De volta ao país do futuro

De maneira absolutamente inesperada e de forma um tanto quanto atabalhoada, as vendas de automóveis e comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas despencaram neste 2015. Voltaram aos números que eram registrados na segunda metade da década passada.

A surpresa foi tão grande que ainda em meados de setembro a Anfavea preparava mais uma revisão das projeções de vendas e de produção, a segunda do ano, formalizada agora, no princípio de outubro. E novamente para baixo.

Com queda superior a 20% nas vendas de automóveis, por volta de 30% nos ônibus e acima de 40% em caminhões, o mercado brasileiro, que chegou a ser o quarto maior do mundo, caiu para a sétima posição nesse ranking.

Com tudo isso o Brasil, quem diria, ao menos no que diz respeito ao setor automotivo, retrocedeu a ponto de voltar aos tempos em que tinha que se contentar em exibir o título de País do futuro.

Roberto Cortes, presidente da MAN, garante que, como os fundamentos básicos do País permanecem os mesmos, não resta dúvida de que o futuro continua tão promissor quanto antes: “A questão é que, agora, não dá mais para saber em qual mês este futuro começará”.

Nem em qual mês e, a rigor, nem em qual ano. De fato, com o atraso na definição do ajuste fiscal do governo federal – tido como indispensável para o saneamento da economia – até meados de setembro, pelo menos, ainda não havia consenso nem mesmo sobre as projeções para os meses finais deste ano. Quanto mais para 2016.

“Está mais fácil, hoje, projetar 2020 do que o próximo ano”, definiu Cledorvino Belini, presidente da FCA.

De forma geral todos sabiam que este não seria um ano fácil. Mas todos esperavam que, depois de um primeiro trimestre negativo em função justamente do aguardado ajuste fiscal, viria um trimestre de equilíbrio e, na segunda metade do ano, o início da retomada. No fim das contas o resultado de 2015 representaria empate técnico com relação ao ano passado ou, na pior das hipóteses, queda de até 5%. Tudo muito administrável.

Seria, em síntese, um ano morno. Daquele tipo que Paulo Butori, presidente do Sindipeças, define como boi com abóbora, refeição sem grande sofisticação mas que, ao menos, sustenta. O que não estava no radar de qualquer empresa era que, neste ano, o primeiro do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, crise política de bom tamanho se somaria à econômica e tornaria muito difícil e demorada a definição dos termos do ajuste fiscal.

Do ponto de vista das expectativas o ponto de inflexão para baixo foi agosto. Havia certo consenso de que o resultado do oitavo mês seria positivo com relação ao anterior, abrindo as portas para que o segundo semestre fosse melhor do que o primeiro e reduzisse os elevados estoques das montadoras e dos concessionários.

“Como isto não aconteceu ficou evidente que, para este ano, restava apenas salvar o maior número possível de empregos”, comentou logo no início de setembro Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, antecipando que até o fim do ano pretendia ter mais da metade da sua base já protegida por acordos envolvendo o PPE, o Programa de Proteção ao Emprego.

SEM DESALENTO – Mesmo em meio a tantas incertezas, todavia, as projeções para 2016 dos executivos das principais empresas do setor, ao contrário do que se poderia imaginar, não mostram desalento.

Em todos os segmentos – autos, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas – é unanime a interpretação de que o setor não vive uma crise com o formato da letra L mas, sim, mais uma vez, uma fase em V.

Ou seja, não se trata de uma mudança definitiva para um patamar menor de mercado. Mas, sim, de um batevolta, como tantas vezes já aconteceu nas décadas passadas. Belini contabiliza: “E sempre com um retorno para um patamar acima do anterior”.

Na área de caminhões, por exemplo, apesar da queda este ano para cerca de 75 mil unidades comercializadas  o mercado brasileiro, afirma Philipp Schiemer, presidente da MercedesBenz do Brasil, continua com potencial de 150 mil a 200 mil unidades por ano: “É só uma questão de tempo”.

