Vendas diárias e estoque ficam estáveis

Apesar da queda de 4% em outubro comparativamente a setembro no total de veículos vendidos internamente o número diário de emplacamentos manteve-se praticamente estável nos dois meses – 9 mil 607 contra 9 mil 527, ou seja, pequena alta de 0,8%. Também os estoques nas redes e montadoras mantiveram-se no mesmo nível de 53 dias, respectivamente 340,6 mil contra 342,1 mil unidades.

Ao divulgar os dados na sexta-feira, 6, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, projetou que a atual média diária de vendas será mantida este mês e no próximo, assim como no primeiro trimestre de 2016. Também admitiu que no comparativo anual os dados serão bastante negativos neste final de ano, porque no último trimestre de 2014 houve antecipação de compras por causa da esperada volta do IPI aos índices tradicionais a partir de janeiro, como realmente aconteceu.

Foram emplacados em outubro 192,1 mil veículos, queda de 37,4% no comparativo com o mesmo mês de 2014, quando as vendas atingiram quase 307 mil unidades, e de 4% em relação às 200 mil do mês anterior. Moan admitiu que o momento é difícil, lembrando que há um ano os estoques estavam em quarenta dias: “Enquanto as vendas caíram mais de 24%  no acumulado do ano, os estoques subiram 26%”.

Também reconheceu que parte do consumidor de carros novos está migrando para o segmento de usados, tanto é que no acumulado do ano as vendas de veículos seminovos, com um a três anos de uso, cresceram 41,5%. Já as vendas de 0 KM caíram 24,3% este ano. Até outubro foram emplacados 2 milhões 146 mil veículos novos, ante um total de 2 milhões 833 mil do mesmo período de 2014.

No segmento de automóveis e comerciais leves o decréscimo no acumulado do ano foi de 23,3%, com o total de emplacamentos baixando de 2 milhões 670 mil para 2 milhões 70 mil. Segundo Moan, o número de consumidores que estão preferindo pagar a vista subiu de 38,6% no ano passado para 41,5% este ano.

Exportações de veículos crescem 16,9% no ano

Com crescimento expressivo nos negócios com o México, Peru, Chile, África do Sul e Paraguai a indústria automobilística brasileira continua expandido suas exportações em número de unidades. No acumulado do ano desempenho positivo de 16,9%, com 333 mil unidades exportadas até outubro, ante 284,8 mil nos primeiros dez meses de 2014. Em outubro as vendas para o Exterior atingiram 39,8 mil veículos, crescimento de 69,2% sobre o mesmo mês do ano passado e de 18,7% sobre setembro.

Ao divulgar o balanço do setor na sexta-feira, 6, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, fez questão de destacar que a entidade continua buscando novos parceiros externos para incrementar os negócios da indústria brasileira: “Na semana passada uma missão da Anfavea esteve no Irã para discutir a possiblidade de um acordo bilateral. E acreditamos que ainda este mês haja avanços nas negociações com a Comunidade Europeia”.

De acordo com Moan, os índices de crescimento nas vendas para países com os quais o Brasil mantém acordo ou tradição nas relações bilaterais têm sido expressivos este ano. No segmento de automóveis e comerciais leves, alta de 73% nos negócios com o México, de 66% com o Peru e 64% com o Chile. Em caminhões, acréscimos de 116% para o México, 84% para o Paraguai e 48% para a África do Sul. Em ônibus, destaque para a Venezuela – expansão de 29%.

Apesar do bom desempenho nas exportações de veículos a receita do setor nessa área ainda registra queda este ano por causa, principalmente, do mix de produtos exportados, segundo análise do presidente da Anfavea. É que enquanto as exportações de veículos cresceram 16,9% em número de unidades, as de máquinas agrícolas e rodoviárias caíram 28,1% – apenas 8,5 mil unidades este ano ante 11,9 mil nos primeiros dez meses de 2014.

No total dos dez primeiros meses foram exportados US$ 8,8 bilhões, 10,5% a menos do que o obtido no mesmo período do ano passado. A receita no segmento de veículos teve pequena queda de 1,5% – US$ 7,3 bilhões contra US$ 7,4 bilhões dos primeiros dez meses de 2014 -, enquanto a relativa às máquinas agrícolas e rodoviárias decresceu 38,9%, de US$ 2,4 bilhões para US$ 1,4 bilhão.

