Fundada na década de 1990 a SAE Brasil acompanhou e discutiu as principais mudanças da engenharia brasileira nos últimos anos. Ao longo de sua história a SAE promoveu cerca de quinhentos cursos e palestras com cerca de 8 mil horas de conteúdo ministrado a 7,5 mil pessoas. Nos 24 congressos anuais realizados recebeu cerca de 120 mil visitantes e apresentou 3,4 mil trabalhos técnicos. Em seu aniversário de 25 anos o presidente da entidade, Frank Sowade, falou com exclusividade a AutoData sobre os planos da SAE para os próximos anos. Em pauta: os carros autônomos.
Nesses 25 anos de SAE quais foram as principais evoluções da engenharia para o setor automotivo?
Houve um grande salto de engenharia no setor automotivo. A SAE foi criada na década de 90 e acompanhou a abertura do mercado. Podemos listar importantes avanços, como a introdução de motores com injeção direta para os carros movidos a álcool, a criação do motor flex e também o aprimoramento do motor 1.0. Isso sem falar na evolução dos itens de segurança. A SAE participou ativamente de cada uma dessas mudanças. Algumas demandas desses 25 anos vieram do consumidor, como a injeção direta, mas também tivemos mudanças estimuladas pela sociedade e pelo governo, caso do imposto menor para os motores 1.0. Essa tributação diferenciada nos fez pensar em soluções como motores 1.0 16v, 1.0 com compressor, 1.0 turbo. Acredito que essa é a tendência: sempre encontrar soluções para mudanças de perfis.
Quais são as principais bandeiras da SAE atualmente?
A ideia é dar continuidade ao nosso trabalho focando em quatro pilares: tecnologia, educação continuada e conhecimento, associados e networking. No âmbito da tecnologia estamos criando novos comitês para discutir questões como veículos autônomos e criação de materiais, a fim de discutir alternativas para reduzir o peso dos veículos. Na área de educação continuada e conhecimento a ideia é ampliar a integração com as unidades internacionais da SAE, com o objetivo de promover o intercâmbio de conhecimento. Também nos preocupamos com os nossos 6 mil associados, a maioria estudantes, e realizamos eventos para constante aprimoramento. O que nos leva ao último pilar: networking. A SAE se configura como um ambiente neutro para troca de ideias, ambiente no qual profissionais de todas as empresas podem discutir assuntos de interesse comum. Esse é nosso papel: continuar promovendo esses encontros e discutindo temas de interesse do setor em nossos cerca de cinquenta eventos por ano.
Como a SAE discute a mobilidade?
Acreditamos que a mobilidade passa por uma interligação de vários modais. Cada tipo de transporte tem sua relevância. Mesmo sabendo que ainda falta muito para se avançar na questão da infraestrutura não podemos esperar para discutir os veículos autônomos. Esse é um assunto pujante no mundo e temos de fazer parte efetivamente dessa discussão. O tema do nosso Congresso, de 23 a 27 de outubro em São Paulo, será justamente esse: A Engenharia Criando a Mobilidade do Futuro: Intermodalidade, Conectividade, Veículos e Sistemas Inteligentes. Para que a tecnologia autônoma seja viável precisamos da comunicação dos veículos e de uma infraestrutura padronizada nas vias. Isso ainda está distante, mas precisamos pensar em projetos pilotos. Não dá para adiar essa discussão.
Como a engenharia brasileira se posiciona diante do restante do mundo? Ainda temos atraso para o acesso às novas tecnologias?
É verdade que nós tivemos um grande atraso para o recebimento e desenvolvimento de novas tecnologias. Mas essa realidade começou a mudar a partir da década de 90. Porém, com a instabilidade econômica e política vivenciada nos últimos anos, houve um recuo nos investimentos em tecnologia e há uma impressão de que voltamos a nos afastar das tendências globais. Isso também é reforçado pelo desenvolvimento de plataformas globais, o que dá a ideia de que estamos fora do circuito. No entanto temos de lembrar que há montadoras que já desenvolveram veículos globais no Brasil. Assim como há sistemistas e fornecedores que consideram tecnologia uma prioridade. Acredito que o gap já foi bem maior e que a tendência é que ele diminua cada vez mais com a retomada das vendas e investimentos.
Com a redução do mercado local de veículos as exportações ganharam força. Esse movimento impulsiona alta dos investimentos em engenharia para adequar produtos para outros mercados?
Essa relação existe. Ao mesmo tempo em que novos projetos foram engavetados as adaptações para atender mercados de exportação ganharam força. Os carros brasileiros são específicos para nosso solo e tem um combustível próprio. Isso exige adaptação da engenharia.
Qual a sua avaliação sobre a junção dos ministérios da Ciência e Tecnologia com o das Comunicações?
Acredito que a estrutura não é a parte mais importante a ser avaliada nesse caso. São assuntos extremamente relevantes e o fundamental é que não haja perda de espaço em nenhuma das áreas. Na minha opinião o sucesso depende mais das pessoas estarem dispostas do que de um organograma. O importante é que a máquina como um todo funcione. Precisamos acreditar em que o País voltará a crescer e que estamos fazendo nossa parte para que isso aconteça.