Para o segmento de automóveis quem crava a aposta é Luiz Moan, presidente da Anfavea. Para ele a baixa relação automóvel por habitante fora dos grandes centros garante que o mercado brasileiro continue com potencial para chegar a 5 milhões de unidades vendidas por ano:
“Depois do resultado deste ano pode até ser que demore dois a três anos a mais do que estávamos imaginando”, diz ele. “Mas não resta dúvida de que, em um ou dois anos, entraremos em fase de crescimento anual constante”.

E é justamente em razão da manutenção destas projeções de médio e longo prazos que, de forma geral, os investimentos estão preservados. Algumas montadoras, como a General Motors, chegaram até a dobrar a aposta, de R$ 6,5 bilhões para R$ 13 bilhões em cinco anos. E o anúncio foi feito em meados do primeiro semestre, quando o mercado já estava desabado. Vale a observação do presidente Santiago Chamorro: “Precisamos manter nossa capacidade de competição para quando este mercado retomar”.

Na verdade a manutenção dos investimentos tem razões bem concretas de ser. Com a capacidade de produção já adequada a um patamar mais elevado os investimentos que agora vêm pela frente são, em sua esmagadora maioria, voltados para aumento da qualidade e da produtividade das fábricas mais antigas e, sobretudo, para o desenvolvimento e lançamento de produtos.

É o ciclo típico do setor automotivo, mesmo num mercado tão difícil. Ford, General Motors, Honda, Hyundai, Renault e Toyota, todas com lançamentos relativamente recentes, aumentaram sua participação às custas, sobretudo, de Fiat e VW.

Pois bem. Fiat e VW são justamente as duas montadoras que têm mais lançamentos programados para os próximos dois anos, o que vai inverter o processo e forçar, na sequência, a reação das demais.  É como andar de bicicleta: quem parar de pedalar… cai.

NACIONALIZAÇÃO – Na área de autopeças o que garante a manutenção dos programas de investimento é a forte desvalorização do real frente ao dólar este ano, o que obriga às montadoras apressar ainda mais os programas de nacionalização que já encaminhavam em razão do Inovar-Auto.

Trata-se, sem dúvida, de mais uma porta que se abre para as empresas de autopeças e componentes com fábricas instaladas no País, sobretudo as sistemistas. Porta aberta que ninguém quer entregar de mão beijada para os concorrentes.

Com relação especificamente ao curto prazo ninguém espera a rápida recuperação, em 2016 ou mesmo 2017, de todo o terreno perdido este ano. Mas, em compensação, há certo consenso de que é muito provável que o fundo do poço já tenha sido alcançado. Ou, pelo menos, que ele já esteja muito próximo.

A dúvida é colocada por Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul: ”As vendas no atacado ainda estão elevadas. E isto ainda pode ter reflexos negativos no futuro”.

Em termos práticos, de qualquer forma, o que fica para o ano que vem, excetuando-se esta observação de Golfarb, é projeção de relativa estabilidade, com a média diária de vendas e de produção de veículos talvez até apresentando algum crescimento frente a 2015, ao menos nos meses finais do ano.

Moan especifica que, antes da frustração de agosto, a projeção com a qual se trabalhava era de inflexão da curva, desta vez para cima, no segundo trimestre de 2016.  Agora o que se espera é que isto aconteça no terceiro ou, eventualmente, até no quarto trimestre: “Mas é um movimento que, com certeza, acontecerá em algum momento do ano que vem.”

Depois da total imprevisibilidade deste ano a projeção de certa estabilidade para 2016 não deixa de ser alentadora. Sobretudo com viés de alta, ainda que, talvez, apenas no segundo semestre.

Afinal, tal como define Chamorro, o mais difícil de administrar em 2015 foi a surpresa, a rapidez com que o quadro se deteriorou:  “Quando voltamos das férias, em janeiro, o País era outro”.

