Intenção de compras de carro 0 KM está em alta

Estudo da Ipsos Brasil divulgado com exclusividade na manhã de terça-feira, 21, segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, na Fecomercio, em São Paulo, aponta que nos últimos quatro meses cresceu a intenção de compras de carros 0 KM pelos consumidores brasileiros.

Um gráfico apresentado por Rogério Monteiro, head automotivo da empresa de pesquisa e inteligência de mercado, com base em estudo realizado mensalmente com 1,2 mil pessoas de diversas regiões do País, mostra o avanço nessa intenção, que pode gerar mais volume de compras nos próximos meses – o histórico do índice induz à tendência.

“O apetite do consumidor está voltando, mas ele continua com medo. Precisamos forçar, com promoções, para vencer essa barreira.”

A informação foi bem recebida por Alarico Assumpção Jr, presidente da Fenabrave, e Gilson Carvalho, vice-presidente da Anef, que compuseram o palco com Monteiro no painel Tendências. Mas Carvalho, da associação que representa as financeiras das montadoras, disse ainda não ter sentido aumento na demanda por financiamentos.

“Recebi essa informação com surpresa. Os bancos ficaram mais receosos nos últimos anos, com menos aprovação de fichas e crédito com mais qualidade, mas não tem aumentado a solicitação por novos contratos.”

Assumpção Jr, independente do estudo divulgado, levou projeções otimistas para o painel. Segundo o presidente da Fenabrave é possível um pequeno acréscimo nas vendas de 2016 comparadas com 2015. “Os segmentos de máquinas agrícolas e caminhões puxarão esse crescimento, que deverá ocorrer a partir do segundo trimestre, devido à safra esperada. Em automóveis poderá haver uma elevação de 3% a 5%.”

Mas esse volume acrescentado não será suficiente para recuperar a queda de 2015, que afetou os negócios do setor distribuição. De acordo com o empresário foram fechadas 776 concessionárias desde janeiro, com 403 lojas abertas. Até o fim do ano Assumpção Jr. estima no total 1 mil revendas com operação encerrada, que ampliarão as 17 mil vagas fechadas no segmento.

Butori: autopeças devem crescer 2% no ano que vem.

Paulo Butori foi um dos poucos, pouquíssimos, a apresentar projeções positivas para o ano que vem no segundo dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, realizado na Fecomercio, na zona Central de São Paulo. Justo ele, que em eventos anteriores usualmente demonstrava previsões pessimistas em especial para o segmento de autopeças.

Desta vez é diferente: o presidente do Sindipeças estima que no ano que vem o faturamento total das fabricantes de autopeças no País crescerá 2% com relação a 2015, puxado em particular pelas exportações e mercado de reposição, além de um pouco, ainda que levemente, pelas vendas às montadoras.

O dirigente, entretanto, deixou claro que este índice de crescimento estimado está mais ligado a uma base muito baixa de 2015 do que propriamente a uma clara tendência de recuperação nos negócios. Mas, de qualquer forma, entende que “2016 será um pouco melhor do que 2015. Já fui mais pessimista, mas acredito que os tempos serão melhores”.

A base desta projeção do Sindipeças é estimativa apresentada por Butori no evento de que a produção nacional de veículos também crescerá 2% no ano que vem na comparação com este, com destaque para os caminhões, que deverão, pelas projeções, crescer 18% em volume produtivo, alcançando 82,5 mil unidades. A produção de máquinas agrícolas, estima o Sindipeças, deverá igualmente crescer 2%.

Outra projeção apresentada por Butori que chamou a atenção foi aquela para o câmbio: ele estimou taxa de R$ 4,59 para o dólar em dezembro de 2016, com a ressalva de que “pode até chegar a R$ 5”. Com isso as exportações devem crescer, bem como a nacionalização de peças, pois “com este câmbio importar não é um bom negócio”.