Vendas de caminhões registram queda de 45%

Momento dramático foram as palavras utilizada por Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea para definir o ambiente do setor de caminhões no País. De acordo com os números da associação, divulgados na manhã de sexta-feira, 6, no acumulado do ano de janeiro a outubro a queda nas vendas alcançou 44,9% na comparação com o mesmo período do ano passado, para 61,3 mil unidades contra 111,2 mil negociadas nos mesmos meses do ano passado.

Somente em outubro, o mercado absorveu 5,7 mil unidades, o que representou recuo de 52,5% em relação ao desempenho de mesmo mês de 2014, quando foram vendidos 12,1 mil caminhões.

“A situação é muito delicada e reflete o estado de espírito da economia, contaminada pela atual crise política”, justifica Luiz Moan, presidente da Anfavea. “O quadro é muito incerto e fica ainda pior com o adiamento do ajuste fiscal.”

Moan lembra ainda que até o fim do ano as dificuldades no setor de caminhões podem ser acentuadas com o término do PSI, em 30 de outubro passado, como já era previsto. “Ainda não temos esse horizonte importante para vendas de caminhões, que podem ficar piores em novembro e dezembro com a ausência do programa. Mas estamos trabalhando junto ao governo para a reabertura do PSI.”

Com o mercado retraído, também a produção mostra sinais de desaquecimento. No acumulado do ano, as fabricantes produziram 66,1 mil caminhões, uma queda no ritmo de 46,9% na comparação com o período de janeiro a outubro do ano passado, quando as fábricas montadoras 124,5 mil unidades.

A produção de outubro isolada somou 6,8 mil caminhões, representando um recuo de 45,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando as fábricas produziram 12,4 mil unidades. Sem contar com a sazonalidade do período, porém, o ritmo do parque industrial de caminhões em outubro foi maior do que o de setembro, com alta de 16,8%. Segundo Moan, o crescimento se deve ao retorno de parte da mão de obra às linhas de montagem que estavam em setembro com alguma restrição ao trabalho, como lay off ou licenças.

No segmento de caminhões somente as exportações proporcionam algum alívio. As 17,4 mil unidades enviadas para fora do País de janeiro a outubro representam alta de 13,8% nos embarques.

Segmento de ônibus segue em queda

Como no segmento de caminhões, o desempenho no de chassi de ônibus também não se mostra nada animador. As 14,6 mil unidades negociadas de janeiro a outubro representam queda de 36% na comparação com o desempenho de um ano antes, período no qual o mercado absorveu 22,8 mil chassis.

Mais uma vez é a atual situação econômica impactando de maneira negativa o segmento. “A falta de confiança generalizada, a alta nas taxas de juros e as dificuldades em obter o crédito são os maiores dramas”, afirma Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea e diretor de relações institucionais da Mercedes-Benz.

Somente em outubro as vendas somaram 885 unidades, o que representou uma queda de 69,2% com relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram negociados 2,8 mil chassis para ônibus.

Com o brutal desaquecimento do mercado também o ritmo nas fábricas relentou. Enquanto em outubro do ano passado as fabricantes montaram 2,7 mil chassis, neste último saíram das linhas pouco mais de 1,2 mil, um recuo de 54,3%.

No acumulado do ano até outubro a retração também se mostrou expressiva, de 34,7%, para 19,9 mil unidades contra as 30,5 mil produzidas nos mesmos meses do ano passado.

A exemplo do que ocorre com caminhões, somente no desempenho das exportações que o segmento de chassi para ônibus registra balanço positivo. Nos dez primeiros meses do ano, os embarques registram alta de 7%, para 5,8 mil chassis exportados, 381 unidades a mais do que o volume acumulado de um ano antes.

Apenas em outubro seguiram para fora do País 635 chassis, alta de 7,4% sobre o mesmo mês do ano passado, quando embarcaram 591 unidades. 

Confiança do agricultor derruba mercado de máquinas

Em outubro foram comercializadas 3 mil 766 máquinas agrícolas e rodoviárias no mercado brasileiro, volume 43,4% inferior ao do mesmo mês do ano passado e 4,6% abaixo do vendido em setembro. Os dados foram divulgados pela Anfavea na sexta-feira, 6.

No acumulado do ano as vendas de máquinas somaram 40,6 mil unidades, queda de 31,4% com relação aos primeiros dez meses do ano passado, quando os brasileiros consumiram 59,2 mil unidades.

Para Luiz Moan, presidente da Anfavea, não há fundamentos econômicos na área do agronegócio que justifique queda tão acentuada nas vendas de máquinas. “A colheita continua grande, o preço de exportações está positivo”.

