O economista Nouriel Roubini, nascido na Turquia, com cidadania estadunidense e com estudos realizados na Itália, ficou famoso por ter insistido durante alguns anos na previsão de risco iminente de uma bolha imobiliária estourar nos Estados Unidos, contaminando a economia globalmente. E, de fato, no final de 2007 os primeiros sinais do desastre apareceram, com a crise espalhada em todo o mundo um ano depois, deixando como marca mais representativa a quebra do Banco Lehman Brothers. Antes disso o governo local já auxiliara, garantindo cerca de US$ 30 bilhões na fusão do J.P.Morgan com o pré-falimentar Bear Stearns.
À época foram debatidos quais seriam os cenários da recuperação da economia no Mundo: em U, em V ou ainda um bom tempo em L? Por certo no mundo empresarial houve grande torcida pelo V, pois assim a crise seria passageira. Os não tão otimistas achavam que, na melhor das hipóteses, ocorreria o U, ou seja, uma lenta e gradual recuperação. E os pessimistas afirmavam categoricamente que a agonia seria longa e que o mundo teria que adaptar-se a patamares de produção, emprego e renda mais modestos por muitos anos.
Esta é uma série histórica do resultado do PIB em algumas das economias mais representativas no Mundo desde 2006, com dados do FMI e do Banco Mundial:
Os estudiosos da economia, de modo geral, utilizam de ferramentas poderosas para prever o futuro, mas no fim do dia o que se observa é uma grande imprevisibilidade quando a crise aparece sem avisar – tirando todos da zona de conforto. A falta de acerto nas previsões também guarda relação com as políticas que cada país e/ou região define para superar o ambiente negativo, promovendo o crescimento de forma sustentável.
A previsão do futuro na economia torna-se então, na maior parte das vezes, uma verdadeira leitura de bola de cristal, notadamente nos países emergentes – que sem dúvida expõem toda sua fragilidade quando enfrentam cenário econômico complicado nos países ricos.
A mesma série histórica de PIB aponta:
Prever o futuro nas economias emergentes seguramente exige esforço redobrado dos gestores dos negócios para definir e planejar as estratégias de médio e longo prazo e isso, por certo, é o caso dos executivos que trabalham no Brasil.
Na indústria automotiva brasileira o ambiente de negócios mudou radicalmente desde início de 2014 e a recuperação da demanda ainda não tem prazo claro para acontecer de modo consistente. Isso complica, e muito, os planos de negócio, trazendo muita incerteza – fato que acaba por postergar decisões de investimento e definição da estrutura organizacional adequada para os próximos anos. Como podemos então encaminhar discussões e obter a aprovação de planos junto à matriz, no caso das multinacionais, ou então do acionista/cotista no caso do empreendimento nacional? É necessário colocar a bola de cristal para funcionar?
No segundo semestre de 2013 estudos de mercado de uma conceituada consultoria indicavam os seguintes cenários de vendas no mercado interno brasileiro para o segmento de veículos de passeio e comerciais leves, em milhões de unidades:
Para 2013 a previsão realista acertou na mosca: 3,6 milhões de unidades vendidas no mercado interno. No final do primeiro semestre do ano seguinte a mesma consultoria atualizou os prognósticos para 2015, já prevendo desaquecimento da economia brasileira. Sugeria então como otimista 3,7 milhões de unidades, realista 3,6 milhões e pessimista ao redor de 3,5 milhões.
Superando qualquer previsão mais pessimista o mercado hoje estima para 2015 volume que não superará 2,5 milhões de leves – ou 31% abaixo da previsão realista que a consultoria indicou há pouco mais de um ano.
Com essa situação tão difícil no mercado interno e levando em conta a baixa confiança hoje existente as saídas visualizadas para a indústria mitigar o impacto negativo da baixíssima demanda devem residir em:
– Adequada estrutura organizacional, e não só no chão de fábrica;
– preservação dos bons talentos, cuidando da capacitação e engajamento/motivação nas iniciativas do negócio;
– grande esforço na redução de gastos em geral e rígido monitoramento na execução dos planos de curto prazo;
– aumento a produtividade não só no chão de fábrica, mas também no ‘chão do escritório’;
– mitigar investimentos de capital com retorno de longo prazo;
– renegociar contratos com terceiros;
– cuidar do caixa, renegociando dívidas bancárias e evitando a tomada de mais empréstimos;
– conquistar maior participação de mercado com a oferta de produtos mais atualizados, sem aumento significativo de preço;
– aproveitar o atual nível da taxa de câmbio, desenvolvendo plano bem estruturado de conquista de mercados fora do Brasil;
– junto a associações representativas, estudar saídas para a indústria em conjunto com ações de Governo; e
– continuar monitorando o ambiente de negócios – ou seja, ficar de olho na bola de cristal – e tomar ações condizentes conforme os cenários se modifiquem.
A AutoData Editora promoverá nos dias 20 e 21 de outubro o Congresso Perspectivas 2016, no qual a presença de figuras importantes da indústria por certo fomentará o debate sobre essas questões. É hora de calibrar os prognósticos!