Mas ele estimou que este cenário será visto com maior clareza para os novos projetos produzidos no Brasil, uma vez que “os processos de nacionalização levam muito em conta o ciclo de vida do produto”. Butori, contumaz crítico do regime automotivo, acrescenta que esta tendência de maior produção de autopeças no País “se deve à alta do dólar e não ao Inovar-Auto”.

Notícias mais positivas, porém, acabam por aí. O presidente do Sindipeças alerta que a saúde financeira das empresas Tier 2 e 3 é “bastante delicada” – por seus cálculos catorze empresas destas faixas fecharam no País no ano passado e mais dezessete apenas neste primeiro semestre – e, além disso, que “ainda vão ocorrer demissões [nas empresas de autopeças]”, mesmo que o segmento já tenha cortado 56 mil postos de trabalho desde 2013, chegando agora a quadro de 164 mil ao todo.

A razão, segundo Butori, é que muitas empresas sequer contavam com recursos para dispensar empregados. “O custo de demissão é enorme, descapitaliza a empresa.” Com um leve aumento de recursos no ano que vem este processo continuará apesar do PPE, iniciativa da qual a indústria de autopeças é a maior usuária, atestou Butori.

 

Volkswagen: debater para encontrar consenso.

Para enfrentar os muitos desafios presentes no setor automotivo brasileiro atual o novo presidente da Volkswagen no Brasil, David Powels, propõe uma agenda na qual fabricantes e entidades representativas do setor, como Anfavea, Sindipeças, Fenabrave e sindicatos de trabalhadores discutam juntos os problemas para encontrar as possíveis soluções.

“Primeiro é preciso reconhecer as dificuldades e, depois, compartilhar os conhecimentos para encontrar um consenso. Tenho a impressão que muitas vezes cada um nós segue por um caminho diferente, quando deveríamos caminhar juntos”, disse o executivo durante sua apresentação de estreia no primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, realizado na sede da Fecomercio, em São Paulo.

De acordo com Powels os debates poderiam se transformar em documento no qual estariam listadas as soluções para os diversos desafios existentes e, então, encaminhadas ao governo como proposta a fim de resolver as distorções encontradas no setor. São preocupações do presidente da Volkswagen, por exemplo, a baixa competitividade do produto brasileiro, o crescente custo da mão de obra, o sistema tributário e o grande aumento da capacidade instalada.

Powels conta que após sua primeira passagem no País, como vice-presidente de finanças da Volkswagen, em 2002, o Brasil perdeu muita competitividade. Nos treze anos em que ficou no Exterior, em diversos cargos na Volkswagen pelo mundo, o custo da mão de obra aqui cresceu 181%, enquanto o preço do carro evoluiu 117% e a inflação 141%. “Não é por acaso que as exportações de automóveis e comerciais leves durante todo esse período praticamente não cresceram: sempre oscilaram de 6% a 9% da produção.”

Suas preocupações também estão focadas na base fornecedora e, principalmente para os próximos 10 anos. Powels lembra que os produtos têm cada vez mais tecnologia embarcada, enquanto a cadeia de suprimentos brasileira não possui poder de fogo para investir, o que ameaça mais uma vez a ideia de maior conteúdo local. “O fornecedor, principalmente Tier 1 e 2, não tem tecnologia para o futuro, nem mesmo processos e competência para atender as montadoras, além do momento atual não ser o ideal para investir. Mas é preciso, para não perder ainda mais conteúdo local.”

O presidente da Volkswagen comentou rapidamente em sua apresentação o caso da fraude global nos motores diesel da montadora. Para ele este “certamente é um desafio muito grande para a companhia, que está trabalhando para conseguir uma solução rápida. A prioridade é voltar a fazer com que o cliente volte a confiar na marca rapidamente”.