Neste contexto 2016 tem boas possibilidades de ser, de fato, se não melho pelo menos mais tranquilo do que este ano. Bem mais tranquilo.

Acontece que o inesperado retorno, em 2015, aos números do fim da década passada acabou forçando o setor a dar uma boa arrumada na casa. E não eram poucas as distorções que haviam sido acumuladas depois de anos e anos de crescimento constante.

No lado das montadoras o foco tinha sido fechado exclusivamente no mercado doméstico. Na esfera dos sistemistas e demais produtores de componentes quase toda a capacidade de produção estava voltada ao atendimento exatamente das montadoras.

TRABALHO – E mesmo os trabalhadores, apoiados na situação de pleno emprego, também eles tinham se acostumado a reajustes de salários bem acima da inflação, PRLs de vários salários e total estabilidade.

Este ano, forçados pelas circunstâncias, todos tiveram que começar a colocar ordem na casa. Inclusive os concessionários que, agora, já se atrevem até a pensar, de verdade,  em oficinas multimarcas para atender grupos econômicos que hoje já formam a maioria do setor, em lugar das antigas empresas familiares, como avalia Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave.

Os fabricantes de componentes, de seu lado, já repartem, hoje, seu faturamento por montadoras, mercado de reposição e exportações, o que lhes garantirá, já em 2015, fechar o ano com quedas de faturamento muito menores do que as das montadoras.

E também no que se refere às montadoras, apoiado no aumento da competitividade internacional gerada pela rápida e marcante desvalorização do real neste ano, o presidente da Anfavea não tem economizado viagens ao Exterior em busca de novos acordos de livre comércio fora das fronteiras do combalido Mercosul.

Moan já adianta, além disso, que, mesmo que as vendas se mantenham em torno de 10 mil unidades/dia, a produção cairá nos meses finais do ano. Objetivo: entrar em 2016 com estoque adequado ao novo mercado e, assim, sem tanta necessidade de recorrer às vendas no atacado e promoções.

Neste contexto, por mais duro e difícil que este ano esteja sendo – e ele está, de fato, muito duro e difícil –, as empresas do setor têm boas possibilidades de sair desta crise melhores, mais eficientes, mais equilibradas e provavelmente mais rentáveis.

Isto não anula, contudo, o alerta que vem de Marques, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: “O ajuste fiscal não pode ser um fim em si mesmo”. O sindicalista lembra que os acordos de PPE que agora estão sendo fechados têm validade de até um ano. Sendo assim, ao menos no que diz respeito à manutenção dos empregos, em 2016 apenas empatar com este ano não será suficiente: “Algum crescimento será fundamental”.

VW irá rever todo seu programa global de investimentos

O Grupo Volkswagen promoverá uma profunda revisão de seu plano global de investimentos, sendo que diversos deles serão cancelados ou adiados como um dos primeiros resultados práticos da fraude dos motores diesel promovida pela companhia.

A informação foi revelada pelo novo CEO global do Grupo, Matthias Müller, durante discurso em encontro de funcionários em Wolfsburg, na Alemanha, na terça-feira, 6.

“Ainda não é possível, neste momento, quantificar as implicações comerciais e financeiras [geradas pela fraude dos motores diesel]. Mas temos que agir rapidamente e, por isso, demos início a uma revisão crítica de todos os investimentos planejados. Tudo o que não for absolutamente necessário será cancelado ou postergado.”

A razão para tal decisão é simples e direta, indicou o CEO: “Precisamos fazer toda economia possível para lidar com as consequências desta crise”.

O atual ciclo de investimentos da montadora no Brasil, para o período de 2014 a 2018, é de € 3,6 bilhões.

O executivo ainda deixou mais clara a gravidade da situação ao alertar os funcionários que o ouviam: “Para ser sincero, este não será um processo indolor”.

