A Ford fez festança em Camaçari, BA, na primeira segunda-feira de abril, no espaço generoso, e inesperado, do Teatro da Cidade do Saber. Além das autoridades, como o prefeito Ademar Delgado, e de representantes da Ford, como Steve Armstrong, presidente para a América do Sul, e Jim Vella, presidente do Ford Fund – que patrocinou a festa – estavam lá 94 participantes do Programa Ford de Educação para Jovens em sua primeira formatura.
O prefeito da cidade passou por algum aperto no fim da solenidade, abordado por funcionários municipais em greve que se manifestavam na porta do teatro. Mas o pessoal da Ford, os formandos e suas famílias nem prestaram atenção à saia-justa do prefeito Delgado: viviam dia aventurado.
O Programa Ford de Educação é um dos que a companhia banca na cidade, dentro da diretiva global de inserção nas comunidades onde está presente. Outro evento foi o início da distribuição de mochilas ecossustentáveis, dotadas de kits de cadernos e lápis, para os 10 mil alunos da rede pública de ensino de Camaçari, uma parceria com o Projeto Axé, baseado em Salvador, ONG especializada na assistência a crianças.
Para a gerente de relações corporativas da companhia, Adriane Rocha, que tem sob sua responsabilidade as ações de responsabilidade social, a presença de Armstrong e de Vella são o melhor espelho da importância daquela manhã em Camaçari – Vella dirige o braço filantrópico da FoMoCo:
“Elegemos educação e meio ambiente como eixos fundamentais de atuação, pois a crença da companhia é a de que são questões estratégicas para a qualidade de vida das futuras gerações. E também para incentivar as capacitações necessárias para a criação das inovações do futuro”.
Texto distribuído durante o evento vai além: “A Ford busca fazer a diferença na vida das pessoas, inspirando seus empregados, encantando seus consumidores, recompensando seus acionistas e contribuindo para fazer do mundo um lugar melhor”.
E o próprio Jim Vella contou que “melhorar a vida das pessoas faz parte da agenda Ford, uma abordagem estratégica nos lugares onde mantemos operações, sempre com parceiros locais, sempre gente com reputação”. Assim, de acordo com Adriane Rocha, os programas sociais da empresa foram mantidos, e alguns até ampliados, independente dos tempos difíceis, desafiadores – pois fazem parte da agenda e não devem, nem podem, ser abandonados:
“Queremos, sempre, ampliar o espectro de nossa participação, mas com reconhecimento, com algo mais. Em síntese desejamos, sempre, dar mais qualidade à cadeia de valor. Foi o que aconteceu com o projeto das mochilas”.
A agregação de valor, no caso do Programa de Educação para Jovens é manifesto. Em Camaçari havia o sentimento de que a estrutura de educação local não preparava a rapaziada para a vida, nem para a indústria nem para o comércio, e a empresa rapidamente entendeu qual era a necessidade. Para a primeira turma foram selecionados cem estudantes da rede estadual, de 17 a 21 anos, de boas notas e com disposição para ir além.
Adriane Rocha observa o envolvimento de toda a rede escolar de ensino médio, “atenta a destacar aqueles que realmente se dedicavam aos estudos”. O Sesi, Serviço Social da Indústria, foi o parceiro no projeto, que contempla 4 horas de aula todo dia e exige frequência mínima de 75%. Os alunos recebem “orientações comportamentais, noções de saúde e de segurança no trabalho, administração financeira, formação pessoal e social, ética, gerenciamento do seu tempo, informática básica, matemática, lógica, inglês, comunicação”.
Foram 310 horas de envolvimento dessa primeira turma com o projeto, com sua formação técnica, parceria com o Senai, Serviço Nacional de Aprendizado Industrial, dirigida para o desenvolvimento de auxiliares nas áreas de administração, elétrica, mecânica de veículos leves e mecânica de manutenção de equipamentos industriais.
O fim do curso coincidiu com a possibilidade de os alunos entrarem no processo de seleção do Programa Jovem Aprendiz, que contempla estágio na unidade Ford de Camaçari.
Naquela mesma segunda-feira, à tarde, Ford e Projeto Axé promoveram work shop, na sede da ONG, no Pelourinho, em Salvador, sobre o processo que, afinal, produz mochilas a partir do uniforme industrial dos empregados da fábrica de Camaçari, que antes eram incinerados – aquelas 10 mil que começaram a ser distribuídas pela manhã.
E aí, mais uma vez, aparece a evidência de projeto que funciona, desde 2014, debaixo do impacto da criação de valor na cadeia, recorda Adriane Rocha:
“No caso nós, Ford, cedemos o fardamento usado depois de devidamente higienizado e o pessoal do Axé seleciona e capacita mulheres, basicamente mães de crianças que frequentam os seus próprios projetos sociais. Elas, então, animam as oficinas de corte e de costura e participam diretamente do processo de produção das mochilas. Recebem uma bolsa-auxílio, transporte e alimentação no Axé. E tem mais: elas passam a deter algum conhecimento que pode vir a ser fonte de renda”.
Enfim: algo, no caso os uniformes, em ciclo de decadência, é transformado em algo superior, no caso as mochilas, por meio de esforços e trabalhos integrados, como as crianças que levam suas mães, muitas vezes em situação de vulnerabilidade, ao Projeto Axé para conviver e aprender algo novo. Na outra ponta estão os alunos da rede pública de ensino de Camaçari.
As mochilas já reproduziram um ciclo virtuoso, gerando no Axé novo curso, a que chamaram de desenvolvimento de produtos sustentáveis – também de olho na melhoria de vida de centenas de mulheres de baixa renda de Camaçari e de Salvador.
Desta forma o estímulo às cadeias produtivas sustentáveis acaba por gerar renda por meio do conhecimento e do trabalho.
Como observa Adriane Rocha “ao longo do tempo essas mulheres, com mais autoestima, passam a ter condições de criar suas próprias peças e de produzir uma renda extra”. Ao longo de 2015, por exemplo, foram dezenove mulheres envolvidas no projeto das mochilas ecossustentáveis.