Apesar da retração, indústria de motos mantém investimentos

A indústria de motocicletas prevê encerrar este ano com de 1 milhão 280 mil unidades comercializadas no varejo, o que representará  queda de 11% em relação aos emplacamentos de 2014 e a marca de quatro anos consecutivos de retração no mercado. Apesar do cenário de dificuldades, no entanto, representantes das duas principais fabricantes de motocicletas do País, Honda e Yamaha, garantem que os investimentos locais estão mantidos, principalmente em inovação e novos produtos. Ao lado da Abraciclo, formaram painel que encerrou o primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, na Fecomercio, em São Paulo.

O diretor da Moto Honda, Alexandre Cury, destacou que além de manter os investimentos em novos modelos a empresa trabalha também para aumentar a nacionalização dos seus produtos, seja por meio da parceira com fornecedores locais ou mesmo em processos de verticalização. “A nacionalização é uma necessidade frente à valorização do dólar e a forma como vamos ampliá-la vai depender dos volumes de venda. Precisamos buscar maior competitividade.”

Sem descartar a necessidade de aumentar a localização de peças o diretor da Yamaha, Márcio Hegenberg Jr., fez ressalva: “O processo de nacionalização pode chegar a um ano e meio. O problema é investir em maior conteúdo local e o dólar voltar a cair para os patamares anteriores.” O executivo garantiu, porém, que a empresa mantém todos os seus investimentos no Brasil, lembrando que no Salão Duas Rodas 2015, realizado no início deste mês, apresentou quatro novos modelos. “E outros virão.”

O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, aproveitou a oportunidade para destacar o potencial do mercado brasileiro: “Nos últimos cinco anos a indústria de motos fez 209 lançamentos, sem contar os quarenta novos modelos apresentados no Salão Duas Rodas deste ano, que teve público recorde de 470 mil visitantes. Os investimentos em novos produtos é uma prova de que o setor acredita no potencial do mercado”.

Segundo Fermanian a retração no mercado de motos deve-se principalmente às restrições na área de crédito, aplicadas a partir de 2012, quando a inadimplência no setor registrou alta. Hoje os bancos dos fabricantes são os principais agentes financiadores dos consumidores de veículos de duas rodas: “O consórcio também tem grande peso em nossos negócios, respondendo por um terço das vendas. O restante é dividido por vendas financiadas e à vista”.

Motores: 2016 na mesma batida, porém mais ajustada.

Após dois anos de forte queda os três principais fabricantes independentes de motores diesel do País trabalham com quase que uma certeza: o cenário do setor em 2016 não será muito diferente deste ano.  E isso porque José Eduardo Luzzi, presidente da Navistar Mercosul, dona da MWM Motores, Luís Pasquotto, presidente da Cummins América do Sul, e Marco Aurélio Rangel, presidente da FPT América Latina, afirmam que “2015 é um ano para se esquecer”.

Reunidos em painel no primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, na Fecomercio, em São Paulo, os três executivos mostraram-se consolados ao menos com a expectativa de que um novo tombo como o  verificado em especial nos mercados internos de caminhões e ônibus não se repetirá  no ano que vem. E as grandes depurações exigidas nas empresas já foram encaminhadas este ano, com redução de quadros, de jornadas de trabalho e reorganizações produtivas para a nova realidade da demanda.

FPT, MWM e Cummins, entretanto, ainda consideram adotar férias coletivas até dezembro.

“A diferença desta para outras crises do mercado é que agora todos os segmentos estão caindo, até mesmo serviços”, diz Luzzi, que estima produzir cerca de 65 mil unidades neste ano, cerca de 30% menos do que no ano passado. Ele ainda não vislumbra quando o mercado interno de veículos comerciais poderá começar a inverter a curva: “Sou um otimista, mas com o pé atrás. Todos sabemos do potencial do País, mas  não acredito em uma recuperação significativa no curto prazo. Esta é a nova realidade para dois ou três anos”.

