O empresário José Luiz Gandini, presidente do Grupo Kia Motors, o maior importador de veículos atualmente em atividade no País, afirmou na quarta-feira, 23, em Itu, SP, que a atual crise de vendas vivida pelo setor automotivo no País e, em particular, pelo segmento de veículos importados, representa um dos momentos mais delicados já atravessados pelas empresas que trabalham com importação aqui.
“Em se tratando deste setor, de veículos importados, esta é, com certeza, a pior crise que já vivemos no Brasil.”
De acordo com ele com o dólar chegando a mais de R$ 4,00, como se vê nos últimos dias, e com a legislação tributária, que após a adoção do Inovar Auto gravou os veículos que estão fora da cota de importação individual com cerca de 80% de impostos – IPI + 35% de imposto de importação + 30% de imposto para os veículos excedentes da cota – o negócio de importados está se deteriorando e poderá tornar-se inviável muito rapidamente.
Nunca é demais lembrar que, segundo o último balanço divulgado pela Abeifa, a Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, as vendas de veículos importados aqui somaram 42 mil 647 unidades até agosto, volume 30,3% inferior ao registrado em igual período do ano passado. Desse volume a Kia, sozinha, como maior importadora, foi a responsável por cerca de 11 mil unidades, ou quase 29% do total.
“Nosso maior problema é que, hoje, quem está comprando carros importados não está na verdade comprando carros. Está investindo no mercado cambial e comprando um dólar a R$ 2,80, pois não estamos conseguindo repassar a atual variação da moeda e vendemos nossos produtos com preço totalmente defasado. E isto certamente influenciará de forma dramática o nosso volume de compras no futuro.”
Gandini observou que hoje é muito difícil qualquer tipo de projeção neste momento, principalmente quando se olha para os meses finais deste ano e para 2016: “Vivemos um momento político muito difícil, que é pior do que o econômico. E isto complica toda e qualquer projeção com relação ao desenvolvimento do mercado, principalmente quando olhamos para o futuro de curto prazo”.
Ele acredita que, este ano, as vendas do Grupo Kia aqui deverão chegar aos 16 mil veículos, volume que, se alcançado, representará mais ou menos a mesma média de vendas obtida nos últimos três exercícios: “Nosso previsão inicial era chegarmos às 24 mil unidades este ano, o que representa exatamente o volume de que necessitamos para manter em ritmo razoável nossa rede de 185 concessionários”.
Para o ano que vem, com a entrada em operação da nova fábrica Kia no México, o presidente Gandini prevê que poderá ter um pouco mais de facilidade no mercado, principalmente por contar com alguns milhares de veículos que serão importados de lá e que serão beneficiados com isenção de encargos em função do acordo comercial automotivo do Brasil com o México:
“Além das 4,8 mil unidades a que já temos direito em nossa cota, que se somam aos comerciais que fabricamos no Uruguai, poderemos contar também com os carros que serão produzidos no México na fábrica que será inaugurada em maio”.
Nesta soma, disse, existe boa probabilidade de que os volumes possam voltar ao patamar das 24 mil unidades. Desta fábrica mexicana deverão ser trazidas a nova geração do Cerato, que será o primeiro carro a ser produzido por lá, e, no segundo semestre, do novo Rio.
Gandini considera que o governo precisa analisar com cuidado o tema das cotas de importação impostas pelo Inovar-Auto de forma a garantir a continuidade dos negócios deste setor no futuro: “Somos grandes geradores de impostos e se o governo quer continuar com a nossa colaboração precisa rever esta posição”.
Para ele, com a atual posição cambial, o setor automotivo brasileiro não precisa mais deste tipo de proteção: “Conversei recentemente com técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e todos eles são a favor da revisão dessa posição. Não tenho certeza disso, mas tenho confiança de que estes 30 pontos porcentuais poderão ser revogados ainda em 2016, porque esta imposição foi feita em outro período histórico, quando o dólar estava cotado a R$ 1,60. Hoje isto não faz mais nenhum sentido”.
Gandini contou que, em 2011, quando a Kia vendeu 85 mil unidades no Brasil, recolheu US$ 1 bilhão 650 mil em impostos, que equivaleram, na época, a R$ 2,7 bilhões: “Hoje, com esta queda de vendas, não estamos nem perto disto, e precisamos voltar a ser arrecadadores deste porte para podermos garantir o emprego das 7 mil pessoas que estão envolvidas na nossa operação e dos nossos 135 concessionários”.