As pequenas alterações no design das partes dianteira e traseira da carroceria do Volkswagen Gol e Saveiro são coadjuvantes perto das outras modificações promovidas pela montadora, invisíveis quando vistas de fora. Dentro do capô, por exemplo, o sedã e o hatch em suas versões de entrada agora acomodam o EA211, motor de 1 litro com três cilindros que debutou no Fox e também está disponível na linha up!. Mas a grande mudança ocorreu na parte interna, tanto em seu design quanto no conteúdo oferecido.
Desde 2013, último dos 27 anos que o Gol foi líder de mercado, o modelo vem perdendo espaço no mercado brasileiro. Naquele ano foram emplacados 255 mil unidades, de acordo com dados da Fenabrave. No ano passado o Gol foi apenas o sexto modelo mais vendido do Brasil, com 82,7 mil emplacamentos.
Jorge Portugal, vice-presidente de vendas e marketing da VW do Brasil, divide a culpa entre o fortalecimento da concorrência – muitos modelos chegaram para competir no segmento, especialmente Chevrolet Onix e Hyundai HB20 – e a própria estratégia da marca, que colocou em seu portfólio o up!, modelo que concorre também com o Gol.
Os três modelos citados acima – e outros competidores do segmento – trazem, além de um design mais moderno e contemporâneo, amplo pacote de itens, de série ou opcionais, que passaram a fazer parte da lista obrigatória do consumidor brasileiro na hora de escolher seu carro zero. Lista essa que agora, com certo atraso, chegou com tudo ao Gol e ao Voyage.
O sistema de infotainment AppConnect, já disponível em outros modelos da companhia, agora compõe o leque de opções dos clientes do Gol e Voyage. Desde a versão mais simples, a Trendline – a VW aposentou, ao menor por enquanto, o Gol Special – é possível turbinar o automóvel com uma das quatro opções de rádio com conectividade.
São elas: Media, mais simples, mas que traz entrada de SD Card e permite conexão com celulares por meio de bluetooth; Media Plus, que acrescenta CD Player e entrada USB; Composition Touch, com tela colorida de 5 polegadas e espelhamento de celulares Android por meio do sistema MirrorLink; e a Discover Media, com tudo que o consumidor tem direito – navegação por GPS, tela de 6,3 polegadas sensível ao toque, visualizador de SMS e comando por voz.
Comfortline e Highline, versões intermediária e topo de linha, oferecem até o Discover Media. O consumidor da Trendline, porém, só poderá acrescentar até o Composition Touch em seu modelo.
Para acomodar esse aparato tecnológico a VW promoveu mudanças internas nos modelos, talvez as mais visíveis aos olhos do consumidor. O painel é totalmente novo, com aumento de 30% no tamanho do cluster, um volante inspirado no Golf GTI com possibilidade de instalação de botões e borboletas para troca de marchas para os carros equipados com o câmbio I-Motion, e um painel central com arquitetura capaz de acomodar os sistemas de infotainment. Os bancos também ganharam novos materiais e design, mais caprichados.
Não bastavam essas mudanças – que consumiram R$ 363 milhões em investimento em desenvolvimento e adaptações nas fábricas da Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, e Taubaté, SP – para elevar a competitividade dos dois modelos no mercado. Foi preciso também mexer no preço, ao custo de parcela da margem, segundo Portugal.
Pois a linha Gol teve uma redução média de 2,5% em seu preço, somadas todas as versões. A Trendline 1.0 manual, de entrada, parte de R$ 34,9 mil, sem ar-condicionado ou sistema de infotainment – são opcionais. “O pacote mais vendido do Gol, Trendline com ar e rádio, sai por R$ 37,7 mil. Reduzimos em R$ 1,9 mil com relação à versão anterior”.
No Voyage a média foi de 5,7%, com seu modelo de entrada saindo por R$ 41 mil – também sem ar e som. Portugal diz que a versão mais vendida, também Trendline 1.0 com os opcionais mais procurados, teve redução de R$ 3,5 mil no preço, para R$ 46,1 mil.
A versão mais completa do Gol, Highline 1.6 com transmissão automatizada, sai por R$ 55,3 mil. Na linha Voyage a mesma versão tem preço sugerido de R$ 58,6 mil.
Reforço na imagem – O lançamento do Gol e Voyage marca a entrada de uma nova era no marketing da Volkswagen do Brasil. A assinatura Das Auto, que acompanha o logo da companhia nas campanhas nacionais desde 2007, foi abandonada.
“O Das Auto não era bem visto pelo brasileiro”, confessa Portugal, que sente a necessidade de uma maior aproximação da marca com o consumidor local. “Vamos adotar simplesmente Volkswagen, que significa o carro das pessoas. As pessoas estão em primeiro lugar”.
Segundo o vice-presidente de vendas e marketing a marca Volkswagen se afastou do consumidor brasileiro, para quem sempre foi sinônimo de pioneirismo, foco no cliente e agilidade para responder às mudanças.
“A marca Volkswagen precisa voltar a ser referência no mercado brasileiro”.
Sem citar metas, Portugal afirmou que o objetivo da companhia em 2016 é recuperar participação do mercado. De 2014 para 2015 a marca perdeu 2,8 pontos de participação, vendo seu share cair de 17,3% para 14,4%. “Por isso precisamos ser mais competitivos. E para isso, tivemos que mexer também no preço do Gol e do Voyage, mesmo com todos os itens adicionais”.