A tendência é mesmo de retomada gradual no longo prazo, diz Rangel, que considera produzir 45 mil motores este ano. Pasquotto, que fala em algo como 23 mil motores fabricados em 2015, concorda: “Os números atuais claramente não representam nossa economia. Nossos estudos indicam que o Brasil pode ter um mercado de caminhões de 150 a 160 mil e de até 30 mil ônibus, ou seja: quase o dobro do que fecharemos este ano”.

A maior preocupação dos executivos no curto prazo é mesmo a continuidade da crise política e das indefinições sobre os ajustes necessários na economia, o que poderá prolongar ainda mais o horizonte de incertezas no setor. “Não dá para arriscar que chegamos ao fundo do poço do mercado enquanto não se resolver esse nó político’’, diz Pasquotto, que considera até a possibilidade de um ligeiro aumento de produção de motores no ano que vem, já que os fabricantes de comerciais devem ingressar 2016 com estoques baixos.

Assim como Luzzi e Rangel o presidente da Cummins identifica algum eventual alento em 2016 em outros segmentos, como o agrícola, fora de estrada – com a nova legislação MAR-1 –, serviços e geração de energia, que este ano não decolou como o esperado em função da atividade econômica mais lenta nos últimos meses.

O segmento automotivo teria um impulso no curto prazo de fato com a adoção de um programa de renovação de frota, pondera Luzzi – algo que, para variar, continua nas mesas de discussão.

Belini: Brasil precisa de ajuste político e ético.

“O Brasil precisa de um ajuste ético e político. Enquanto isso não acontecer, a economia e o mercado automotivo não voltarão a crescer.” A avaliação é de Cledorvino Belini, presidente do Grupo FCA na América Latina. O executivo foi um dos palestrantes do Congresso AutoData Perspectivas 2016, realizado em seu primeiro dia na terça-feira, 20, na sede da Fecomércio, em São Paulo.

Segundo Belini a retração das vendas neste ano supera o planejado pela montadora, algo que atribuiu à falta de previsibilidade do cenário político e econômico.

No entanto, o executivo ressaltou que o último bimestre é tradicionalmente melhor para venda de veículos. “Os consumidores recebem o décimo-terceiro salário e isso ajuda a movimentar a indústria. Mesmo assim não será uma recuperação propriamente dita, mas apenas um movimento sazonal.”

Apesar de demonstrar preocupação com o mercado nacional, durante sua apresentação o executivo ressaltou números que comprovam que a situação atual ainda é melhor do que a vivida no País há alguns anos. “Este momento faz parte de mais um ciclo”, avaliou. Como exemplo o executivo usou a dívida bruta do País, que hoje está em 64,5% do PIB: “Se compararmos com a Itália, onde a taxa é de 132%, nota-se que ainda temos argumentos para atrair investidores”.

Belini lembrou ainda que em 1994 o Brasil registrava média de 11 habitantes por veículo, taxa hoje de 5,1. “Para chegar ao índice de motorização dos Estados Unidos ainda precisamos vender 150 milhões de veículos. O Brasil é um País muito grande e logo voltará a crescer.”

Para ele a indústria nacional vive um momento de controle da ociosidade. Com a capacidade instalada para produção de 5 milhões de unidades por ano e a venda média diária em 10 mil unidades, há uma ociosidade próxima de 50%, descontadas as exportações. “Sabemos que é uma situação passageira, por isso a Fiat manteve todos os investimentos intactos.”

Despedida – Em novembro Belini deixará a presidência da Fiat, após 12 anos no comando. Stefan Ketter, vice-presidente mundial de manufatura do Grupo FCA, assumirá a presidência da empresa na América Latina.

Ao final de sua apresentação, portanto a última como presidente da FCA, Belini agradeceu parceiros e executivos que o acompanharam durante sua trajetória, que soma 42 anos no setor automotivo. O executivo foi então aplaudido de pé pelo público.

