiança do empresário, recessão econômica, aumento no custo do financiamento, inflação e câmbio em alta e parada nas obras de infraestrutura, que se aliam ao corte drástico nas compras de caminhões pelo governo, aumento na concorrência com a chegada de novas marcas e dificuldades nos mercados de exportação.

“Como consequência há excesso de capacidade, de pessoal e uma guerra de preços que provoca prejuízos na indústria. A saúde financeira do negócio me preocupa”.

Segundo cálculos do presidente da MAN Latin America, a ociosidade na indústria de caminhões alcança 70%. Na fábrica da companhia em Resende, RJ, já foram tomadas medidas como férias coletivas, lay offs e PDVs. “Estamos com um turno de produção suspenso”.

Ele refuta, porém, a possibilidade de a crise ser duradoura. “Se a crise fosse de longo prazo as empresas estariam cortando investimentos e eliminando turnos de produção. A gente vê manutenção dos investimentos e suspensões de turnos”.

Cortes ainda citou algumas medidas que o governo poderia tomar para ajudar na retomada da indústria de caminhões. O retorno do processo simplificado nos financiamentos do BNDES, além do retorno de 100% do valor do bem financiável no Finame, a adoção de uma linha do banco de fomento para modelos usados e a adoção do esperado programa de renovação de frota são alguns dos pleitos do executivo.

Máquinas: um segundo semestre como o primeiro.

O segmento brasileiro de maquinário, tanto agrícola quanto de construção, vê sem desespero o resultado do primeiro semestre, de queda nas vendas, e repete esta forma de enxergar os fatos mesmo diante de previsão da repetição destes níveis de retração no segundo semestre, dando ao ano resultados ruins. A visão mais adiante é animadora, o que aplaca este cenário do curto prazo.

Segundo dados da Anfavea o primeiro semestre terminou com retração de 25% nas vendas no atacado, para 24,7 mil unidades ante 33 mil um ano antes.

Painel que reuniu grandes representantes do segmento – Afrânio Chueire, Presidente da Volvo Construction Equipment Latin America, Bernhard Kiep, Vice-Presidente de marketing, Pós-vendas, Gestão de Produtos e Desenvolvimento de Concessionárias América do Sul da AGCO, Rafael Miotto, Diretor de Planejamento e Portfólio de Produtos da CNH Industrial e Roque Reis, Vice-Presidente Comercial e de Marketing América Latina da Case Construction – no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, realizado na segunda-feira, 20, em São Paulo, deixou claro que a tendência de crescimento no Brasil e na América Latina é fortíssimo, com muitas oportunidades à frente, ainda que com os números deste ano em baixa.

Kiep, por exemplo, assegurou que “não existe lugar mais abençoado no mundo para o agronegócio do que o Brasil. A situação atual deve se recuperar em dois anos, e a projeção é boa”. Mioto acrescentou ser fácil a explicação para o que considera “constante otimismo” do segmento: “Por muitos anos o Brasil e a América Latina terão oportunidades para máquinas agrícolas. Por um lado ainda existe muito agricultor sem máquina, e todos os países da América Latina querem imitar o programa Mais Alimentos brasileiro. No outro lado há os que já as têm mas querem elevar a produtividade e investirão para isso. Temos um potencial impressionante para mais dez anos, e o Brasil é um dos poucos países do globo a contar com isso”.

O executivo ainda estimou quadro positivo para diversos segmentos da agricultura, bem como as condições para investimento em maquinário. “Hoje há um efeito psicológico que limita o investimento imediato, que também está associado a aportes realizados nos últimos 4 a 5 anos. Mas o Plano Safra trouxe montante de recursos para financiamento 20% maiores [do que o anterior], e ainda que a fatia total para maquinário seja menor a do Moderfrota, que é o canal mais importante para nós, cresceu. A chave será a velocidade da liberação, mas outra boa notícia é que as taxas de juros foram mantidas nos mesmos patamares, e tínhamos receio de que viessem a subir, o que felizmente não aconteceu.”

