Os caminhões Volkswagen e MAN terão seus preços reajustados em 5%, em média, a partir de abril – o segundo aumento do ano, uma vez que em janeiro a linha teve o preço elevado em 5,5%. O movimento não deverá parar por aí: segundo Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America, há a necessidade de promover novos reajustes até o fim do ano.
Corrigir preços para cima em um cenário de queda de 35,5% no mercado de caminhões, comparado com o primeiro bimestre do ano passado, parece ser uma decisão inexplicável. Afinal, o próprio Alouche admitiu, em entrevista à Agência AutoData, que é o mercado quem regula o preço e, em um cenário de baixa demanda, a tendência é que ele caia.
O problema, segundo o vice-presidente, é que não há mais espaço para segurar os preços. “Sem sombra de dúvidas toda a indústria de caminhões está com um preço defasado em 20%. Esse seria o repasse mínimo para equacionar os custos. Mas não podemos fazer isso de uma só vez, porque sairíamos do mercado”.
Alouche tem uma explicação: pelas suas contas desde 2012, quando o mercado de caminhões começou a apresentar movimento de redução nos volumes, os custos básicos – aço, peças, itens importados, mão-de-obra e custos gerais – subiram em torno de 50%. Somente no ano passado a alta foi de 17%, porque envolveu também a apreciação do câmbio e o alto reajuste nas tarifas de energia elétrica.
As mudanças na legislação, como a obrigatoriedade dos air bags e a atualização das tecnologias dos motores para atender às regras de emissão Euro 5, também mexeram nos custos – de 15% a 20% a mais.
Já os preços do caminhão não acompanharam essa tendência. “Estamos com custos de 2016 e trabalhando com preços inferiores aos de 2012. Hoje o preço de um caminhão está, em média, a 94% do preço praticado quatro anos atrás”.
Segundo Alouche nenhuma montadora de caminhão no Brasil trabalha com margem positiva. “Todas estão com resultados negativos. Umas mais, outras menos”.
Para piorar, outro problema passou a assombrar o setor de caminhões: a queda na demanda. Hoje o setor trabalha com mais de 70% de ociosidade e as montadoras usam e abusam de mecanismos para preservar um nível de emprego a espera de, quem sabe um dia, o mercado retome.
Desde janeiro, com a adoção do PPE, os 4 mil trabalhadores da fábrica da MAN em Resende, RJ, trabalha de segunda a quinta-feira. 20% da jornada foi reduzida, com 10% de desconto nos salários dos trabalhadores – metade é paga com recursos do FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador. A queda de 35% no bimestre fez com que novas medidas fossem adotadas:
“Abrimos um PDV na semana passada, com um pacote de benefícios a quem aderir. Está tendo uma boa procura e ficará aberto até a semana que vem”.
Com pressão por todos os lados, a MAN ainda perdeu a liderança no mercado no primeiro bimestre, posto agora ocupado pela Mercedes-Benz. Alouche lamenta, mas ressalta a importância de manter a saúde financeira da montadora, fundamental para continuar investindo e mantendo seus negócios por aqui.
“Não buscamos a liderança a qualquer custo. Precisamos fazer esse reajuste para equalizar nossos gastos e mais virão durante o ano. Quem não comprar caminhão agora, pagará mais caro depois”.