Apesar de deixar o cargo, Belini seguirá na empresa. O paulistano de 66 anos passa a presidente de desenvolvimento para América Latina, com a responsabilidade de representar a FCA em todas as relações institucionais, além de desenvolver e manter o relacionamento do Grupo com instituições governamentais e financeiras na América Latina. “Continuarei colaborando com as minhas ideias. Serei uma espécie de palpiteiro”, brincou.

Mercedes-Benz assegura manutenção de investimentos

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, garantiu em sua apresentação no Congresso AutoData Perspectivas 2016, na segunda-feira, 20, na sede da Fecomércio, em São Paulo, que os investimentos da montadora no País – que somam no total R$ 1,2 bilhão – estão mantidos.

“Olhamos adiante, no longo prazo, e acreditamos no Brasil. Seguimos com os investimentos de R$ 500 milhões em São Bernardo do Campo e R$ 230 milhões em Juiz de Fora, para modernizar e tornar mais eficientes as duas fábricas, e R$ 500 milhões em Iracemápolis, para produzir automóveis a partir do início do ano que vem.”

A fábrica de São Bernardo do Campo agora concentrará a montagem de conjuntos e de caminhões, enquanto Juiz de Fora ficará responsável pelas cabines e pela produção do Actros – ao menos até a chegada da nova geração. O Accelo, que hoje também sai das linhas mineiras, será produzido no ABCD a partir de 2016.

Segundo o executivo, essa é a maneira da Mercedes-Benz combater a crise. A linha de produtos ganhou novidades, apresentadas na semana passada, como o novo Actros, Accelo e a van Vito, produzida na Argentina. “Usamos a estratégia local de produzir vans na Argentina e caminhões e ônibus no Brasil, para equilibrar a balança comercial.”

O presidente da Mercedes-Benz defendeu a criação de programa de renovação de frota para caminhões e ônibus. De acordo com seus cálculos existem dois milhões de veículos comerciais circulando pelo País, dos quais mais da metade com motores de emissões pré-Euro 3. A idade média chega a vinte anos.

Segundo Schiemer cada caminhão com motor Proconve 1 emite poluentes equivalentes a 37 caminhões P7, ou Euro 5. Substituir essa frota por veículos 0 KM geraria uma economia de 2 bilhões de litros de diesel por ano, o que ajudaria a equilibrar a balança comercial, uma vez que a Petrobras importa diesel, além dos ganhos em segurança redução de congestionamento. “Não é apenas uma política para a indústria automotiva. É uma política para o Brasil.” Ele calcula que a adoção uma política de renovação de frota poderia gerar venda de 30 mil caminhões adicionais por ano.

O executivo projeta este ano com mercado de 70 mil caminhões vendidos, retornando aos patamares de 2004, e 18 mil chassis de ônibus, como há dez anos. Schiemer evitou arriscar projeções para 2016, mas traçou seu cenário com as conjunturas econômicas ideais: “Vender de 150 mil a 200 mil caminhões e 25 mil a 30 mil chassis de ônibus”.

Sistemistas projetam queda inferior à das montadoras

As sistemistas esperam um recuo de faturamento inferior à redução do volume de vendas de veículos neste ano. A previsão é que o mercado de autoveículos encerre o ano com recuo de cerca de 27% no volume de unidades emplacadas em relação a 2014, mas as exportações, o mercado de reposição e o avanço das montadoras asiáticas devem aliviar o faturamento das autopeças.

A análise foi apresentada em painel que reuniu os dirigentes de algumas das principais empresas do segmento realizado no primeiro dia do Congresso AutoData Perspectivas 2016, a terça-feira, 20, na Fecomercio, em São Paulo.

Segundo Besaliel Botelho, presidente da Bosch, “com o câmbio favorável para as exportações, esta receita mais alta acaba por compensar um pouco a queda de volume”.

