São Paulo – Em seu segundo ano completo como importadora de veículos, desde que fechou todas as suas fábricas no Brasil, em 2021, a Ford encerra 2023 com crescimento de cerca de 40% nas vendas no mercado brasileiro, após uma série de lançamentos de picapes, SUVs e comerciais leves, que recolocaram a empresa na rota do lucro desde o último trimestre de 2021.
Conforme contou Daniel Justo, presidente da Ford América do Sul, a empresa não divulga mais resultados financeiros regionais em seu balanço global e, por isto, não poderia mais comentar a rentabilidade na região que dirige, mas confirmou que a operação continua no azul: “Posso dizer apenas que a companhia está muito satisfeita com os resultados que tivemos”.
De janeiro a outubro a empresa emplacou 25,4 mil veículos no País, número 38,3% acima do registrado no mesmo período de 2022 e já quase 5 mil unidades acima dos 20,8 mil emplacamentos dos doze meses do ano passado: “Há um ano disse que esperávamos crescer 30% este ano mas avançamos na casa dos 40%, o que mostra que acertamos nos lançamentos, trazendo tudo que temos de melhor”, afirmou o presidente. “Também tinha prometido dez lançamentos, mas fizemos nove: deixamos um para o começo de 2024”.
Segundo Justo o bom desempenho resulta de diversos lançamentos feitos pela Ford no decorrer do ano, incluindo as picapes F-150 que vêm dos Estados Unidos, nova Ranger argentina, Maverick híbrida mexicana e Raptor tailandesa, o renovado SUV chinês Territory, o SUV-cupê Mustang Mach-E montado no México, primeiro 100% elétrico Ford vendido no País, e a linha de utilitários Ford Pro que ganhou duas novas versões da Ranger, XL e XLS, e duas da van Transit montada no Uruguai, uma com transmissão automática e outra chassi-cabine para receber carrocerias de carga.
Ford cresce acima do mercado
Para o executivo “há espaço para crescer dois dígitos, mais próximos dos 10%, em 2024, porque muitos dos lançamentos de 2023, como a nova Ranger, ainda nem completaram um ano cheio de mercado e devem continuar a puxar as vendas no ano que vem”.
Mas para a Ford a sua expansão em 2024 deverá superar bastante o desempenho geral do mercado brasileiro de veículos. A empresa trabalha com projeção de estabilidade das vendas, conforme indica Justo: “O mercado deve acompanhar a evolução do PIB, com crescimento tímido sobre 2023. Não vemos ambiente para crescer mais porque continuamos com juros elevados”.
A maior parte dos modelos da Ford vendida no Brasil vem de países com acordos comerciais que isentam os produtos do recolhimento de imposto de importação, caso da Argentina e do Uruguai que integram o Mercosul e do México. Diante das ameaças do novo presidente argentino, Javier Milei, de alterar as regras ou até mesmo abandonar o bloco, Justo sustenta que o Mercosul é muito importante para a indústria automotiva de ambos os países, com trocas de carros e autopeças, “e, por isto, nossa expectativa é de continuar assim”.
A fábrica argentina da Ford, por exemplo, exporta 70% de sua produção da picape Ranger para países da América do Sul, sendo de 30% a 40% somente para o Brasil. Uma ruptura no Mercosul, portanto, pode afetar o seu produto mais vendido na região.
Força maior das picapes
Até pela configuração do portfólio da Ford, com quatro picapes e suas várias versões, a maior expansão das vendas será garantida por estes modelos: “É um segmento em crescimento em toda a América do Sul, onde no agregado de países a Ranger já é a segunda picape mais vendida. A nova geração da Ranger foi lançada há apenas seis meses e já conquistou sua maior participação de mercado no Brasil, de 23%, e as vendas cresceram 40%. Temos hoje uma linha completa de picapes e muito potencial para crescer na categoria”.
Justo também indicou que continuará a crescer o portfólio de Ford eletrificados na região, hoje composto pela Maverick híbrida e o esportivo Mustang Mach-E: “Vamos trazer mais modelos mas sem deixar de atender os clientes que querem o motor a combustão”.
Para o executivo a volta do imposto de importação sobre elétricos e híbridos, a partir de 2024, não deve afetar muito as vendas, pois os modelos Ford estão em faixa de mercado pouco afetada por variações de preço.
A rede de concessionárias Ford, hoje com 114 pontos – 86 deles com novo padrão visual e de atendimento da marca – também pode ter alguns incrementos em 2024: “Fechamos algumas concessionárias e abrimos novas, agora estamos estudando onde precisamos abrir novas lojas, em pontos onde ainda não estamos ou em regiões para dar cobertura adicional aos clientes”.
Centro de desenvolvimento
Para além de vender veículos importados outra fonte de renda da Ford no Brasil é o seu centro de desenvolvimento, que emprega 1,5 mil pessoas e lidera 35% dos projetos de sistemas automotivos da Ford no mundo: “Fazemos aqui serviços globais de engenharia e todo mês recebemos um cheque em dólares da matriz que nos garante faturamento extra”.
Segundo ele 85% dos funcionários do centro de desenvolvimento trabalham em projetos de sistemas globais da Ford e apenas 15% se dedicam ao desenvolvimento e adaptações de produtos para a América do Sul.