Ele acrescentou que as soluções técnicas para corrigir a fraude aplicada nos motores diesel de automóveis vendidos pelo Grupo no mundo todo – que indicam índices de emissão de poluentes dentro dos limites toleráveis apenas durante testes, sendo muito mais elevados no uso comum – são “iminentes”.

De acordo com Müller “em muitos casos uma atualização no software será suficiente [para eliminar o sistema que promove a fraude nas inspeções]. Em outros, entretanto, será necessária também uma modificação no hardware”.

Em seu discurso, acrescentou não ter ainda respostas a diversos dos questionamentos envolvendo o caso. Aos funcionários, disse: “Acreditem: assim como vocês, estou impaciente [pelas respostas]. Mas nesta situação, na qual lidamos com quatro marcas e muitos modelos, cuidado é ainda mais importante do que velocidade”.

Toyota encosta na Renault e esquenta briga pelo sexto lugar

Pouco mais de 2 mil licenciamentos distanciam a Renault, sexta colocada no ranking de vendas de automóveis e comerciais leves, da Toyota. De janeiro a setembro foram vendidos 134,7 mil veículos Renault, ante 132,6 mil modelos Toyota – ambas em queda, de 20% e 2,5%, respectivamente, com relação ao mesmo período do ano passado.

A tendência, porém, é que a Renault amplie a vantagem até o fim do ano e mantenha a sexta posição, herdada há um ano da Hyundai, que superou a marca em vendas em setembro do ano passado. Isso porque a picape Duster Oroch já chegou à rede Renault e começará a ser vendida em novembro, incrementando o volume de licenciamentos da empresa, que projeta alcançar 8% de participação de mercado com o portfólio atual – 0,8 ponto porcentual acima da registrada.

Esses 8% já foram alcançados pela Hyundai. A companhia sul-coreana manteve a quinta colocação, com 151,7 mil unidades vendidas, e espera maior fôlego nas vendas até o fim do ano, devido ao lançamento do HB20 reestilizado – as concessionárias começam oficialmente a faturar os novos modelos a partir de sábado, 10.

À frente dessa disputa, as quatro marcas mais tradicionais do mercado: Fiat, na liderança, seguida por General Motors, Volkswagen e Ford. As três primeiras com queda superior ao mercado – 33,6%, 30,8% e 33%, respectivamente – e a quarta com 7,1% de recuo nas vendas, e ganho de participação com relação ao mesmo período do ano passado.

A Ford fechou o acumulado de janeiro a setembro com 10,7% de participação. Há um ano, o índice estava em 9%.

Na oitava posição, longe da briga, a única marca dentre as dez mais vendidas do mercado que apresentou crescimento: a Honda, puxada pelo desempenho do HR-V. Foram 112,6 mil unidades comercializadas, volume 17,4% superior às 95,9 mil unidades do mesmo período do ano passado. A participação, que há um ano era de 4%, chegou a 6%.

Fecham o ranking outras duas marcas japonesas, Nissan e Mitsubishi. A primeira com queda de 6,2% nas vendas, mas ganho de 0,4 ponto de participação, e a segunda com recuo de 25,2% nas vendas, e queda de 0,1 ponto de participação, mas insuficiente para lhe tomarem o décimo lugar.

MAN próxima de comemorar mais um ano na liderança em caminhões

A MAN está pavimentando o terreno para comemorar mais um ano como a líder do ranking de vendas de caminhões no País – 2015, pelos cálculos da montadora, seria então o décimo-terceiro registro deste feito para a fabricante no País.

Até setembro a MAN conseguiu, apesar do cenário adverso que atravessa o segmento neste ano, abrir distância para a Mercedes-Benz. Falta um trimestre para o término do exercício e, mantidas as condições registradas até agora, a tendência é de manutenção das posições atuais.

