Se o desempenho do mercado de automóveis e comerciais leves em 2015 levou para cama muitas noites de sonos intranquilos, o que dizer então dos sonhos do pessoal de caminhões? Enquanto as vendas dos veículos leves alcançava queda de 25% no acumulado do ano até novembro, os negócios de pesados beiravam os 47% na comparação com mesmo período do ano passado. Sem dúvida é uma situação para gente forte e um ano para esquecer.
Não faz muito tempo que o segmento comemorava recordes e estimava um novo patamar de mercado por volta de 150 mil unidades/ano. Embora não seja o exemplo mais bem-acabado, habitualmente considerado fora da curva em virtude de um movimento de pré-compra na véspera da entrada em vigor de nova fase da legislação ambiental, a fase 7 do Proconve, em 2011 o mercado chegou a absorver 173 mil caminhões. Um ano antes encerrou com 160 mil. E mesmo em 2014, ano que prenunciava alguma nebulosidade no horizonte, o volume foi de 137 mil. Nada mal perto do resultado esperado para esse ano: por volta de 70 mil unidades.
Trata-se realmente de um panorama para criar insones crônicos. A expectativa do passado estimulou investimentos e atraiu novos competidores. Os recursos aplicados modernizaram fábricas e ampliaram capacidade. A equação não é de resolução fácil muito menos foi formulada a partir de um único elemento. A questão tem muitas justificativas e só a crise política-econômica que dominou o País durante o ano não conta toda história.
A turbulência instalada, claro, tem seus lados nefastos, pois ao mesmo tempo em que derruba a confiança do investidor, retira a liquidez do mercado. Há também o desaquecimento da atividade econômica e, com ela, menos carga para carregar. Depois, não pode deixar de considerar, durante bom tempo o transportador, por meio do PSI Finame, comprou caminhão com juros camaradas, de 2% a 4% quando a inflação não passava dos 6%. Não é difícil imaginar que, na época, o setor de transporte rodoviário foi às compras, renovou frota e, nesse momento, tem parque de veículos relativamente novo, sem necessidade de comprar para atender a atual demanda de transferência de carga.
Cabe lembrar também que o PSI do passado, que fez a festa para a indústria e, porque não, do investidor, não é mais o mesmo. Regras de empréstimo com dinheiro mais caro, associações do TJLP, como também maiores dificuldades de aprovação do crédito. Em resumo, o novo ambiente acabou forçando o comprador mudar o lado da boca para fumar o cachimbo, o que frequentemente o torna resistente até uma mudança de hábito total.
Ter de jogar com novas regras, aliás, pode dizer muito do que vem pela frente. Previsibilidade sempre foi uma das principais reivindicações do segmento e, independentemente do clima político-econômico carrancudo, indústria e transportador já tem pelo menos sinal claro do como serão os negócios a parir de janeiro do ano que vem: Finame por TJLP. É uma condição até conhecida pelo mercado, pois eram as regras jogadas antes do advento do PSI.
Além do que já se sabe a respeito do financiamento, também já se espera mais um período de dificuldades. E como é unânime dentre os atores do segmento, se o desempenho do segmento de caminhões em 2016 for igual ao de 2015, as insônias crônicas talvez se transformem apenas em algumas noites mal dorimadas.