E Kiep emendou com a sempre importante constatação de que “todos nós temos contato com a agricultura pelo menos três vezes por dia, que é quando comemos: a comida é produzida por um agricultor”. O palestrante assegurou que as montadoras “ainda têm muita tecnologia para trazer, e por isso os fornecedores não devem perder a esperança diante do cenário atual, mas sim trabalhar mais próximos das montadoras, pois muito da automatização do agronegócio será de nossa responsabilidade”. Ele citou como exemplo o fato de que no País menos de 15% dos tratores que trabalham campo contam com cabine, e para ele “esse índice vai crescer, aumentando assim o mercado”.
Nas máquinas de construção Chueire salientou que em 2013 e 2014 o governo federal adquiriu muitas máquinas, redistribuídas a pequenas prefeituras, e que se descontando esse volume do comparativo com o ano passado a baixa de 50% do primeiro semestre ajusta-se para 35%. Além disso a produção caiu menos, 18%, ainda que “o mercado caiu não só no Brasil mas também nos outros mercados da América Latina, o que dificulta um pouco a retomada via exportações”.

Entretanto o cenário à frente também é promissor para este subsegmento pois, recordou o executivo, “há fabricantes também na Argentina e no México, mas uma indústria completa e estruturada para máquinas de construção, na região, só existe no Brasil”. Sua preocupação principal é “que isso seja preservado, pois a recuperação da economia passa por um viés político, o que deve demorar mais 2 a 3 anos”.

Chueire, de qualquer forma, deixou claro que “esta crise apresenta quadro muito melhor do que as ocorridas anos atrás. O Brasil não está quebrando: o que temos é um nó politico, que precisa ser desfeito para destravar as medidas fiscais”.

Os participantes desta faixa não demonstraram grande empolgação com o recente anúncio de plano de investimento em infraestrutura do governo federal, estimado em quase R$ 20 bilhões. Para Reis, “não deve gerar grandes negócios neste ano e no próximo, pois ainda existe população de máquina ociosa. É um projeto de longo prazo”.

Autopeças: cenário negativo deverá durar mais doze meses.

Perdurará por pelo menos mais um ano a situação de retração na indústria de autopeças. Essa foi a conclusão dos participantes do Painel Autopeças/Sistemistas OEM e Mercado de Reposição, que iniciou a programação da tarde de segunda-feira, 20, no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, na Fecomércio, em São Paulo.

Luiz Corrallo, presidente da Delphi, afirmou que não vê reversão na falta de confiança do consumidor, principal motivo para a crise que atualmente afeta a indústria automotiva brasileira. “É uma utopia achar que sairemos dessa crise nos próximos seis meses. Essa falta de confiança deverá continuar por mais doze meses”.

Opinião parecida tem Besaliel Botelho, presidente da Bosch: “Haverá queda no segundo semestre. Não vejo cenário de melhora nem no primeiro semestre de 2016. Os efeitos das demissões começarão a ser sentidos apenas agora neste trimestre, o que elevará a insegurança. Acredito que ainda não chegamos ao fundo do poço, mas estamos próximos a ele”.

O executivo da Bosch considera esta década perdida para o setor de autopeças nacional. “O faturamento da Bosch vai cair cerca de 9% este ano, mesmo com a ajuda das exportações, que ajudam um pouco a reduzir essa queda. Isso porque já faz anos que investimos em produtividade e novas tecnologias para reduzir nossos custos de produção”.

Citando dados do Sindipeças, o conselheiro Gábor Deák afirmou que de 2013 para este ano o setor deverá encolher mais de 50%, passando de um faturamento de US$ 40,6 bilhões para US$ 19 bilhões. O cenário afetou também os quadros de funcionários das empresas: segundo Deák o setor emprega 165 mil trabalhadores, ante 220 mil em 2013.

