Os representantes das produtoras de motores a diesel têm opiniões diferentes quando o assunto é o uso do combustível em veículos de passeio. Diante da possibilidade da aprovação de uma lei que libera a comercialização de carros a diesel no Brasil, pela Câmara dos Deputados, executivos da Cummins, FPT Industrial, MWM e Power Systems Research falaram sobre o assunto durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2016, realizado no Centro de Convenções Milenium, em São Paulo, na segunda-feira, 13.
Marco Aurélio Rangel, presidente da FPT Industrial, afirmou que o uso de motores a diesel em veículos de passeio representa o “futuro da mobilidade”. Segundo ele, um dos principais pilares da indústria automotiva é a busca pela eficiência energética. “Estamos falando do motor que traz melhor eficiência energética por grama de combustível utilizado”, defendeu.
José Eduardo Luzzi, presidente da MWM, também é apoiador da causa. “Estamos no único país do mundo que proíbe o uso do diesel em veículos de passeio. Isso por si só já é motivo para a gente apoiar a causa. O importante é o consumidor ter opções”, disse.
A restrição ao consumo do diesel para veículos leves existe desde os anos 1970 para reduzir a dependência ao petróleo importado. Apenas veículos utilitários – caminhões, ônibus, picapes com capacidade de carga superior a 1 tonelada, além de veículos com tração 4×4 – podem usar o combustível.
Segundo Luzzi, os motivos da proibição possuem 40 anos de atraso. “Não há mais base para mantermos essa proibição”, disse. Segundo ele, a aprovação pode abrir novos nichos de mercado e aumentar o nível de atividade local. “O projeto de lei trata de uma liberação gradativa, para segmentos como o de táxis e veículos de trabalho. Seria uma introdução planejada”, afirmou.
Maurício Rossi, diretor de vendas da Cummins, contrariou os concorrentes e disse que o assunto precisa ser tratado com cautela. “Temos de lembrar a importância do etanol e pensar no futuro dessa tecnologia. Acredito que essa discussão é complexa e demanda muita discussão.”
Ainda no time dos cautelosos está Carlos Briganti, diretor para América Latina da consultoria Power Systems Research. Para ele a aprovação do diesel pode ser premeditada e não necessariamente as empresas estariam aptas para produzir motores com essa tecnologia. “Levaria um tempo para ter escala. Não seria atrativo em um primeiro momento”, resumiu.
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, também participou do evento e expressou preocupação com o tema. A instituição é contrária a aprovação do uso do diesel nos veículos de passeio. “Investimos muito para atender às demandas de eficiência energética do Inovar-Auto e esse passo iria ao desencontro de tudo o que fizemos até aqui”, afirmou. Ele defendeu que sob a perspectiva ambiental, mais carros a diesel na rua ampliariam os efeitos da mudança climática, já que substituiriam uma parcela do etanol, que possui claros benefícios comprovados.
Capacidade Ociosa – Apesar da discussão sobre o diesel em automóveis estar em evidência, as fabricantes de motores também expressaram preocupações com os resultados do segmento. Todas relataram capacidade ociosa de cerca de 50%. Em comum, os executivos relataram que as exportações tem sido um alento para amenizar o cenário interno.
A MWM, que recentemente encerrou sua operação de motores em Canoas, RS, tem investido fortemente na remessa de seus produtos para o exterior. “Realocamos nossos recursos de engenharia, assistência técnica e pós-venda para os mercados externos. Refizemos nossa estratégia olhando os mercados potenciais fora do Brasil”, disse Luzzi.
A Cummins também precisou arrumar a casa para enfrentar o período delicado. “Mudamos de tamanho. Reestruturamos áreas da empresa, como a de componentes, e eliminamos níveis hierárquicos. A ideia é ter uma empresa mais simples”, disse. A companhia espera produzir de 28 mil a 30 mil motores em 2016, metade de sua capacidade.
Segundo Rangel, da FPT, a expectativa da companhia está alinhada com as projeções da Anfavea, que falam em queda de 19% na venda de veículos neste ano. Menos veículos, menos motores. “Nem mesmo as obras de infraestrutura relacionadas aos Jogos Olímpicos conseguiram animar o mercado”, avaliou.