Simbolicamente a PSA Peugeot Citroën iniciou na quarta-feira, 11, a produção da nova geração do Aircross no Polo Industrial de Porto Real, RJ. A renovação do SUV da Citroën, que será lançado oficialmente no fim deste mês e estará na rede de concessionárias no início de dezembro, exigiu investimento da ordem de R$ 150 milhões.
O aporte, contudo, já integrava o ciclo de investimento anunciado no fim de 2011 e que contemplava R$ 3,7 bilhões para o triênio 2012-2015.
O novo Aircross, assim, é o último lançamento PSA antes de um novo plano de investimentos a ser definido em breve por Carlos Tavares, CEO da empresa que participou da solenidade do início da produção ao lado do governador doestado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e de Carlos Gomes, presidente para o Brasil e América Latina da empresa.
Tavares não antecipou quando divulgará nem quanto de recursos envolverá o novo pacote. Mas foi enfático:
“Estou aqui nesses dois dias também para discutir com Carlos Gomes exatamente que ações desenvolvermos na região futuramente. A única política que não podemos alterar é a de ter lucro. Todas as outras podem ser mudadas. Não faz sentido, portanto, investir em uma região que não tem rentabilidade”.
Nesse sentido Tavares deu uma boa notícia: a operação latino-americana voltou à lucratividade no primeiro semestre de 2015, “pequena, é verdade, mas voltou”, enfatizou, sem explicitar os números. Mundialmente o Grupo PSA também já alcançou 5% de margem operacional na divisão automotiva, meta prevista para ser atingida somente a partir de 2018 pelo Plano Back in the Race, lançado por Tavares há dois anos.
Pelo plano global a lucratividade também deveria voltar à operação latino-americana somente em 2017, “mas não sabemos se fecharemos no azul, de fato, este ano. Conseguimos no primeiro semestre, isso é fato”. De qualquer forma ele não mudou a previsão de efetivamente ter lucro na região em 2017, “ainda que as condições macroeconômicas tenham se deteriorado bastante no Brasil nos últimos meses”.
O resultado positivo após três anos seguidos de prejuízos, reconhecem os executivos da PSA, deve-se em grande parte às medidas de redução de custos, racionamento da produção – inclusive com o fim de modelos e versões em linha – e aumento de eficiência e atualização tecnológica na fábrica de Porto Real e também na de El Palomar, na Argentina.
Até porque na ponta das vendas o desempenho das duas marcas da companhia não tem sido nada satisfatório, em especial no Brasil. Os cerca de 50 mil veículos negociados por Peugeot e Citroën no mercado interno nos primeiros dez meses representaram pouco mais de 2% de participação e 40% a menos do que conseguiram no mesmo período do ano passado – recuo duas vezes superior ao da média do mercado. O País hoje representa menos da metade das vendas da PSA na região.
Tavares, porém, diz não estar preocupado com índices de participação: “Aumentar a cota do mercado é fácil: é só doar carro para os consumidores ou oferecê-los a preços que não garantam rentabilidade. Mas seria uma participação tóxica e a nossa abordagem aqui não é oportunista, pois viemos para ficar”.
O Brasil pode voltar a ser rentável para a PSA, entende o CEO mundial, no posto desde 2013: “Estou aqui para discutir como estabeleceremos as condições para isso. Em 2012 a PSA chegou à beira da falência mundialmente e hoje se recupera. Acredito que há sempre uma maneira de fugir de um quadro adverso”.
Fábrica e produto – O início de produção do novo Aircross em Porto Real não implica mudanças significativas na planta, que nos últimos dois anos e meio vem sendo aprimorada em busca de maior eficiência e qualidade e teve sua capacidade ampliada de 150 mil para 220 mil veículos. Produziu no ano passado 90,5 mil e deve encerrar o ano com cerca de 70 mil.
A companhia destaca que, após as últimas intervenções, a unidade hoje já é quinta melhor no ranking interno de qualidade do grupo, que dispõe de dezoito fábricas de veículos em todo o mundo, além de quinze plantas dedicadas a motores. Há três anos a fábrica brasileira figurava no oitavo posto.
A unidade tem ainda outro importante objetivo a cumprir. A PSA persegue firmemente o objetivo de ampliar o conteúdo de peças locais e de reduzir sua exposição às variações cambiais. A ideia é chegar em 2018 com 85% de média contra os 70% atuais. Para isso encaminha programa de nacionalização de € 70 milhões para a operação latino-americana – € 50 milhões só no Brasil, “e para isso necessitamos de fornecedores com capacidade técnica e qualidade”, disse Gomes, sem disfarçar certo incômodo com o atual estágio das negociações e desenvolvimentos.
Porto Real trabalha em dois turnos para produzir cinco modelos sobre a mesma plataforma de carros compactos, além de motores 1.4, 1.5, 1.6 flex e gasolina para exportação. A quantidade de modelos, porém, será menor a partir de agora. Com o face-lift do Aircross, que terá uma versão sem o tradicional estepe na tampa traseira, a Citroën retirará do mercado o C3 Picasso.
Gomes garantiu que “o Aircross cumprirá o mesmo papel do C3 Picasso e dará algo a mais para o consumidor”. De acordo com ele a empresa pode voltar aos 5% de participação que já deteve no Brasil no início da década.
O novo Aircross não chega a ser rigorosamente novo. Plataforma e motores são os mesmos da geração anterior. Mudam, substancialmente, o conjunto de faróis e grade dianteiros e o acabamento interno. O painel de instrumentos tem novo desenho e dispositivos, como um inédita central multimídia com tela de 7 polegadas sensível ao toque.
As alterações estéticas são fruto do trabalho de dois anos do centro de estilo da montadora na América Latina que conta com engenheiros, técnicos e designers no Rio de Janeiro, RJ, São Paulo e Buenos Aires, Argentina.