Uma das mais belas cadeias de montanhas do mundo, a Cordilheira dos Andes é por sua própria natureza um enorme desafio para os que pretendem atravessá-la. Operadores logísticos, transportadoras e caminhoneiros enfrentam diariamente este colosso sul-americano com suas cargas.
Um dos trechos mais fantásticos das rodovias que cruzam a Cordilheira é aquele denominado Los Caracoles, em território chileno, logo após a fronteira com a Argentina. O trecho corresponde a uma elevação de impressionantes 3,2 mil metros, e para tornar possível percorrer a montanha a estrada foi construída de forma bem sinuosa, com inúmeras curvas extremamente fechadas, em U.
Dadas as circunstâncias do traçado o trecho acumula altos índices de acidentes e mortes, especialmente com caminhões – parece mesmo tarefa dificílima domar dezenas de toneladas por curvas tão pronunciadas, em especial na descida. Para Manuel Manrique, entretanto, a principal causa é a imprudência: “Os motoristas confiam em excesso nos seus equipamentos”, opina com a experiência de quem enfrenta os Caracoles desde 1978 – ele trabalha para a RRCia Internacional e participou de uma série de documentários produzida pela Volvo.
Manrique dirige para a RRCia no transporte frutas de e para vários países da América do Sul. A empresa foi fundada em 1981 em Santiago, capital do Chile, e tem nos Caracoles uma de suas principais rotas – faz Santiago a Buenos Aires e também a Mar del Plata, ambas na Argentina.
A empresa possui frota de 100 caminhões Volvo, a maioria do modelo FH equipado com motores com potências de 540 cv, 500 cv e 460 cv. Além de frutas, em especial banana e kiwi, transporta para cima e para baixo – na concepção mais prática possível desta expressão – também produtos de saúde, higiene e limpeza, e gêneros alimentícios.
Raúl Clavero, diretor geral da transportadora, esteve no Brasil nesta semana para participar de um seminário promovido pela fabricante, em que debateu-se a conectividade em veículos de transporte. O dirigente é fã das possibilidades que a tecnologia pode proporcionar para melhoria da produtividade e da segurança: “Nosso objetivo é melhorar os padrões do transporte rodoviário internacional por meio da capacitação constante dos nossos motoristas e da utilização de novas tecnologias”.
A RRCia utiliza em seus caminhões sistema de gerenciamento de frota oferecido pela própria Volvo, denominado Dynafleet, que oferece via internet rastreamento de quase tudo que acontece no veículo, permitindo melhores níveis de consumo de combustível, controle do tempo e desgaste de componentes. Mas Clavero claramente acha isso pouco, bem pouco – e sonha com tempos melhores, mais modernos e seguros para o transporte rodoviário.
“Fazemos cerca de 1,7 mil viagens pelos Caracoles anualmente. Um motorista experiente como o Manuel Manrique conhece cada curva, cada metro daquele trecho. Mas como fica um motorista novato? Mesmo os mais modernos sistemas de rastreamento de pista ainda não têm a sensibilidade do ser humano, do profissional experiente, que sabe exatamente qual ponto é o melhor para começar a frear, a velocidade ideal para subir, para descer, onde abrir a curva… se pudéssemos de alguma forma recolher estes dados e jogá-los em uma nuvem, outros motoristas, mesmo de transportadoras concorrentes ou autônomos, poderiam ter acesso a eles e baixa-los para seus veículos, o que sem dúvida tornaria a circulação ali mais segura para eles e para todos os demais.”
Pode parecer utópico, mas a realidade é que o sonho do dirigente da transportadora não parece de fato tão distante. Alguns dos próprios caminhões da RRCia são equipados com um sistema oferecido pela Volvo, chamado I-See, que coleta dados de topografia da estrada para, em viagens futuras naquele mesmo trecho, gerenciar de forma mais eficiente a aceleração, as trocas de marcha e o uso do freio motor.
Quando o sistema reconhece que o caminhão se aproxima de uma subida, por exemplo, acelera automaticamente o veículo próximo ao limite máximo de velocidade estabelecido pelo motorista para manter o embalo, permitindo uso de marcha mais alta durante mais tempo. E ao aproximar-se do topo de um aclive o I-See evita redução de marcha desnecessária – ele pode até colocar a caixa de marchas na posição Neutro Assistido, permitindo ao veículo rolar livre, aproveitando para ganhar embalo com a topografia. Como o sistema sabe quando começa e quando termina o declive, aciona e libera o freio motor no momento ideal.
Mas esta interessante tecnologia é aplicada hoje apenas para reduzir o consumo de óleo diesel – algo que a montadora estima em até 3%. A hipótese de um aperfeiçoamento em sua lógica de atividade e sua união com outros sistemas do caminhão, que já estão conectados à internet e monitoram pedais, volante e outros, assim, fazem com que a idéia de Clavero não pareça mais um salto tão gigantesco quanto à primeira vista possamos imaginar.
Até lá, de qualquer forma, a melhor forma de enfrentar os Caracoles ainda é utilizar a receita de Manrique: prudência, muita prudência. “Como dizia meu pai, a Cordilheira dos Andes estará sempre no mesmo lugar: se você a desrespeitar ela continuará aqui, mas você não”
Assista ao vídeo de Manrique atravessando os Caracoles, produzido pela Volvo, clicando aqui: http://tinyurl.com/videovolvo.