O ranking aponta a MAN com 15 mil 178 unidades vendidas no ano, baixa de 42,3% ante mesmo período do ano passado: ainda que severa é pouco melhor do que a média do mercado, que caiu quase 44%. Por sua vez a Mercedes-Benz registra 14 mil 681, retração de 42,9%.

A diferença, portanto, é de quinhentas unidades, ou quase 1 ponto porcentual de mercado – a MAN tem 27,3% para 26,4% da M-B. Até agosto a vantagem era praticamente a metade, de 250 unidades e 0,5 ponto porcentual de participação.

Também a Ford registrou resultado inferior até setembro ante o ranking acumulado de agosto, mas ainda assim, das grandes, ela é a com melhor resultado. Seus números apontam 10 mil 451 unidades vendidas, queda de 22,6% e participação de 18,8%: até agosto estes índices eram 20% e 19%, respectivamente.

Volvo, Scania e Iveco, na sequência quarta, quinta e sexta colocadas da tabela, continuam a registrar baixas mais acentuadas que a média de mercado. A Volvo fechou o período com redução de 55,4%, a Scania de 62,7% e a Iveco quase 49%.

Mas a maior baixa é da International, lanterninha com impressionante redução de 94% em seus números: vendeu neste 2015 apenas 57 caminhões ante 920 há um ano.

As únicas duas a crescer no período são Hyundai-Caoa, 322%, de 202 unidades em 2014 para 852 neste ano, e DAF, 136,4%, de 132 para 312 no mesmo intervalo.

ÔNIBUS – Já nos chassis de ônibus não há sequer o que discutir: a Mercedes-Benz pode tranquilamente pegar o caneco do ano com um trimestre de antecedência, uma vez que sua vantagem é muito ampla.

O ranking por fabricantes do segmento registra a marca da estrela de três pontas com 6 mil 877 chassis comercializados, queda de 23% no comparativo anual, um desempenho melhor que o do mercado, que desceu 31% no período. Com isso acumula participação de 50%, ou exatamente metade de todas as vendas do ano.

A MAN surge bem atrás, com 3 mil ônibus vendidos até setembro, redução de 42% e participação de 22%. A Agrale mantém um sólido terceiro posto com 1 mil 870 unidades vendidas, baixa de 45,5% e 13,6% do mercado.

Destaque para a Iveco, que na quarta posição é a única da lista a registrar volumes positivos: 131% de alta, graças aos 986 ônibus vendidos ante os 427 há um ano. Volvo, Scania e International, pela ordem, fecham as posições seguintes.

Nova projeção indica redução de 27,4% no mercado

A um trimestre do fechamento do ano a Anfavea revisou mais uma vez suas projeções para 2015, e de todos os indicadores: produção, licenciamentos e exportação, de automóveis e comerciais leves, veículos pesados e máquinas agrícolas. Os dados divulgados pelo presidente Luiz Moan na terça-feira, 6, indicam uma visão mais pessimista com relação ao desempenho do setor no ano – algo que o executivo alega ser consequência da crise política, que alimenta a crise econômica.

Moan afirmou que espera um último trimestre com ritmo de vendas diárias estável com relação ao ritmo que vem sendo apresentado desde julho. Ou seja, sem a usual aceleração provocada pelo décimo-terceiro salário e a expectativa das festas de fim de ano, o que agora joga para baixo o efeito da comparação com o mesmo período do ano passado. E há mais um agravante:

“Há um efeito duplo gerado pelo fim do IPI reduzido, que vigorava ainda no ano passado. Primeiro, a corrida dos consumidores por veículos com preços mais baixos em 2014, na iminência do fim da redução do imposto. E o outro lado do duplo efeito são os preços mais elevados deste ano.”

Assim o mercado automotivo nacional fechará, segundo as estimativas da Anfavea, em 2 milhões 540 mil unidades, 27,4% abaixo das 3,5 milhões de unidades comercializadas no ano passado. A projeção anterior, divulgada em junho, apontava vendas na casa dos 2,8 milhões de veículos, recuo de 20,6%.

