Comil fecha fábrica de Lorena, no Interior Paulista

A Comil encerrou as atividades de sua fábrica em Lorena, no Interior Paulista, região do Vale do Paraíba, inaugurada há apenas dois anos e na qual produzia modelos urbanos, transferidos de sua unidade em Erechim, Rio Grande do Sul.

Em nota, a empresa afirmou que “a paralisação das atividades de fabricação em Lorena [é] necessária devido à crise sem precedentes do mercado do ônibus. Ao longo dos últimos meses a companhia, funcionários e entidade sindical adotaram diversas ações na tentativa de superar ou minimizar o forte impacto da instabilidade econômica objetivando manter a atividade industrial. Infelizmente estas não foram suficientes para compensar a brutal queda no mercado de ônibus e a consequente redução no volume de produção, tornando insustentável a continuidade das atividades industriais da planta”.

O comunicado afirma ainda que a Comil “está envidando todos os esforços para minimizar os impactos decorrentes da decisão e garantir o cumprimento de todos os deveres trabalhistas e sociais. Serão mantidos alguns funcionários para realizar as atividades de transição e conservação do patrimônio”.

A empresa afirmou ainda que a unidade de Erechim segue operando normalmente.

Segundo informações à Agência AutoData fornecidas pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Lorena, José Luis Azevedo, os funcionários chegaram para trabalhar na manhã da quinta-feira, 28, mas em lugar de assumirem seus postos de trabalho foram convocados para reunião com representantes da empresa, que informaram o fim das atividades da unidade. Ainda não há informações sobre como ocorrerá o processo de dispensa dos 220 funcionários: o sindicato foi convocado para reunião na fábrica na manhã da sexta-feira, 29.

De acordo com Azevedo no ano passado algumas medidas como banco de horas e lay off foram tomadas na unidade, e em novembro houve aprovação de plano de adesão ao PPE a partir de 2 de janeiro. Mas, de acordo com o presidente do Sindicato, a empresa desistiu de participar do programa no fim de dezembro, alegando que não havia pedidos para manter a produção.

A unidade de Lorena da Comil, segundo ele, chegou a empregar quase quatrocentos funcionários, mas atualmente operava com pouco mais da metade.

A fábrica foi inaugurada em dezembro de 2013, com a presença do governador do Estado, fruto de investimento de R$ 110 milhões e cerca de um ano e meio de obras. Na ocasião a empresa estimava gerar quinhentos empregos diretos e 1 mil indiretos, com capacidade de produção de 12 ônibus urbanos por turno, dobrando sua capacidade para este tipo de veículo.

Em comunicado divulgado à época da inauguração a empresa afirmava que “a unidade de Lorena foi planejada para produzir veículos urbanos com alta qualidade, equipada com sistema de manufatura inovador, o que a chancela como a mais moderna planta da América Latina para a produção de ônibus”. O CEO Silvio Calegaro considerava então que “as características da planta a tornam totalmente apta a atender o crescimento da demanda por ônibus até 2016, motivada por eventos importantes como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas, que já estão exigindo melhorias no transporte de pessoas nas grandes cidades”.

Segundo informações da Fabus a Comil produziu em 2015 ao todo 2 mil 129 ônibus no ano passado, queda de 34,7% ante as 3 mil 107 de 2014. Do total de 2015 os urbanos representaram 1 mil 121, redução de 16% ante 2014. De 1 mil 445. Os números de exportação cresceram no ano passado: foram 592 unidades, alta de 71% no comparativo com o ano anterior, sendo 189 urbanos, elevação de pouco mais de 900% ante as 18 de 2014.

Janeiro deverá fechar com 100 mil unidades a menos

Caso as mais otimistas expectativas dos varejistas sejam alcançadas o mercado de veículos fechará janeiro com uma queda de 39% com relação ao primeiro mês de 2015. Segundo dados preliminares do Renavam obtidos pela Agência AutoData foram licenciados cerca de 127 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e chassis de ônibus até a terça-feira, 26, uma média de 7,5 mil unidades por dia.

Uma fonte informou à reportagem que o setor de varejo projeta um janeiro 100 mil unidades menor do que o mesmo mês do ano passado, que fechou com 253,8 mil emplacamentos. Para alcançar os 153,8 mil licenciamentos, a média precisaria saltar de 7,5 mil unidades para 8,7 mil unidades nos três últimos dias úteis de janeiro– fato que usualmente costuma ocorrer nos dias que antecedem o fechamento do mês.