Com isso, para este ano, a Bosch espera redução de cerca de 10% de seu faturamento na comparação com 2014. “O mercado de reposição está em alta e também ajuda a amenizar a queda das vendas para as montadoras.”

Para a Delphi, o crescimento das vendas às montadoras de origem asiática também ajudará a amenizar o baque no faturamento. “A retração das vendas está acontecendo de forma diferente em cada montadora, e as asiáticas estão se saído muito bem até agora”, atestou Luiz Corrallo, presidente da Delphi. O executivo prevê que a retração do faturamento seja de 15% a 18% neste ano.

O presidente da Schaeffler, Juergen Ziegler, também prevê queda do faturamento inferior ao índice de retração de mercado em 2015, mas não está otimista com as previsões para 2016. “O que me preocupa é que não vemos nenhuma mudança substancial que possa fazer o mercado se recuperar. Acredito que o cenário pode até piorar.”

Apesar da preocupação com a instabilidade econômica do País os executivos acreditam que o momento de retração das vendas pode ser visto como uma oportunidade. Corrallo: “Voltamos a olhar as exportações. Nos últimos anos o mercado interno era empolgante e acabamos deixando isso de lado. É fundamental conquistar mercados externos, e esta pode ser considerada como uma parte boa das dificuldades”.

Já o presidente da Bosch acrescentou: “Aproveitamos esse período para organizar a casa: redefinimos nossa estrutura e nos tornamos mais produtivos”.

Para os sistemistas é consenso que o desenvolvimento de novas tecnologias é fundamental para garantir que o País não perca competitividade. No entanto, há uma preocupação generalizada: “Muitos estão ficando pelo caminho”, alertou o presidente da Delphi.

Segundo Corrallo há uma busca crescente por aumento da nacionalização de componentes por parte dos sistemistas, mas grande parte dos fornecedores não está apto para realizar os investimentos necessários para suprir essa demanda. “O Inovar-Auto não resultou em aumento da nacionalização. Sentimos falta de uma política econômica estável que possibilite investimento dos Tier 2 e 3.”

Hofmann: o Brasil precisa de um plano e liderança.

Um cenário positivo foi apresentado por Jörg Hofmann, presidente da Audi, em sua palestra no Congresso AutoData Perspectivas 2016, na terça-feira, 20, na sede da Fecomércio, em São Paulo. Mas o executivo apresentou também um negativo – segundo ele, o mais provável de ocorrer, dada a condição política do País:

“Nós precisamos de um plano para o Brasil. Precisamos de um governo forte, que tenha condições de direcionar o País de volta ao crescimento. É um País forte, com futuro promissor, mas sem mudanças no comando, não vejo como mudar a situação da economia”.

Hofmann não se referia, porém, à possibilidade de impeachment – o alemão afirmou não ser da alçada dele opinar sobre o assunto. A mudança que o presidente da Audi deseja é de postura, seja do atual governo, ou de outro. “O Brasil precisa de um plano, como uma empresa. Não temos um plano”.

De plano o executivo entende. À frente da Audi do Brasil há dois anos, Hofmann liderou a chamada Estratégia 360, que reformulou toda a estrutura da companhia no País. Reforçou a área de vendas, pós-vendas, desenvolvimento de rede, marketing, produto, financeiro e coordenou o investimento de R$ 500 milhões na produção local, iniciada este mês.

Dobrou a força de trabalho no escritório em São Paulo, a quantidade de concessionárias na rede e, com isso, a marca vende duas vezes mais veículos – em 2015 deverá alcançar 16 mil unidades, ante 6,5 mil veículos vendidos em 2013.

“Quando eu cheguei as condições econômicas eram favoráveis. Fizemos isso tudo durante a crise. Costumo dizer que em toda a crise existe um vencedor. Nessa, posso dizer que foi a Audi”.