Os números divulgados pela associação espelham o que muitos executivos ouvidos pela Agência AutoData afirmaram: o mercado perderá 1 milhão de unidades em um ano. As vendas de automóveis e comerciais leves cairão 26,5%, para 2 milhões 450 mil veículos, enquanto o segmento de pesados enfrentará um recuo de 45,4%, para 90 mil caminhões e chassis de ônibus.

Como consequência a produção também sofrerá abalo maior: segundo as novas projeções da Anfavea sairão das linhas de montagem 2 milhões 418 mil veículos, recuo de 23,2% sobre as 3 milhões 146 mil unidades produzidas em 2014. Em junho a expectativa era de 17,8% de queda no ritmo das montadoras, para 2 milhões 585 mil unidades.

Novamente a redução maior virá do segmento de pesados, com recuo de 41,4%, para 101 mil veículos. Em automóveis e comerciais leves a queda chegará a 22,1%, para 2 milhões 316 mil veículos.

As exportações, contudo, sofreram reajuste do crescimento do volume – nesse caso, para cima: agora a Anfavea projeta 375 mil embarques, 12,2% acima dos 334 mil veículos exportados no ano passado. Projeção anterior acreditava em apenas 4 mil unidades a mais do que em 2014.

Em valor, porém, o faturamento esperado caiu para US$ 10,3 bilhões, queda de 10,8% com relação aos US$ 11,5 bilhões de receita apurado em 2014 – a projeção anterior era de aumento de 2,5%, para US$ 11,8 bilhões.

O desempenho do segmento de máquinas agrícolas também foi revisado para baixo: queda de 29,8% na produção, para 57,8 mil unidades, de 32% nas vendas locais, para 46,6 mil máquinas, e de 26,2% nas exportações, para 10,1 mil unidades. Em junho os dados divulgados indicavam queda de 16%, 19,4% e crescimento de 1%, respectivamente.

33 mil trabalhadores podem ser beneficiados pelo PPE

Cerca de um quarto do quadro de funcionários das montadoras está prestes a aderir ao PPE, Plano de Proteção ao Emprego. Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan, 33 mil trabalhadores já assinaram acordo com as empresas e aguardam apenas o sinal verde do governo para terem seu salário e jornada de trabalho reduzidos.

De acordo com o balanço da associação existem hoje 133,6 mil trabalhadores com carteira assinada pelas montadoras de veículos e de máquinas agrícolas e rodoviárias. Além dos 33 mil em processo de adesão ao PPE outros 7,2 mil estão em lay off: “Isso prova o esforço continuado que a indústria vem promovendo para proteger o nível de emprego”.

Mesmo com todo esse esforço foram cortados quase 14 mil postos de trabalho de setembro do ano passado para o mesmo mês deste ano, ou 9,6% do quadro total. Só no mês passado foram quase 750 demissões.

O ritmo das fábricas foi o mais lento para um mês desde 2009, pelo menos. Saíram das linhas de montagem 174,2 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, queda de 42,1% com relação ao mesmo mês do ano passado e de 19,5% na comparação com agosto.

De janeiro a setembro foram produzidas 1,9 milhão de unidades, recuo de 20,1% com relação aos primeiros nove meses de 2014.

“A produção vem sendo reduzida para adequar os níveis de estoque. É preocupante, porque aumenta a capacidade ociosa. E teremos mais um trimestre de volumes baixos, uma vez que estamos ainda na busca do ajuste do estoque ao atual tamanho do mercado.”

Nos últimos doze meses a produção somou 2,7 milhões de veículos, 17,5% abaixo do período imediatamente anterior. Segundo a Anfavea, que divulgou novas projeções na terça-feira, 6, o volume de janeiro a dezembro chegará a 2,5 milhões de unidades, recuo de 23,2% sobre o resultado de 2014.