Essa previsão é ainda inferior à revelada à Agência AutoData no fechamento da primeira quinzena. Na ocasião os varejistas acreditavam que janeiro poderia chegar a algo em torno de 160 mil a 170 mil emplacamentos.

Embora a primeira impressão causada pela queda de 39% seja de alarde, o desempenho do mês não foge muito do comportamento do mercado nos últimos meses. Este volume de cerca de 154 mil unidades estimado pelos varejistas levaria o mercado de volta a 2007, quando no primeiro mês do ano foram licenciados 152,9 mil veículos.

Os últimos meses já registraram volumes semelhantes aos de seus equivalentes em 2007: em dezembro de 2015, 227,8 mil unidades, ante 242,2 mil de 2007. Em novembro e outubro os volumes recuaram ainda mais, aos patamares de 2006.

O ano passado fechou com 2 milhões 569 mil emplacamentos, ante 2 milhões 463 mil de 2007.

Outro fator antecipado pelo presidente da Anfavea, Luiz Moan, na coletiva à imprensa realizada no começo do ano foi a base de comparação inchada: o primeiro trimestre de 2015 foi bom, comparado com o desempenho do restante do ano.

Toyota Corolla: o modelo mais vendido do mundo bate recorde.

Os números alcançados pelo Toyota Corolla, veículo mais vendido no mercado global no ano passado, foram recorde. Segundo dados compilados pela consultoria Focus2Move, especializada no setor automotivo, mais de 1,3 milhão de unidades do sedã foram comercializadas no planeta, volume 4,7% superior ao registrado um ano antes.

O modelo ganhou também participação no mercado global, saltando de 1,4% de todas as vendas em 2014 para 1,5% em 2015.

O bom desempenho, porém, não foi suficiente para abrir vantagem sobre o segundo colocado, Volkswagen Golf. O modelo produzido pela montadora alemã registrou, pela primeira vez, mais de 1 milhão de unidades comercializadas – saltou 8,4%, para 1 milhão 42 mil unidades, e também ganhou 0,1 ponto porcentual de participação, com 1,2% das vendas globais.

Completa o pódio a Série F, da Ford. As picapes somaram 920,2 mil unidades vendidas,  alta de 1,6% sobre 2014, e fecharam o ano com 1,1% de participação.

Tanto Golf quanto Série F superaram o Ford Focus, que havia sido o segundo modelo mais vendido em 2014 e, em 2015, ficou apenas na quarta colocação, com 826,2 mil unidades – uma queda de 19,4% com relação ao volume de um ano antes.

Segundo a Focus2Move, o desempenho do modelo da Ford foi prejudicado pelo lançamento da nova versão do Escort no mercado chinês, que canibalizou as vendas do modelo naquele país. O Escort registrou 214,3 mil unidades na China – ficou na 84ª colocação global –, enquanto o Focus perdeu cerca de 150 mil unidades naquele mercado.

Completam o top-10 Toyota Camry, Hyundai Elantra, Volkswagen Polo, Honda CR-V, Chevrolet Silverado e Toyota RAV-4.

Randon concentra esforços para atacar linha leve

A Randon Implementos colocou em prática nova etapa de sua reorganização produtiva, na qual um dos objetivos é aproximar as linhas de produto dos principais mercados consumidores, e agora pretende atacar com força o segmento de leves.

Para isso a empresa decidiu concentrar toda a produção destes modelos na unidade de Guarulhos, na Grande São Paulo. As outras três linhas que eram ali fabricadas foram transferidas: a de semirreboques sider e canavieiro para Caxias do Sul, RS, e a de furgões carga geral para Chapecó, SC, onde também está concentrada a produção de frigoríficos.

De acordo com Claude Padilha, gerente de marketing da Randon Implementos, a empresa buscou “uma forma de aproveitar melhor seus ativos”. A razão principal para unificar na Grande São Paulo os implementos da linha leve é simples: é o maior mercado consumidor do País deste tipo de produto, com participação próxima a 35%.