Mas existe preocupação com o futuro – na verdade, já com o presente. Hofmann disse que a Audi não está ganhando dinheiro no Brasil, muito por causa da taxa de câmbio, que beira os R$ 4. Segundo o executivo alemão, a realidade é um dólar na casa dos R$ 3. “Essa taxa atual é irreal”.

Sem mudança no cenário, ou na sua expectativa negativa, o Brasil registraria em 2016 PIB negativo em 2,5%, inflação de 10% e dólar na casa dos R$ 4. Nesse caso, Hofmann admitiu que precisaria fazer uma revisão nos preços praticados pela marca, que ainda usa muita importação em seu negócio, tanto para veículos quanto para peças usadas em São José dos Pinhais, PR.

Ampliar a velocidade de nacionalização de peças está complicado, segundo o executivo: “Os fornecedores brasileiros são bons, têm qualidade, mas ainda não chegam ao nível exigido pela Audi”.

Agora, caso haja a mudança de liderança e planificação do governo, a confiança do consumidor e do investidor retornará, Hofmann acredita em crescimento do PIB já no ano que vem, dólar a R$ 3,20 e inflação de 4%.

Mas, independentemente de qual cenário a economia apresentar, o segmento premium não será afetado. Com a inauguração de fábricas – BMW e Audi já operando, Jaguar Land Rover e Mercedes-Benz em vias de começar a produzir –, não há como não aumentar as vendas, segundo o executivo.

Anfavea: retomada agora prevista para último trimestre de 2016.

Prever como fechará 2016 é, hoje, missão quase impossível. Este é o entendimento da Anfavea, na pessoa de seu presidente, Luiz Moan, que abriu o Congresso AutoData Perspectivas 2016, que teve início na terça-feira, 20, e prosseguirá na quarta-feira, 21, na sede da Fecomercio, na região central de São Paulo.

Mas o dirigente dá algumas pistas: para ele o atual cenário indica um início de retomada do mercado automotivo no último trimestre de 2016 – antes, Moan estimava o terceiro trimestre como um provável ponto de retorno a melhores momentos das vendas.

Em sua palestra o presidente da Anfavea considerou que a crise está ligada fundamentalmente à questão política, uma “doença regenerativa, uma cirrose, que corrói a economia”. A solução, disse de forma contundente o dirigente, é “que todos passem a pensar no Brasil e não mais em suas querelas pessoais ou partidárias”.

De qualquer forma a média diária de vendas em 2016 deverá ficar ao menos estável com relação à de 2015, estimou Moan, que vê o mesmo quadro neste último trimestre com relação ao trimestre passado. Ele acrescentou que “o momento é difícil, mas o futuro é muito bom. Na hora em que o mercado voltar emergiremos muito mais fortalecidos. Estaremos mais preparados como empresas”.

Pelas contas do dirigente a queda do mercado brasileiro em 2015, que deverá ser de pouco mais de 27% ante 2014, representará uma queda total de arrecadação de  R$ 16 bilhões para o governo federal, ou “metade do que se pretende arrecadar com a volta da CPMF”. Moan acrescentou entender que parte da baixa neste ano está ligada à antecipação de compras ocorrida de outubro a dezembro do ano passado, quando ainda havia um nível de redução do IPI.

Ele também afirmou que a associação das montadoras trabalha com estimativa de que o mercado brasileiro possa alcançar volume de sete milhões de unidades vendidas ao ano “em médio prazo”.

O dirigente revelou que missão comercial brasileira, da qual a Anfavea participa, rumará para o Irã na semana que vem em busca de novos acordos comerciais, incluindo o setor automotivo. Para a Colômbia, com acordo fechado há poucos dias, a expectativa é dos primeiros embarques acontecerem ainda este ano, afirmou Moan. “Há montadoras já se preparando para isso.”

Moan ainda acrescentou não ver ameaça do Brasil sair do top-10 do ranking dos países produtores de veículos. “O potencial de crescimento do País é sem igual e nem se compara ao dos outros países da lista, e é isso o que mais importa.”