Antes prevista para o segundo semestre deste ano, a produção do utilitário esportivo Tiggo, que tinha sido adiada para 2017, foi antecipada pela Chery e deverá começar no ano que vem em Jacareí, SP, onde a companhia chinesa instalou sua fábrica brasileira. Todas essas mudanças de planejamento são apenas algumas das adotadas pela montadora, que, segundo seu vice-presidente, passa por uma curva de aprendizado do mercado brasileiro.
Segundo o executivo a companhia paga o preço pelo pioneirismo, uma vez que a fábrica brasileira é a primeira com gestão completa da Chery fora da China – existe uma joint-venture, no Irã, que é controlada pelos locais. Junte a isso o fato de a produção ter começado em um ano difícil, com forte queda nas vendas e alta volatilidade do dólar.
“É muito diferente do que acontece na China. Nesse ano revisamos projeções a cada três ou quatro meses. Fica difícil traçar e manter um plano de longo prazo”.
A única certeza no longo prazo, segundo Curi, é a manutenção da fábrica. O vice-presidente contou que os chineses querem transformar a região em um polo automotivo chinês – em julho anunciaram investimento de US$ 700 milhões para atrair ao menos 25 fornecedores, em sua grande maioria do país de origem da Chery, para Jacareí.
“O mercado voltará a crescer, com destaque para o segmento de entrada, que é onde competimos. Mas vamos mais devagar, com calma, para alcançar nossa meta. Em cinco ou seis anos queremos ter 3% das vendas”.
Em março, antes de o Tiggo entrar em produção a Chery começará, finalmente, a montar o QQ nacional, modelo de entrada da companhia, na faixa dos R$ 30 mil. O utilitário esportivo deverá sair das linhas de montagem somente a partir do segundo semestre, na primeira das três versões – a chamada Tiggo 5, com porte semelhante ao Renagade e HR-V. Depois a companhia pretende montar o Tiggo 1, feito em cima da base do Celer, e o Tiggo 3, de tamanho intermediário.
Segundo Curi a decisão de antecipar a produção do Tiggo tem a ver com o atual momento do mercado. Os utilitários esportivos passam por situação distinta, com crescimento nas vendas. “Se soubéssemos disso quando decidimos produzir aqui, teríamos começado com o Tiggo”.
Serão, portanto, cinco os modelos produzidos em Jacareí – ou seis, se diferenciarmos as carrocerias sedã e hatch do Celer. A fábrica se tornará base de fornecimento da companhia na América Latina, que já tem conversas adiantadas para começar a exportar para Argentina, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela. “Na Argentina estamos na fase de homologação do produto”.
Como o mercado brasileiro retraiu, exportar ajudará a justificar o investimento de R$ 1,5 bilhão, com a cotação atualizada, que a Chery fez em Jacareí. Com capacidade para 50 mil veículos, a fábrica produzirá apenas 5 mil no primeiro ano de operação.
As linhas começaram a funcionar em fevereiro e, nestes dez meses, a montadora sofreu alguns contratempos. Logo que a produção começou, o sindicato organizou a primeira greve, só resolvida após julgamento no TRT de Campinas, SP. Quando eles retornaram ao trabalho, um raio acertou a cabine de força da fábrica, provocando nova paralisação. O sindicato ainda provocou novos contratempos aos chineses, desacostumados a lidar com questões trabalhistas. “Dos dez meses de operação, a fábrica ficou parada quatro”.
Para 2016, ano em que projeta 15% de queda nas vendas do mercado de automóveis e comerciais leves, a Chery acredita que conseguirá produzir de 8 mil a 10 mil unidades, com 1 mil a 2 mil destinadas ao Exterior. Por aqui a meta é vender 8 mil veículos – e todos com produção nacional: a Chery, originalmente chinesa, agora só vende aqui carros feitos em Jacareí.