O pior setembro em vendas desde 2006

Com vendas internas de 200 mil 77 veículos o setor automotivo brasileiro registrou no mês passado o pior setembro desde 2006. O resultado representou queda de 32,5% em relação ao total de 296,2 mil unidades emplacadas no mesmo mês do ano passado, o maior índice de decréscimo no ano neste tipo de comparativo. Sobre agosto a retração foi de 3,5%.

No acumulado do ano foram comercializadas 1 milhão 954 mil veículos, queda de 22,7% em relação ao acumulado de 2 milhões 526 mil unidades dos primeiros nove meses de 2014. Ao divulgar os dados na terça-feira, 6, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, atribuiu à crise política o baixo desempenho do setor no período. E voltou a falar no potencial do mercado ao citar os números de venda no segmento de usados, que este ano vem roubando venda do mercado de 0 Km:

“A venda de seminovos até três anos de uso cresceu 1,8% ano acumulado dos primeiros oito meses e especificamente em agosto a alta em relação ao mesmo mês do ano passado foi de 48%”.

Os estoques, apesar dos esforços das montadoras em reduzir produção, continuam elevados, segundo Moan: “O total na rede e nas fábricas baixou apenas um dia, de 357,8 mil unidades para 346,9 mil, equivalendo hoje a 52 dias de vendas”.

No segmento de automóveis e comerciais leves o número de emplacamentos em setembro ficou em 192,8 mil unidades, queda de 3,6% em relação a agosto e de 31,8% comparativamente ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano as vendas de automóveis e comerciais leves totalizam 1 milhão 884 mil unidades, decréscimo de 21,7% sobre idêntico período de 2014.

A queda nas vendas de veículos nacionais no acumulado do ano é um pouco inferior à relativa aos importados – respectivamente 19,8% e 29,9%. Com isso a participação dos modelos vindos de fora no mercado brasileiro caiu de 17,6% no ano passado para 16,3% este ano.
Também se mantém em queda a participação dos modelos 1.0 no mercado total. No acumulado do ano passado os carros com essa motorização responderam por 36,1% das vendas totais no País, índice que caiu para 34,3% nos primeiros nove meses deste ano.

Exportação de veículos cresce 12,3% no ano

As exportações de veículos atingiram 293,4 mil unidades no acumulado de janeiro a setembro, um crescimento de 12,3% em relação as 261,3 mil embarcadas no mesmo período do ano passado. A receita relativa a automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus atingiu US$ 6 bilhões 637 milhões no ano, com leve queda de 1,7% no comparativo com os primeiros nove meses de 2014.

O pior desempenho externo verifica-se no segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias, que em volume caiu 26,2%, para 7,8 mil unidades, e em receita teve decréscimo de 39,1%, para US$ 1 bilhão 318 milhões. Com isso o total exportado pelo setor ficou em US$ 7 bilhões 956 milhões, 10,8% a menos do que os US$ 8,9 bilhões obtidos de janeiro a setembro do ano passado.

Apesar da receita ainda ter desempenho negativo no ano, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse na terça-feira, 6, que acordos bilaterais já firmados e outros em andamento devem favorecer melhorias nas exportações do setor. Segundo ele, as vendas de automóveis e comerciais leves para o México cresceram 49% este ano e as embarcadas para o Chile tiveram alta de 66%. Em caminhões, os acréscimos foram de 144% para o México, 43% para a África do Sul, 18% para o Chile e 15% para a Argentina.

“Estamos evoluindo”, afirmou o presidente da Anfavea. “Começamos o ano com queda de 25% no comparativo anual e mês a mês esse índice vem caindo.”