Ana Helena de Andrade, vice-presidente da associação, ressaltou que a renda dos agricultores e empresários do setor está crescendo, embora não seja traduzida em atualização de maquinário. “Investimentos são determinados pelas expectativas de renda futura. A falta de confiança do investidor e de clareza na situação econômica futura tem provocado essa postergação das compras”.

Como o mercado cai, a produção se adequa ao novo tamanho da demanda. Em outubro saíram das linhas de montagem 4,9 mil máquinas agrícolas e rodoviárias, volume 38,7% inferior ao do mesmo mês do ano passado e 3,7% abaixo da produção de setembro.

No acumulado do ano já foram produzidas 50,5 mil unidades, queda de 30,2% com relação ao período de janeiro a outubro do ano passado.

As exportações também apresentam dados negativos: queda de 43,5% no mês passado, comparado com outubro de 2014, para 736 máquinas. Com relação a setembro, a retração chegou a 17,6%. No acumulado do ano os embarques foram reduzidos em 28,1%, para 8,5 mil máquinas agrícolas e rodoviárias.

Caminhões Agrale, agora também com cabine em aço

De fora da Fenatran assim como a maior parte das montadoras de caminhões – apenas Volvo e DAF estarão no Anhembi –, a Agrale lançou na quinta-feira, 5, sua linha de caminhões 2016. Com importante novidade: agora há opção de cabine totalmente em aço.

 São três os novos modelos: A7500, A8700 e A10000. Em comunicado Edson Martins, diretor comercial, considerou que a empresa buscou “ampliar a oferta para os clientes, que podem contar com uma linha extremamente competitiva de caminhões de cabines estendida e simples. Com os novos modelos, a Agrale passa a oferecer, ao mesmo tempo, as já consagradas características de robustez, durabilidade e baixo custo de manutenção, e incorporar o que existe de mais avançado em tecnologia, conforto, eficiência e ergonomia”.

Os veículos saem de fábrica com ar-condicionado, vidro e travas elétricas, piloto automático, acelerador manual e rádio com entradas USB e cartão SD. O trem de força é formado por motor Cummins, de 152 e 162 cv, com sistema SCR e common rail, caixa de câmbio Eaton, eixos dianteiros e traseiros Dana no A8700 e A10000, com freios ABS.

A montadora oferece possibilidade de entrega dos caminhões já implementados, com carroceria aberta ou baú, com financiamento conjunto via Finame.

Não foram divulgados preços ou início previsto de vendas.

GM investirá US$ 100 milhões na Colômbia para exportar para o Brasil

O presidente da General Motors Colômbia, Jorge Mejía, anunciou ao governo local investimento de US$ 100 milhões naquele país, durante encontro na Casa de Nariño, em Bogotá, sede da República da Colômbia. Jaime Ardila, ex-presidente da GM América do Sul e colombiano, e Barry Engle, atual dono do cargo, participaram da reunião que ocorreu na quarta-feira, 4.

Sem dar pormenores, Mejía explicou aos governantes que parte do investimento será direcionada para projetos de exportação, em especial ao Equador, para onde já vai uma parte da produção da GM Colmotores, e Brasil, mercado ainda não abastecido por veículos da Chevrolet colombiana.

“Vamos trabalhar para continuar o fluxo de veículos para o Equador e, após os anúncios do acordo comercial com o Brasil, temos um plano de exportação por dois anos. Vamos começar um projeto que nos permitirá exportar cerca de 2 mil unidades para o Brasil em 2017 e 2018”, afirmou Mejía ao site do Ministério do Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia.

No mês passado o Brasil e a Colômbia finalmente assinaram acordo automotivo – discutido por anos. Nele foram estabelecidas cotas de exportação de veículos sem incidência de imposto de importação, com diferentes porcentuais de conteúdo regional. No primeiro e segundo ano do acordo, por exemplo, as montadoras colombianas podem exportar para o Brasil 3 mil e 5 mil veículos com 50% de conteúdo regional, respectivamente, e 9 mil e 20 mil unidades com 35% de conteúdo local.

A GM é a principal fabricante de veículos na Colômbia, dona de aproximadamente 25% de toda a produção automotiva anual. Da GM Colmotores, em Bogotá, saem os Chevrolet Cobalt e Sail, este ainda sem presença no mercado nacional. A companhia também produz caminhões Chevrolet, das séries N e F, com tecnologia da japonesa Isuzu, igualmente indisponíveis no Brasil – alguns destes modelos foram comercializados no País em meados dos anos 90 com marca GMC, mas seu retorno é improvável pois por enquanto o acordo bilateral contempla apenas automóveis e comerciais leves.

