Preferências partidárias à parte a página política que o Brasil virou no inicio da manhã da quinta-feira,12, com a abertura do processo de impeachment da presidente eleita pelo Senado Federal, pode ter possibilidades efetivas de abrir o caminho para que o País saia do marasmo econômico que marcou os cinco primeiros meses do ano, em particular no setor automotivo
Não exatamente porque um determinado partido, o PT, foi substituído por outro, o PMDB, na direção do País. Mas, sim, por esboçar uma solução, uma saída efetiva, para a quase total indefinição na área política nacional que vinha paralisando a atividade econômica.
Neste caso, aceitando-se como verdadeira esta hipótese, de que a troca de governo, ainda que neste momento de maneira não definitiva, possa ter, de fato, o poder de fazer a economia voltar a andar, resta saber quando este processo poderia se iniciar. E, sobretudo, com que velocidade esta eventual retomada poderia se dar.
Ainda são poucas as novas cartas já colocadas na mesa pelo agora presidente em exercício: definição de um novo Ministério, esboço de programa de governo e princípio de reorganização da base parlamentar no Congresso Nacional. Elas já seriam suficientes para permitir projetar um segundo semestre melhor no mundo específico da economia? Quanto melhor?
A dúvida por certo se justifica. O Brasil, afinal, vive hoje não uma mas, sim, duas crises econômicas simultâneas, uma estrutural e outra conjuntural, cujos efeitos se somam e se potencializam.
A estrutural é, de longe, a mais complexa, na medida em que engloba ajuste fiscal, redefinição do tamanho do Estado, mudanças nas regras da Previdência e outros tantos temas um tanto quando polêmicos e de difícil negociação. Esta exigirá um bom par de anos para ser equacionada.
Todavia, em termos bem práticos, a crise que mais vem impactando negativamente as vendas de automóveis, caminhões e ônibus, em particular, é a outra, a conjuntural. É aquela que nasceu a partir do aumento da seletividade do crédito e da elevação das taxas de juros. E que cresceu e se agigantou com a insegurança dos consumidores com relação à manutenção futura do emprego ou à disponibilidade de cargas e passageiros a serem transportados.
E esta, a conjuntural, pode, de fato, começar a ser equacionada num prazo bem mais curto, com reflexos positivos já no segundo semestre, ainda em tempo de modificar o resultado do ano.
É certo que, com ou sem mudança de governo, a inflação ainda permanece elevada, o que dificulta a redução da taxa básica de juros pelo Banco Central e, ao mesmo tempo, impede a adoção de política cambial que facilite a retomada da indústria pela via da exportação.
É igualmente certo, todavia, que esta mesma inflação mostra, hoje, tendência claramente declinante, na medida em cada vez fazem mais parte do passado os fatores que a levaram à triste marca de dois dígitos. Em particular, a necessidade de ajuste nos preços administrados da energia elétrica, da água e dos derivados de petróleo.
Ou seja: com ou sem mudança de governo a taxa da inflação tenderia naturalmente a se aproximar cada vez mais pelo menos do teto da meta, o que abriria espaço para o aumento da oferta e da redução do custo do crédito.
São fatores conhecidos, que já estavam colocados antes da quinta-feira. Mas que de nada adiantavam na medida em que a insegurança dos consumidores com relação ao futuro tornava absolutamente inócua qualquer flexibilização na área do crédito. Ninguém queria se arriscar a contrair qualquer tipo de empréstimo.
E é justamente neste ponto que a mudança de governo pode fazer toda a diferença. É de conhecimento geral que as empresas, as indústrias em particular, operam, hoje, com larga capacidade ociosa e um considerável contingente desocupado de mão-de-obra.
Até quarta-feira o destino mais provável destas pessoas nos próximos meses seria o de aumentar o contingente de desempregados que já acumula coisa de 11 milhões de participantes e que está no centro da insegurança dos consumidores ainda empregados diante do futuro.
A partir da quinta-feira, contudo, o mais provável é que os executivos das empresas ociosas se permitam, pelo menos, o beneficio da dúvida e interrompam qualquer processo de demissão em massa ao menos até conhecer, melhor, as propostas econômicas do novo governo. No mínimo em função do elevado custo de qualquer demissão.
No verdadeiro oceano de dúvidas que hoje cerca a vida de qualquer brasileiro este provável intervalo nas demissões, ainda que breve, três ou quatro meses, poderia abrir o espaço de tempo necessário para a adoção de uma nova política de crédito mais flexível e de menor custo.
Em conjunto a interrupção das demissões e a simultânea oferta de melhores condições de crédito muito provavelmente conseguiriam fazer com que o círculo que hoje é vicioso se transformasse em virtuoso.
Na pratica, agora mais seguros com relação ao futuro, os consumidores se animariam a aproveitar a maior oferta de crédito para comprar.
Como eles comprariam as lojas venderiam. E como as lojas venderiam a indústria produziria e começaria a necessitar de mais empregados que, por sua vez, mais seguros…
Seria, em síntese, a roda passando a girar para o lado certo.