O setor exportou em setembro 33,5 mil veículos, uma pequena queda de 3,2% em relação a agosto, mas crescimento de 28,7% no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Já em máquinas agrícolas e rodoviárias, com exportação de 893 unidades em setembro, houve alta de 24% sobre o mês anterior e queda de 35% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Acordos bilaterais – Questionado sobre o recém-fechado acordo Transpacífico, que envolve Estados Unidos, Japão e dez outras economias da bacia do Pacífico, Moan reconheceu que todo acerto do qual o País não faz parte gera uma desvantagem competitiva. Ressalvou, no entanto, que o Brasil não está parado: “Em uma semana devemos ter posição do acordo bilateral com a Colômbia e também estamos negociando com o mercado europeu”.

O presidente da Anfavea acredita que dentro de no máximo trinta dias deverá ter um encontro de representantes do Mercocul com a Comunidade Europeia. “A proposta no âmbito do Mercosul já está fechada e está tudo encaminhado para buscarmos um acordo de integração das duas regiões.”

Vendas de caminhões acumulam queda de 44%

De todos os cenários de queda nas vendas do setor automotivo, o de caminhões é o pior deles. Os negócios do segmento no acumulado até setembro somam 55,5 mil unidades, retração de 43,9% com relação do mesmo período do ano passado. O volume representa um recuo aos patamares de 2003 e, mais uma vez, de acordo com Luiz Moan, presidente da Anfavea, os motivos do desaquecimento do mercado são depositados na falta do confiança do investidor.

“A crise política afeta a economia em geral. Não vejo razão para queda tão expressiva, pois os fundamentos econômicos do País ainda estão sólidos.”

Em setembro foram somente 5,9 mil caminhões negociados, declínio ainda mais acentuado na comparação com o mesmo mês de um ano atrás, de 47,1%.

Segundo Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea, a trajetória das vendas de caminhões segue a expectativa do PIB negativo, reduzindo ainda mais o ânimo das empresas de transporte.

“Um ponto positivo foi a decisão do BNDES na semana passada de voltar a praticar o PSI/Finame de maneira simplificada, desburocratizando o processo de financiamento. Mas ainda assim não há expectativa de melhora.”

O mercado em declínio também promove o desaquecimento no ritmo das fábricas. No acumulado até setembro a produção de caminhões caiu 47,2%, para 59,1 mil unidades contra os 112 mil caminhões produzidos no mesmo período do ano passado.

Em setembro as fábricas produziram 5,8 mil caminhões, queda de 50,6% na comparação com o mesmo mês de um ano antes. “A produção tende a seguir o mercado”, analisa Saltini. “As empresas estão em processo de ajuste de estoque, usando todos os mecanismos que a legislação permite para produzir somente aquilo que o mercado demanda.”

O único dado positivo do segmento de caminhões vem das exportações, embora não seja capaz de compensar as perdas. Nos nove meses do ano, as remessas alcançaram 15,5 mil unidades, o que representou um crescimento de 11,2%. “Estamos evoluindo nos embarques”, afirma Moan, e pontua: “Os envios de caminhões para Argentina subiram 15%, para a África 43%, para o Chile 18% e para o México 144%.”

Mercado de ônibus encolhe 31%

O desempenho do mercado de chassi de ônibus acumula queda de 31,2% até setembro. Foram 13,7 mil unidades negociadas contra 19,9 mil chassis vendidos no mesmo período do ano passado. No mês de setembro o mercado absorveu somente 1,3 mil chassis, declínio nas vendas de 40,8% na comparação mensal de um ano antes. Os números foram divulgados pela Anfavea na terça-feira, 6.

Nas linhas de montagem o cenário de queda acompanha o mercado. As fabricantes produziram de janeiro a setembro 18,6 mil chassis, o que representou queda de 33,1% com relação ao desempenho dos mesmos meses do ano passado.

Como ocorre no segmento de caminhões, a boa notícia vem das exportações. As remessas de chassis cresceram 6,9% no acumulado do ano, para 5,2 mil unidades, 332 unidades a mais do que o registrado na soma até setembro do ano passado. Na comparação com o mesmo mês do ano passado o resultado é ainda mais expressivo: alta de 18,2%.