Os aportes deverão gerar novos empregos na fábrica, de acordo com o presidente: “Os investimentos que temos programados para este e outros projetos nos próximos quatro anos somam cerca de US$ 100 milhões. Dependendo da dinâmica do mercado colombiano, sem dúvidas vamos requerer mais trabalhadores”.

Em 2014 a Chevrolet comercializou 82 mil veículos no mercado colombiano de acordo com informações do Flash de Motor, parceiro editorial da Agência AutoData na América do Sul.

BMW certifica oficinas de funilaria e pintura

O BMW Group Brasil está reforçando sua área de pós-vendas com a certificação de oficinas de funilaria e pintura de sua rede de autorizadas. O projeto, em parceria com a empresa alemã de inspeções técnicas Dekra, é global e baseado no cumprimento de padrões de procedimentos, instalação, ferramental, uso de peças originais e treinamento – 120 horas de capacitação no centro específico do Grupo em Joinville, SC.

“Além do objetivo de aumentar a rentabilidade do pós-vendas temos a tarefa de manter o casamento do cliente com a marca”, diz Antonino Gomes de Sá, diretor da área. “Queremos ser referência.”

O programa de certificação de oficinas de funilaria e pintura foi iniciado em 2011, nos Estados Unidos, e hoje está estabelecido na rede BMW em doze países. O Brasil é o pioneiro na América Latina e as primeiras quatro empresas da atual rede de 44 concessionárias já passaram pelo processo e conquistaram a certificação: Autostar, de São Paulo, Capital, Autokraft, Rio de Janeiro, RJ, Euro Import, de Curitiba, PR, e Germânica, de Sorocaba, SP.

“Até 2020 todas as oficinas da rede deverão ser certificadas”, revela Gomes de Sá. “A certificação é uma vantagem para o cliente, pela transparência e qualidade do serviço, para as seguradoras, pela redução de custos e tempo além da clareza do orçamento, e para a concessionária, que tem uma ferramenta poderosa para fidelizar o cliente.”

Gomes de Sá lembra que a certificação, porém, não é vitalícia, sendo realizada anualmente. “O projeto não certifica apenas processos, mas também pessoas. Os desafios na área são cada vez maiores, com veículos que trazem mais tecnologias e materiais mais nobres. É preciso, portanto, capacitar a rede para poder também atender tendências.”

De acordo com o diretor a área de funilaria e pintura é uma das mais promissoras como potencial de negócios, podendo até 2020 gerar receita de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões. “Só o pós-vendas pode ser responsável por até 60% do faturamento de uma concessionária.”

O dado é reforçado por Miguel Silveira, diretor da Dekra Automotive Solutions, a apontar que funilaria e pintura foi identificada como importante pilar de desenvolvimento e rentabilidade no pós-vendas do BMW Group, “podendo proporcionar no futuro faturamento global de até US$ 3,7 bilhões, o que prova que investir em qualidade e segurança dá dinheiro”.

Arturo Piñeiro, presidente e CEO do BMW Group Brasil, reitera a importância da iniciativa: “O projeto de certificação das oficinas é mais uma ferramenta para aumentar a qualidade e garantir a retenção do cliente na rede da marca”.

A maior atenção no pós-vendas tem já mostrado resultados para a fabricante. De acordo com o Piñeiro, em 2015 houve avanço de 40% nos negócios neste segmento, fazendo com que sua participação já alcance 10% do faturamento total.

Implementos: queda até outubro atinge 42%.

A indústria brasileira de implementos rodoviários, como era de se esperar, acompanha o fraco ritmo de vendas de caminhões em 2015 e registra índice relevante de queda: até outubro, de acordo com dados da Anfir, Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários, revelados na quinta-feira, 5, as vendas são 42% menores no comparativo anual –75 mil 839 unidades ante 131 mil 265 no mesmo período de 2014.

Pela subdivisão da Anfir o segmento de reboques e semirreboques acumula baixa de 46,4%, com 25 mil 38 licenciamentos de janeiro a outubro de 2015 ante 46 mil 718 unidades do mesmo intervalo do ano passado. A situação na faixa de carroceria sobre chassis é levemente melhor, com baixa de 40% na mesma comparação: 50,8 mil ante 84,5 mil.