Outro pilar da estratégia está na linha de produtos, que ganhou reforço de nova opção para a faixa de basculantes, com capacidades volumétricas de 4m³ a 14m³ ´para caminhões 4×2 6×2 e 6×4.

O objetivo, de acordo com Padilha, é elevar a participação de mercado da Randon nesta linha dos atuais 3,5% para 10% nos próximos 5 anos – na linha pesada a fatia de mercado da empresa chega a mais de 30%.

“É um mercado com características distintas, bem mais diversificado em termos de oferta de fabricantes e produtos, tanto assim que o líder tem cerca de 15% de participação. Esta faixa de consumo está menos ligada às commodities, como na gama pesada, e mais ao varejo.”

Segundo a Randon a nova família de basculantes, destinada para o segmento da construção civil, canteiros de obra, terraplenagem, areia, brita e terra, ganhou nova geometria com dobras estruturais e redução de colunas, o que proporcionou redução de 230 quilos no peso na comparação com o modelo anterior, além de oferta de sistema de enlonamento como opcional.

A unidade de Guarulhos da Randon foi inaugurada em 1965.

 

Abimaq vê tendência de recuperação nas exportações

A indústria de bens de capital mecânicos terminou 2015 com boas expectativas para 2016 no que diz respeitos às exportações. Segundo dados da Abimaq divulgados na quarta-feira, 27, em novembro e dezembro os embarques registraram crescimento na comparação com os meses imediatamente anteriores, de 29% e 14%, respectivamente, o que “pode ser interpretado como um indício de inversão da curva”, segundo comunicado da associação.

Mas no total de 2015 as vendas externas terminaram em retração de 16% ante 2014, para US$ 8 bilhões. Em compensação as importações caíram mais, 23%, para US$ 18,8 bilhões, o que representou redução de 28% no déficit da balança comercial do segmento, para US$ 10,8 bilhões. A Abimaq, entretanto, entende que “a redução do déficit na balança comercial de máquinas e equipamentos de um patamar da ordem de US$ 1,5 bilhão mensal para perto de US$ 1,0 bilhão/mês resulta muito mais da redução das importações do que uma melhora nas exportações”. E que esta baixa nas importações é “coerente com o ambiente recessivo na indústria brasileira de transformação”.

O consumo aparente fechou 2015 em baixa de 11,7%, para R$ 130 bilhões. E o número de empregados caiu 8%, para 309 mil ao fim de dezembro, aponta a Abimaq. Já a capacidade instalada chegou em dezembro com 65,8% de uso, queda de 5% tanto ante novembro quanto na comparação com o mesmo mês de 2014. Mas a carteira de pedidos cresceu 6,5% na correlação com novembro, ainda que seja 3,9% menor na comparação anual.

A Abimaq concluiu que “as incertezas políticas combinadas com a política econômica recessiva, onde o custo do capital é incompatível com o retorno dos investimentos, têm tornado inviável qualquer decisão de investimento no País. Os dados do mês de dezembro ratificam este cenário de contração dos investimentos e apontam para mais um ano de queda”.

Inadimplência do setor fecha o ano em 4,1%

Os atrasos nos pagamentos de financiamentos de veículos por pessoas físicas fechou o ano passado em 4,1%, mesmo índice registrado em novembro. Segundo dados preliminares divulgados pelo Banco Central do Brasil na quarta-feira, 27, a inadimplência do setor automotivo encerrou 2015 com leve avanço de 0,2 ponto porcentual com relação há um ano antes.

Embora a crise econômica tenha afetado o setor e a economia brasileira, a inadimplência não variou muito durante o ano, permanecendo estável de dezembro de 2014 a agosto do ano passado em 3,9%. Apenas em setembro o índice registrou leve variação positiva, passando para 4,1%.

Após um leve recuo em outubro, os atrasos nos pagamentos voltaram a subir em novembro, mas permaneceram em 4,1% em dezembro, mesmo com o aumento nas taxas de juros pelos bancos, que acompanharam a evolução da Selic.

Em entrevista à Agência Brasil o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou que a seletividade e cautela dos bancos na hora de conceder o crédito ajudam a manter a inadimplência controlada – no crédito às família, segundo o BC, a inadimplência atingiu 4,2%, estável com relação a novembro mas 0,5 p.p acima de 2014, enquanto no crédito às empresas o índice cresceu 0,7 p.p. no ano, para 2,6%.