“Estamos com uma agenda junto ao governo procurando melhorar a condição, em especial das pequenas e médias empresas. Ações para aprimorar exportações, melhorias no sistema trabalhistas, renovação de frota, inspeção veicular”, afirmou Deák, sem especificar prazos para que esses pleitos sejam atendidos.

Internamente as empresas aproveitam para aprimorar a produtividade e ampliar o escopo de vendas. Se o objetivo no curto prazo é estancar os efeitos da crise, mais à frente existe a possibilidade de colher frutos, quando o mercado eventualmente retomar.

“Passamos a olhar com mais carinho para mercados externos, não só em oportunidades do curto prazo. Quando o mercado estava aquecido não conseguíamos atender essas demandas, mas agora queremos mudar o perfil e reduzir a dependência das vendas doméstica em nossos negócios”, afirmou Corrallo.

Pedro Ferro, CEO da Fras-le – empresa que, devido a sua internacionalização, não sente tanto os efeitos da retração do mercado nacional em seus negócios – alertou que os brasileiros devem pensar de forma mais abrangente quando falam em melhora da produtividade.

“Os custos de mão de obra são só uma parte [da melhora na produtividade]. Nós temos que pensar em produtos com custo mais baixo e boa qualidade, que é o que os consumidores procuram. Às vezes focamos muito em proteção de leis, regulamentações e não enfrentamos o problema de frente”.

Motores: diversificação geográfica e de segmentos.

Diversificar negócios e mercados foi a alternativa adotada pelas fabricantes independentes de motores diesel para mitigar os efeitos da retração nas vendas de caminhões e máquinas agrícolas.

Em painel no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, organizado por AutoData na segunda-feira, 20, na Fecomércio, em São Paulo, Luiz Pasquotto, presidente da Cummins, Marco Aurélio Rangel, presidente da FPT e Thomas Püschel, diretor de vendas e marketing da MWM Motores, traçaram o cenário do segmento para o segundo semestre e analisaram a conjuntura do mercado.

Pasquotto e Püschel afirmaram que suas empresas, Cummins e MWM Motores, respectivamente, fecharão o ano com retração de cerca de 25% com relação aos volumes do ano passado. Já Rangel projeta queda menor: recuo de 11% nos negócios da FPT.

“A reposição ajuda a mitigar a queda, mas não impede o recuo nos negócios”, afirmou Püschel. A MWM Motores busca clientes em outros segmentos e países e comemora aumento no crescimento de outros negócios. “As exportações deverão contribuir significativamente nos resultados do segundo semestre: esperamos aumento de 30%. Não só em motores como em outros negócios, como peças de reposição, em alta de 17%, e de componentes, como os blocos que usinamos aqui, que também está crescente”.

Pasquotto afirmou que a Cummins está em processo de diversificação geográfica, aproveitando a valorização do dólar que colabora para a competitividade dos produtos brasileiros. “Colocamos foco no segmento de pós-vendas e conseguimos bons resultados na Argentina, cujas vendas dobraram, e no Chile, com aumento de 40%”.

Mesma estratégia foi adotada pela FPT, que também colhe bons resultados: “Nossa produção cai na casa dos 13%, enquanto o mercado de caminhões recuou mais de 40% e de máquinas em torno de 20%”.

Todos seguem otimistas com o mercado brasileiro e afirmaram seguir investindo, seja em pesquisa e desenvolvimento, seja em novos produtos e melhorias internas, para incrementar a oportunidade. Mas uma eventual retomada nas vendas locais ainda não está no radar dos executivos para a segunda metade do ano.

“Para esse segundo semestre os clientes seguem promovendo ajustes na demanda, com ritmo menor nas fábricas. O fundo do poço ainda não foi alcançado, acho que permaneceremos nesse ritmo mais lento até pelo menos o segundo trimestre de 2016”, avaliou Rangel.

Pasquotto vê cenário parecido e relatou também paradas programadas pelos clientes, embora sem surpresas negativas como as encaradas no primeiro semestre. Püschel, por sua vez, acredita em um segundo semestre ligeiramente melhor do que o primeiro.