As exportações enfrentam quadro um pouco menos dramático: a baixa no acumulado dos dez primeiros meses do ano é de 15,9%, para 2 mil 347 unidades embarcadas ante 2 mil 791 há um ano.

Para Alcides Braga, presidente da associação, a retração no mercado interno até dezembro deve se acentuar ainda um pouco mais, encerrando 2015 em retração próxima a 45%. Em comunicado, defendeu o retorno do cálculo dos financiamentos pelo BNDES pela TJLP como alternativa às operações Finame PSI. “Com isso a taxa anualizada fica pouco menor que 12% ao ano, patamar que poderá levar os negócios à retomada sem necessidade de subsídios por parte do governo”, avaliou.

Para ele, “se o BNDES financiar de 80% e 90% do bem para pequenas e médias empresas e de 70% a 80% para as grandes os negócios deverão retomar gradativamente à normalidade”.

O segmento ainda conta com a Fenatran, na semana que vem, onde a maior parte das grandes montadoras estará ausente e, assim, as atenções estarão voltadas aos implementos – o que poderá servir como um possível elemento para animar as vendas.

Imagem e responsabilidade histórica

Quando, em 1769, o francês Nicolas Cugnot – praticamente incógnito o inventor do automóvel – criou seu exótico veículo de três rodas capaz de alcançar a estonteante velocidade de 5 km/h certamente foi inspirado pelo senso próprio dos desbravadores utilitaristas, mas também motivado pela concorrência gerada nos tempos medievos pelo seu país com a Inglaterra, berço da primeira Revolução Industrial. Contudo, mal sabia ele, e nem tinha por que indagar-se a esse ponto, que estava trazendo ao ser humano, desde a primeira incursão da espécie na tecnologia da mobilidade, ou seja a roda, em 3500 AC, a sua conexão mais próxima dos desejos de liberdade e autonomia individuais.

Seria ele, sim, o carro, a representação perfeita da materialização desse sonho.

Cerca de século e meio após, por transferência iluminista da qual certamente Cugnot era herdeiro, Henry Ford torna viável a produção em massa do automóvel, franqueando-o a milhões de pessoas e construindo frota veicular mundial, hoje, ao redor de 1 bilhão de unidades, ou um carro para cada grupo de 7 viventes. E ainda é muito pouco, sabe-se e se proclama, apesar do quixotismo dos que o abominam como inimigo do meio ambiente, embora não o dispensem em sua locomoção.

O impacto social gerado pelo novo conceito de mobilidade da dupla Cugnot-Ford sempre será objeto de tratadistas e curiosos do comportamento humano, e sua dedicação em esquadrinhá-lo, visando à compreensão mais aprofundada de sua significância, tem dado tal poder aparente à indústria de carros, nesses seus 110 anos de atividade manufatureira de massa, de tal forma que, auto-impregnada de uma espécie de mandato divino de que se julga investida, se põe ela acima do bem e do mal quando escrutinada, hoje bem mais que antes, sobre os resultados dos seus desvarios e da sua dinâmica que, entende ela, exclusivamente a si diz respeito, com os cidadãos consumidores e os governos no papel de subservientes e coniventes.

Levados pelo imaginário da liberdade sem limites cidadãos consumidores a ela se rendem. Governos sempre ávidos de impostos, quase sempre à sombra de indisfarçáveis motivações demagógicas, proclamam como conquista própria um duvidoso agregado de postos de trabalho, cada vez em menor número, e a disponibilidade de uma tecnologia que por si apenas não teriam como construir dentro do terreiro nacional que dominam. E uma academia, a brasileira no caso, burocratizada e inerte, que parece se bastar com os títulos ocos que vicejam intramuros, sem se preocupar em provocar sua ampla interação com o meio operacional externo, ali onde as mãos untadas e mentes movidas pela insaciável fome de criar e inovar se misturam para realmente competir e prosperar.

E uma classe de executivos tupiniquins de alto nível desfibrados e doentiamente conformistas ao presenciarem, em sequência desrespeitosa, as posições locais de mando maior serem sempre ocupadas por expatriados para aqui enviados ao abrigo de uma visão preconceituosa e simplista das matrizes de suas empresas, alguns provenientes até de operações nem longinquamente comparáveis à complexidade e à expressão do mercado brasileiro e um ou outro trazendo o selo de novos trânsfugas, os que saltam de uma marca para outra sem contabilizar nenhuma conquista digna de nota em nenhuma delas. Seu agregado principal parece ser o conhecimento de um punhado de programas que nenhuma quarentena retém indefinidamente, arsenal que repartem com os novos senhores, sem inibições quaisquer, ao abrigo da volubilidade com que as montadoras parecem tratar hoje o desenvolvimento do seu próprio pessoal.

