Diversas montadoras instaladas querem ajudar seus fornecedores brasileiros a ganhar o mundo. A demonstração desta estratégia ficou clara em palestras ocorridas na segunda-feira, 21, em São Paulo, durante o Seminário AutoData Compras Automotivas 2016: A Hora da Decisão, realizada no Milenium Centro de Convenções.
Um deles foi Gil Watanabe, gerente de compras de pós-vendas da Volkswagen. Ele afirmou que a desvalorização do real frente ao euro e ao dólar representa uma ótima oportunidade para as autopeças nacionais, e que a continuidade da estratégia da VW do Brasil na introdução de plataformas globais nas suas fábricas potencializa essa oportunidade de exportação para sua cadeia de fornecimento.
“A área de compras da Volkswagen do Brasil está fortemente integrada na organização mundial de compras, cuja operação é feita de forma descentralizada. Assim, fornecedores instalados no Brasil recebem solicitações de cotação não só da montadora aqui como também de várias outras empresas do Grupo no mundo.”
Porém, de forma até surpreendente, Watanabe revelou que cerca de 70% dos pedidos de cotação sequer recebem respostas dos fornecedores brasileiros. Para ele as empresas precisam se organizar melhor internamente para reduzir este índice.
A VW estimula também os pequenos fornecedores a exportar e, para estes, oferece sua própria estrutura. “Às vezes a empresa quer e pode vender para o exterior mas não tem condições de montar uma equipe só para isso, o que representaria aumento dos custos fixos. Nestes casos a VW coloca à disposição sua área de CKD que faz todo o processo: o fornecedor entrega o pedido na fábrica e fatura em reais.”
Ele não vê quadro de consolidação do número de fornecedores VWB em futuro breve: “É sim uma tendência, mas de longo prazo, e dependendo do nível de tecnologia. Agora, neste momento, vemos mais um movimento no sentido oposto, pois é preciso garantir o fornecimento”.
CNHi – Outro palestrante, Osias Galantine, diretor de compras da CNH Industrial, também bateu na tecla da exportação. “Ao lado da nacionalização, é uma das estratégias que estamos adotando para ajudar a base a mitigar pelo menos parte da queda do mercado”, afirmou.
Há cerca de três meses a montadora realiza processo interno para identificar oportunidades de exportação para os fornecedores atuais – são ao todo 65 fábricas do Grupo no mundo produzindo caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e de construção, motores, eixos e outros. Os resultados já são claros: 60 itens já começaram a ser embarcados, com faturamento anual de US$ 7 milhões.
As maiores oportunidades, afirmou Galantine, estão nas áreas de mangueiras, peças metálicas, fundidas, usinadas e plásticas.
No outro pilar, o da nacionalização, a CNHi aplica ao todo quase R$ 206 milhões no período 2014 a 2017, “e em nenhum momento a companhia teve dúvida em deixar de investir”, o que ocorre para Tiers 1, 2 e 3. Para Galantine, pela característica dos produtos o volume geralmente é baixo “mas todo faturamento adicional ajuda, em especial em momentos difíceis como o atual”.
Ao contrário de seu colega da VW o executivo vê movimento próximo de consolidação da base dos fornecedores, que no caso da CNHi deverá se reduzir em 30% nos próximos três anos – atualmente são 1,3 mil na América Latina, sendo novecentos no Brasil. “Fabricamos produtos muito diversos e também por conta de fusões e aquisições herdamos muitos fornecedores.”
GM – O mesmo movimento acontece na General Motors, atestou Fred Roldan, diretor de supply chain, também palestrante do evento. Ele afirmou que não há um porcentual exato de redução estabelecido, e que este varia muito dependendo do tipo de material e segmento.
Hoje a GMB tem mais de 400 fornecedores locais, calcula, e “é impossível criar um relacionamento aprofundado, como é o nosso objetivo, com uma base grande demais. Queremos ficar mais próximos e para isso temos que ter menos fornecedores”.
E assim como os participantes anteriores Roldan destacou o papel das exportações nos negócios dos fornecedores. “Hoje não há mais o fornecedor da General Motors do Brasil, há o fornecedor da General Motors. As plataformas são globais e a operação brasileira funciona como uma espécie de embaixadora dos fabricantes locais dentro dos diferentes centros de desenvolvimento ao redor do mundo.”
O executivo citou caso de fabricante brasileiro de autopeças que fornece à GM na Tailândia, estabelecido dentro de programa de desenvolvimento global. “Mas a outra face da moeda também é verdadeira: temos um fornecedor da Tailândia que envia produtos para a produção deste mesmo modelo no Brasil. Por isso as empresas nacionais precisam estar em pé de igualdade com as de outros países.”