A frase do título, curta, singela, objetiva, permeia otimismo e não guerra civil. É elaborada por conhecido executivo da indústria de veículos. Como não pode, em função de contemporâneos policies da companhia para a qual trabalha, interferir ou dar palpite nos assuntos internos dos países onde está instalada, prefere recomendáveis raciocínios em off the record:
“É mais do que chegada a hora de políticos de boa vontade estabelecerem um princípio de governo de coalizão em nome dos melhores interesses do País e aplicarem, em conjunto, política de choque de realidade. O que nos falta, apenas, é a volta da confiança.”
É claro que ele entende a crise política que contamina as atividades econômicas do ponto de vista do setor automotivo, que é, mais do que antigo raio X, a soma dos efeitos de tomografia e ressonância magnética de última geração.
“A minha convicção é a de que, assim que essa equação política estiver bem encaminhada, a recuperação das margens do setor será algo que acontecerá muito rapidamente. E é disso que precisamos, com urgência. Pois a incerteza política amplifica as encrencas econômicas.”
A reação a isto é, obviamente, pela falta de confiança inerente, o não investimento por parte de agentes econômicos, a não compra por parte dos consumidores. E a apresentação de resultados pífios por parte da indústria, do comércio, do setor de serviços inclusive no que diz respeito à mão de obra empregada e à sua possibilidade de retorno a índices mais positivos.
E é, também, a causa de olhar enviesado do mercado diante do futuro, que no ritmo atual guarda a tendência de ser ainda mais negativo.
Gráficos que o executivo mostra são demonstração claríssima do tamanho da encrenca. Em 2011 os resultados de vendas, produção e faturamento do setor automobilístico foram 3,6 milhões de unidades, 3,4 milhões de unidades e R$ 156,7 bilhões – que quatro anos depois tornaram-se 2,6 milhões de unidades, 2,4 milhões de unidades e R$ 111,7 bilhões, uma estimativa.
Nesses mesmos anos, 2011 e 2015, as remessas para as matrizes foram R$ 5,6 bilhões e R$ 271 milhões. E os empréstimos intercompanies, na mesma relação, foram US$ 1,1 bilhão e US$ 5,5 bilhões.
Note-se que a evolução das remessas, nos três últimos anos, é sintoma de decadência: R$ 2,2 bilhões em 2013, R$ 814 milhões em 2014 e R$ 271 milhões no ano passado.
Ele ressalta os empréstimos intercompanies: US$ 1,7 bilhão em 2013, US$ 3 bilhões em 2014, US$ 5,5 bilhões no ano passado, dinheiro requisitado para reforço de caixa das empresas – e isto significa que o faturamento não tem pago as contas.
Junte-se a isso o valor de equities – investimentos a título de aumento de capital – remetidos para cá pelas matrizes durante o ano passado, US$ 4,5 bilhões. Síntese: em 2015 mais de US$ 10 bilhões foram injetados nas operações automobilísticas brasileiras pelas matrizes apenas para mantê-las.
No caso de caminhões a queda foi, em vendas, de 172,9 mil unidades para 71,6 mil, e na produção de 223,6 mil unidades para 74,1 mil unidades – e os repasses do BNDES caíram de R$ 23,4 bilhões para R$ 8,9 bilhões.
O executivo lembra que o Brasil não está sozinho na convivência com encrencas econômicas. Lembra a queda no preço de commodities, das quais muitos países são intrinsecamente dependentes, lembra que ajustes fiscais não necessariamente trazem popularidades para os governos, lembra que o sistema financeiro brasileiro, ressabiado, recuou os alfos do crédito, lembra que a União Européia está muito preocupada com as perdas de seu sistema financeiro – e lembra que um dos candidatos a presidente dos Estados Unidos propõe-se a jogar acordos internacionais no lixo.
E lembra o executivo que em instantes como esse sempre surgem vozes sugerindo a recessão global, o pior dos mundos, como se fosse profecia autorrealizável – que alimenta a desaceleração das atividades e os vieses de baixa.
“Ou seja: em condições normais o Brasil já está sob forte pressão interna e imagine-se quando se leva em conta o panorama mundial. É claro que o sistema financeiro senta no dinheiro e trava as suas políticas de crédito, pois todos querem estar líquidos.”
Destaca o executivo as atuais dificuldades que têm as empresas para planejar suas atividades futuras, aqueles planos de negócios que envolvem pelo menos cinco anos à frente: se os planejadores não têm ideia de como serão as vendas não imaginam, também, quanto custará a operação…
Mais: as curvas de desempenho mostram que também as vendas diretas a frotistas passaram a ser declinantes no ano passado, não gerando mais algum tipo de compensação diante da queda daquelas ao mercado interno. Conclusão: as forças do varejo também sucumbem ao ambiente econômico, e promoções, redução de preços, feirões não dão mais o mesmo resultado.
“Enfim: as margens não pagam mais os custos fixos.”
Para este ano o executivo estima que a capacidade ociosa total do setor seja de coisa de 49%, contra estimados 43% do ano passado.