E, finalmente – e com que lástima isso se constata –, uma imprensa que se limita, com as exceções representadas pela voz e pela pena de personalidades cada vez menos encontradiças, a reproduzir as informações que os porta-vozes do dia lhe transmitem e a abrir escancaradamente suas páginas, éter e imagem, em colunas e tempos excepcionais, a opiniões dos representantes plenipotenciários estrangeiros sem que se lhes indague questões incômodas ou fora do contexto de conveniências em cima das quais as matérias trafegam.

Os últimos anos têm desvestido, para o público mundial, o comportamento simplesmente aético com que algumas montadoras de ponta e, em alguns casos, fornecedores de linha de frente, estão se desincumbindo de suas responsabilidades quanto à qualidade dos seus produtos e serviços e, especialmente, com o cumprimento das regulações oficiais dos respectivos países que acolhem seus sítios de produção. São tão notórias essas marcas que mencioná-las seria tirar espaço do que aqui, um tanto canhestramente, este escriba eventual procura comentar.

Era inevitável que, por aqui, nesta já sexagenária colônia automotiva, sempre caracterizada por um tipo de mornidão bem tropical, nada contestatória e vexatoriamente receptiva, acontecesse, como amplamente noticiado tem sido nos últimos tempos, alguma coisa do gênero que demarcou os vergonhosos acontecimentos de que foram palco os centros automotivos de maior expressão mundial. O noticiário tem sido tão abundante e negativo que parece se amalgamar com um outro, que, progressiva e inelutavelmente, dia a dia, nos faz, a nós brasileiros, sentir o insuportável gosto da exaustão. Como a demonstrar confiança em que nossa atitude será sempre acomodatícia com relação às iniciativas dos exércitos automotores alienígenas, provindos dos dois lados do mundo, um dos mais importantes jornais da terra, em um dos dias como matéria de capa, divulga que montadora, hoje a mais imputada como praticante de cheating nos Estados Unidos, foi tomada de inesperado e pudoroso senso de reparação judicial em favor de patrícios nossos objeto da repressão de órgãos de segurança de Estado nos anos 60, com os quais aparentemente contribuiu em conluio com outras suas congêneres.

É necessário um esforço de razoável dimensão para imaginar que essa altruísta iniciativa seja um movimento de mero paralelismo com relação ao que ela, muito certamente, deverá empreender onde quer que atue no sentido de recompor sua arranhada imagem. Iniciativa de igual monta institucional, por outro lado, é bom que se recorde, ela não cumpriu no decurso daqueles mesmos anos tristes, quando foi alcançada homiziando criminoso de guerra em seu grupo de pessoal local, ainda que o tivesse feito por simples tributo à civilização afrontada pelo regime nazista.

Finalmente, para fechar com chave de ganga essa ação sempre descuidada da nossa imprensa, divulgando mas não criticando, vale referir notícia de que montadora de origem japonesa, com fábrica pronta para entrar em operação no Interior do Estado de São Paulo, desiste de fazê-lo por ora e até que horizontes econômicos mais favoráveis se vislumbrem por aqui. E quanto ao respeito à economia da região e às obrigações que ela certamente contraiu junto às diversas esferas públicas, relativas aos incentivos de qualquer ordem com que pode ter sido cumulada para instalação de sua planta?

Na mesma linha de indagação – não apenas no contexto de incentivos oficiais recebidos mas, muito mais grave e pernicioso à imagem de marcas cumpridoras dos seus deveres às leis do país que as abriga – ousa perguntar este comentarista por que outras marcas, incluindo aquela que foi a primeira a chegar no Brasil na segunda década do século passado, e agora conjuntamente imputada como envolvida em atos censuráveis de gozo de extensão indevida de incentivos, não vieram ainda a público e, com a força de comunicação de que são detentoras, trazer cabais explicações à população visando ao clareamento de sua imagem: por que ainda não?

Como ex-presidente da Ford Brasil e executivo que nela mourejou por 26 anos em companhia de um sem número de outros da mesma fornalha, e em mínimo respeito a todos os que sempre depuseram fé na imagem de uma empresa referencial a partir do seu próprio fundador, essa atitude da empresa, hoje, não é apenas estranha: é inaceitável.

Luiz Carlos Mello é advogado e foi presidente da Ford Brasil