“A inadimplência, mesmo em período de retração da atividade, está relativamente bem comportada”.

Lifan deve interromper atividade de fábrica no Uruguai por metade do ano

A Lifan deverá interromper as atividades de sua fábrica instalada em San José, no Uruguai, por todo o primeiro semestre de 2016, retornando à produção ali apenas a partir de julho. A previsão foi revelada à Agência AutoData por executivos chineses que atuam na unidade brasileira, com sede em Salto, no Interior de São Paulo.

A unidade possui duas linhas: de motores, que já está paralisada desde outubro, e a de veículos, que parou no fim do ano. A previsão inicial era de retorno das atividades de ambas a partir de março, mas de acordo com porta-voz da fabricante caso as projeções de venda para este ano não sofram modificação neste primeiro trimestre a Lifan pedirá extensão da paralisação por mais três meses, ou até o fim de junho.

A fábrica monta três modelos para atender exclusivamente ao mercado brasileiro: o SUV X60, o sedã 530 e o caminhão leve Foison. Ainda de acordo com o porta-voz há estoque suficiente para atender ao volume de comercialização previsto pelos primeiros seis meses deste ano, daí a necessidade de interromper as atividades produtivas no Uruguai.

A projeção da Lifan é comercializar no País em 2016 em torno de 5 mil a 6 mil unidades, o que representaria resultado estável perante 2015 e também 2014. A estimativa inicial para 2015, porém, era chegar às 7 mil unidades vendidas.

De qualquer forma a fabricante pode, de certa maneira, comemorar os resultados do ano passado: suas vendas caíram cerca de 6% – de 5,3 mil para 5 mil – ante baixa de 26% do mercado total e de 58% e 40% das concorrentes chinesas Chery e Jac Motors, respectivamente.

A Lifan também celebra um empate técnico com a Jac Motors como a marca chinesa mais vendida no Brasil no ano passado: as separaram no total apenas vinte unidades. A Chery ficou atrás, com 4 mil, segundo dados da Abeifa.

As vendas do X60 ficaram em 3 mil unidades, 32% menos na comparação com 2014 mas ainda assim, segundo a empresa, em algumas praças como Florianópolis, SC, os resultados são próximos aos dos líderes do segmento como o Honda HR-V e o Jeep Renegade.

Até por conta disso a Lifan trabalha para trazer ao mercado nacional versão do SUV com câmbio automático CVT, que deverá ser oferecido a partir do segundo semestre na versão topo de gama, denominada Vip – o modelo já é vendido na China. E com isso a possiblidade do lançamento no País do X50, igualmente SUV porém de menor porte, ficará para segundo plano.

Ford apresenta a terceira geração do Sync

A Ford aproveitou a abertura da Campus Party, na terça-feira, 26, no Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi, em São Paulo, para apresentar a terceira geração do seu sistema de conectividade Sync. O recurso que traz as funcionalidades dos smartphone para o ambiente interno do carro foi aprimorado com novos atributos, tais como acesso por comando de voz, facilidade no uso de aplicativos, capacidade de conexão com vários dispositivos móveis e interface gráfica inédita, semelhante às presentes em tablets e smartphones.

“A Ford não é somente uma fabricante de veículos, mas também uma empresa de tecnologia. Em Palo Alto, na Califórnia, temos um centro de pesquisa e inovação para acelerar nossos desenvolvimentos para a área”, relatou Steve Armstrong, presidente da Ford América do Sul. “Queremos ser relevantes em mobilidade e a tecnologia é a ferramenta para facilitar a vida das pessoas.”

Embora já esteja disponível nos Estados Unidos, Armstrong não revelou quando tampouco em que modelos o Sync 3 estará dentro da gama da fabricante no País, se limitando a dizer apenas que esta iniciativa ocorrerá “ao longo do ano”.

Atualmente o Sync em sua geração anterior é oferecido em todos os modelos da Ford vendidos no País e a estratégia, em tese, é fazer o mesmo com a novidade apresentada. De acordo com Gustavo Schianotelo, engenheiro chefe da engenharia elétrica da fabricante, o Sync 3 é um projeto global, o que favorece oferta de tecnologia de ponta, mas com grande contribuição do time brasileiro. “Nossos engenheiros ajudaram muito no desenvolvimento do sistema, como aplicativos locais, mapas e recurso de reconhecimento de voz, com grandes melhorias.”

