Sérgio Habib decidiu mudar mais uma vez os planos para a fábrica da Jac Motors em Camaçari, Bahia. Agora pretende produzir ali apenas o SUV T5 em CKD, a partir do início de 2017, com investimento de R$ 200 milhões e sem a participação do sócio chinês.
A informação foi revelada pelo site da revista IstoÉ Dinheiro na sexta-feira, 29, citando o próprio empresário como fonte, e confirmada por porta-voz da empresa à Agência AutoData na segunda-feira, 1º.
Esta é nada menos do que a décima-terceira mudança nos planos da fábrica [veja levantamento completo abaixo], que deveria produzir carros e caminhões, com aporte de R$ 1 bilhão, a partir de 2014.
Segundo o porta-voz, entretanto, os R$ 200 milhões não sairão do bolso de Habib, que buscará financiamento “com o governo da Bahia, com o governo federal ou até mesmo com bancos privados”. Ainda segundo o porta-voz, a mais recente alteração decorre do “novo cenário de mercado”.
A Jac Motors não esclareceu, entretanto, como resolverá sua pendência com o governo federal, vez que recebeu habilitação como investidora de 2013 a 2014 e, assim, teve direito a importar 20 mil unidades dos modelos J2 e J3 sem IPI majorado. A empresa nunca recebeu a renovação desta habilitação e o agora previsto processo de montagem em CKD – pelo qual todas as peças chegam importadas, compreendendo apenas a montagem final – não contempla as etapas produtivas obrigatórias dentro do regulamento do Inovar-Auto.
De acordo com o porta-voz da empresa “reuniões com o MDIC estão sendo realizadas sistematicamente para discutir esta questão e buscar nova habilitação ao regime automotivo”.
Histórico – Em 1º. de agosto de 2011 Sérgio Habib, ao lado do vice-presidente da Jac Motors, Dai Maofang, anuncia investimento de R$ 900 milhões para construção de fábrica da montadora no Brasil, com capacidade de produção de 100 mil unidades ao ano em dois turnos, centro de desenvolvimento e pista de teste, com geração de 3,5 mil empregos diretos e 10 mil indiretos. Embora sequer o local estivesse escolhido foi divulgada data da inauguração da unidade: 2014.
Três meses depois, em novembro, a primeira reviravolta: diante do aumento do IPI para modelos importados anunciado pelo governo federal a Jac Motors avisa que “os planos infelizmente mudaram”, pois “a medida provisória 7 567 não permite que continuemos com o plano de investimento anunciado anteriormente”. Uma semana depois, entretanto, a segunda mudança na história – Habib não só revela que o investimento está mantido como avisa que 80% será de responsabilidade dele, como sócio local, e que a unidade será construída em Camaçari, na Bahia.
A Jac então divulga a terceira mudança: a fábrica será mais completa do que o inicialmente previsto, incluindo agora “um centro de desenvolvimento de novas tecnologias, um centro de estilo e design com previsão de 50 profissionais, laboratórios de controle de emissão de poluentes, pista de testes e centro de capacitação profissional, além das tradicionais etapas de produção, como armação de carrocerias, solda, pintura e montagem final. As fases de estamparia de componentes e produção de motores estão previstas para os próximos anos”, segundo comunicado então distribuído à imprensa. A inauguração em 2014 segue como prazo estabelecido.
Em dezembro de 2011 a Jac realiza cerimônia em Salvador para tornar oficial a escolha por Camaçari como sede da fábrica.
Em julho de 2012 a quarta mudança de planos: Habib diz que a o investimento está suspenso por conta de “indefinições por parte do governo com relação à regulamentação do novo regime automotivo, aliadas à conjuntura atual dos negócios”.
Cinco meses depois, já com o Inovar-Auto anunciado, a quinta mudança: em novembro a Jac Motors realiza cerimônia de assentamento de pedra fundamental na área que receberia a futura fábrica em Camaçari e informa a sexta alteração nos planos – a divisão societária passava a 66% do Grupo SHC e 34% da Jac Motors. O modelo a ser produzido é uma nova geração do J3, com pormenores estéticos e técnicos exclusivos para o mercado brasileiro. A data de inauguração é confirmada para o fim de 2014.
Em janeiro de 2013, a sétima mudança: o presidente do Grupo SHC revela que o investimento foi elevado em US$ 100 milhões – chegando portanto a R$ 1 bilhão – para incluir a produção de caminhões leves em Camaçari, dando ao VUC T140 a primazia de produção da unidade em detrimento do J3 nacional. O projeto passa a considerar capacidade de 100 mil automóveis e 10 mil caminhões ao ano.
Naquele mesmo mês a Jac Motors recebe habilitação provisória ao Inovar-Auto na condição de investidora, válido por um ano, o que lhe deu direito a importar 20 mil veículos sem IPI majorado em 30 pontos porcentuais. Em junho o MDIC reedita a habilitação, agora definitiva, mantendo a cota anual, agora válida até maio de 2014.
A oitava mudança ocorre em agosto de 2013: ao mesmo tempo em que revela que Valeo e Usiminas serão fornecedoras da fábrica, a Jac avisa que o cronograma então prevê início de produção no primeiro trimestre de 2015.
Um mês depois a fabricante anuncia que já tem sete fornecedores locais com contrato assinado e que estes investirão conjuntamente R$ 120 milhões em “ampliação de linhas atuais de produção ou mesmo a construção de novas plantas”, gerando ao todo cerca de 450 empregos.
Em maio de 2014 acontece a nona alteração nos planos: Habib anuncia que a relação acionária do investimento de R$ 1 bilhão para a fábrica se inverteu, passando a 66% para os chineses e 34% para o Grupo SHC. “Havia muita dificuldade em conseguir financiamentos do BNDES, que exige certo nível de conteúdo local para aquisição de máquinas e equipamentos. É mais vantajoso adquirir esses itens em outros mercados, não só na China, mas também Coreia do Sul e Japão. Como a Jac tem muito dinheiro em caixa será a responsável pela aquisição deste maquinário, o que acelerará a instalação da fábrica”, justificou então.
Ali a Jac deveria ter recebido a renovação de sua habilitação ao Inovar-Auto como investidora, o que não ocorreu. Em novembro Habib alega que a mudança acionária exigiu o envio de novos documentos, daí o atraso, e apresentou a décima mudança: inauguração agora prevista para o primeiro semestre de 2016 – até então as obras civis em Camaçari não começaram.
Em dezembro de 2014 vem a décima-primeira mudança: Habib, esquecendo os caminhões, afirma que a fábrica produzirá primeiro a versão nacional do J3 e depois um utilitário esportivo compacto.
Abril de 2015 testemunhou a décima-segunda alteração dos planos: a inauguração passou a ser prevista para “fim de 2016 ou começo de 2017”, nas palavras de Habib, e a linha de modelos foi modificada para o J3 nacional e depois dois SUVs, T3 e T5. A habilitação continua a não ser renovada e o empresário diz que agora o atraso se deve ao aguardo de um empréstimo pelo governo da Bahia.
E neste fevereiro de 2016 finalmente acontece a décima-terceira mudança: Habib diz que fará a fábrica sem os parceiros chineses, pagando pela transferência de tecnologia. O produto passa a ser apenas o T5, montado em CKD, a capacidade produtiva desce a 20 mil unidades/ano e o investimento cai a R$ 200 milhões, ou 20% do original. A data da inauguração prevista é início de 2017.