A direção da Toyota brasileira está debruçada sobre estudos para definição de um plano de investimento para sua fábrica de Indaiatuba, no Interior de São Paulo, onde atualmente produz o sedã Corolla. A informação foi divulgada por seus executivos durante a inauguração da fábrica de motores de Porto Feliz, também no Interior paulista, na terça-feira, 10.
Nas palavras de Luiz Carlos Andrade Jr., coordenador-chefe da Toyota para a região da América Latina e Caribe, “a fábrica de Indaiatuba já é, dentro dos nossos conceitos, antiga [foi inaugurada em 1998]. Estamos neste momento vivenciando um processo decisório sobre o que fazer com esta unidade, que para receber um novo produto precisaria ser modernizada e até mesmo ampliada”.
Steve St. Angelo, CEO da fabricante para América Latina e Caribe, reforça que atualmente a Toyota “promove muitas discussões sobre o futuro de Indaiatuba”, mas atesta que “uma decisão mais concreta só sairá quando a economia se acalmar”. Os dois executivos ainda deixaram claro que um possível novo investimento na fábrica dependeria também de um acordo com o sindicato local, com o qual as relações podem ser consideradas não tão amistosas quanto em Sorocaba e São Bernardo do Campo.
Ambos não ofereceram outros pormenores, como qual seria o possível valor do aporte, prazos para definição ou datas estimadas. Mas Andrade Jr. concedeu interessante pista quanto ao tipo de produto que poderia ter a planta como sua casa: “A Toyota sabe que poderia fazer melhor do que faz hoje com o Etios [nas faixas abaixo do Corolla]”.
Há, entretanto, outras boas pistas além deste comentário a sinalizar as intenções da montadora de origem japonesa no País: de forma muito diferente do que sempre agiu, a Toyota reviu profundamente diversos planos já divulgados ou pelo menos em estudos adiantados para o Brasil – e todos parecem guardar alguma relação, direta ou indireta, com o futuro de Indaiatuba.
O primeiro diz respeito à própria fábrica de Porto Feliz: a intenção de produzir ali os motores 1.8 e 2.0 do Corolla foi congelada, diferentemente do anunciado inicialmente. St. Angelo alega que a fabricante ainda estuda se esta iniciativa “faz sentido economicamente. É um projeto muito grande, precisamos convencer os fornecedores a investir”. Entretanto a própria Toyota expandira o plano da fábrica, antes mesmo da inauguração, em julho do ano passado, saltando a capacidade de 70 mil motores/ano para 108 mil/ano. Mas agora os motores do sedã continuarão a vir do Japão, mesmo com um câmbio desfavorável às importações e com uma fábrica novinha em folha pronta para despejar motores, mas dedicada apenas aos 1.3 e 1.5 que servem ao Etios.
O segundo movimento é o também congelamento de plano de expandir a produção do Corolla para a unidade de Sorocaba, anunciado em dezembro – há apenas cinco meses, portanto. Ali a montadora revelou o que chama internamente de Brigde Production: carrocerias armadas do sedã seriam transportadas à fábrica do Etios, para pintura e montagem final, o que ocorreria até o fim deste ano. Mas não mais ocorrerá: segundo St. Angelo, “honestamente falando não precisamos de mais Corollas, já produzimos o suficiente”. Apesar disso a própria Toyota admite que lança mão de horas extras em Indaiatuba para atender aos pedidos.
Além disso o modelo é, no acumulado do primeiro quadrimestre, nada menos do que o quinto modelo mais vendido do País, com 21 mil unidades, o que faz dele o sedã mais comercializado do Brasil, apesar do preço – o segundo colocado é o Chevrolet Prisma, sétimo, cerca de 1 mil unidades atrás. Mais: no mesmo período do ano passado o modelo fora apenas o décimo-quarto mais vendido, com 20 mil unidades. Ou seja: neste ano a Toyota está vendendo mais Corolla do que no ano passado, mesmo com a queda geral do mercado. Em abril, isoladamente, o sedã médio foi o quarto modelo mais vendido no geral, com quase 6 mil unidades emplacadas, atrás apenas de Onix, HB20 e Gol.
A terceira mudança está ligada a Sorocaba: a Toyota informa que completou o ciclo de investimentos para expansão da capacidade produtiva da planta, R$ 100 milhões para saltar de 74 mil/ano para 108 mil/ano, mas que simplesmente não utilizará, ao menos por enquanto, a possibilidade deste volume adicional. O CEO explica que “a expansão foi completada mas trabalharemos como antes [74 mil/ano]. Porém, quando precisarmos, já está tudo pronto, bastando apertar o botão de ligar as máquinas” – o que acaba por fazer de Sorocaba uma espécie de Honda Itirapina da Toyota, guardadas as devidas proporções.
Nos bastidores alguns executivos da Toyota não fazem mais questão de esconder que os resultados financeiros do projeto do Etios são extremamente decepcionantes – há quem diga que a conta final não se pagou até hoje, em especial devido às vendas decepcionantes na fase de lançamento e algum período após. Não seria exatamente surpresa, assim, se a montadora prefira daqui por diante enveredar-se por trilha mais similar à adotada pela rival Honda, que preferiu não participar desta faixa e centrou esforços em pavimento superior, como o ocupado hoje com pleno sucesso pelo SUV compacto HR-V.
Mais uma alteração significativa na vida Toyota no País é o abandono completo do projeto de produção do híbrido Prius em São Bernardo do Campo, mesmo em CKD. St. Angelo foi categórico ao afirmar que não há mais planos para produção do modelo aqui: “Não faz sentido. Vendemos um volume muito pequeno para justificar produção local”. É importante lembrar, entretanto, que o próprio executivo afirmou em ocasiões anteriores que incentivos governamentais seriam fundamentais para possibilitar a nacionalização do híbrido: estes vieram, mas o carro continuará a ser importado.
A última importante etapa de toda esta mudança virá em agosto, quando a montadora inaugurará centro de design e engenharia na unidade de São Bernardo do Campo. Será o primeiro na América Latina e, segundo Andrade Jr., terá como missão inicial “desenvolver adaptações para melhor atender ao gosto do consumidor brasileiro e também a projetos de exportação”.
Ao que tudo indica, entretanto, a segunda encomenda que receberão os engenheiros e designers que ali trabalharão deverá ser bem maior.