Segundo o representante da Ford o desenvolvimento do Sync 3 foi baseado nos melhores produtos e práticas executadas pelas fabricantes de tablets e smartphones: “o benchmarking não foi com a indústria automotiva”.

Agora, muito parecido com o uso de celulares e tablets, a tela sensível ao toque do Sync 3 permite deslizar, reduzir ou ampliar a imagem. Traz mapas em duas ou três dimensões, recurso de pesquisa que se autocompleta ao mesmo tempo em que já mostra os lugares mais próximos, acesso por comando de voz, menu com ícones maiores e fácil atualização dos programas por wi-fi ou USB.

“A nova geração do Sync é uma plataforma multiconectada compatível com os sistemas Car Play, da Apple, e Android Auto, do Google”, assegura Schianotelo. “Ambas trabalharam junto com as montadoras para desenvolver sistemas mais adequados ao ambiente de um carro, onde não cabe distrações do motorista.”

Em seu estande na Campus Party a Ford montou espécie de laboratório no qual ao longo da semana convidará participantes da feira de tecnologia a pensar em soluções referentes ao universo da mobilidade e da indústria automotiva.

A empresa desafiará os visitantes com o tema O Que Você É Capaz de Criar em 90 minutos, colocando à disposição dos participantes kits eletrônicos para colocar as ideias em prática.

Land Rover Itatiaia pode usar pintura da Chery em Jacareí

A Jaguar Land Rover, que inaugurada sua fábrica no Brasil no início do segundo trimestre em Itatiaia, RJ, está em negociações avançadas com a Chery para utilizar as instalações da cabine de pintura da montadora de origem chinesa em sua fábrica de Jacareí, no Vale do Paraíba, SP.

A informação foi revelada com exclusividade à Agência AutoData por fonte ligada à montadora de origem britânica. Procurada oficialmente, a Jaguar Land Rover não negou o fato, mas se limitou a afirmar, por meio de nota: “Estamos sempre avaliando diversas possibilidades para apoiar o desenvolvimento sustentável das operações no País, mas pormenores sobre isso permanecem confidenciais”.

O acordo faria todo o sentido para as duas fabricantes – ou, como prefere a JLR, seria uma tacada de mestre para o “desenvolvimento sustentável” de ambas no País.

A Chery possui uma enorme cabine de pintura em sua unidade de Jacareí, que foi construída com nada menos do que o dobro da capacidade atual da linha de montagem, para 100 mil unidades/ano – a linha pode montar 50 mil/ano e a montadora chinesa já construiu a área de pintura prevendo uma futura expansão, ciente de que esta é etapa mais difícil e dispendiosa em caso de necessário aumento da capacidade.

Entretanto a programação da Chery prevê a produção – e a consequente pintura – de apenas 5 mil unidades em 2016.

Vale lembrar que a área de pintura de Jacareí, assim como toda a fábrica, é praticamente 0 KM: seu início efetivo de atividades ocorreu em fevereiro de 2015, ou há apenas 12 meses.

E, de seu lado, a Jaguar Land Rover ainda não terá área de pintura em Itatiaia quando da inauguração, uma fase deixada mais para o futuro, para quando for obrigada a cumprir mais uma das etapas de produção dentro das regras do Inovar-Auto – as fabricantes de luxo, com baixo volume mas modelos de maior valor agregado, têm um ano a mais para cumprir as diversas etapas escalonadas pelas normas do regime automotivo.

Assim, caso a JLR utilize a área de pintura da Chery, poderá economizar uma pequena fortuna – o investimento total programado para Itatiaia é de R$ 750 milhões. Como a capacidade prevista é de 24 mil unidades/ano, mesmo se todos os modelos fossem pintados em Jacareí, além dos da Chery, a área de pintura ali ainda assim teria folga de 70 mil unidades/ano.

E para a Chery seria ótima saída para ocupar mais a fábrica e levantar recursos que ajudariam a reduzir os custos e, também, justificar de forma mais rápida investimento de US$ 400 milhões ali.