Caminhões e ônibus: curva inverte a partir de 2016.

A crise no setor de transportes, tanto para os caminhões quanto ônibus, está ligada essencialmente à baixa da atividade econômica e à queda na confiança do investidor. A opinião foi unânime pelos participantes de painel dedicado aos veículos comerciais no Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2015, realizado na segunda-feira, 20, na Fecomercio, zona central de São Paulo: Ricardo Alouche, vice- presidente de vendas e marketing da MAN Latin America, Bernardo Fedalto Jr., diretor comercial de caminhões da Volvo, Gilson Mansur, diretor de vendas caminhões da Mercedes-Benz, e Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz.

Alouche não acredita que o mercado de caminhões possa cair ainda mais – o índice foi de 42% no primeiro semestre ante mesmo período de 2014. “Já chegamos ao fundo do poço e deve haver uma pequena reação de mercado a partir do segundo semestre. A crise é de confiança do empresário no negócio dele. Em 2016 acreditamos que a curva se inverterá e ali começa a aparecer a recuperação, ainda que não em índices como vimos há alguns anos, de 10% a 20%, mas, sim, uma pequena elevação.”

Fedalto acrescentou acreditar que “nos próximos três meses as vendas ainda vão andar de lado e a recuperação deve acontecer mais no fim do ano, começo do ano que vem. Lembro que os negócios de hoje vão aparecer nas estatísticas de emplacamento só daqui a 45 a 60 dias. O segmento é pró-cíclico: a retomada pode ser mais rápida que a da própria economia, ou proporcionalmente melhor”.

Mansur vê “um segundo semestre melhor sim: historicamente o comércio puxa mais [os negócios] que agricultura, então dos cerca de seis mil caminhões vendidos ao mês em média na primeira metade do ano podemos passar para sete, sete mil e quinhentos ao mês no segundo semestre”. O executivo ponderou que nos próximos meses “ainda haverá muito assunto para vender revista em banca, mas temos que esquecer um pouco o que sai na Veja, IstoÉ e outras e trabalhar”.

Para os ônibus, Alouche lembrou que o programa federal Caminho da Escola respondia por compras constantes mas desde o ano passado o volume baixou significativamente: “Entregamos unidades no primeiro semestre mas tudo da licitação do ano passado já foi atendido. Nova licitação deve ocorrer até o fim de agosto, com a compra efetiva no ano que vem, com volume total menor, talvez pouca coisa, no fim deste ano”. Ele garantiu que há liberação de recursos de pagamento por parte do governo para as empresas, “mas na base do conta-gota, de forma bem gradativa e defasada”. Pelos cálculos do executivo o mercado total de ônibus deverá fechar este ano de 18 mil a 19 mil unidades, ante 23 mil unidades comercializadas em 2014.

Barbosa complementou recordando que “o maior impacto [da baixa de mercado] foi no segmento rodoviário, de 48%, sem considerar o segmento de fretamento, basicamente pelo atraso da homologação da autorização do sistema de autorização das linhas. Esta ocorreu no último dia 25, então existe um cenário mais positivo para os próximos 4 anos, de seis mil a oito mil veículos precisarão ser renovados para reduzir a idade media de 8,7 para 5 anos”. Para o executivo, este movimento tende a iniciar o processo de compras ainda no fim do ano. “De qualquer forma temos a expectativa de na segunda metade do ano repetir a primeira, de nove mil unidades, então no total do ano devemos ter dezoito mil. Acreditamos que em dois anos voltaremos à faixa de 25 mil a 26 mil ao ano, retomando assim a condição de terceiro maior mercado do segmento no mundo. Não custa lembrar que no brasil temos 570 mil ônibus com idade média de 15 anos: há uma oportunidade gigantesca à frente” – começando pelas licitações de renovação da frota de urbanos previstas para as cidades de São Paulo e Porto Alegre.