Pelas determinações do Inovar-Auto a Jaguar Land Rover poderia contratar a Chery como fornecedora do serviço de pintura, sem com isso ferir a legislação do regime automotivo. E logisticamente a tarefa não parece muito complicada: 180 quilômetros separam as duas fábricas em uma linha praticamente reta, pela Via Dutra.

Há ainda um elemento externo que certamente facilita as conversações: a Jaguar Land Rover e a Chery já são parceiras em termos globais. As duas têm uma fábrica em comum, joint-venture 50-50, em Changshu, na China, inaugurada no fim de 2014 – lá são produzidos o Evoque e o Discovery Sport, exatamente os dois modelos já anunciados para Itatiaia.

E, coincidentemente, o novo presidente da operação JLR no Brasil, Frank Wittemann, acumula passagem recente pela operação chinesa da montadora, aonde participou de reestruturação dos negócios.

48 meses? Sim, 48 meses!

Dentre todos os inúmeros e variados fatores que vêm derrubando as vendas de automóveis no mercado doméstico brasileiro há um, bem mais estrutural do que conjuntural, que deveria estar merecendo melhor atenção. Trata-se da rapidez com que vem se dando o aumento do intervalo das trocas de veículos. Consumidores de carros 0 KM que tradicionalmente faziam a troca após 24 a 36 meses esticam agora este prazo por até mais doze meses.

Pesquisas realizadas pela Ipsos, empresa que faz o acompanhamento sistemático do mercado, mostram que não é mais incomum consumidores permanecerem com o mesmo carro por até quatro anos.

É bem verdade que a conjuntura econômica conturbada e negativa atravessada pelo País contribui para postura mais conservadora por parte dos consumidores de forma geral. No entanto as pesquisas que vêm sendo realizadas pela Ipsos, a maior parte delas por encomenda direta das próprias montadoras, indicam que a questão nem de longe está restrita ao mundo conjuntural.

Quando consultados sobre as razões da ampliação do intervalo de troca os consumidores não escondem razões bem pragmáticas e com forte componente estrutural. Dentre elas figuram, com especial destaque, a melhora na qualidade dos produtos e o decorrente aumento dos prazos de garantia, que agora alcança com freqüência três anos e, em alguns casos, chega até a cinco.

Ou seja: ainda que num primeiro momento eventualmente tenham decidido o adiamento da troca por insegurança com relação ao futuro, o consumidor acabou percebendo que, com o aumento da qualidade e dos prazos de garantia, permanecer um pouco mais tempo com o mesmo veículo deixou de ser fonte potencial de problemas e insatisfações.

Na prática isto significa que, por mais que sua origem tenha sido conjuntural, esta mudança tem boas possibilidades de se tornar estrutural e, assim, permanecer mesmo depois que o cenário econômico volte a se mostrar mais favorável. Não é pouca coisa: afinal, num mercado de 2 milhões de unidades/ano, como é o projetado para este ano, basta que um em cada dez consumidores adote esta nova prática para que a venda potencial de 200 mil carros seja adiada para até doze meses à frente.

Não é só: o consumidor típico de carros 0 KM geralmente oferece seu usado como parte do pagamento. E, neste contexto, quando mais antigo for este carro usado menor será o valor da entrada e, por decorrência, maior será o valor a ser financiado. Esta talvez tenha sido, aliás, uma das razões da forte migração verificada no ano passado da base do mercado de novos para o top do de usados.

Com um usado mais antigo e de menor valor para oferecer como entrada muitos consumidores podem ter perdido a condição de permanecer no mercado de novos. Ainda mais quando se considera o simultâneo aumento das taxas de juros e da seletividade por parte dos bancos.

A se confirmar o caráter estrutural desta mudança duas outras muito provavelmente podem estar a caminho, talvez com reflexos bastante palpáveis já em 2016: o gradativo aumento dos prazos de financiamento e a mudança dos consumidores para uma faixa inferior do mercado.
São mudanças que podem vir juntas ou em separado, na exata dependência da necessidade específica de cada consumidor de recolocar o valor da prestação dentro de seu poder aquisitivo.

E há ainda um terceiro ponto que merece ser no mínimo observado com muita atenção pelo impacto que pode vir a ter a médio e longo prazos na vida do setor: consumidor que opta por ficar até 48 meses com o mesmo carro está claramente focado não no status mas, sim, na utilidade que este veiculo lhe oferece.

Será esta a nova face do futuro?